Um filme de JEAN-LUC GODARD
Com Jean-Pierre Léaud, Chantal Goya, Marlène Jobert, Brigitte Bardot ,etc.
FRANÇA / 110 min / PB / 4X3 (1.37:1)
Estreia em FRANÇA a 22/3/1966
Estreia em PORTUGAL: Maio de 1973
(Lisboa, Cinema Estúdio 444)
A Coca-Cola, a C.G.T., De Gaulle, Paris 1965, o Vietname, os Beatniks, Bessie Smith, Bob Dylan, France Gal, Françoise Hardy, Sylvie Vartan, Bach, o Amor, o Sexo, o Erotismo, a Pornografia, a Violência. a Luta de Classes, a Adolescência, a Vida. Tudo isto é o filme de Godard. Não existe dum lado a Arte e do outro a Vida. Depois de Jean Rouch ter feito “Chronique d'un Été” (Paris 1961) essa obra extraordinária de humildade, sinceridade e pesquisa, Godard dá-nos a sua crónica de Paris 1965. E para Godard Paris 1965 é, antes de mais, a adolescência, isto é, a esperança.
A juventude que vive na sociedade de consumo, que aprecia os seus produtos e que ao mesmo tempo a contesta, os que lutam e os que se divertem, os que admiram os que lutam e os que nem sabem que se luta. Ano de 1965, ano de eleições, ano de esperança e ano de desencanto. Paul (Jean-Pierre Léaud) procura participar na luta política sem deixar por isso de ter o direito de ter problemas de mulheres e encontra (a deliciosa) Madeleine (Chantal Goya) a quem se lamenta das agruras dos 16 meses de serviço militar que acaba de cumprir.
Depois é uma série de apontamentos duma extraordinária sensibilidade e frescura sobre a vida quotidiana de alguns adolescentes - jovens de Paris com as suas preocupações (frívolas e sérias), utilizando o cinema verdade como uma técnica (como o próprio Godard diz), com longos interrogatórios, em 15 partes. E é essencialmente pelos olhos de cinco adolescentes (que já deixaram de o ser) que Godard nos mostra o mundo, «este mundo de homens mais crueis que as pedras». São os longos diálogos em que os assuntos mais frívolos alternam com os mais sérios, fazendo-se a transição duns para outros com uma candura exemplar.
Trata-se de um filme tão rico, tão cheio de referências, que se torna difícil sintetizá-lo. E existem pormenores que facilmente escapam num primeiro visionamento. Por exempIo; o carácter lésbico das relações de Madeleine e Elisabeth (Marlène Jobert), que aliás nada tem de culposo. Simone de Beauvoir disse-nos que quando era rapariguinha também ela teve uma fase homossexual como todas as adolescentes. São os ciúmes de Elisabeth pelo primeiro beijo de Paul e Madeleine que quando são referidos ainda não se sabe se são dele ou dela, são as carícias furtivas de Elisabeth a Madeleine logo que Paul vira as costas (para ir protestar à cabina de projecção ou para assobiar uma área de Bach), é o seu desacordo final sobre o desejo de Elisabeth ir viver com eles.
Há também a questão do título. Godard diz no filme que «esta é a geração dos filhos de Marx e da Coca-cola» e acrescenta «que entenda quem quiser».
De facto trata-se da geração dos filhos do socialismo e da sociedade de consumo, quer se queira quer não. Mas porquê este "Masculino-Feminino"? Seria demasiado simplista dizer-se que Paul é um filho de Marx e Madeleine uma filha da Coca-Cola (ou melhor da Pepsi-Cola). Também se poderá querer salientar o espírito masculino, interrogador e aventureiro, e o feitio feminino mais resignado e acomodadiço, sendo este último o que de facto sobrevive. No final é-nos dito que Paul morreu porque se afastou demais para ter o enquadramento que desejava para uma fotografia e caíu. Na impossibilidade de abarcar a totalidade da vida escolheu a morte. Talvez traumatizado com a opacidade da vida.
5 comentários:
Ainda não vi, hei-de ver um dia destes. Ouvi falar muito bem dele. 3 estrelas? Hmm...
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema
É o tempo, caro Roberto, esse juiz implacável - e o filme "envelheceu" um pouco.
É por isso que fico sempre um bocadinho de pé atrás quando um filme, sobretudo os da actualidade, me seduzem muito à primeira. Espero pacientemente para ver a "erosão" provocada pelos anos - e por vezes nem são precisos assim tantos.
O tempo é de facto um factor decisivo. Altero várias vezes as minhas classificações aos filmes, mas curiosamente são mais as vezes em que subo a nota do que as vezes em que desço. Mas também sou muito criterioso na selecção de filmes. Seja como for, o factor erosão existe, claro. Daí a necessidade de análise, que sempre nos ajuda a compreender um objecto cinematográfico, para além da crítica imediata.
Cumps.
Roberto Simões
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Já vi para aí alguns DVDs de filmes antigos do Godard, mas acho que este não estava incluído. O que é uma pena
Chantal Goya é a intérprete da canção "Bécassine" que deu origem ao "Areias, o camelo" da Suzi Paula
http://www.youtube.com/watch?v=m7qH8X02dyY
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