sexta-feira, fevereiro 28, 2014

WHEN HARRY MET SALLY (1989)

UM AMOR INEVITÁVEL
Um filme de ROB REINER






Com Billy Crystal, Meg Ryan, Carrie Fisher, Bruno Kirby, etc.

EUA / 96 min / COR / 16X9 (1.85:1)

Estreia nos EUA a 12/7/1989
Estreia em PORTUGAL a 30/3/1990


Can men and women be friends or does always sex get in the way?

«"When Harry Met Sally" is a film about how people find each other. I was in Los Angeles just before shooting started. I had no woman in my life, and I was sitting around one day with Barry Sonnenfeld, who was the director of photography on the film. I complained to Barry about this lack-of-woman problem I was having. He said, "I know a girl in New York. Her name is Michele Singer, and you are going to marry her". I said, "You're out of your mind. Let's go have lunch". Two months later, we were filming in New York in front of a brownstone on the Upper West Side. We broke for lunch, and I noticed Barry heading off with his then-girlfriend-now-wife Susan. With them was this very attractive dark-haired girl. I was instantly smitten. I asked Barry who this beguiling creature was. He said, "That was Michele Singer". I said, "Really". Seven months later Michele and I were married.

Towards the end of shooting, I was sitting in a chinese restaurant in midtyown Manhattan, having lunch with the very talented record executive and avid Los Angeles Lakers fan Bobby Colomby. Bobby casually asked me what kind of music I was going to use in the film. I told him that even thought "When Harry Met Sally" was a modern-day love story, I wanted to give it a timeless feeling, so I was going to use standards like "It Had To Be You" and "Love Is Here To Stay". He said "I know just the guy for your film. His name is Harry Connick Jr., he's an incredible young just pianist and singer from New Orleans, and these are the kind of songs he sings. He'd be perfect for the film. I'll send you some tapes"

I went back to my hotel that night and found the tapes had been delivered. I popped them into my cassette player, and I promptly fell in love again. I called Bobby up immediately and said I had to have Harry for the soundtrack. I had never heard anything as original and inventive. The fact that he was only twntey-one was astounding. In working with Harry, not only did I have the pleasure of being exposed to this incredible talent, but I also had the experience of working with a truly wonderful person. Now I don't mean to equate my admiration for Harry with my deep love for Michele, but I do want to thank both Barry and Bobbyt for bringing two extraordinary people into my life.» (Rob Reiner)



Harry Burns: «You realize of course
that we could never be friends.»
Sally Albright: «Why not?»
Harry Burns: «What I'm saying is - 
and this is not a come-on in any way,
 shape or form - is that men and women can't be friends 
because the sex part always gets in the way»

Baseado num excelente argumento de Nora Ephron (produtora, realizadora e escritora, falecida a 26 de Junho de 2012, com 71 anos), e brilhantemente realizado por Rob Reiner (o Michael da popular série televisiva “All In The Family / Uma Família às Direitas”), “When Harry Met Sally” é hoje considerado um clássico absoluto da comédia romântica. A sua inspiração vem directamente de alguns filmes de Woody Allen (muito particularmente de “Annie Hall”) e também, se recuarmos mais um pouco no tempo, das divertidas screwball comedies dos anos 40. Inspira-se nessas grandes comédias do passado, mas não se fica por aí, consegue ir mais além, reinventando as relações amorosas – algo sempre complicado, confuso e tortuoso – de um modo original e apaixonante, o que faz dele um filme-charneira do género, passando a constituir-se, desde o seu aparecimento, numa referência fundamental para o cinema futuro.

Rob Reiner teve o mérito de conseguir reunir as melhores contribuições para o grande sucesso do filme: um argumento recheado de diálogos inteligentes, originais e muito divertidos (para os quais ele próprio contribuiu decisivamente), interpretações magníficas e inesquecíveis de Meg Ryan e Billy Crystal , uma fotografia luminosa (da autoria de Barry Sonnenfel) que nos dá alguns dos locais mais emblemáticos de Nova Iorque (Coney Island, o Washington Square Park em Greenwich Village, o restaurante Katz’s Delicatessen em Manhattan ou o Giants Stadium em New Jersey), e também uma banda-sonora que vai buscar os standards antigos (Frank Sinatra: “It Had To Be You”, Louis Armstrong e Ella Fitzgerald: “Our Love Is Here To Stay”, “Let’s Call The Whole Thing Off”, “Where or When”) e que lhes acrescenta novas versões de outros temas (arranjos da autoria de Marc Shaiman e Harry Connick Jr., este último também a contribuir nas partes vocais: “Don’t Get Around Much Anymore”, “Stompin’ At The Savoy”, “Autumn In New York” e sobretudo “I Could Write A Book”).

Apesar dos créditos pelo argumento serem atribuídos apenas a Nora Ephron, a verdade é que as personagens principais reflectem as vivências pessoais de Reiner e Ephron. Segundo é referido no documentário que acompanha a edição em DVD, ambos confessaram um ao outro os “segredos” mais comuns dos seus dois mundos: o mundo dos homens e o mundo das mulheres, cada um deles com características diferentes, bem definidas e singulares. Aliás, todo o filme assenta numa particular interrogação: «Podem os homens ser verdadeiros amigos das mulheres sem ultrapassarem esse empecilho chamado “sexo”?» A resposta a esta pergunta é normalmente positiva para as mulheres (aqui representadas por Sally), mas quase sempre negativa para os homens, tal como afirma Harry, numa das suas dissertações filosóficas sobre o relacionamento entre os dois sexos.

“When Harry Met Sally” percorre doze anos (de 1977 a 1989) nas vidas dos protagonistas. Começa em Chicago, logo após as graduações de Harry e Sally na Universidade local. É o primeiro encontro entre os dois, que iniciam uma viagem conjunta com destino a Nova Iorque, durante a qual se vão apercebendo das muitas facetas que os distanciam. Chegados à Big Apple é a separação, indo cada um deles à sua vida. Voltam a encontrar-se cinco anos depois, em 1982, numa viagem de avião (Sally namora um antigo colega de Harry e este está prestes a casar-se), mas só decorridos mais seis anos é que os dois iniciam uma relação assídua (Harry já se divorciou e Sally encontra-se de novo sózinha), mas sem quaisquer compromissos, razão pela qual ambos se sentem completamente à vontade um com o outro. Mas o sexo está por lá, nessa relação a dois, embora (falsamente) adormecido. E pronto a envolvê-los ao mais pequeno pretexto...

Das muitas sequências divertidas que abundam em “Harry Met Sally”, existe uma que é obrigatório destacar, uma vez que se tornou quase como uma marca de referência do filme, ganhando vida própria. Refiro-me, como se depreende, à cena do orgasmo, num restaurante (o Katz) apinhado de clientes. Harry gaba-se do seu sucesso com as mulheres, o que leva Sally a perguntar-lhe se ele tem a certeza que todas as mulheres tenham sentido prazer com ele. Perante a convicção de Harry de que essas coisas se sabem muito bem, que um orgasmo não se pode fingir, Sally simula então na cadeira um enorme orgasmo, percorrendo em crescendo todas as suas variantes até ao clímax final, perante a estupefacção de todos os presentes. Depois volta ao normal, como se nada se tivesse passado. Para finalizar a cena, a cereja em cima do bolo: uma senhora de meia-idade (na realidade a mãe de Reiner) pede ao criado que lhe traga a mesma coisa que serviu a Sally: «I'll have what she's having.» Segundo se refere no documentário, a ideia da cena partiu da própria Meg Ryan, mas foi Reiner quem primeiro exemplificou o que tencionava obter da actriz. «Foi a primeira vez que tive um orgasmo em frente à minha mãe», disse ele. Quanto à hoje célebre frase (considerada uma das melhores réplicas de sempre), foi Billy Crystal o seu autor.

A sequência final (imediatamente antes de Harry e Sally contarem aos espectadores alguns episódios posteriores) é também exemplar e bastante emotiva. Passa-se na passagem do ano e Harry chega ainda a tempo de partilhar as doze badaladas com Sally ao som do tradicional "Auld Lang Syne". Harry: «I love that you get cold when it's 71 degrees out. I love that it takes you an hour and a half to order a sandwich. I love that you get a little crinkle above your nose when you're looking at me like I'm nuts. I love that after I spend the day with you, I can still smell your perfume on my clothes. And I love that you are the last person I want to talk to before I go to sleep at night. And it's not because I'm lonely, and it's not because it's New Year's Eve. I came here tonight because when you realize you want to spend the rest of your life with somebody, you want the rest of your life to start as soon as possible» Sally: «You see? That is just like you, Harry. You say things like that, and you make it impossible for me to hate you. And I hate you, Harry. I really hate you...»

A partir de 1989 muitos outros filmes tentaram a “fórmula” de “When Harry Met Sally”, com maior ou menor sucesso. A própria Nora Ephron acumularia os papeis de escritora e realizadora para nos dar, em 1993, outra excelente comédia, “Sleepless In Seattle / Sintonia de Amor”, com a mesma Meg Ryan e no qual Rob Reiner participaria como actor. Contudo, este “Harry Met Sally” ficará para sempre uma referência na história do Cinema, particularmente no que concerne o filme romântico, género em que pode ser considerado o filme-charneira. Nomeado para 5 Globos de Ouro (Filme de Comédia, Realizador, Argumento, Actor e Actriz de Comédia) e uma nomeação para os Óscares, na categoria de Argumento Original, “When Harry Met Sally” teria ainda outras distinções, nomeadamente Harry Connick Jr., que ganharia o Grammy do melhor vocalista de Jazz.

CURIOSIDADES:

- Os segmentos intercalares em que casais idosos relatam o modo como se conheceram, são histórias reais que Reiner reuniu para o filme, tendo sido contratados actores para desempenharem esses pequenos papeis

- A cena no Museu, em que Harry pede a Sally para repetir o que ele diz numa estranha pronúnica - «But I Would Be Proud to Partake of Your Pecan Pie» - é em grande parte improvisada. Nota-se que a dada altura Meg Ryan se ri para a sua direita, voltando logo depois ao jogo das palavras. Na realidade tratou-se de um pedido de ajuda ao realizador, o qual lhe indicou para continuar a cena

- Nora Ephron, Rob Reiner e o produtor Andrew Scheinman equacionaram variadíssimos títulos para o filme antes de acordarem no definitivo: "Just Friends", "Playing Melancholy Baby", "Boy Meets Girl", "Blue Moon", "Words of Love", "It Had To Be You", "Harry, This Is Sally" e "How They Met"


- A mania de Sally em alterar os pratos constantes nas ementas teve origem nos próprios hábitos de Nora Ephron. Alguns meses depois do filme se estrear, Nora viajava de avião e, como habitualmente, fez uso dessa mania para encomendar algo para comer. A hospedeira riu-se e sem fazer a mínima ideia com quem estava a falar, respondeu-lhe: «Estou a ver que a senhora viu o filme “When Harry Met Sally”»

- A mesa do restaurante Katz’s Delicatessen onde foi filmada a cena do orgasmo nunca mais foi utilizada pelos clientes, tendo sido lá afixado um cartaz com a seguinte frase: «Where Harry met Sally... hope you have what she had!»

- Em Junho de 2008 o American Film Institute (AFI) classificou “When Harry Met Sally” em sexto lugar na tabela dos 10 melhores filmes de sempre no género da comédia romântica. Os primeiros 5 títulos referidos foram: "City Lights" (Charles Chaplin, 1931), "Annie Hall" (Woody Allen, 1977), "It Happened One Night" (Frank Capra, 1934), "Roman Holiday" (William Wyler, 1953) e "The Philadelphia Story" (George Cukor, 1941)

- Billy Crystal aparece numa cena a ler um livro de Stephen King. Trata-se da novela “Misery”, que Rob Reiner iria realizar de seguida 

POSTERS









A BANDA SONORA ORIGINAL:

terça-feira, fevereiro 25, 2014

MOVIE TITLE BREAKUP


Vídeo muito curioso este! Durante três minutos e cinquenta e dois segundos, um casal conversa numa mesa de restaurante. A curiosidade reside em que todas as palavras trocadas são títulos de filmes (que vão aparecendo no écran do meio). Há gente muito criativa por aí, sem sombra de dúvida.

segunda-feira, fevereiro 24, 2014

HÁ TIPOS QUE ANDAM NA RUA E NÃO SÃO ELES


Bogart inventou uma personagem para si mesmo. A personagem com que se vestia era um tipo arrogante, municiado de respostas insolentes. Mesmo nos dias civis, em que não tinha de arrastar os pés para o estúdio, Bogart saía à rua dentro dessa pele. Era a forma que tinha de resistir a um mundo que lhe causava desgosto. Era uma barreira, a barreira com que podia andar na rua sem ser ele. Bogart, esqueçam agora a personagem, era um tipo que chorava. Um dia, casou-se pela terceira vez. Casou-se, como todos sabemos, com Lauren Bacall. Era ele que se casava, mas para aguentar a cerimónia, levantar o véu à linda Lauren, beijar-lhe a boca à frente dos convidados e do oficiante, Bogart levou a personagem. Quem sabe se não foi até a personagem que se casou com Bacall, na longínqua Malabar Farm, no Ohio!


E estou a mentir para me fazer interessante. Bogart, ele mesmo, também foi ao casamento. Lauren Bacall apanhou-o, numa sala onde se fechou sozinho, deixando a personagem no olho da rua. Apanhou-o a chorar. Bogart estava lavado em lágrimas. E porque é que choras e ai meu amor e coisa e tal e ele explicou-lhe. Estava ali, fechado na sala, a pensar nas palavras que ouvira o oficiante dizer. Acabara de prometer acompanhar uma miúda de 20 anos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Sabia, como actor, o valor dessas palavras e chorava, comovido, com cada uma delas.


Terão tido alegrias e tristezas, tiveram saúde e doença. Mas tiveram filhos também, um rapaz e uma rapariga. Um dia, Bogart foi buscar o miúdo ao infantário. Viu-o, na sala de aula, sentado na cadeirinha da escola. Era o pequenino filho dele, sentado na carteira, a olhar para a professora. Bogart desatou em pranto. E não digo mais nada, senão, choro eu. Tinha esse segredo vergonhoso: era boa pessoa. E, nem aquele mundo de Hollywood nem o nosso mundo, estão para boas pessoas. Um tipo tem de se defender. Ele arranjou uma personagem áspera, dura, e convenceu o cinema e a vida de que a personagem era ele. Mas, tal como Lincoln avisava que não se podia enganar toda a gente o tempo todo, também a vida lembrou a Humphrey Bogart que tem dias em que não se deixa aldrabar. Em dias desses, chegávamo-nos a Bogart e esbarrávamos num coração mole, num par de olhos húmidos.
(Manuel S. Fonseca in revista Atual do semanário Expresso, 22/2/2014)

sábado, fevereiro 22, 2014

BLOW OUT (1981)

EXPLOSÃO
Um Filme de BRIAN DE PALMA


Com John Travolta, Nancy Allen, John Lithgow, Dennis Franz, Peter Boyden, etc.

EUA / 107m / COR / 
16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 24/7/1981
Estreia em PORTUGAL a 30/4/1982 (Lisboa, cinemas Alfas, Berna e Mundial)



Por esta altura, Brian De Palma tornava-se mais descarado – provavelmente por estar já farto das acusações de plágio aos filmes de Hitchcock – e inclui no seu filme referências mais que óbvias a outros universos fílmicos. Se bem que tenha referido, numa entrevista, que a inspiração para “Blow Out” lhe apareceu durante a montagem de “Dressed To Kill” (a sua obra imediatamente anterior), a verdade é que, para além do mestre do suspense, sempre presente (veja-se por exemplo a sequência das cabines telefónicas, decalcada de “North By Northwest”), De Palma não hesita em socorrer-se de filmes conhecidos, como “The Conversation” (1974), do seu amigo Francis Coppola ou, sobretudo “Blow-Up” (1966), de Michelangelo Antonioni para escrever e dirigir o seu próprio filme. É aliás este último clássico do realizador italiano que está sempre presente. Troque-se a imagem pelo som e as semelhanças são de facto inequívocas.


Mas será que, no fim de contas, podemos perdoar mais esta acção de “plágio” ao realizador americano? Sinceramente acho que sim, porque apesar de se ter apropriado de todas essas ideias alheias, De Palma consegue criar um interessante thriller, ágil e desenvolto, de tensão constante, que resiste muito bem a múltiplas visões. E quando isso acontece, a razão não se prende com a curiosidade do espectador – que já sabe como aquilo irá acabar – mas sim com o modo como a história nos é contada. Consequentemente, é a mestria do realizador que vem ao de cima, ao conseguir despertar-nos interesse para além do enredo propriamente dito, bastando para tal o rigor da mise-en-scène. Ou seja, a Brian De Palma interessa fundamentalmente pegar numa situação e desenvolvê-la, até dela ter extraído todas as potencialidades dramáticas. E é nesse terreno, estritamente cinematográfico, onde a expressividade da imagem (e do som) ganha uma força preponderante, que sobressai o melhor do cinema de De Palma.


Jack Terry (John Travolta) é um sonoplasta que trabalha num pequeno estúdio, especializado em filmes de terror de série B. Possui um vasto arquivo de sons que vai usando aqui e ali para sonorizar certas passagens dos filmes. “Blow Out” inicia-se no visionamento de uma sequência de um desses filmes (onde parece ter havido o cuidado de implantar o maior número possível de clichés por frame), em que os técnicos não conseguem encontrar o grito adequado para colocarem na boca da personagem que vai ser esfaqueada em mais uma “cena do chuveiro”. As audições sonoras sucedem-se mas cada uma é pior que a anterior. Impaciente, Jack resolve dar um passeio nocturno para descontrair, aproveitando para adicionar mais alguns sons à sua colecção.


Nessa deambulação, de contornos algo voyeuristas, Jack testemunha um acidente em que uma viatura se despenha da ponte existente sobre o lago onde se encontra. Atira-se à água, mas só tem tempo de resgatar um dos ocupantes, uma jovem, que iremos saber tratar-se de Sally (Nancy Allen, na altura mulher de Brian De Palma), uma espécie de “prostituta de ocasião”, um engodo usado por um proxeneta, Manny (Dennis Franz) para chantagear figuras públicas. Já no hospital, Jack fica a saber que a vítima mortal era o candidato a Governador com mais possibilidades de vir a ser eleito. Evocando uma questão moral, o responsável pela campanha tenta abafar o caso, convencendo Jack a testemunhar que no carro sinistrado não se encontrava nenhuma mulher. Com alguma relutância Jack acede ao solicitado, mas pouco depois vem a descobrir que as coisas não são tão simples assim e que o acidente foi premeditado, na tentativa concretizada de se assassinar o candidato.


Perante a hostilidade que o ameaça (a ele e a Sally, ligados entretanto por uma cumplicidade de cambiantes amorosas), Jack inicia uma investigação por sua conta e risco, que o leva a reunir várias fotografias do “acidente”, surgidas na imprensa, adicionando ao pequeno filme daí extraído o som registado no gravador. A partir daqui é a fuga para diante, com o assassino (John Lithgow) na sua peugada, determinado a eliminar qualquer testemunha do crime. Brian De Palma faz que cada situação despolete outras, num clima crescente de inquietação, que termina com a morte de Sally e o aproveitamento do seu derradeiro grito para a dobragem da “cena do chuveiro” do filme de terror do início. «É um bom grito…, é um bom grito...», vai repetindo Jack ao acompanhar a montagem.


“Blow Out” é a prova clara de que o chamado “plágio” não deverá ser antecipadamente censurado. Na verdade, somos todos influenciados pelo passado, quer o queiramos quer não. O que realmente importa não é o que se copia, mas como se copia. Há quem o faça bem, há quem o faça mal. Brian De Palma situa-se sem qualquer dúvida no primeiro caso. Pegou em (boas) ideias constantes em filmes anteriores e desenvolveu-as, dando-lhe o seu cunho muito pessoal. Não vejo qualquer problema nisso. Porque, no fim, foi o cinema que ficou a ganhar: “Blow Out” é um filme muito agradável de se seguir, onde o visual se sobrepõe à lógica narrativa. De Palma estabeleceu há muito as regras do seu cinema e cumpre-as mais uma vez.


CURIOSIDADES:

- John Travolta sofria de insónias na altura da rodagem do filme, o que de algum modo o ajudou a protagonizar a personagem de Jack Terry (por coincidência – ou talvez não – os dois nomes iniciam-se pelas mesmas letras, “J” e “T”)

- Foi por causa deste filme que Quentin Tarantino (admirador confesso do cinema de Brian De Palma) ofereceu um dos papéis principais de “Pulp Fiction” (1994) a John Travolta