domingo, agosto 30, 2015

C’ERA UNA VOLTA IL WEST (1968)

ACONTECEU NO OESTE
Um filme de SERGIO LEONE

Com Claudia Cardinale, Henry Fonda, Jason Robards, Charles Bronson, Gabriele Ferzetti, Paolo Stoppa, Woody Strode, Frank Wolff, Keenan Wynn, etc.

ITÁLIA-EUA-ESPANHA / 165 min /
COR 16X9 (2.35:1)

Estreia em ITÁLIA: 21/12/1968
Estreia nos EUA: NY, 28/5/1969
Estreia em PORTUGAL: 31/3/1970

Frank: «Keep your lovin' brother happy!»

Encomenda aceite por Sergio Leone como condição necessária para que lhe fosse autorizada a realização do projecto “Once Upon A Time In America” (filme que seria a sua derradeira obra, já nos anos 80), este western-súmula de todos os westerns viria a tornar-se um dos mais amados clássicos do género. Escrito por Bernardo Bertolucci, Dario Argento e o próprio Leone, como homenagem aos westerns mais célebres da história (onde pontificam, pela referência mais óbvia, “High Noon”, “Johnny Guitar”, “The Last Sunset”, “My Darling Clementine” ou “The Iron Horse”, entre várias dezenas de outros filmes), “Once Upon A Time In The West” viria a tornar-se, porém, num western completamente atípico, onde os diversos personagens estão envolvidos num véu de mistérios sombrios, que seriam paulatinamente revelados ao público durante o decorrer da história. Ou seja, contrariamente ao que se possa pensar, Leone não se limitou a decalcar situações já existentes em outros filmes, mas, pelo contrário, reinventa-as dentro do seu estilo muito particular.


Filme lento e contemplativo (sugerindo “os últimos suspiros” antes da morte, como Leone o caracterizava), rodado em cenários inóspitos do Utah (no Monument Valley, onde muitos filmes de John Ford foram feitos) e de Almeria, no sul de Espanha (onde a cidade de Flagstone foi erigida), “Aconteceu no Oeste” é um autêntico bailado operático, onde a música de Morricone e as imagens de Tonino Delli Colli coreografam sequências admiráveis em que a lentidão de processos atinge picos inusitados de uma beleza sufocante, raras vezes transmitida com tamanha carga hipnótica de encantamento. «Para mim», disse Leone na altura, «a banda sonora é o verdadeiro diálogo do filme. Nesse sentido, Ennio é o meu melhor argumentista». Cheio de razão, o genial cineasta italiano.


Na realidade, e contrariamente ao usual procedimento em cinema, Morricone compôs toda a partitura (um tema distinto para cada personagem) antes até das filmagens se iniciarem, o que permitiu que a música acompanhasse ao vivo a maior parte da rodagem. Daí talvez a explicação pela sensação constante de estarmos perante um espectáculo de acentuado cunho operático. Mesmo quando a música é substituída por sons, como na inesquecível sequência de abertura, onde durante cerca de 15 minutos somos como que hipnotizados por aquilo que se passa (ou não se passa) no écran.  Assim, e uma vez mais, Leone prefere contar a sua história através de meios essencialmente visuais, o que só engradece a obra em termos cinemáticos (na maior parte dos grandes filmes da história do cinema pode-se constatar esta preferência pelo olhar, em detrimento da palavra).


No que diz respeito ao elenco, Leone desenvolveu pela primeira vez um personagem feminino forte, à volta do qual todo o filme se constrói, e a que Claudia Cardinale transmite uma dimensão épica de pioneira do novo oeste. Ela é Jill McBain, apelido conseguido através do casamento recente com Brett McBain (Frank Wolff), por procuração. Antiga prostituta, vinda de New Orleans com o intuito de refazer a vida, mas que à sua espera tem os corpos do novo marido (e dos seus filhos) brutalmente assassinados. Jason Robards está magnífico como Cheyenne, um pistoleiro cansado e já desencantado pela vida, e Charles Bronson nunca foi filmado desta maneira em toda a sua carreira; a gaita de beiços que ele toca persistentemente, como augúrio de desgraças – e que dá nome ao seu personagem (“Harmonica”) – tornar-se-ia, ela própria, um instrumento fétiche do filme. Mas a grande surpresa é sem dúvida Henry Fonda, que aqui cria uma das figuras mais sádicas da história do cinema, ele que até então personificava sempre os maiores heróis americanos. De tal modo a sua interpretação foi conseguida que a cena do assassínio da criança foi sistematicamente cortada em todas as exibições comerciais do filme nos Estados Unidos. É que os americanos sempre gostaram muito de preservar os seus mitos pessoais...


Como seria de esperar, o filme foi na altura da sua estreia um autêntico fracasso, até porque nesse final dos anos 60 o western estava já morto e enterrado. Sobretudo nos Estados Unidos, onde mais uma vez uma obra de arte foi mutilada (em cerca de 20 minutos) em nome do comércio e do lucro fácil. A versão completa foi apenas exibida em França, onde, aí sim, o filme começou a ganhar rapidamente um público fiel que o iria transformar num objecto de culto e arte. Hoje, e como geralmente o tempo é bom conselheiro, “Aconteceu no Oeste” figura quase sempre nas listagens dos melhores filmes de sempre, tendo mesmo um lugar cativo no Top 10 dos melhores westerns. Partilho essa preferência, ao ponto de o considerar pessoalmente o melhor western de todos os tempos, e um dos filmes mais belos da história do cinema.


A edição especial de coleccionador vinda a público em duplo DVD (e mais recentemente em blu-ray) é um pequeno tesouro para todos os fans do filme, porque para além da completa e magnífica remasterização digital efectuada, oferece-nos ainda uma série de extras, entre os quais se destacam um trio de documentários (legendados em português) sobre a produção, o realizador e o elenco e também um comentário áudio brilhante do historiador de cinema Sir Christopher Frayling (onde transparece toda a fascinação sentida pela obra em análise) ao qual se juntam também outras pessoas ilustres da sétima arte: John Carpenter, Bernardo Bertolucci, John Milius e até a própria Claudia Cardinale.


CURIOSIDADES:

- Al Mulock, que interpreta um dos três pistoleiros da sequência de abertura, veio a suicidar-se durante as filmagens, tendo-se atirado da janela do hotel onde os actores e técnicos se encontravam hospedados (localizado em Guadix, a cerca de 80 km de Almeria). O actor tinha perdido a mulher um ano antes, vítima de cancro, tendo-se tornado viciado em drogas desde essa altura.

- O futuro realizador John Landis participou como duplo neste filme.

- Henry Fonda, que de início não queria entrar no filme, foi convencido por Leone que o queria pela primeira vez a interpretar um personagem malévolo, nada condizente com a imagem a que o actor tinha habituado o seu público. Como consequência, o cinema ganhou para o seu album de memórias, um dos mais frios e sinistros vilões da história. Outro pormenor, ilustrativo da perspicácia de Leone, foi o facto do realizador querer aproveitar a cor dos olhos do actor, o qual pretendia usar lentes de contacto para os escurecer.

- Mais de metade do orçamento do filme foi gasto no pagamento dos salários dos actores.




- Leone pretendia reunir os três actores de " The Good, The Bad and The Ugly" (Clint Eastwood, Lee Van Cleef and Eli Wallach) para interpretarem apenas a célebre sequência inicial (sendo mortos por Harmonica ao fim dos primeiros 15 minutos). Mas dada a indisponibilidade de Clint Eastwood abandonou a ideia.

- A filmagem do duelo final entre Frank e Harmonica é practicamente decalcada da que consta no filme de Robert Aldrich, “The Last Sunset” (entre Rock Hudson e Kirk Douglas), filme de que Bernardo Bertolucci era grande fã.

- Charles Bronson foi a terceira escolha para o papel de Harmonica, depois de Clint Eastwood e James Coburn o terem recusado. Esatwood por se encontrar indisponível e Coburn por ter exigido muito dinheiro.

- Quando a equipa de filmagens chegou a Almeria encontrou grandes pilhas de madeira, deixadas no local desde que em 1965 Orson Welles aí tinha rodado o filme “Falstaff”. Essas madeiras foram aproveitadas para erigir a plataforma onde decorre o início do filme e também na construção da cabana do rancho de Brett McBain. Esse local foi preservado, com o nome de “Rancho Leone”, e ainda hoje se encontra aberto ao público. Quem passar por Almeria…

- As filmagens concluíram-se nos finais de Julho de 1968, tendo totalizado 110 dias.

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sábado, agosto 29, 2015

BURYING THE EX (2014)

ENTERRAR A MINHA EX
Um filme de JOE DANTE

Com Anton Yelchin, Ashley Greene, Alexandra Daddario, Oliver Cooper, etc.

EUA / 89 min / COR / 
16X9 (2.35:1)

Estreia em ITÁLIA: Festival de Veneza, 4/9/2014
Estreia nos EUA: 19/6/2015
Estreia em PORTUGAL: Lisboa, Motelx (cinema S. Jorge), 10/9/2015


Max and Evelyn: «We will always be together... 
always and forever»

"Burying The EX" começou por ser uma curta-metragem de 15 minutos, escrita e realizada por Alan Trezza em 2008, que mais tarde reescreveu o argumento, visando a rodagem de um filme de fundo. Encontrou-se com Joe Dante, que gostou da ideia base, achando-a engraçada e original. Arranjado o dinheiro estritamente necessário, o filme foi rodado em escassos 20 dias em Los Angeles, California: «It was a lot of fun, a hectic shoot. We were clever about our locations and shooting all within the same area of town. The four leads are really fun and creative and brought a lot to the table», declarou Dante, numa entrevista de 2014. O filme viria a estrear-se no Festival de Cinema de Veneza, tendo desde aí sido apresentado em inúmeros outros festivais: Austria (Slash Film), Brasil (Rio de Janeiro), Espanha (Stiges), Finlândia (Night Visions), Mexico (Riviera Maya), estando agora programado para o Festival de Terror de Lisboa, o já afamado Motelx, que irá decorrer, como de costume, no Cinema S. Jorge (1ª sessão agendada para as 19:15 do dia 10 de Setembro).


A história resume-se numa relação envolvendo quatro pessoas: Max (Anton Yelchin), um tipo simplório, que trabalha numa pequena loja de memorabilia de terror, com especial destaque para os adereços de Halloween, chamada Bloody Mary's, é aliciado pela namorada, a caprichosa e voluntariosa Evelyn (Ashley Greene), afim de partilharem a mesma casa. Depressa se apercebe do erro que cometeu devido ao facto de Evelyn, uma activista ecológica militante, se revelar ainda mais egocêntrica e manipuladora do que quando viviam separados. A vida de Max começa a tornar-se complicada e o desejo de se soltar das amarras vai-se-lhe impondo cada vez mais no pensamento. A única coisa que o vai mantendo ao lado de Evelyn é o "bom" sexo (com recurso a adereços sensuais de catálogo) que ela lhe vai proporcionando. Desabafa com Travis (Oliver Cooper), um putanheiro que é seu meio-irmão, que o aconselha a acabar com a relação e regressar rapidamente à boa vida de solteiro. Só que Max não tem feitio para confrontações e sente autêntico pavor em dar o primeiro passo. Mas o destino intromete-se e Evelyn morre atropelada por um autocarro, deixando Max de novo sózinho. Pouco depois, à saída de um cinema, descobre em Olívia (a bela e curvilínea Alexandra Daddario) a sua alma-gémea, e com a qual pretende começar uma nova e duradoura relação. Mas esquece-se de uma promessa mútua feita alguns meses antes com Evelyn: «Ficaremos para sempre juntos, aconteça o que acontecer». Ora, uma promessa é para ser cumprida (sobretudo quando testemunhada por uma estatueta satânica de estranhos poderes), e Evelyn regressa mesmo do túmulo, ávida de sexo, para de novo complicar a vida do pobre Max.


"Burying The Ex" não é um filme para se levar a sério. Aliás, como a esmagadora maioria dos filmes de Joe Dante ("Gremlins", 1984; "Explorers", 1985; "Innerspace", 1987; ou o mais recente "The Hole", 2009), que habitualmente denotam um ponto de vista infantil por parte do realizador. Pelos vistos Dante continua agarrado à adolescência, uma vez que este não é excepção, apesar do enredo se focar nas relações sexistas dos 4 personagens principais. "Burying The Ex" é até um título feliz e apelativo, que desperta a atenção; e, de qualquer modo, o filme contém algumas sequências de humor negro bem divertidas que justificam o visionamento. Como por exemplo as queixas de Evelyn depois do regresso («Sabes como é difícil saír do caixão? Devias ter mais consideração por mim!») ou a participação de Max à polícia («A minha ex-mulher que tinha morrido, voltou! Comeu o meu irmão e agora quer comer-me a mim. Venham depressa!»). Ah e tem a Alexandra Daddario (a Lisa Tragnetti da série televisiva "True Detective"), que embora quase trintona, conserva todos os belos atributos que Nosso Senhor lhe deu.

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