quinta-feira, janeiro 26, 2012

FRED & GINGER: A DUPLA-MARAVILHA DO MUSICAL AMERICANO

Foi já um pouco tarde, aos 22 anos, que me introduziram à magia de Fred Astaire e Ginger Rogers. Aconteceu em Junho de 1975, num ciclo de sessões clássicas do saudoso Apolo 70, onde foram exibidos os seus filmes mais célebres. Na altura o tempo não era de revivalismos (vivia-se em Portugal o que politicamente ficou conhecido pelo "Verão quente"), muito menos de revivalismos musicais. Mas aquelas sessões, à meia-noite, fizeram-me descobrir todo um mundo maravilhoso onde imperava a alegria de viver - os inesquecíveis anos 30 do cinema musical americano. Foram essencialmente três os filmes que me fizeram ficar para sempre fã daquela dupla de bailarinos geniais: "Top Hat" (1935), "Swing Time" (1936) e "Shall We Dance?" (1937). No programa do ciclo (que ainda hoje conservo e de que aqui reproduzo a capa), podia ler-se o seguinte comentário de Lauro António, cineasta responsável nessa altura pela excelente programação do estúdio Apolo 70:
«O filme musical, na década de 30, era ainda um espectáculo subsidiário de um outro - o music-hall. Desta forma, o elemento importante de uma película musical era efectivamente o "número" musical. A ele tudo o mais se deveria submeter. Argumento e realização serviam esses elementos, bem assim como à própria cenografia. Com Fred Astaire e Ginger Rogers o essencial eram os seus duetos dançados, diálogos de emoção que caminhavam, através da simetria do entendimento perfeito, para a intimidade do casal. Com uma técnica de sapateado impecável, Fred Astaire ia por vezes mais longe e, em cada filme, ele próprio coreografava um "número" onde intervinha normalmente só. No máximo do seu talento, Astaire deslumbrava pela imaginação e elegância, em momentos de verdadeira antologia - em "Ritmo Louco", Astaire dança com as suas próprias sombras, num bailado notável; em "Vamos Dançar", Petrov ensaia com um disco riscado que não sai do mesmo sítio e o obriga a ele a acompanhá-lo, etc.
Mas, são ainda nos momentos de grande entendimento da dupla que melhor se define a sensibilidade e invenção de Fred Astaire e Ginger Rogers. Em "Chapéu Alto", um bailado a dois, com Ginger Rogers, saída de Marienbad, repleta de plumas que evoluem ao sabor da música; em "Ritmo Louco", toda a sequência final, com Fred Astaire e Ginger Rogers descobrindo-se verdadeiramente num cabaret deserto; ou esse espantoso bailado final de "Vamos Dançar", onde Fred Astaire descobre igualmente Ginger Rogers por detrás da sua própria máscara.
Mas não são só bailarinos impecáveis e insuperáveis. A dupla Astaire-Rogers vai mais longe. Astaire, tal como Stan Laurel (o "Estica" de uma outra dupla famosa), é um cómico de uma delicadeza e de uma elegância impressionantes. Os gags nascem com uma espontaneidade admirável, perante a estupefacta descontração de Astaire e o ar sonhador de Ginger Rogers. Ambos irradiam um charme muito especial que os anos ajudam a cimentar, criando-lhe um certo ar de descoberta".


FILMOGRAFIA CONJUNTA:
1949 - The Barkeleys of Broadway / O Bailado do Ciúme
1939 - The Story of Vernon and Irene Castle / O Bailado da Saudade
1938 - Carefree / Quero Sonhar Contigo
1937 - Shall We Dance? / Vamos Dançar?
1936 - Swing Time / Ritmo Louco
1936 - Follow the Navy / Siga a Marinha
1935 - Top Hat / Chapéu Alto
1935 - Roberta
1934 - The Gay Divorcee / A Alegre Divorciada
1933 - Flying Down to Rio / Voando Para o Rio de Janeiro

16 comentários:

gin-tonic disse...

Não mais se fizeram musicais como estes. Algumas excepções, naturalmente.
De Dezembro de 1985 a Março de 1986a "Cinemateca" e a Fundação Calouste Gulbenkian, organizram um inesquecível ciclo de cinema: "O Musical" e publicaram um imprecindivel catálogo em 4 volumes. Está lá tudo!

Rato disse...

Fui enganado, o meu catálogo só tem 2 volumes!

José Luís disse...

Pois tu viste os primeiros filmes desta dupla com 22 anos e eu, que já vou a caminho dos 70 nunca vi nenhum; e porquê?
Porque vivi praticamente toda a minha vida na província e a maioria destes filmes devem ter passado por cá antes ter nascido, ou quando ainda não tinha idade para ir ao cinema.
De reposições não me lembro.
É assim, já assim era e continua ser assim.

Rato disse...

Caro Zé Luís, hoje em dia já não há qualquer problema em vermos os filmes que queremos. Direi que em 80% dos casos eles estão editados em DVD. Como felizmente acontece com os filmes mais famosos aqui da dupla. Até que não são caros e, claro, vale mesmo muuuuiiito a pena!

gin-tonic disse...

Enganado, como?
O catálogo era composto por duas caixas. Aparentemente só tens a caixa com o 1º e o 2º volumes estando a faltar a segunda caixa com o III volume: "As Letras" da responsabilidade do João Bénard da Costa e o IV volume: "As pautas" da responsabilidade do Miguel Esteves Cardoso. Todo o catálogo é importantissimo mas, de facto, os dois primeiros volumes são os essenciais.

Rato disse...

Tá visto que só tenho mesmo os dois primeiros volumes.
Já agora, de que tratavam os outros?

José Luís disse...

Há de facto muitos filmes antigos em DVD e eu tenho alguns.
O problema para mim é de encontrar filmes com legendas em Português.
Se for à Amazon há quase tudo mas... e as legendas?
Se forem DVDs de música tudo bem, tenho uma série deles sem legendas nunhumas.
Se alguém souber onde poderei arranjar filmes antigos COM LEGENDAS, fico muto grato.

Rato disse...

Todos estes três filmes de Fred Astaire e Ginger Rogers - e mais alguns da dupla - foram editados em Portugal. Com legendas em português, obviamente.

gin-tonic disse...

O III Volume são 652 páginas, da responsabilidade de João Bénard da Costa, com os actores e actrizes do Musical ("só aparece no dicionário quem apareceu nos filmes do Ciclo", João Bénard dixit).
O IV volume são 252 páginas, da responsabilidade de Miguel Esteves Cardoso, e alinha os autores e compositores das letras e músicas.
"O crime é este: ninguém sabe os nomes de quem escreveu as canções. Qualquer pessoa assobia "Smoke Gets in Your Eyes", mas quantos sabem o nome de quem escreveu a melodia, e o nome de quem escreveu a letra?"
- Miguel Esteves Cardos na Introdução.

Nowhereman disse...

É sempre um prazer muito grande rever todos estes filmes da época de ouro do musical americano.
E ainda hoje tenho dúvidas de qual o meu favorito - Astaire ou Gene Kelly?
Que venha o Diabo e escolha...

José Luís disse...

Só queria renovar o pedido que fiz acima - onde encontrar filmes antigos com legendas em Português?
O Rato não respondeu à minha pergunta.
E peço desculpa pela insistência.

Rato disse...

Existe um site português (http://www.dvdpt.com/) que lista os filmes editados em Portugal - todos eles com legendas em português. Para se comprar, é boa opção consultar a FNAC - podem tê-los ou não, mas neste caso há sempre a posiibilade de se encomendar.
Claro que há muita coisa antiga não editada em Portugal e que se pode mandar vir pela internet. Mas aí tem de se procurar devidamente, pois nem todos trazem legendas em português

José Luís disse...

Agora sim, caro Rato, isso já é uma informação!
Já andei lá a ver e existem vários com edição nacional da Costa do Castelo.
Agora é só escolher e comprar!
Obrigado.

gin-tonic disse...

Durante alguns anos a RTP 2 funcionou como um cine-clube, onde filmes musicais, juntamente com outros géneros, eram. transmitidos regularmente. Chegou a ter uma rubrica "Cinco Noites, Cinco Filmes", onde houve a oportrunidade de, por ciclos,se assistir a verdadeiras pérolas cinemtográficas.
Desgraçadamente, uma senhora que dá pelo nome de Maria Elisa, quendo foi directora de programas da RTP, acabou com tudo isso. Entendeu que era cultura a mais e o que o povo queria era distrair-se com outras coisas...
Aleatórimanete a RTP Memória passa alguns destes filmes mas, lamentavelmente, sem estar sujeita a quaisquer padrões. Há que ir vendo a programação para ver se, em dia de sorte, nos calha um filme de outros tempos...

Alan Raspante disse...

Não me pergunte o motivo, mas ainda não vi nenhum filme com a dupla...

ANTONIO NAHUD disse...

Que encantadores! Gosto muito de O PICOLINO.

O Falcão Maltês