sexta-feira, março 30, 2012

BIO-FILMO: JEAN RENOIR

Nascido a 15 de Setembro de 1894, em Paris
Falecido a 12 de Fevereiro de 1979, em Los Angeles, EUA
Jean Renoir é, em primeiro lugar, a história de um desafio: ser o filho de um génio é, digam o que disserem, a pior coisa que pode acontecer a alguém. Ao lado de algumas excepções, quantos destinos trágicos? Quantos seres fantasmáticos, vítimas da autodestruição, não podendo desviar os olhos daquele que lhes infligiu a vida, repisando vezes sem fim o injusto desprezo que sentem por si próprios? O génio paternal cega-os, rebuscam-no incansavelmente, fascinados como pobres falenas. Jean Renoir saiu ileso da admiração que tinha pelo pai. Mas não se pense que este cineasta, com um rosto de bebé gigante, com a voz rouca e ofegante, atravessou sempre a vida a sorrir. Teve o seu quinhão de dramas, pois infelizmente a dor é a grande parteira do talento. Guardou certamente em si cavernas obscuras das quais se manteve muito púdico. Mesmo se não teve, como Joseph Von Sternberg, uma visão quase monomaníaca da sujeição do homem à mulher, os seus filmes oferecem “espécimes de criaturas” que nos provocam arrepios nas costas: Nana, La Chienne, Madame Bovary, são monstros adoráveis. São peritas na arte e na maneira de humilhar um homem, de o fazer sofrer e, acessoriamente, de o arruinar.
Valentine Tessier em "Madame Bovary"
Uma outra característica: amou sobretudo o povo, os vagabundos, alguns aristocratas, e votou à burguesia comerciante o desprezo de um Charles Fourier. Também ele dedicou um ódio eterno ao comércio. É talvez por isso que os seus filmes foram quase sempre, como se diz, “desastres” comerciais. O produtor Daryl Zanuck, sem querer, rendeu-lhe homenagem ao dizer-lhe um dia: «Senhor Renoir, o senhor não é dos nossos.» Isto explica a sua atitude na época da Frente Popular, a sua simpatia pelo Partido Comunista. Mas por mais que tenha amado as ideias generosas, foi antes de tudo um artista: procurou menos desmontar os mecanismos da luta de classes que mostrar os prejuízos da estupidez, da vaidade, do snobismo, que são de todos os tempos e de todos os países.
Com Marcel Dalio no set de "La Règle du Jeu"
Renoir sempre manifestou uma grande simpatia pelo ser humano. E, sobretudo, tinha uma coisa deliciosa que era a ausência total de retórica: não nos impingia discursos. Era um sujeito que fazia um filme por prazer, sentia um enorme gozo, não tinha qualquer pretensão de nos falar de problemas muito sérios. Era capaz de nos falar com um grande à-vontade, uma grande frescura, uma grande imaginação. Há coisas de que qualquer outro realizador era capaz de fazer uma tremendíssima chatice e ele faz um filme delicioso como é “A Regra do Jogo”, por exemplo, em que põe em causa uma série de coisas: toda uma sociedade, todo um comportamento a vários níveis sociais, etc., e faz isso com uma grande alegria, com aquela grande frescura que é, realmente, uma característica de Renoir, que foi sempre um optimista sobre a natureza humana.
Thomas E. Breen e Adrienne Corri em "The River"
Mas não era só humana a natureza que prendia a atenção de Renoir. As suas personagens não esqueciam o lado animal, tinham sempre presente a ligação à àgua, à terra. Nesse sentido, Renoir foi sempre um cineasta profundamente biológico, ao sentir que o ser humano fazia realmente parte da Natureza e não qualquer coisa que estivesse em contradição com ela. Outra das grandes qualidades de Renoir era que todas as suas personagens são profundamente humanas, profundamente autênticas: mesmo num filme de massas como é, por exemplo, o caso de “La Marseillaise”, as personagens do filme são verdadeiramente humanas e é sempre a partir, digamos assim, das aventuras de meia-dúzia de pessoas, que nós acompanhamos o desenrolar da história. Ora, essas personagens são-nos profundamente simpáticas e é sempre através delas que nós vemos a Revolução Francesa e a marcha sobre Paris. Portanto, em Renoir, parece que há sempre um caminho diferente, por exemplo, do de Eisenstein, pois Renoir procura chegar ao social através do ser humano pessoal e, nisto, talvez se possa estabelecer uma relação com o carácter crente de Renoir. No entanto, se Renoir era crente, devia ser um crente muito pouco dogmático. Assim, “O Rio Sagrado” é um filme profundamente místico e religioso, mas vê-se que Renoir terá tido, muito possivelmente, tanta simpatia pelo cristianismo como pelo budismo.
Eric Von Stroheim e Pierre Fresnay em "La Grande Illusion"
 Enquanto Roosevelt dizia de "A Grande Ilusão" [1937] que era «uma película que todos os democratas do mundo deveriam ver», Goebbles qualificava Jean Renoir, devido à mesma película, como «o inimigo cinematográfico número um». Define-se assim este realizador francês, que começou por acumular uma insuportável cadeia de fracassos comerciais, para se colocar, posteriormente, no grupo dos grandes clássicos do cinema. O contributo de Renoir não está apenas na sua requintada sensibilidade, mas também e fundamentalmente, na medida em que traduz com o seu trabalho a síntese de uma série de condicionamentos históricos, que vão desde a origem burguesa do realizador - nunca desprezada por ele, muito pelo contrário, aproveitada em todas as suas dimensões - ao compromisso político da Frente Popular. O seu valor reside, em suma, na aceitação dos seus condicionalismos e no pleno aproveitamento deles para reflectir plasticamente o momento que vive. Pintor sem o pretender, os seus filmes começam num naturalismo que se aproxima da realidade sem sofisticações, sem "maquilhagens", como ele próprio diria. Naturalismo sensual que procura reflectir a realidade sem maniqueísmos, plenamente entregue à captação da autenticidade, mais que ao respeito por uma poética determinada.
Nora Gregor e Jean Renoir em "La Règle du Jeu"

 Que o realizador de "A Regra do Jogo" não conseguisse em todos os seus filmes a perfeição narrativa daquele, de modo algum nos pode fazer pensar numa decadência estrepitosa ou, se o quisermos, desagradável. A simplicidade narrativa de todas as suas obras; o sentido da encenação, que começa indispensavelmente na necessidade da própria situação que se filma mais que em imposições estéticas; a valorização dada a cada uma das personagens, consideradas sempre como seres irrepetíveis, e a estrutura das situações, que se desenrolam sempre a partir das necessidades dessas personagens e, portanto, com a fluidez natural do quotidiano, colocam Jean Renoir entre os mestres íntimos do naturalismo, da liberdade, da improvisação, da honestidade.           
"Gabrielle e Jean", pintura de Auguste Renoir
 Jean Renoir nasceu no bairro/colina de Montmartre, em Paris, no dia 15 de Setembro de 1894. O seu pai era Pierre-Auguste Renoir, o conhecido pintor (tinha na altura 53 anos e já era famoso). A sua mãe foi Aline Charigot, que tinha servido de modelo ao pai por diversas vezes. Passa uma infância feliz entre Montmartre e Cagnes-sur-Mer (no sul de França), onde os pais costumavam passar os invernos e onde acaba por se fixar definitivamente em 1907. Para se ocupar da criança, veio viver com a família uma prima da mãe de Renoir, Gabrielle, que ficaria conhecida por ter sido um dos modelos favoritos de Auguste Renoir. Também o pequeno Jean é representado inúmeras vezes nas telas do pai, coisa que o futuro realizador não apreciava particularmente. Aos 8 anos, Renoir entrou para o colégio religioso da Santa Cruz em Neuilly, um dos bairros chics de Paris. Saiu assim do ambiente familiar, que descreveu em termos em que a ironia não esconde certo “susto”: a mãe, severa, o pai permanentemente ocupado com o seu trabalho que, acima de tudo, era preciso venerar e a doce presença de Gabrielle. Ao colégio chamou “prisão elegante”. Mas é lá que assiste pela primeira vez a um filme completo, “Les Aventures de l’Auto-Maboul”, que o fascinou: «Daria bom dinheiro para voltar a ver esse programa. Era cinema do melhor», escreveu em 1938.
Pintura de Auguste Renoir
 No entanto, o seu verdadeiro primeiro contacto com o cinema data de alguns anos antes, em 1897. Acompanhava Gabrielle numas compras e os armazéns a que foram (lojas Dufayel) tinham uma das primeiras salas de cinema: «Mal nos sentámos, fez-se escuro. Uma máquina aterradora lançou um raio luminoso que atravessou perigosamente a obscuridade. No écran apareceram imagens incompreensíveis. Tudo isto acompanhado, por um lado, pelo som dum piano, por outro, por uma espécie de marteladas, vindas da máquina infernal. Desatei a chorar e tiveram que me levar dali para fora. Não suspeitei que o ruído ritmado da cruz de malata iria ser, mais tarde, para mim, a mais doce das músicas.» Em 1907 a família Renoir deixa Paris e ruma a Provença. Renoir é matriculado num liceu de Nice, onde três anos depois termina os estudos secundários sem particular brilho. A cerâmica interessava-o e o pai encorajou-o nessa direcção. Nesse ano, com 16 anos, Renoir ingressa na Universidade de Aix-en-Provence, onde frequenta cursos de filosofia e matemática.
Pintura de Auguste Renoir
 Em 1913, quando se preparava para entrar na Escola Militar de Saumur (queria ser cavaleiro), rebenta a Primeira Guerra Mundial e é enviado para a Frente, no leste de França. No início de 1915 ele e o irmão Pierre são gravemente feridos (Renoir fractura o colo do fémur, o que o tornou inapto para o serviço militar; em consequência disso, coxeou ligeiramente toda a vida) e nesse mesmo ano a mãe, diabética, vem a falecer. É durante a convalescença que Renoir descobre o cinema. “Os Mistérios de Nova Iorque”, título dado por Charles Pathé, na Europa, à versão do filme americano “The Exploits of Elaine de Gasnier e Mackenzie” (com Pearl White) entusiasmou-o de tal modo que os amigos lhe passaram a chamar Elaine Dodge. Depois, foi a revelação de Charlot: «Falar de entusiasmo não chega. Fiquei transtornado. O génio de Chaplin revelou-se-me. Durante anos, ignorei o nome do meu ídolo. Foi um oficial escocês que encontrei num comboio que me fez descobrir a verdadeira identidade de Charlot. Também me fez descobrir o whisky da sua terra. Essas duas revelações deram-me idêntico prazer… Tornei-me num fanático do cinema. Charlie Chaplin converteu-me. Chegava a ver três filmes por dia, duas sessões à tarde e uma à noite. Interessava-me sobretudo o cinema americano. Evitava os filmes franceses, demasiado intelectuais para meu gosto.»
O cineasta quando novo
 Do ponto de vista da carreira a seguir, a vocação do jovem Renoir continuava incerta. Apesar do ferimento, conseguiu obter o brevet de aviador (como para Hawks, a aviação, nos seus tempos heroicos, seria uma das suas paixões) mas novo acidente, numa aterragem forçada, obriga-o a interromper essa actividade. Apesar do seu gosto pelo cinema, não pensava ainda que essa fosse profissão que se pudesse seguir. O irmão mais velho, Pierre Renoir (1885-1952), que seria um grande actor de teatro e cinema (entrou em vários filmes do irmão) e que, à época, obtivera já o primeiro prémio de tragédia no Conservatório, era de opinião que o cinema não fora feito para os franceses: «A nossa bagagem literária e artística é muito pesada e impede-nos de avançar nessa direcção. Deixemos o cinema aos americanos.» Essa bagagem parecia não pesar muito sobre Jean, apesar – ou por causa – do ambiente familiar. Confessou abominar o género de teatro clássico que o irmão fazia. Quanto ao pai, segundo testemunho do filho, nada o enfurecia mais que os “intelectuais” que «não sabem nem ver, nem ouvir, nem tocar.» O trabalho, a técnica, a “mão”, eram, para o célebre pintor, valores muito mais importantes que a “inspiração” ou as grandes elocubrações sobre a arte. Por isso, continuando a pensar que Jean e o mais novo dos Renoirs, Claude (o Coco dos quadros) tinham algum jeito para a cerâmica, mandou construir um atelier e um forno, perto da nova propriedade onde habitavam, as Colettes, nos arredores de Nice. Para lá foi viver Jean Renoir, em Novembro de 1918, quando a guerra acabou e passou à disponibilidade com o posto de tenente. Tinha 24 anos.
Catherine Hessling em "Nana"
Renoir conhece em Colettes Andrée Heutschling, último modelo do pai (que adoptaria o pseudónimo de Caherine Hessling no cinema), com quem casaria em Janeiro de 1920. O casamento durará oficialmente até 1943, apesar do casal viver junto apenas durante 10 anos. Subsistindo confortavelmente com a herança que o pai, falecido a 3 de Dezembro de 1919, lhe deixara a si e aos irmãos, Renoir é constantemente tentado por Catherine (que lhe dá um filho, Alain, em Outubro de 1921) para fazer cinema. Para se preparar para a ambicionada profissão, conta-se que viu mais de dez vezes o filme “Foolish Wives”, de Eric Von Stroheim (que em 1937 participará como actor em “La Grande Illusion”). Descobre também uma nova admiração: David Wark Griffith. Até aí limitara-se a admirar actores: Chaplin, Pearl White, Mary Pickford, Lilian Gish. O irmão Pierre ensinou-lhe que “por detrás dos actores” havia um personagem essencial: o realizador: «Rapidamente, comecei a distinguir entre os estilos de filmes dirigidos por realizadores diferentes. Foi um novo período da minha vida. Seguia, com o coração a bater, os trabalhos de Griffith. A maravilha das maravilhas era o grande plano. Não mudei de opinião. Sobretudo, os grandes planos de mulheres. Alguns grandes planos de Lilian Gish, outros de Mary Pickford, mais tarde de Greta Garbo, ficaram-me para sempre na memória. A ampliação permite saborear o grão da pele. Um ligeiro movimento dos lábios revela-nos algo da vida interior dessa mulher ideal. Consigo gramar o filme mais chato do mundo se tiver um grande plano bonito duma actriz de que eu goste. O meu gozo com os grandes planos é tão grande que já me aconteceu meter nos meus filmes sequências perfeitamente inúteis para a acção, só porque me dão a possibilidade dum belo grande plano.»
A sua primeira experiência no cinema não foi das mais felizes, por entre processos judiciais e disputas com Albert Dieudonné, o suposto co-realizador de “Catherine ou Une Vie Sans Joie” (onde a sua mulher era protagonista), que terá sido o primeiro filme de Jean Renoir. Mas os tribunais deram razão a Dieudonné quando este se afirmou como único realizador e o filme acabou por ser distribuído em 1927, sem qualquer impacto. No entanto, e não obstante esse contratempo, Renoir descobre que o cinema era de facto a sua vocação e realiza, no espaço de dois anos, as suas primeiras obras, financiadas com o dinheiro ganho com a venda dos seus objectos de cerâmicas (que as pessoas compravam para poderem dizer que possuíam um vaso de Renoir): “La Fille de L’Eau” e “Nana”. A estreia deste último, na grande sala do Moulin Rouge, passou-se entre assobios e aplausos: «Essa apresentação foi o prelúdio do que viria a ser a história da minha carreira. Estava no meu destino ser empurrado aos extremos – os meus espectadores são ou contestatários ou entusiastas. Jamais o meio termo.» O filme custou um milhão de francos (soma fabulosa para a época) e os Renoirs ficaram arruinados. Para pagar as dívidas, venderam os quadros de Auguste: «Cada venda parecia-me uma traição. Nunca me senti tão ligado à memória do meu pai.»
Catherine Hessling em "La Fille de l'Eau"
Apesar de lhe ter passado pela cabeça abandonar o cinema, Renoir acaba por se associar a Jean Tedesco, director do Teatro Vieux Colombier e consegue improvisar um estúdio num canto das instalações. É aí que passa a filmar, e nos três anos seguintes surgem mais alguns filmes de encomenda, onde se destacam “Sur Un Air de Charlestone” e “La Petite Marchande d’Allumettes”, que foi o primeiro a ser distribuído em Portugal. “Tire au Flanc” é o seu último filme mudo, no qual obteve a colaboração, pela primeira vez, de Michel Simon, o seu actor preferido. Embora as características do seu cinema ainda não se assumam nestes primeiros filmes, Renoir procura já, sob as várias influências, uma gramática que combine as melhores lições de Griffith e Chaplin com o sentido do décor e da direcção de actores vindos do cinema alemão e com uma liberdade de movimentos de câmara a que o cinema assistia pela primeira vez.
Nenhum dos filmes foi um êxito. Mas Renoir tornou-se um nome conhecido. O que levou a que lhe confiassem duas outras obras “de encomenda”: “Le Tournoi Dans la Cité” e “Le Bled”, ambos de 1929. O primeiro foi estreado em Bruxelas, em sessão de gala para a família real; o segundo destinou-se a comemorar o centenário da Argélia. No mesmo ano, estreou-se como actor em dois filmes, dirigidos pelo realizador brasileiro, o seu amigo Alberto Cavalcanti. Fez de lobo no “Petit Chaperon Rouge” (Catherine Hessling foi o capuchinho vermelho) e de “malabar” em “La Petite Lili” (uma vez mais com Catherine). Em todos os filmes realizados nos anos 20 (Renoir só “tomou a sério” “Charleston”) prevalece a ideia do divertimento, dando ao termo o seu significado etimológico e que, na história da música, assumiu no século XVIII. Por outro lado, esses filmes, sobretudo através de Hessling (presente em quase todos) e de Michel Simon, mostram-nos o actor como emanação do autor, máscara de que este se reveste para iludir com outras aparências a aparência da sua ilusão: «Aparência – radar invisível e inanalisável, em que tanto acredito e cujos efeitos ultrapassam qualquer explicação científica.»
 Em 1929, obrigado à inércia devido ao fracasso dos seus últimos filmes mudos, Renoir viaja para a Alemanha com Pierre Braunberger, onde assiste a representações de peças de Bertolt Brecht. Graças a Braunberg, que dirige os estúdios de Billancourt, Renoir filma em 6 dias o seu primeiro filme sonoro, “On Purge Bébé”, com Michel Simon e Fernandel. O filme irá ser um grande sucesso, permitindo-lhe filmar, logo de seguida, “La Chienne”. Entretanto separa-se finalmente de Catherine, escandalizada por não ter o papel principal nesse filme. A nova companheira de Renoir, a técnica de montagem Marguerite Houllé, assina “Marguerite Renoir” no genérico dos seus filmes.
Michel Simon e Janie Marèze em "La Chienne"
 Com o advento do sonoro (de que Renoir foi um entusiasta de primeira linha, ao contrário de muitos realizadores da época), a década de 30 foi um período muito rico para o cinema francês e Renoir afirma-se cada vez mais, realizando 15 filmes, entre os quais as suas obras mais conhecidas e abrangendo diversos géneros: o policial (“La Nuit du Carrefour”, “Le Crime de Monsieur Lange”), o filme de guerra (“La Grande Illusion”), o filme histórico (“La Marseillaise”), a fábula (“Boudou Sauvé des Eaux”), a comédia satírica (“La Règle du Jeu”) ou ainda adaptações literárias (“Madame Bovary”, “Les Bas-Fonds”, “La Bête Humaine”), sem esquecer também um filme inacabado (“Une Partie de Campagne”). É durante este período que Renoir descobre o melhor e o pior do público e da crítica. E os opostos encontram-se bem definidos em dois filmes fundamentais: “La Grande Illusion” [1937] e “La Règle du Jeu” [1939].
"Partie de Campagne"
 Se no primeiro caso o realizador viu nascer o seu maior êxito de bilheteira e um grande respeito (que lhe valeu o Prémio do Melhor Conjunto Artístico no Festival de Veneza, uma categoria que o Júri lhe atribuíu de propósito para contornar as pressões políticas do governo italiano contra o filme), numa notável história em volta de prisioneiros de guerra, no segundo o escândalo foi atroz, e levou pessoas a quererem incendiar cinemas, pois era bem visível que Renoir mostrava a decadência da burguesia e a fragilidade da França face ao nazismo que estava à porta, o que irritou meio mundo, mesmo depois de ter sido feita uma montagem alternativa. Os alemães exigiram a sua destruição quando chegaram a Paris; em Portugal, foi proibido durante mais de trinta anos. Tinham razão: poucos filmes – ou nenhum – foram como este tão subversivos. No entanto, o filme ganhou, juntamente com “La Grande Illusion”, um estatuto de clássico absoluto pelo seu arrojo, mise-en-scène perfeita e linguagem cinematográfica de excelência, onde os jogos de profundidade de campo, a fluidez da câmara, um ritmo de montagem perfeito e os vários níveis da narrativa são constantes.
Jean Gabin e Simone Simon em "La Bête Humaine"
 No início dos anos 40 começa a viver com Dido Freire, filha de um diplomata brasileiro e sobrinha de Cavalcanti, com quem estará até à morte (casará com ela já na América, depois de adquirir a nacionalidade americana). Quando chega a 2ª Guerra Mundial, Renoir encontra-se em Itália. Regressa a Paris, mas em Junho de 1940, quando a Alemanha invade a França, parte para Argel e depois para Lisboa, onde passa algumas semanas (tendo sido alvo de uma homenagem da revista “Animatógrafo”) antes de rumar aos Estados Unidos, onde desembarca, em Nova Iorque, a 31 de Dezembro. Obtém permissão para trabalhar e é em solo americano que viverá até ao fim da vida, não deixando contudo de passar longas estadias na Europa. Em Janeiro de 1941 assina um contrato com a Fox e tal como aconteceu com outros realizadores imigrados (Fritz Lang, Douglas Sirk), o exílio transforma drasticamente a carreira de Renoir, sem que no entanto o consiga fazer parte da engrenagem de Hollywood.
 Renoir deparou-se com uma grande dificuldade em encontrar projectos que o satisfizessem, apesar de ter feito seis filmes (e colaborado num colectivo de propaganda, “Salute to France”), antes de reatar relações com o seu país natal. De destacar “This Land Is Mine”, onde dirigiu Charles Laughton e Maureen O’Hara. Por entre uma realização irrepreensível e um leque de cenas inesquecíveis (tal como a representação bigger than life de Laughton) o filme, como refere o crítico Luís Miguel Oliveira, é um verdadeiro “grito de guerra”, com uma temática que já marcava o seu cinema da fase francesa. Em 1945 surge “The Southerner”, um competente exemplo do drama realista que conta as dificuldades de uma família pobre que tenta fazer da agricultura um meio de sustento, por entre a inveja dos vizinhos. No ano seguinte temos “The Diary of a Chambermaid”, onde Renoir concede espaço para Paulette Goddard brilhar ( a actriz já se encontrava divorciada de Chaplin nessa altura). Dezoito anos mais tarde Luis Buñuel faria o mesmo filme, com Jeanne Moreau como protagonista (o romance de Octave Mirbeau foi a obra adaptada em ambas as versões).
Paulette Goddard em "The Diary of a Chambermaid"
 Renoir sente-se só na América (inclusive é alvo de uma vigilância discreta do FBI), mas também sente idêntica solidão em França, que visitou no fim da guerra. «Existe uma raça de verdadeiros solitários. São raros. Os que nascem solitários conseguem isolar-se num mundo inteiramente fabricado por eles próprios. A maior parte dos solitários só aparentemente pertence a esta categoria. Nasceram para fazer parte do mundo que os rodeia. Só após um acontecimento, regra geral doloroso, se tornaram solitários. Esses, têm muita dificuldade em não quebrar a sua solidão. Embora, quanto mais envelhecesse, mais proclamasse essa verdade consoladora de que o mundo é uno, a verdade é que me lançava no estudo de personagens cuja única ideia era a de fechar a porta a esse fenómeno perfeitamente concreto que se chama a vida. Era um erro da minha parte.»
 1947 marcaria a realização do último filme de Renoir nos Estados Unidos, “The Woman on the Beach”, uma das suas obras mais belas e enigmáticas, com Robert Ryan, Joan Bennett e Charles Brickford envolvidos num triângulo amoroso com consequências invulgares. O misticismo de Bennett, a mente assombrada de Ryan e a cegueira física e moral de Bickford compõem um excelente filme com tons de film noir. E é a partir daqui que a carreira de Jean Renoir entra no seu período final. Em Outubro de 1949 Renoir regressa a França numa breve visita, enquanto se preparava para realizar um novo filme que seria passado na Índia, “The River”. O sempre esclarecido João Bénard da Costa chegou a afirmar que o filme estava para a obra de Renoir um pouco como as “Afinidades Electivas” estavam para a obra de Goethe, a “Mensagem” para a de Fernando Pessoa ou a “Clemência de Tito” para a de Mozart: «são coisas muito grandes, muito belas, mas que parecem pouco características, sem que isso seja secundário.»
Adrienne Corri em "The River"
Premiado em Veneza, “The River” foi um êxito de bilheteira e da crítica e marca um ponto de viragem no percurso artístico de Renoir, o seu regresso à ribalta, perante um público e uma crítica que se encontravam nessa altura a redescobrir toda a sua obra anterior. Nos cinco anos seguintes o cineasta dirige três filmes que se encaixam como uma trilogia, ainda que não tivessem sido pensados como tal. É a conhecida como a “trilogia do espectáculo”, onde se reportam fantasias cómicas de um certo período, em que poderosos jogos de cor coreografam as relações entre as classes alta e baixa, entre os espectadores e os actores, que tornam o mundo num imenso teatro: “Le Carrosse d’Or” (com a portentosa Anna Magnani), “French CanCan” (a imortalizar o célebre Moulin Rouge de Paris, e com Jean Gabin e Françoise Arnoul) e ainda “Elena et les Hommes” (com a belíssima Ingrid Bergman – de quem Renoir se tornara muito amigo - a liderar o elenco com Jean Marais e Mel Ferrer), uma comédia de amor e poder que tem como fundo histórico a Belle Époque. Este filme foi realizado em duas versões, a francesa e a inglesa, sendo a primeira considerada por Renoir como a versão de referência.
Mel Ferrer e Ingrid Bergman em "Elena et les Hommes"
 É nestes meados dos anos 50 que na revista Cahiers du Cinéma começam a aparecer, como críticos, os futuros realizadores da chamada Nouvelle Vague: Rivette, Godard, Truffaut, Chabrol, Rohmer, Resnais, todos eles unânimes em considerar Jean Renoir o mestre incontestado, o “Boss”, como o alcunhavam. É a contribuição decisiva para que a obra de Renoir passe a ser venerada na história do cinema. “Le Testament du Docteur Cordelier” (baseado na obra de Stevenson) e “Le Déjeuner Sur L’Herbe” (que conheceu um considerável sucesso) são os dois filmes, de contornos televisivos, que Renoir realiza em 1959, antes do seu derradeiro filme de ficção, “Le Caporal Épinglé” ver a luz do dia em 1962, ano em que publica uma biografia do pai. Em 1966 assina o seu primeiro romance, “Les Cahiers du Capitaine Georges” e em 1969 Renoir despede-se do cinema com “Le Petit Théâtre de Jean Renoir”. Regressa definitivamente a Los Angeles, onde vem a receber um Oscar Especial em 1975 pelo conjunto da sua obra.
Com Jean-Luc Godard
 «Os meus amigos franceses fazem-me sempre a mesma pergunta: “Porque escolheste viver na América? És francês, e precisas do ambiente francês”. A minha resposta é que o ambiente que me fez o que sou, é o cinema. Sou um cidadão da cinematografia. Para um cidadão da cinematografia, que melhor lugar para viver – e morrer - que Hollywood?» As suas memórias, “Ma Vie et Mes Films” tinam sido publicadas no ano anterior, por altura dos seus 80 anos. Depois de ver editados mais três romances seus (“Le Coeur à l’Aise”, “Le Crime de l’Anglais” e “Geneviève”), Jean Renoir viria a falecer a 12 de Fevereiro de 1979, aos 84 anos, deixando uma excepcional variedade de registos na Sétima Arte. Foi depois enterrado na aldeia de Essoyes, na Borgonha, ao lado do pai. No dia da sua morte, Orson Welles assinou uma nota necrológica no Los Angeles Times, intitulada “The Greates of All Directors”. Certamente que sabia do que falava.
"Le Déjeuneur sur l'Herbe"

 FILMOGRAFIA:

1969 – Le Petit Théâtre de Jean Renoir
1962 – Le Caporal Épinglé / O Cabo de Guerra
1959 – Le Testament du Docteur Cordelier / O Testamento do Médico e do Monstro
1959 – Le Déjeuner Sur L’Herbe / Um Piquenique no Campo
1956 – Elena et les Hommes / Elena e os Homens
1954 – French CanCan
1953 – Le Carrosse d’Or / A Comédia e a Vida
1950 – The River / O Rio Sagrado
1946 – The Woman on the Beach / A Mulher Desejada
1946 – The Diary of a Chamber Maid / O Diário de Uma Criada de Quarto
1945 – The Southerner / Semente de Ódio
1943 – This Land Is Mine / Esta Terra é Minha
1943 – The Amazing Mrs. Holliday / A Alegre Viuvinha (co-realização com Bruce Manning)
1941 – Swamp Water / Águas Sombrias
1939 - Tosca (terminado por Carl Koch)
1939 – La Règle Du Jeu / A Regra do Jogo
1938 – La Bête Humaine / A Fera Humana
1938 – La Marseillaise
1937 – La Grande Illusion / A Grande Ilusão
1936 – Les Bas-Fonds / O Mundo do Vício
1936 – Une Partie de Campagne / Passeio ao Campo
1936 – La Vie Est à Nous (co-realização com André Zwoboda e Jacques Becker)
1936 – Le Crime de Monsieur Lange / O Crime do Senhor Lange
1935 – Toni
1934 – Madame Bovary
1933 – Chotard et Cie
1932 – Boudou Sauvé des Eaux / Boudou Querido
1932 – La Nuit du Carrefour
1931 – La Chienne
1931 – On Purge Bébé
1929 – Le Bled
1929 – Le Tournoi Dans la Cité
1928 – Tire-au-Flanc
1928 – La Petite Marchande d’Allumettes / A Pequena Vendedora
1927 – Marquitta / Marquita
1927 – Sur un Air de Charleston
1926 – Nana
1924 – La Fille de L’Eau / O Turbilhão do Destino
1924 – Catherine ou Une Vie Sans Joie (co-realização com Albert Dieudonné)
 
Jean Renoir

segunda-feira, março 26, 2012

ANIVERSARIANTES DA SEMANA

Dia 26:  James Caan (72 anos)
Dia 26:  Leonard Nimoy (81 anos)
Dia 26:  Alan Arkin (78 anos)
Dia 26:  Diana Ross (68 anos)
Dia 27:  Quentin Tarantino (49 anos)
Dia 27:  Michael York (70 anos)
Dia 27:  Mariah Carey (43 anos)
Dia 27:  Jann Arden (50 anos)
Dia 28:  Julia Stiles (31 anos)
Dia 28:  Dianne Wiest (64 anos)
Dia 28:  Reba McIntire (57 anos)
Dia 29:  Christopher Lambert (55 anos)
Dia 29:  Terence Hill (73 anos)
Dia 29:  Bud Cort (64 anos)
Dia 29:  Vangelis (69 anos)
Dia 30:  Warren Beatty (75 anos)
Dia 30:  Céline Dion (44 anos)
Dia 30:  Norah Jones (33 anos)
Dia 30:  Eric Clapton (67 anos)
Dia 30:  Richard Dysart (83 anos)
Dia 30:  Tracy Chapman (48 anos)
Dia 31:  Ewan McGregor (41 anos)
Dia 31:  Christopher Walken (69 anos)
Dia 31:  Richard Chamberlain (78 anos)
Dia 31:  Shirley Jones (78 anos)
Dia 31:  Nagisa Oshima (80 anos)
Dia 31:  Volker Schlöndorff (73 anos)
Dia 31:  Herb Alpert (77 anos)
Dia   1:  Debbie Reynolds (80 anos)
Dia   1:  Annette O’Toole (60 anos)
Dia   1:  Ali MacGraw (73 anos)
Dia   1:  Jimmy Cliff (64 anos)
Dia   1:  Milan Kundera (83 anos)

sábado, março 24, 2012

WALK THE LINE (2005)

WALK THE LINE
Um filme de JAMES MANGOLD


Com Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick, Dallas Roberts, etc.


EUA / 136 min (153 min) / COR / 
16X9 (2.35:1)


Estreia nos EUA: 4/9/2005
(Festival de Telluride)
Estreia no BRASIL a 10/2/2006
Estreia em PORTUGAL a 16/2/2006


It burns, burns, burns…like a ring of fire!

Nunca fui grande apreciador da música country em geral ou de Johnny Cash em particular. Mas este filme teve o condão de me fazer interessar por esse universo musical quando o vi na estreia, há seis anos atrás. Sobretudo pelas canções do man in black, que vim posteriormente a descobrir. Na altura pouco mais conhecia do que alguns títulos emblemáticos, como “The Ring of Fire” ou “I Walk the Line , que dá o nome ao filme. Cheguei a ter também em vinil o duplo de 1969, “Live at San Quentin”, que na altura da sua saída comprei apenas pelo estranho facto de ter sido o álbum cujo nº total de vendas conseguira ultrapassar, nada menos que o álbum branco dos Beatles – uma autêntica heresia para a juventude daqueles anos. Revi-o agora em Blu-ray (a edição italiana, que, tal como a francesa, tem mais 17 minutos do que a versão original, exibida comercialmente, e além disso vem com inesgotáveis complementos, tudo devidamente legendado na língua portuguesa) e a boa memória que o filme me tinha deixado consolidou-se. “Walk The Line” é de facto um filme muito bom e um dos melhores biopics feitos até à data, a par de “Ray”, de Taylor Hackford, realizado no ano imediatamente anterior, e sobre a vida do imortal Ray Charles.
 James Mangold, director nova-iorquino que nunca ultrapassou uma certa mediania (talvez o filme mais interessante que lhe conheço seja o “Identity”, de 2003, uma espécie de terror psicológico com John Cusack e Ray Liotta nos principais papéis), consegue aqui uma feliz adaptação das duas autobiografias em que o filme se baseia: “The Man In Black” e “Cash: An Autobiography”, esta última escrita por Cash em parceria com Patrick Gill. O argumento final teve ainda a colaboração dos verdadeiros Cash e June Carter, na altura ainda vivos (viriam a falecer, com quatro meses de intervalo, antes da produção do filme ter tido início), o que contribuiu decisivamente para o script ser o mais fiel possível à realidade. O grande desafio foi mesmo o de se condensar em pouco mais de duas horas uma vida tão rica, cheia de episódios marcantes. A opção foi portanto acabar a história pouco depois do casamento, em Março de 1968 (June tinha 38 anos e Cash 36). Os dois viriam a viver ainda 35 anos juntos - uma relação que, tanto quanto se sabe, manteve acesa a chama da paixão que os uniu na juventude e que este filme tão bem documenta.
 “Walk The Line” (título curioso para quem andou quase sempre “fora da linha”), acompanha a vida de Johnny Cash desde a infância em Arkansas até ao sucesso alcançado por intermédio da lendária editora Sun Records, de Sam Philips, homem responsável pelo lançamento de Elvis Presley e de outros nomes célebres do rock ‘n’ roll: Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Roy Orbsion, que de igual modo aparecem no filme como companheiros das longas digressões e espectáculos ao vivo. Cash começou a escrever as suas primeiras canções aos 12 anos de idade, inspirado nas músicas que ouvia na rádio. Viviam-se tempos de crise - eram os anos da Depressão Americana - e o grande apoio do jovem era o seu irmão mais velho, companheiro inseparável de brincadeiras e cumplicidades. A sua morte, prematura e trágica, teve como consequência o eclodir de traumas que acompanhariam Johnny Cash durante toda a vida. Mais tarde alista-se na Força Aérea e é mobilizado para a Europa (Düsseldorf, na Alemanha), onde vem a comprar a primeira guitarra, que aprende a tocar sozinho.
 De volta aos Estados Unidos casa-se com a namorada da adolescência e muda-se para Memphis, onde forma um trio musical. Depois de muitas tentativas conseguem a sonhada audição com Sam Philips e a partir daí Johnny Cash entra na lenda da música country norte-americana. De temperamento difícil, explosivo por vezes, Cash vê-se rapidamente envolvido numa espiral de sentimentos, em que a sua paixão por June Carter, recém-divorciada, irá colocar um ponto final no primeiro casamento, onde as discussões constantes eram o pão nosso de cada dia (pelo menos no pouco tempo em que Cash não andava por fora, em digressão). Johnny & June (título com que o filme foi baptizado no Brasil), duas pessoas unidas por uma enorme paixão, que só a morte irá separar (e mesmo assim por escassos quatro meses, o tempo que levou Cash a seguir os passos da sua musa e companheira de toda a vida), mas que não foi isenta de problemas e conflitos, muito por causa do cantor se ter deixado viciar pelo álcool e pelas drogas.
 O grande mérito de “Walk the Line” é ter conseguido retratar todo aquele mundo dos inícios do rock ‘n’ roll sem caír na caricatura fácil ou grosseira, a que não será alheia a magnífica interpretação, quer de Joaquin Phoenix quer de Reese Witherspoon, esta última justamente galardoada com variadíssimos prémios, entre os quais o Óscar, o BAFTA e o Globo de Ouro. Refira-se que, estranhamente, este último galardão lhe foi atribuído na categoria de filme “de comédia” ou “musical”, géneros com que, na verdade, “Walk the Line” não se identifica de todo. Ambos os actores aprenderam a tocar (guitarra e harpa), além de, durante 6 meses, terem tido aulas de canto com o produtor T-Bone Burnett. Isto porque Mangold insistiu, desde o início, que fossem os actores a emprestarem as respectivas vozes às canções. Aposta claramente ganha, diga-se, bastando para tal ouvir a excelente banda-sonora do filme. E se a voz de Cash é humanamente impossível de ser imitada (e nem foi essa sequer a intenção de Phoenix), já a prestação de Reese consegue ser mesmo mais melodiosa do que a voz da própria June Carter.
 CURIOSIDADES:

- Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon tiveram o apoio de Johnny Cash e June Carter para os interpretarem no cinema

- A cena em que Cash arranca o lavatório da parede não constava no argumento. Foi Joaquin Phoenix que resolveu improvisá-la

- A última casa de Cash e Carter, em Hendersonville, aparece no filme. Depois da morte deles foi comprada por Barry Gibb, dos Bee Gees, que teve de a reconstruir devido a um incêndio ocorrido em 10 de Abril de 2007.

- O actor que interpreta Waylon Jennings é Shooter Jennings, filho do músico

- As 56 indumentárias que Phoenix usa durante o filme, foram meticulosamente desenhadas por Arianne Phillips, com base em pesquisas feitas nos arquivos da família e em colecções privadas de fans.

- O filme foi exibido em Folsom Prison, 38 anos depois de Johnny Cash lá ter actuado.

- A proposta de casamento feita em palco aconteceu realmente durante um concerto em Londres, na Ice House (um recinto de hóquei no gelo) de Ontário, em Fevereiro de 1968. Tal como o filme documenta, era "Jackson" o tema que estava a ser interpretado pela dupla


A banda-sonora encontra-se disponibilizada neste blogue