A AMANTE DO TENENTE FRANCÊS
Um Filme de KAREL REISZ
Com Meryl Streep, Jeremy Irons, Leo McKern, Hilton McRae, Emily Morgan, Charlotte Mitchell, Lynsey Baxter, Peter Vaughan, etc.
GB / 124 min / COR / 16X9
(1.85:1)
Estreia na GB em Agosto de 1981
Estreia nos EUA a 18/9/1981
Estreia em PORTUGAL a 25/12/1981
(Lisboa, cinema S. Jorge)
Sarah: «I am the French Lieutenant's... whore»
Há
já algum tempo que não passava pela FNAC. Esta semana, no Cascais Shopping,
tive uma agradável surpresa pela qual aguardava há muito: a edição portuguesa
em DVD de “A Amante do Tenente Francês”,
filme que nunca mais me saíu da memória, desde que o vi no écran do cinema S.
Jorge nos princípios dos anos 80. Data desta altura a minha paixão por Meryl Streep, paixão essa que ao longo
dos anos foi murchando pouco a pouco, aliás como toda a boa paixão que se
preze. Mas aqui a actriz ainda continuava em estado de graça, depois de ter
protagonizado a inesquecível série “Holocausto” (recentemente também disponível
em Blu-ray), aparecido fugazmente no “Manhattan” de Woody Allen e assumido
papeis relevantes em “The Deer Hunter / O Caçador” (1978) e “Kramer vs. Kramer”
(1979). Este seu duplo desempenho como Sarah/Anna seria o arranque a sério para uma carreira fulgurante, mantendo-se ainda
hoje como uma das suas prestações mais inesquecíveis.
“The French Lieutenant’s Woman” é baseado num conhecido e homónimo romance do
britânico John Robert Fowles (1926-2005), escritor cuja obra é por norma
situada entre o modernismo e o pós-modernismo. Harold Pinter (1930-2008), outro
britânico célebre (Prémio Nobel da literatura em 2005), escreveu o argumento do
que a princípio parecia um romance infilmável, e Karel Reisz (1926-2002), também britânico, mas de ascendência
checa, passou para o celulóide as duas histórias da obra, publicada pela
primeira vez em 1969. À semelhança desta, em que Fowles aborda os amores
proibidos da Inglaterra vitoriana segundo a perspectiva cultural dos anos 60,
também o filme vai evoluindo entre as duas épocas, ao introduzir um filme
dentro do filme. Mike (Jeremy Irons)
e Anna (Meryl Streep) são dois
actores que mantêm uma relação de adultério, ao mesmo tempo que vão vivendo uma
outra história de amor fictícia (localizada em 1897), nos personagens de Charles
e Sarah.
Charles
Smithson é um naturalista amador, seguidor das teorias darwinianas, que divide as suas atenções entre o estudo de fósseis
e a corte à sua noiva, Ernestina Freeman (Emily
Morgan), filha de um rico homem de negócios, e com quem planeia casar-se em
breve. Mas um dia conhece Sarah Woodruff (belíssima sequência no paredão do
cais, a culminar naquele icónico close-up
de Streep) e tudo se altera. Sarah é
uma mulher independente, mas estigmatizada por um escandaloso (pelos padrões
da época) relacionamento com um tenente da marinha francesa chamado Varguennes,
que é casado, e que a teria abandonado depois dela se servir. A população de
Lyme, onde a acção se situa, chama-lhe “a tragédia”, ou, ainda pior, “a puta do
tenente francês”. É toda essa aura misteriosa que envolve Sarah, aliada ao seu
ar frágil e desprotegido, que intriga Charles, vindo a despertar nele uma
curiosidade crescente por aquela mulher solitária e proscrita. Pouco a pouco,
através de alguns encontros furtivos, a atracção instala-se entre os dois, transformando-se,
rápida e naturalmente, numa forte ligação amorosa.
Como
não podia deixar de ser (para ser fiel à ideia central do romance de Fowles), Karel Reisz apresenta-nos todo o seu
filme em montagem paralela, em que a ficção se confunde com a realidade,
entrelaçando-se as duas histórias de amor nos percursos vividos pelos duplos
personagens. Daqui resulta um momento único e apaixonante do cinema romântico,
meticulosamente construído, e magistralmente servido pelas interpretações brilhantes
de Irons e, sobretudo, Meryl Streep, a qual, nunca é demais
dizê-lo, tem aqui um desempenho inolvidável, que chega a roçar a perfeição, num
jogo de expressões e emoções raramente visto em cinema. A actriz ganharia o
BAFTA inglês e o Globo de Ouro na categoria drama, mas perderia o Oscar para
Katharine Hepburn (pelo filme “On Golden Pond / A Casa do Lago”). Dá para
acreditar?
A
música de Mozart faz sobressair a excelente cinematografia de Freddie Francis,
e o filme está recheado de sequências inesquecíveis, como a já citada cena do paredão,
o monólogo de Sarah a contar a sua história a Charles ou aquela única noite de
amor vivida no quarto de hotel de Exceter. Dos três finais que
Fowles apresenta no seu romance, dois deles são aqui usados para finalizar o
filme. Não são alternativos, mas ocorrem como tudo o resto em simultâneo,
permitindo ao espectador, tal como ao leitor do livro, uma escolha pessoal, de
acordo com a sua sensibilidade e posicionamento. A opção é, uma vez mais, entre
a ficção e a realidade. Mas onde começa uma e termina outra?
CURIOSIDADES:
-
Nos anos 70 foi feita uma primeira tentativa de adaptação do romance ao cinema
(a interpretação estaria a cargo de Vanessa Redgrave), mas a dificuldade de se
escrever um guião credível acabou por abortar o projecto.
-
Chama-se "Cobb" o paredão do cais de Lyme, onde decorre aquela sequência com Sarah, no meio das
ondas a rebentarem à sua volta. Pela perigosidade da situação Meryl Streep não
participou das filmagens, pertencendo a um dos directores artísticos a silhueta
que se vê ao longe. Foi em estúdio que depois foram filmados os magníficos close-ups, que se tornariam na imagem de
marca do filme.
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