Há
muitas imagens fortes que a memória deste filme inscreve, do bailado das naves
com a música de Strauss ao primeiro primata que descobre um instrumento e o
atira na direcção das estrelas. A mim, o que mais me impressionou desde a
primeira das muitas vezes que vi “2001: Odisseia no Espaço” foi sempre a morte
de HAL 9000, o computador, que é o único personagem do filme digno desse nome,
porque capaz de ameaça, vontade e medo na apocalíptica cena em que lhe desligam
os neurónios electrónicos – ele vai senilizando e desaparecendo devagar e nós
descobrimos que a alma é vermelha.
É
o momento chave do mais longo dos quatro andamentos deste filme genial. No
primeiro, assistimos ao alvorecer da Humanidade, quando um grupo de símios
encontra um monolito negro e ganha o conhecimento; no segundo, na Lua,
exploradores encontram outro monolito, cujos mistérios justificam a terceira
parte, a viagem até aos confins do Sistema Solar; a última fracção é a mais célebre,
quando, já sem controlo sobre o caminho, o único sobrevivente se defronta com
uma trip de cores e formas
inexplicadas, o tempo, a vida, o conhecimento e a morte, até à imagem terminal
de um feto diante do Cosmos, inextrincável arcano.
Nenhum
de nós percebeu em 1968, ou percebe hoje, o último significado deste filme – e isso
é parte do seu fascínio perene, justificado também porque, do ponto de vista
imagético e sonoro, “2001: Odisseia no Espaço” é uma experiência inesquecível,
sobretudo num muito grande ecrã, como aqueles onde agora está. Pense-se só que
todos os incríveis efeitos especiais não tinham qualquer recurso digital, eram
todos “feitos à mão” ou pouco mais – e não envelheceram absolutamente nada.
Durou anos a congeminação do filme e a sua produção, numa época em que a ficção
científica não era suposto interessar a um cineasta sério. Kubrick não era
então o mito em que depois se tornou, o mito em que precisamente “2001:
Odisseia no Espaço” o tornou, pelo sopro com que nos fez interrogar tudo e, ao
mesmo tempo, nos deslumbrou.
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