quinta-feira, outubro 10, 2013

A MORTE DOS TRAILERS NA CONTEMPORANEIDADE

Transcrito do blog do Setaro com a devida vénia:
«Os trailers contemporâneos estão todos padronizados e submetidos à dolorosa estética do vídeoclip (nada contra esta em si, mas que se restrinja aos videoclips propriamente ditos e não se incorpore, como está a acontecer, na narrativa cinematográfica). A imagem surge rápida, e um escurecimento, também na maior rapidez, engole-a, por assim dizer, para, em seguida, surgir outra. Decididamente: já não se fazem trailers como antigamente. Havia um savoir-faire de trailers no cinema americano que a partir dos anos 80 foi se diluindo para emergir uma espécie assim de savoir-non-faire. Dava gosto se ver os trailers, o que não acontece nos dias que correm – e correm assustadoramente rápido, levando-nos com eles, a todos, sem exceção, ao refúgio da Implacável, impressão da passagem temporal que varia de pessoa a pessoa, atacando, esta impressão, principalmente os mais velhos. Antes dos malditos trailers contemporâneos, que não gosto de vê-los – porque mesmo trailers de filmes bons, a exemplo de Os infiltrados, estão construídos dentro da pavorosa estética do vídeoclip, tinha prazer em conferi-los, chegando mesmo, quando se podia fazer isso, a ficar para a outra sessão somente para rever os trailers. No esquema atual, o espectador compra o ingresso para uma determinada sessão e terminada esta é expulso da sala de projeção. Nos bons tempos que não voltam mais (não creio ser saudosismo mas a constatação de uma época mais calma e mais inteligente, e, caso saudosismo, que o seja, e daí?), o indivíduo que comprasse o ingresso podia entrar, por exemplo, duas da tarde e só sair quando da última sessão.»

1 comentário:

Rato disse...

Concordo em absoluto. Mas o pior é que muitos "realizadores" da nova geração filmam os seus filmes como se estivessem a filmar os ditos video-clips, denotando uma ignorância absoluta das técnicas mais elementares do Cinema. Nunca ouviram falar sequer nos diversos tipos de plano que compõem um filme; plano de conjunto, plano americano, plano médio e por aí fora. Travellings? O que é isso? Plongées e Contreplongées? Cruz canhoto, que palavras afrancesadas sem sentido! Hoje em dia - com honrosas excepções - já não se faz Cinema, apenas produtos para serem comercializados. E quando leio o que por exemplo James Cameron afirma sobre o futuro do cinema («que será todo em 3D, porque é essa visão que corresponde à realidade, àquilo que as pessoas veem no seu dia-a-dia»), então mais me convenço de que a arte no cinema foi chão que deu uvas.