Com Joaquin Phoenix, Reese Witherspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick, Dallas Roberts, etc.
EUA / 136 min (153 min) / COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA: 4/9/2005 (Festival de Telluride) Estreia no BRASIL a 10/2/2006 Estreia em PORTUGAL a 16/2/2006
It burns, burns, burns…like a ring of fire!
Nunca fui grande apreciador da música country em geral ou de Johnny Cash em particular. Mas este filme teve o condão de me fazer interessar por esse universo musical quando o vi na estreia, há seis anos atrás. Sobretudo pelas canções do man in black, que vim posteriormente a descobrir. Na altura pouco mais conhecia do que alguns títulos emblemáticos, como “The Ring of Fire” ou “I Walk the Line , que dá o nome ao filme. Cheguei a ter também em vinil o duplo de 1969, “Live at San Quentin”, que na altura da sua saída comprei apenas pelo estranho facto de ter sido o álbum cujo nº total de vendas conseguira ultrapassar, nada menos que o álbum branco dos Beatles – uma autêntica heresia para a juventude daqueles anos. Revi-o agora em Blu-ray (a edição italiana, que, tal como a francesa, tem mais 17 minutos do que a versão original, exibida comercialmente, e além disso vem com inesgotáveis complementos, tudo devidamente legendado na língua portuguesa) e a boa memória que o filme me tinha deixado consolidou-se. “Walk The Line”é de facto um filme muito bom e um dos melhores biopics feitos até à data, a par de “Ray”, de Taylor Hackford, realizado no ano imediatamente anterior, e sobre a vida do imortal Ray Charles.
James Mangold, director nova-iorquino que nunca ultrapassou uma certa mediania (talvez o filme mais interessante que lhe conheço seja o “Identity”, de 2003, uma espécie de terror psicológico com John Cusack e Ray Liotta nos principais papéis), consegue aqui uma feliz adaptação das duas autobiografias em que o filme se baseia: “The Man In Black” e “Cash: An Autobiography”, esta última escrita por Cash em parceria com Patrick Gill. O argumento final teve ainda a colaboração dos verdadeiros Cash e June Carter, na altura ainda vivos (viriam a falecer, com quatro meses de intervalo, antes da produção do filme ter tido início), o que contribuiu decisivamente para o script ser o mais fiel possível à realidade. O grande desafio foi mesmo o de se condensar em pouco mais de duas horas uma vida tão rica, cheia de episódios marcantes. A opção foi portanto acabar a história pouco depois do casamento, em Março de 1968 (June tinha 38 anos e Cash 36). Os dois viriam a viver ainda 35 anos juntos - uma relação que, tanto quanto se sabe, manteve acesa a chama da paixão que os uniu na juventude e que este filme tão bem documenta.
“Walk The Line”(título curioso para quem andou quase sempre “fora da linha”), acompanha a vida de Johnny Cash desde a infância em Arkansas até ao sucesso alcançado por intermédio da lendária editora Sun Records, de Sam Philips, homem responsável pelo lançamento de Elvis Presley e de outros nomes célebres do rock ‘n’ roll: Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Roy Orbsion, que de igual modo aparecem no filme como companheiros das longas digressões e espectáculos ao vivo. Cash começou a escrever as suas primeiras canções aos 12 anos de idade, inspirado nas músicas que ouvia na rádio. Viviam-se tempos de crise - eram os anos da Depressão Americana - e o grande apoio do jovem era o seu irmão mais velho, companheiro inseparável de brincadeiras e cumplicidades. A sua morte, prematura e trágica, teve como consequência o eclodir de traumas que acompanhariam Johnny Cash durante toda a vida. Mais tarde alista-se na Força Aérea e é mobilizado para a Europa (Düsseldorf, na Alemanha), onde vem a comprar a primeira guitarra, que aprende a tocar sozinho.
De volta aos Estados Unidos casa-se com a namorada da adolescência e muda-se para Memphis, onde forma um trio musical. Depois de muitas tentativas conseguem a sonhada audição com Sam Philips e a partir daí Johnny Cash entra na lenda da música country norte-americana. De temperamento difícil, explosivo por vezes, Cash vê-se rapidamente envolvido numa espiral de sentimentos, em que a sua paixão por June Carter, recém-divorciada, irá colocar um ponto final no primeiro casamento, onde as discussões constantes eram o pão nosso de cada dia (pelo menos no pouco tempo em que Cash não andava por fora, em digressão). Johnny & June (título com que o filme foi baptizado no Brasil), duas pessoas unidas por uma enorme paixão, que só a morte irá separar (e mesmo assim por escassos quatro meses, o tempo que levou Cash a seguir os passos da sua musa e companheira de toda a vida), mas que não foi isenta de problemas e conflitos, muito por causa do cantor se ter deixado viciar pelo álcool e pelas drogas.
O grande mérito de “Walk the Line” é ter conseguido retratar todo aquele mundo dos inícios do rock ‘n’ roll sem caír na caricatura fácil ou grosseira, a que não será alheia a magnífica interpretação, quer de Joaquin Phoenix quer de Reese Witherspoon, esta última justamente galardoada com variadíssimos prémios, entre os quais o Óscar, o BAFTA e o Globo de Ouro. Refira-se que, estranhamente, este último galardão lhe foi atribuído na categoria de filme “de comédia” ou “musical”, géneros com que, na verdade, “Walk the Line” não se identifica de todo. Ambos os actores aprenderam a tocar (guitarra e harpa), além de, durante 6 meses, terem tido aulas de canto com o produtor T-Bone Burnett. Isto porque Mangold insistiu, desde o início, que fossem os actores a emprestarem as respectivas vozes às canções. Aposta claramente ganha, diga-se, bastando para tal ouvir a excelente banda-sonora do filme. E se a voz de Cash é humanamente impossível de ser imitada (e nem foi essa sequer a intenção de Phoenix), já a prestação de Reese consegue ser mesmo mais melodiosa do que a voz da própria June Carter.
CURIOSIDADES:
- Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon tiveram o apoio de Johnny Cash e June Carter para os interpretarem no cinema
- A cena em que Cash arranca o lavatório da parede não constava no argumento. Foi Joaquin Phoenix que resolveu improvisá-la
- A última casa de Cash e Carter, em Hendersonville, aparece no filme. Depois da morte deles foi comprada por Barry Gibb, dos Bee Gees, que teve de a reconstruir devido a um incêndio ocorrido em 10 de Abril de 2007.
- O actor que interpreta Waylon Jennings é Shooter Jennings, filho do músico
- As 56 indumentárias que Phoenix usa durante o filme, foram meticulosamente desenhadas por Arianne Phillips, com base em pesquisas feitas nos arquivos da família e em colecções privadas de fans.
- O filme foi exibido em Folsom Prison, 38 anos depois de Johnny Cash lá ter actuado.
- A proposta de casamento feita em palco aconteceu realmente durante um concerto em Londres, na Ice House (um recinto de hóquei no gelo) de Ontário, em Fevereiro de 1968. Tal como o filme documenta, era "Jackson" o tema que estava a ser interpretado pela dupla
1 comentário:
um interessante tributo a bela voz de cash
O Falcão Maltês
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