sábado, julho 25, 2015

THE GREAT ESCAPE (1963)

A GRANDE EVASÃO
Um filme de JOHN STURGES



Com Steve McQueen, James Garner, Richard Attenborough, James Donald, Charles Bronson, Donald Pleasence, James Coburn, Hannes Messemer, David McCallum, Gordon Jackson, John Leyton, Angus Lennie, Nigel Stock


EUA / 172 min / COR / 16X9 (2.35:1)


Estreia na GB a 20/6/1963 (Londres)
Estreia nos EUA a 4/7/1963
Estreia em Portugal a 3/10/1963


Hilts: «I haven't seen Berlin yet, from the ground or from the air,
and I plan on doing both before the war is over»

Baseado em factos verídicos relatados no livro de Paul Brickhill (piloto australiano cujo Spitfire foi abatido em Março de 1943 quando sobrevoava a Tunísia, tendo sido levado prisioneiro para Stalag Luft III, campo localizado perto da cidade polaca de Sagan), “The Great Escape” é um dos melhores filmes (pessoalmente considero-o mesmo o melhor de todos) feitos com a 2ª Guerra Mundial como pano de fundo. Uma constelação de estrelas masculinas (não existe uma só personagem feminina durante todo o filme) liderada pelo carismático Steve McQueen, uma banda sonora inesquecível de Elmer Bernstein (cujos acordes iniciais do tema principal identificam de imediato o filme) e uma realização segura e eficaz de John Sturges, o realizador de “The Magnificent Seven”, fazem deste filme um fabuloso entretenimento, capaz de resistir heroicamente à passagem dos anos.


Já há mais de meio século que “The Great Escape” se estreou nos cinemas de todo o mundo; mas toda essa temporalidade não é suficiente para o afastar da memória de quantos tiveram a sorte de a ele assistirem num grande écran de cinema, tal como aconteceu comigo, em 1967. Tinha 14 anos nessa altura e vi o filme, numa reprise, a 1 de  Outubro, no cinema Infante, em Lourenço Marques. Nessa idade de transição não havia filme melhor para nos divertirmos numa sala escura – era o espectáculo total, grande em tamanho, grande em excitação, que nos deixava empolgados durante cerca de três horas a fio.


“The Great Escape”, nos seus 172 minutos de duração, encontra-se dividido em três partes distintas: a preparação da fuga (onde nos vamos familiarizando com os principais intervenientes), o processo da fuga propriamente dito (com todas as imprevisibilidades de última hora) - historicamente levada a cabo a 24 de Março de 1944 - e o dia seguinte à grande evasão (onde conheceremos o destino dos 76 homens que conseguiram escapar do campo de prisioneiros). De salientar que a acção se desenrola efectivamente num mero campo de prisioneiros ( e não num campo de concentração ou extermínio), onde apesar de toda a vigilância a Convenção de Genebra de 1929 ainda era respeitada, o que até certo ponto explica o êxito da fuga.


Das três partes acima referidas, a última é certamente a mais excitante, com o acompanhamento (em montagem paralela, uma técnica aliás presente em quase todo o filme) do destino  de grande parte dos evadidos. Por terra, mar e ar, todas as opções para atingir a liberdade eram plausíveis, bem como o tipo de transporte utilizado: comboio, barco a remos, bicicleta, avioneta ou motorizada, tudo era passível de ser transformado num veículo práctico para se conseguir atingir o objectivo comum. Neste último caso (a fuga de Steve “Cooler King” McQueen) temos até direito a uma das mais famosas sequências da história do cinema que inclusivé confere a “The Great Escape” o justo epíteto de filme lendário.


Não me custa nada a acreditar que para as novas gerações de cinéfilos “The Great Escape” (sobretudo o primeiro terço do filme), possa ser considerado longo e entediante. Efectivamente hoje em dia não haveria tempo a perder com detalhes, com planificações, com caracterização de personagens. Fosse “The Great Escape” um filme realizado na actualidade e seria certamente mais um dos chamados blockbusters, em que a sequência da evasão ocorreria logo a cerca de vinte minutos do início, para assim se começarem rapidamente a mostrar os inevitáveis efeitos digitais. Por outro lado, o cast seria maioritariamente americano e abrangeria todo o tipo de raça, côr e credo, de modo a ser politicamente correcto. E com certeza absoluta seria inventado pelo menos um personagem feminino, interpretado por uma qualquer actriz de referência, preferencialmente já nomeada para os Óscares.


Fosse “The Great Escape” um filme realizado na actualidade e até o final seria provavelmente alterado, contornando-se a verdade histórica de modo a que o maior número possível de fugitivos pudesse alcançar a liberdade. Mas não sem antes de mais uma série de violentos confrontos com os alemães ter lugar e assim dar aso a serem mostrados mais uns quantos efeitos de pirotecnia gratuita. Por outro lado, o desenrolar do filme não se passaria maioritariamente no interior do campo, seriam certamente introduzidos alguns episódios extra a serem intercaladamente mostrados noutros cenários, de modo a não cansar o espectador. Mas ainda bem que tudo isto não passa de conjecturas, ainda bem que “The Great Escape” foi na verdade, e felizmente, realizado em 1963. Não o tivesse sido e com toda a certeza não se teria tornado no clássico que hoje é, uma das maiores referências do filme de guerra e, porque não, do filme de aventuras também.

CURIOSIDADES:

- O filme foi inteiramente rodado na Europa, tendo o campo de prisioneiros sido construído perto de Munique. Todas as cenas da célebre sequência da motorizada foram filmadas em Fussen, junto aos Alpes e da fronteira com a Áustria. Para as filmagens de interiores usaram-se os estúdios Bavaria em Munique

- A principal razão pela qual Steve McQueen aceitou protagonizar o papel principal foi a de poder ser ele próprio a interpretar as cenas da fuga em motorizada (uma Triumph TR6 Trophy, modelo preferido do actor). Aliás, não se limitou à sua personagem – é ele também que está aos comandos da motorizada do alemão que em certa altura o persegue. Ou seja, McQueen atrás de McQueen. Exceptua-se o salto sobre a cerca que John Sturges não permitiu ao actor realizar, e que por isso foi executada pelo duplo Bud Ekins (numa Thunderbird Triumph de 1962 modificada para ter um aspecto mais antigo), o qual ganhou grande notoriedade por essa façanha – viria a dobrar de novo McQueen cinco anos depois, no filme “Bullitt”


- Charles Bronson foi mineiro antes de abraçar a carreira de actor. Por isso utilizou toda a experiência da anterior profissão na rodagem das cenas do seu personagem no filme. Inclusivé a claustrofobia, de que na realidade padecia mesmo. Durante a produção Bronson apaixonou-se por Jill Ireland, na altura mulher de David McCallum. Quatro anos depois viriam a casar-se.

- Steve McQueen chegou a ser detido numa operação stop que a polícia alemã levou a cabo perto do local de filmagens. Não tendo sido reconhecido de imediato, o actor ainda passou algumas horas na prisão, antes que alguns elementos da produção o tivessem ido buscar.

- De todos os actores intervenientes no filme, apenas dois se encontram ainda vivos: David McCallum (81 anos) e John Leyton (76 anos)

- O actor britânico Donald Pleasence foi na realidade um piloto da Royal Air Force durante a 2ª Guerra Mundial. Chegou mesmo a ser abatido e feito prisioneiro de guerra, tendo inclusivé sofrido algumas sevícias. Renitente ao princípio, John Sturges acabou por aceitar algumas sugestões do actor para a rodagem do filme. Também Richard Attenborough foi piloto da RAF durante a guerra.




BANDA SONORA ORIGINAL:

7 comentários:

Billy Rider disse...

Obrigado pela excelente banda-sonora, que ainda não figurava na minha colecção. E obrigado também por resgatares esta fabulosa evasão das nossas memórias de jovens adolescentes - é bem verdade aquilo que dizes: termos assistido a este filme numa grande sala de cinema foi de facto uma experiência inolvidável.
Com tanta merda que por aí se vê nos écrans, porque é que os grandes estúdios não voltam a lançar nas salas este e outros sucessos do passado e em vez disso insistem em fórmulas já gastas? Será que o público de cinema mudou assim tanto?

ANTONIO NAHUD disse...

É um filme muito bom. No brasil é conhecido como FUGINDO DO INFERNO. Já vi umas 4 vezes. Gosto muito de Sturges e McQueen.

www.ofalcaomaltes.blogspot.com

Rato disse...

"Só" 4 vezes, Nahud?
Este é dos tais que já perdi a conta há muito tempo...

Rato disse...

Aliás, por causa deste filme tenho uma história para contar, que reflecte a minha paixão pelo cinema mas também um certo egoísmo e insensibilidade da minha parte.
Estava-se em meados dos anos 80. Não havia DVDs e era raro aparecer em VHS os filmes que mais gostávamos. A solução era portanto gravá-los quando passavam na televisão. Foi o que aconteceu com este filme uma certa noite. Mas como havia sempre vários intervalos, tinha de se estar com atenção para que os mesmos não ficassem incluídos no meio do filme.
Nessa mesma noite, logo por azar, a minha mulher (que na altura ainda era bailarina na CNB) telefona-me a pedir que a vá buscar, pois tinha dado uma queda e suspeitava que tinha partido um pé. Respondi-lhe que tudo bem, mas que teria de esperar cerca de uma hora, que era mais ou menos o tempo que faltava para o filme acabar. E assim foi: só passadas quase duas horas é que ela deu entrada nas urgências do Santa Maria. O filme, esse, tinha ficado são e salvo, sem qualquer intervalo pelo meio. Ah, e ela tinha mesmo o pé partido, saíu já engessada do hospital.
Não deu direito a divórcio mas ainda hoje ela se lembra disso...

Anónimo disse...

LOL ;)

Thiago Lima disse...

Acabei de baixar e irei assistir!!
Obrigado por compartilhar seu vasto conhecimento em cinema :)

Anónimo disse...

É um bom filme, de outros tempos, é certo. E ainda bem que ainda não se lembraram de fazer um remake com todas essas diferenças que aponta relativamente ao cinema que hoje se faz. Pessoalmente não acho que hoje se faça melhor ou pior cinema, apenas "diferente". A tecnologia digital se bem que muitas vezes domina completamente os filmes em detrimento da história contada, é sem dúvida uma ferramenta extraordinária quando bem utilizada, e exactamente sobre isso e a nostalgia desse cinema de sala dos anos 60 e 70 que nos "atinge" ainda há pouco me diverti imenso a ver o "Once Upon a Time in Hollywood" do Tarantino. Voltando ao filme, vou revendo de quando em vez a par do "O Desafio das Águias" do "Kelly's Heroes" de "Os Canhões de Navarone" e mais alguns desses tempos, tempos em que eu jovem lisboeta era fascinado por aqueles posters/ painéis gigantes pendurados nas fachadas dos cinemas de estreia.