Um filme de STANLEY KRAMER
Com Spencer Tracy, Milton Berle, Sid Caesar, Buddy Hackett, Ethel Merman, Mickey Rooney, Dick Shawn, Phil Silvers, Terry-Thomas, Jonathan Winters, Edie Adams, Dorothy Provine, Jimmy Durante, Jim Backus, etc.
EUA / 154 min (192) / COR / 16X9 (2.76:1)
Estreia nos EUA a 18/11/1963
Estreia em PORTUGAL a 10/5/1965
(Lisboa, cinema Monumental)
J. Algernon Hawthorne: «As far as I can see, American men have been totally emasculated- they're like slaves! They die like flies from coronary thrombosis while their women sit under hairdryers eating chocolates & arranging for every 2nd Tuesday to be some sort of Mother's Day! And this positively infantile preoccupation with bosoms. In all time in this wretched Godforsaken country, the one thing that has appalled me most of all this this prepostrous preoccupation with bosoms. Don't you realize they have become the dominant theme in American culture: in literature, advertising and all fields of entertainment and everything. I'll wager you anything you like that if American women stopped wearing brassieres, your whole national economy would collapse overnight»
“It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World” é não apenas uma comédia típica dos anos 60, mas também uma fábula amarga sobre a cupidez e a corrupção, que desenvolve nas dimensões do Ultra-Panavision 70 (sistema de projecção que evoluiu a partir do Cinerama, em que o triplo écran foi reformulado para apenas um, mas de dimensões idênticas) o burlesco da escola de Mark Sennett, Harold Lloyd ou Buster Keaton. E por causa da sua longa duração e do nº de cómicos que nela participa (cerca de 40, a grande maioria dos que se encontravam no activo à data da sua produção), pode-se ainda considerá-la como uma verdadeira comédia épica (Stanley Kramer chegou a afirmar que era seu desejo fazer «uma comédia para acabar com todas as comédias»). Surpreendente catálogo das misérias e baixezas humanas, o filme constitui um sinal das matizes cada vez mais sombrias que a comédia vinha a atingir nos princípios da década de 60.
Depois de uns créditos iniciais bem divertidos e prometedores, o filme arranca com uma viatura em alta velocidade pela estrada do actual deserto Palm da Califórnia do Sul. Depois de ultrapassar quatro outros veículos, não consegue fazer uma curva mais apertada e despenha-se por uma ravina abaixo. O aparato do acidente leva a que os cinco homens ocupantes das quatro viaturas corram em auxílio da vítima, de cuja identidade seremos posteriormente informados: trata-se de ‘Smiler’ Grogan (Jimmy Durante), suspeito de um roubo, que andava há 15 anos fugido da polícia. Os cinco socorristas são Dingy Bell (Mickey Rooney) e Benjy Benjamin (Buddy Hackett), dois amigos que viajam no mesmo carro; Melville Crump (Sid Caesar) um dentista que viaja com a mulher, Monica (Edie Adams); Lennie Pike (Jonathan Winters), um camionista que transporta mobílias; e Russell Finch (Milton Berle), marido de Ermeline (Dorothy Provine) e que viaja em companhia da sogra, Mrs. Marcus (Ethel Merman).
Antes de se finar, o moribundo consegue ainda alertar os cinco homens para a existência do roubo, no valor de 350 mil dólares, que se encontra enterrado debaixo de um grande “W” num parque de Santa Rosita, junto à fronteira com o México e a cerca de 200 milhas para sul. Desconfiados numa fase inicial, os cinco homens mais as três mulheres que os acompanham, começam a pensar que um homem à beira da morte não seria capaz de mentir - o dinheiro era mesmo capaz de existir e poderia ser dividido por todos. Começam a arquitectar as divisões mais estapafúrdias (contabilizando pessoas, carros, ocupantes e descidas à ravina), mas depressa chegam à conclusão de que não se conseguem entender. A partir dali é cada um por si, numa louca corrida ao dinheiro, onde as regras são mandadas às urtigas, interessando apenas o objectivo comum do saque. Entretanto, um chefe de polícia, o capitão Culpepper (Spencer Tracy), que há 15 anos perseguia o ladrão agora morto e que está farto de esperar por uma reforma condigna, vê ali uma oportunidade de se apoderar tranquilamente do dinheiro roubado, para depois atravessar a fronteira para o México. Mas as coisas não são assim tão fáceis e as complicações começam a aparecer…
Durante os 154 minutos que o filme dura em DVD (na versão original a duração era de 192 minutos), vamos testemunhando as mais loucas e diversas peripécias. Novas personagens vão engrossando o núcleo inicial – Sylvester (Dick Shawn), filho de Mrs. Marcus, que vê interrompida uma sessão terapêutica de beat music (uma das sequências mais hilariantes de todo o filme), Phil Silvers (Otto Meyer), um caixeiro-viajante sem escrúpulos, ou J. Algernon Hawthorne, um típico englishman, brilhantemente interpretado por Terry-Thomas. Mas os nomes de cómicos conhecidos não acabam por aqui. Temos ainda direito a pequenos cameos de gente como Peter Falk (um dos motoristas de táxi), Jerry Lewis (um gag delicioso, aquele do chapéu), Norman Fell, Jack Benny, Buster Keaton, entre muitos outros.
No final deste extravagante monumento ao cinema cómico temos direito a uma das mais célebres sequências do género – aquela em que todos os protagonistas se vêem à mercê de uma escada de bombeiros enlouquecida que os vai lançando pelos ares numa enorme praça apinhada de curiosos. Logo depois, e antes do filme acabar, o gag final da banana com todos eles engessados numa enfermaria de hospital. "It's A Mad, Mad, Mad, Mad World" é hoje um clássico incontornável da comédia e traz com ele uma certa nostalgia de um tempo que não volta mais. De lastimar apenas que até à presente data não tenha sido editada uma versão com toda a metragem original do filme.
- Na filmagem da sequência da entrada do carro no rio, o actor Phil Silvers ia-se afogando por não saber nadar
- O Santa Rosita State Park não existe na realidade. Toda a acção decorre no Portuguese Bend em Rancho Palos Verdes
- O cómico Stan Laurel não aceitou aparecer no filme devido à morte de Oliver Hardy, em 1957. Quando a dupla (“Bucha e Estica”) se desfez, Stan jurou nunca mais participar no cinema. Promessa que cumpriu até ao dia da sua morte, a 23 de Fevereiro de 1965
- Só muito relutantemente é que Edie Adams aceitou desempenhar o papel de Monica Crump, devido ao seu marido, o actor-realizador Ernie Kovacs, ter falecido num desastre automóvel pouco tempo antes do filme começar a ser rodado
- Na ante-estreia do filme no teatro Cinerama, a 17 de Novembro de 1963, esteve presente a maioria da família do Presidente John Kennedy, atendendo a que a sessão se destinava a angariar fundos para o Kennedy Child Study Center em Nova Iorque e para o Joseph P. Kennedy Jr. Institute em Washington. Cinco dias depois o Presidente era assassinado em Dallas
- Foi filmada uma sequência musical com o grupo as Shirelles, que não chegou a ser incluída no filme. O tema – “31 Flavours” – pode ser ouvido na banda-sonora
- Bob Hope, Jackie Mason, George Burns e Red Skelton e Judy Holliday foram alguns dos actores ligados à comédia que não aceitaram entrar no filme
- Devido a questões de saúde, Spencer Tracy só trabalhou nove dias na rodagem do filme, nunca ultrapassando as 4 horas diárias. As cenas mais arriscadas, incluindo a subida do edifício na sequência final, foram todas desempenhadas por um duplo
- Do elenco principal do filme apenas três actores se encontram ainda vivos: Jonathan Winters (86 anos), Sid Caesar (90 anos) e Mickey Rooney (91 anos)
- “It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World” conseguiu duas nomeaçãoes para os Globos de Ouro (Filme Musical ou Comédia e Actor de Musical ou Comédia, Jonathan Winters) e também 6 nomeações para os Óscars nas categorias de Cinematografia, Montagem, Canção Original, Som, Música e Efeitos Sonoros, tendo ganho apenas nesta última categoria
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