Um filme de STEVEN SPIELBERG
Com Jeremy Irvine, Peter Mullan, Emily Watson, Niels Arestrup, David Thewlis, etc.
EUA / 146 min / COR /
16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA a 4/12/2011 (New York)
Estreia no BRASIL a 6/1/2012
Estreia em PORTUGAL a 23/2/2012
“Terminal de Aeroporto” [2004] foi o último filme
(bastante) interessante de Steven
Spielberg. A partir daí – e já lá vão 8 anos – a carreira do realizador
americano não tem parado de me desiludir. Um remake escusado (“Guerra dos
Mundos”), um thriller histórico apesar de tudo ainda com algum interesse (“Munich”), o pior de todos os episódios
de Indiana Jones (“O Reino da Caveira de
Cristal”), feito apenas a pensar no box-office,
e a transformação de um ícone da banda desenhada num simples boneco animado (“Tintin – O Segredo do Licorne”) compõem
o ramalhete. É demasiado tempo para se poder ainda esperar um retorno aos
inquestionáveis méritos do passado.
“War
Horse” confirma
essa minha desilusão, a qual por certo não será caso único entre os antigos
admiradores de Spielberg. Baseado
numa novela para crianças escrita em 1982 por Michael Morpurgo (levada à cena em
2007 num teatro londrino) o filme denota toda uma intenção de apelar à
emotividade fácil das plateias. Mas Spielberg
já não é o feiticeiro de antigamente. Pode voltar a pegar nos ingredientes que
usou toda a vida, e seguir a mesma receita, mas claramente já não tem o condão
de conseguir obter o feitiço com o qual nos costumava seduzir. Falhada a poção
mágica, o que resta é um filme de retalhos, com a lamechice predominante a
tentar elevar-se ao nobre panteão das emoções. Que, obviamente, não consegue
atingir. As situações de faca e alguidar são tantas que, passado um bocado, ficamos completamente imunes.
Com
um argumento frágil e previsível, por vezes incongruente (a dispersar-se por pequenas
histórias, cada uma delas mais piegas do que a anterior), um fundo musical
cansativo (John Williams a baralhar e a dar de novo) a pautar uma metragem
longa demais, e um naipe de interpretações medíocres (salva-se Emily Watson no papel da mãe do
protagonista principal), “War Horse” apresenta como única
grande qualidade a sua magnífica fotografia, assinada por Janusz Kaminski,
colaborador habitual de Spielberg. E
mesmo essa vai buscar os seus melhores momentos a clássicos do passado, como os
filmes de David Lean (a carga da cavalaria a partir do campo de trigo, a
lembrar “Dr. Zhivago”) ou, mais
descaradamente, plagiando “Gone With The
Wind” naqueles vermelhos intensos do epílogo (até alguns enquadramentos são
tirados quase a papel químico da obra imortal de Victor Fleming).
Num
filme em que se morre sem se verter uma única gota de sangue (a pensar-se
antecipadamente na classificação etária?), é justo no entanto destacar uma
sequência pelo seu raro brilhantismo: a corrida desenfreada de Joey (o
cavalo-estrela do filme) por entre trincheiras antagonistas, e que acaba com
ele imobilizado pelo arame farpado em terra de ninguém. Mas até essa sequência
– que é uma das poucas razões pelas quais o filme deverá ser visto - é
continuada logo depois por uma ridícula, risível “expedição” de salvação, levada a cabo
por dois soldados inimigos, vindos cada um deles do seu lado das trincheiras.
Palavra de honra que cheguei a pensar que Spielberg
deveria ter ouvido, com muita atenção, a “Ida à Guerra” do nosso saudoso Raul
Solnado.
Custa um pouco a acreditar, mas o AFI (American Film Institute) considerou "War Horse" como o melhor filme do ano. Por outro lado, o filme foi nomeado para 6 Óscares, 2 Globos de Ouro e 5 BAFTAS! O que só prova a eficácia que a marca Spielberg continua a ter no mundo do cinema, mesmo que seja roupa em segunda mão. Entretanto, o orçamento inicial (66 milhões de dólares) foi duplicado pelas receitas em todo o mundo (cerca de 134 milhões). Grandes incentivos portanto, para que Spielberg continue alegremente a sua descida imparàvel, rumo à mediocridade. E já se anunciam mais Tintins e também a 5ª parte de Indiana Jones (Harrison Ford de muletas?).
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