Um filme de DAVID SLADE
Com John Hartnett, Melissa George, Danny Huston, Ben Foster, Mark Boone Junior, Mark Rendall, Amber Sainsbury, etc.
EUA-NOVA ZELÂNDIA / 113 min /
COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA a 19/10/2007
Estreia em PORTUGAL a 8/11/2007
Estreia no BRASIL a 7/12/2007
The Stranger: «Mr. and Mrs. Sheriff. So sweet.
So helpless against what is coming»
A
história original de “30 Days of Night” foi escrita por
Steve Niles com o intuito dela extrair posteriormente um argumento para o
cinema. No entanto, nunca a conseguiu vender; e após anos de rejeição por parte
de diversos estúdios, Niles resolveu transformá-la num comic book, com a comparticipação do desenhador Ben Templesmith.
Curiosamente, um dos estúdios que lhe tinha dado nega, interessou-se pelo novo
formato e em breve o projecto chegou aos ouvidos de Sam Raimi, que viria a
produzir o filme (apesar de numa primeira fase ter pensado realizá-lo ele
próprio). Filmado em 70 dias, na Nova Zelândia, “30 Days of Night”, com
argumento do mesmo Steve Niles (em colaboração com Stuart Beattie e Brian
Nelson) e direcção de David Slade,
parte de uma premissa bastante curiosa e um pouco atípica dos filmes de
vampiros.
Encontramo-nos
no Alaska dos nossos dias, no seio da pequena comunidade de Barrow, com pouco
mais de 500 habitantes. Com a aproximação do solstício de inverno e,
consequentemente, de um mês sem luz solar (algo bastante comum naquelas paragens), a maioria das pessoas começa a
partir por não suportar viver 30 dias mergulhada em trevas. Alguns, contudo,
ficam para trás, como o casal policial responsável pela segurança da vila, Eben
e Stella Oleson (Josh Hartnett e Melissa George). Um estranho indivíduo (Ben Foster) aparece não se sabe de onde, prevendo um perigo iminente: a chegada "deles". Com o avançar da
primeira noite alguns episódios anormais começam a acontecer, como o
esventramento de todos os cães do coveiro local ou a decapitação do responsável
pela torre de comunicações. Os acontecimentos precipitam-se e a verdade vem ao
de cima: Barrow está a ser atacada por um bando de vampiros, sedentos de
sangue, que pretendem dizimar tudo à sua volta.
“30
Days of Night”
é um filme de terror claustrofóbico, eficaz e bem construído, mas ao qual
faltou um pouco de imaginação para se assumir verdadeiramente original e
dinamitar os limites do género. Muito influenciado pelo cinema de John
Carpenter (“The Thing” e “Assault on Precint 13” vêem-nos
constantemente à memória) o filme peca sobretudo por uma falta de lógica
explanativa, bem como uma deficiente progressão do tempo de acção: não se
entende muito bem qual a razão do ataque dos vampiros naquela precisa altura e
o avanço dos dias não é uniforme (o que traria muito mais tensão ao desenrolar
da história), antes se processa por saltos temporais desconexos. Mas apesar das
suas incongruências, “30 Days of Night” consegue agarrar
o espectador, sobretudo o fã do género, sempre em busca de emoções fortes.
Uma
das componentes mais interessantes do filme é a caracterização original dos sugadores de sangue: são do piorio,
feios, maus e sanguinolentos, e com uma linguagem de comunicação muito própria
(criada expressamente para o filme por um professor de línguas da Universidade
da Nova Zelândia), o que, aliada à eficaz maquilhagem, lhes confere uma imagem
de ferocidade muito acima da média. Vai longe o tempo em que um vampiro cravava
delicadamente os dentes no pescoço da sua vítima. Esta nova espécie não
pretende apenas saciar a sede, devora literalmente as presas como se de uma
orgia vampiresca se tratasse. Permanentemente tingidos pelo sangue das vítimas,
olhos negros e inexpressivos, desfigurados por uma imensidade de dentes
pontiagudos, este bando de horrendas criaturas da noite é, provavelmente, a
razão mais forte do sucesso do filme (e da banda-desenhada que lhe deu origem).
John Hartnett impõe-se uma vez mais como um bom
actor mas é Melissa George que se
destaca pela sua presença, sensual e inspirada. Diz quem conhece a banda-desenhada (não é o meu caso) que a relação entre os dois
personagens sofreu algumas alterações na transposição para o grande écran. Não posso estabelecer qualquer comparação, mas o filme apresenta-a de um modo credível, ajudando a criar um contraponto à ameaça
generalizada. Essa relação, que volta a aproximar o casal até então desavindo,
irá ser levada aos limites do sacrifício, numa inesquecível sequência final, que tem dividido a crítica (eu, sinceramente, gostei, achei-a bem adequada ao fim do pesadelo). De
referir ainda a prestação particularmente carismática de Danny Huston como líder do bando de vampiros, que ficará sem dúvida
como uma referência cimeira do género. “30 Days of Night”, apesar de ser um
filme cuja temporalidade desmente o seu título (o aspecto cronológico já acima
referido, que nos impede de acreditar que toda a acção se passa em trinta dias)
aposta claramente num clima forte de tensão, por vezes arrepiante, que por
certo fará as delícias de todos os apaixonados pelo filme de terror, e o de
vampiros em particular.
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