segunda-feira, janeiro 20, 2014

CHARLY (1968)

CHARLY
Um filme de RALPH NELSON




Com Cliff Robertson, Claire Bloom, Lilia Skala, Leon Janney, Ruth White, etc.

EUA / 103 min / COR / 16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 23/9/1968
Estreia em MOÇAMBIQUE a 18/4/1970
(LM, Teatro Gil Vicente)

Charly Gordon: «I was wondering why the people who would never dream of laughing at a blind or a crippled man 
would laugh at a moron?»

Por uma vez a Academia de Hollywood foi mais justa do que os Globos de Ouro e atribuiu o Oscar de Actor Principal de 1968 a Cliff Robertson pelo seu extraordinário desempenho neste filme. Distinção ainda mais valorizada pela concorrência de peso existente nesse ano (Alan Bates por “The Fixer” e Peter O’Toole – que viria a ganhar o Globo de Ouro - por “The Lion in Winter”).  Aliás, não fosse a presença do actor e “Charly” nunca teria alcançado o relevo que abrilhantou a sua estreia. Trata-se, efectivamente, duma interpretação de uma vida e da qual Robertson soube apropriar-se em tempo útil, ao comprar os direitos do livro (“Flowers for Algernon”, de Daniel Keyes), em 1961, quando pela primeira vez interpretou a personagem de Charly Gordon na TV (que lhe valeu a nomeação para um Emmy na altura).


Muito embora Hollywood sempre tenha manifestado uma certa predilecção por actores em papeis de deficientes mentais (lembre-se Daniel Day-Lewis em “My Left Foot”, Robert De Niro em “Awakenings” ou Dustin Hoffman em “Rain Man”, só para citar os exemplos mais conhecidos), a verdade é que o Oscar atribuído a Cliff Robertson premeia a grande complexidade da personagem, cuja inteligência vai variando quase de cena para cena e por isso necessitando de ser visualizada nas mais pequenas nuances. O sentido de construção dramática do actor é fabuloso, expressando-se em sequências tão distintas como as humilhações impostas pelos colegas (a imobilidade na esquina, à espera dos primeiros flocos de neve, chega a ser pungente), a victória obtida sobre Algernon, o rato de laboratório (a manifestação de alegria e triunfo tudo contagia, extravasando para além do écran), o crescente desejo sexual pela professora (expresso subtilmente em pequenos olhares ou expressões faciais) ou ainda a tomada de consciência da inevitável reversibilidade do processo (que oscila entre a frieza da sequência do anfiteatro e o pesadelo da percepção de retorno ao antigo Charly Gordon).

Para além de Cliff Robertson o filme de Ralph Nelson queda-se pela mediania, sofrendo aqui e ali das inovações técnicas que se tentou introduzir naquela época. Estava-se em 1968, o movimento hippie ainda se mantinha na ribalta e a ordem geral era de mudança. Na vida de todos os dias, mas também nas artes e particularmente no cinema. Hoje, a mais de 50 anos de distância, a sequência da conversão de Charly aos prazeres comunitários soa um pouco a falso, qual objecto estranho no meio da narrativa. Os processos usados – colagem de imagens, divisão do écran – num efeito semi-psicadélico, também não ajudam muito. Uma pena que Nelson não se tenha preocupado em contar a história de Charly apenas socorrendo-se da genial interpretação de Robertson (nunca será demais evidenciá-la) e em vez disso tenha optado por alguns malabarismos de montagem.

CURIOSIDADES:

- Música de Ravi Shankar

- Na sequência do anfiteatro Charly Gordon dá algumas definições sobre tópicos da sociedade da época, que lhe vão sendo sugeridos pela assistência. Pelo seu inegável interesse transcrevem-se de seguida essas pequenas “sentenças”:

Modern science:
Charly Gordon: «Rampant technology, conscience by computer»

Modern art:
Charly Gordon: «Dispassionate draftsmen»

Foreign policy:
Charly Gordon: «Brave new weapons»

Today's youth:
Charly Gordon: «Joyless, guideless»

Today's religion:
Charly Gordon: «Preachment by popularity polls»

Standard of living:
Charly Gordon: «A TV in every room»

Education.
Charly Gordon: «A TV in every room»

The world's future:
Charly Gordon: «Brave new hates, brave new bombs, brave new wars»

The coming generation:
Charly Gordon: «Test-tube conception, laboratory birth, TV education, brave new dreams, brave new hates, brave new wars; a beautifully purposeless process of society suicide»




LOBBY CARDS:

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