terça-feira, agosto 07, 2012

THE INCREDIBLE SHRINKING MAN (1957)

SENTENCIADO
Um filme de JACK ARNOLD



Com Grant Williams, Randy Stuart, April Kent, Paul Langton, Raymond Bailey, etc.


EUA / 81 min / P&B / 16X9 (1.85:1)


Estreia nos EUA a 22/2/1957 (New York)


Scott Carey: «To God there is no zero. I still exist»

Um casal norte-americano - bem típico da classe média dos anos 50 - Scott e Louise Carey (Grant Williams e Randy Stuart), passeia-se languidamente no seu pequeno barco de recreio. Quando a mulher lhe vai buscar uma cerveja ao interior da embarcação, Scott testemunha um estranho fenómeno: o aparecimento repentino de um nevoeiro que por instantes o irá envolver. O incidente é rapidamente esquecido e o casal volta à vida normal de todos os dias. Mas, passados seis meses, Scott começa a notar que as suas roupas lhe estão a ficar largas. A princípio o facto é encarado de ânimo leve (Louise confessa-lhe o seu agrado por vê-lo perder um pouco de peso), mas, pouco a pouco, o terror começa a instalar-se, ao constatarem que Scott está a diminuir de tamanho a olhos vistos. E todas as tentativas médicas para deter tal processo revelam-se inúteis. Até onde chegará a diminuição de Scott?
É este o enredo central de "The Incredible Shrinking Man", um dos mais célebres filmes de ficção-científica dos anos 50. Baseado numa novela de Richard Matheson, autor incontornável do fantástico, e realizado por Jack Arnold, outro mago do género, o filme é percorrido por duas grandes linhas de força: a aventura propriamente dita, e uma alegoria sobre a alienação do homem moderno, a sua importância na sociedade e, em última análise, a razão da sua existência. Respondendo à pergunta do parágrafo anterior: a diminuição de Scott não pára, irá desenvolver-se para além do imaginário, rumo ao infinitesimal. O filme vai acompanhando as várias etapas e a adaptação de Scott a cada uma delas.
Quando o seu tamanho já se encontra reduzido a apenas alguns centímetros, Scott é obrigado a viver numa casa de bonecas, para assim se proteger do ambiente hostil à sua volta. Um dia, ao saír de casa, Louise deixa entrar inadvertidamente o gato e este ataca Scott. O nosso herói consegue escapar mas cai pelas escadas que conduzem à cave, indo aterrar numa caixa contendo roupas antigas, facto que lhe salva a vida. Quando regressa, Louise dá-se conta da tragédia, presumindo que o marido foi devorado pelo gato por ver neste vestígios de sangue. Mas Scott continua vivo, muito embora lutando pela sobrevivência num mundo diferente, equivalente para ele a um planeta desconhecido onde os perigos espreitam a cada esquina.
Para além do lado fantástico da história, Matheson e Arnold acentuam o drama humano de Scott, o que torna este filme realmente um caso único. A identificação do espectador com Scott é total («e se isto me acontecesse?», ter-se-ão interrogado muitos), devido a toda a acção ser nele focalizada, evitando qualquer intriga paralela ou secundária. As primeiras etapas da metamorfose de Scott são servidas por imagens simples mas extremamente eficazes: o alargamento progressivo das mangas das camisas e das calças, as radiografias de Scott, que sobrepostas revelam a diminuição do seu corpo, ou aquele plano magnífico das costas da cadeira, em que por alguns instantes, só vemos Louise e o irmão a falarem para o vazio. Depois a câmara roda e vemos o infeliz Scott sentado na beira da cadeira, para ele agora demasiado grande.
Numa época em que era necessário usar toda a argúcia para criar os efeitos desejados, o trabalho de Cleo Baker, Fred Knoth e Clifford Stine continua a ser - mais de 50 anos depois (!) - um dos aspectos relevantes para o sucesso de "The Incredible Shrinking Man": décors sobredimensionados, incrustações, perspectivas forçadas, tudo criado com um realismo de tal modo surpreendente que rapidamente nos esquecemos que estamos diante de simples trucagens. Os actuais defensores das modernas formas de efeitos digitais deveriam estudar este filme até à exaustão, para perceberem que a simplicidade de processos é ainda a que conduz a melhores e mais críveis resultados.
"The Incredible Shrinking Man" mantém-se como uma das referências fundamentais do género fantástico e de ficção-científica, mas, como já se disse, vai um pouco mais além, introduzindo outras dimensões, o que faz dele um filme algo diferente dos que o público dos anos 50 estava acostumado. Uma dimensão psicológica, onde são equacionadas as relações, afectivas e sociais, que a enfermidade particular de Scott desencadeia; uma dimensão filosófica, onde são abordadas as noções da existência do Homem e o seu lugar no Universo; e, também, uma dimensão ecológica, em que o medo de uma ameaça nuclear se encontra sempre presente. A segunda parte do filme desenrola-se sem qualquer diálogo, apenas se ouve a voz-off do protagonista, dando-nos conta das suas fraquezas e angústias e dos meios que progressivamente vai descobrindo para as ultrapassar. 
"The Incredible Shrinking Man" permanece um filme muito agradável de se ver, por vezes mesmo excitante (o episódio da perseguição pelo gato, a luta com a aranha ou aquele "naufrágio" nas águas revoltas da inundação da cave) e com um epílogo em aberto e deveras audacioso para as mentalidades reinantes na Hollywood daqueles anos. O filme de Jack Arnold faz-nos ainda hoje pensar nas fragilidades e incertezas da condição humana, mas simultaneamente deixa um grão de esperança: enquanto soubermos e tivermos força para ultrapassar os obstáculos que se nos deparam, enquanto pudermos abrandar a nossa velocidade de vida para reflectir, sobre nós mesmos e sobre as nossas acções, então seremos ainda capazes de preservar a integridade humana. Um filme típico dos anos 50, sem dúvida, mas com uma mensagem bem actual. A rever ou a descobrir pelas novas gerações.
CURIOSIDADES:

- A voz que se ouve na narração do trailer original do filme é a de Orson Welles, que na altura se encontrava a rodar “The Touch of Evil” nos estúdios da Universal

- A sequência da queda das gotas de água foi feita enchendo 1500 preservativos e atirando-os de certa altura para o chão (ver desenvolvimento aqui)

- Richard Matheson, o autor da novela original, chegou a escrever uma continuação para o filme (“The Fantastic Shrinking Girl”), na qual Louise, a mulher do protagonista, diminuía igualmente de tamanho. A Universal chegou a pensar produzir o respectivo filme, mas depois abandonou a ideia

- O monólogo final de Scott Carey foi adicionado ao argumento original por Jack Arnold






LOBBY CARDS:

6 comentários:

Vinyl Room disse...

Many thanks for all this detail, this is one of my favourite films, the only thing I wished is that it was available on DVD in colour as well as Black & White :-)

VR

Vinyl Room disse...

Yeah, I know what you mean, some movies are well represented in Monochrome, one that comes to mind is King Creole with Elvis Presley, and Jailhouse Rock, although MGM have done a colourised version of that one.

I suppose the good thing about those B&W films is that one can imagine what colour the objects may have been.

One thing that does annoy me though is the DVD packages, this film in particular shows a colour image, and to my mind if the DVD film is in B&W then it should also show as so on the image as this makes some people think they are buying a colour film, and normally if it does say it's B&W it's usually in very small print.

VR

Vinyl Room disse...

Oh by the way, I wasn't meaning it to be colourised, I was just saying that I wish it had been filmed in colour to start with, but I suppose it's a budget film so expenses spared I presume.

VR

Rato disse...

Just remember that all the old movies, at least the majority of them had posters in color, sometimes true pieces of art. What is more annoyant to me it's that on DVD packages they do not put the original covers but just some rabbish ones.

Rato disse...

By the way, do you know my other blog about Movie Posters? You can find there hundreds of original covers.

ANTONIO NAHUD disse...

Uma delícia de filme...

O Falcão Maltês