domingo, fevereiro 13, 2011

LORD JIM (1965)

LORD JIM
Um filme de RICHARD BROOKS


Com Peter O'Toole, James Mason, Eli Wallach, Curd Jürgens, Jack Hawkins, Paul Lukas, Daliah Lavi, Akim Tamiroff


EUA-GB / 154 min /COR / 16X9 (2.20:1)


Estreia na Gã-Bretanha a 15/2/1965 (Londres)
Estreia nos EUA a 25/2/1965



Lord Jim: «I've been a so-called coward and a so-called hero and there's not the thickness of a sheet of paper between them. Maybe cowards and heroes are just ordinary men who, for a split second, do something out of the ordinary. That's all»

«If you want to know the age of the Earth, look upon the sea in a storm. 
But what storm could fully reveal the heart of a man?» 
Joseph Conrad

“Lord Jim”, adaptação feliz da novela homónima de Conrad, tem o mar como elemento primordial. É nele que se inicia, é nele que acaba. Mas para além de relatar uma simples aventura através dos cenários exóticos do Cambodja, Singapura e Hong Kong, o filme aborda antes do mais uma busca atormentada da redenção psicológica e íntima de um homem. E se no livro Conrad pôde descrever-nos perfeitamente a angústia anímica do seu personagem, Richard Brooks tem a seu favor o facto de poder mostrar-nos o personagem a lutar contra todo um mundo hostil que o persegue, e que não lhe irá permitir ter a almejada “segunda oportunidade”. Para isso conseguiu imprimir à história um ritmo cinematográfico ausente do romance e teve a argúcia suficiente para ir buscar um actor fabuloso como Peter O'Toole, que se encontrava no auge da sua carreira e que consegue exprimir todas as variantes psicológicas do herói de Conrad, por mais pequenas e subtis que elas sejam.

“Lord Jim” é uma das melhores obras de Conrad (1857-1924), romancista nascido em Kiev, na Ucrânia dos nossos dias, e cujos pais, polacos, se exilaram em França por motivos políticos. Conrad andou embarcado mais de duas décadas como oficial em navios ingleses, facto que esteve na origem dos livros que escreveu, nos quais o mar protagonizou quase sempre o cenário principal. Foi de uma viagem ao Congo, em 1890, que resultou o livro “Heart of Darkness”, inspirador de Coppola para o seu “Apocalypse Now”, e que tantas afinidades tem com este “Lord Jim”.

Jim Burke, oficial irrepreensível da marinha mercante inglesa, sonha com feitos gloriosos que hão-de fazer dele um herói, quando embarca a bordo do Patna, navio que transporta algumas dezenas de peregrinos muçulmanos. Uma tempestade leva-o a abandonar precipitadamente o navio num salva-vidas com apenas mais três homens. O cenário que deixam para trás prenuncia o naufrágio e consequentemente a morte de todos aqueles homens deixados entregues à sua sorte. Mas a sorte nem sempre é madrasta e o Patna acaba por se salvar. Os companheiros de Jim desaparecem mal chegados a porto firme, mas ele insiste ser julgado em conselho de guerra e a carregar, a partir de então, o anátema da vergonha da deserção.
Distituído da sua patente de oficial, e depois de durante algum tempo se ter tentado perder em diversos ofícios, cada um mais anónimo do que outro, Jim parte para o Oriente, mais precisamente para Patusan, posto de comércio interior, onde encontra um sádico general que tiraniza os nativos locais. Aquela escravidão, que pessoalmente não lhe diz grande coisa, e cujas razões políticas não tenta sequer compreender, será no entanto o veículo ideal para que se possa redimir do seu passado e atingir a glória há tanto tempo desejada. Será a sua “segunda oportunidade”.

Depois de “Lawrence of Arabia” e de “Becket”Peter O’Toole sobe aqui mais um degrau na escada que o levaria a ser considerado um dos maiores actores dos anos 60. A sua interpretação do herói idealista de Conrad consegue envolver-nos em todo o desespero e resignação existencial do personagem. Sobretudo aquele final dramático, vivido poeticamente com um sorriso nos lábios, e que marcaria mais uma etapa decisiva na carreira do genial actor inglês. Na altura da sua exibição (eu veria o filme pela primeira vez em Outubro de 68, no cinema Avenida, em Lourenço Marques) a fabulosa prestação de O'Toole confundir-se-ia com o próprio filme - "Lord Jim" era Peter O'Toole e Peter O'Toole era "Lord Jim".
De referir ainda os óptimos desempenhos de Eli Wallach (na figura do sádico general) e sobretudo de James Mason, que cria aqui um personagem absolutamente sinistro, Gentleman Brown. Superprodução de duas horas e meia rodada em 1964 mas preparada durante vários anos por Richard Brooks, que também escreveu o respectivo argumento, “Lord Jim” iniciou as suas filmagens em Angkor Wat, no Cambodja, numa altura de profunda instabilidade política. Quando se dão os acontecimentos de 10 de Março (assalto e incêndio das embaixadas inglesa e norte-americanas em Phnom Penh) o essencial já se encontrava filmado e por isso a equipa pôde regressar de imediato à Europa, sem ser molestada pela rebelião comunista em curso.




8 comentários:

ANTONIO NAHUD disse...

É realmente um grande filme, bastante fiel a Conrad. E o elenco de apoio é fenomenal (Tamiroff, Lukas, wallach, Mason, Jurgens.
Abração

www.ofalcaomaltes.blogspot.com

Billy Rider disse...

Tantas saudades que eu tenho deste filme...
Tenho de o rever urgentemente!

Magda Cardoso disse...

Um dos filmes que contribuíram para o endeusamento de O'Toole nos sixties. A imagem de casaco ao ombro mostrada aí acima tornou-se rapidamente num icon daqueles anos. Houve, inclusivé, um regresso momentâneo aos casacos assertoados. Um filme que não poderia ser feito nos dias de hoje - toda aquela poesia que dele emana seria certamente trucidada por efeitos de computador.
Bjs

Unknown disse...

Parabéns pelo belo trabalho! Já linkei seu blog ao meu! Esteja certo que estrei sempre por aqui!
Um abraço
Dani
www.telaprateada.blogspot.com

Rato disse...

Seja bem vinda, Daniele. E volte sempre

ÐeeÞ Mµsik disse...

este é blog muito bom ....sensacional..mas nao consigo achar o link para baixar a trilha...parabens ....abraços....se puder mandar o para meu imail..e me explicar como eu poderia pegar o link

Rato disse...

Nem todos os films aqui comentados têm a trilha sonora disponível. Clicar em cima onde diz "Bandas Sonoras", para ver quais as que podem ser obtidas por download directo
Obrigado

Henrique nolano disse...

OLá. Parabens pelo blog, é realmente muito bom. Então, acabei de ler o livro do Conrad e estava muito querendo ver o filme, tanto para apreciar a obra quanto para comparar com o livro. Mas no entanto, não acho o filme legendado em lugar algum. Alguem sabe onde posso copnseguir acessar o filme Ou se alguem tem disponível digitalizado?