Um filme de ELIA KAZAN
Com Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter, Karl Malden
EUA / 125 min / PB / 4X3 (1.37:1)
Estreia nos EUA a 18/9/1951 (Los Angeles)
Estreia em Portugal a 14/11/1952
Stanley Kowalski: “Stella!!! Hey Stella!!!”
Depois de dois anos em exibição na Broadway, a peça de Tennessee Williams “A Streetcar Named Desire” é adaptada ao cinema pelo mesmo director que a encenara em palco, Elia Kazan. Relutante ao princípio, por achar que nada de novo poderia acrescentar ao grande êxito que a peça tivera no teatro, Kazan deixar-se-ia contudo convencer pelo próprio dramaturgo. Todo o elenco principal transitou para a versão em cinema, com excepção de Jessica Tandy, a actriz que tão bem tinha desempenhado o papel principal de Blanche Dubois. A razão teve a ver com a necessidade de se ter uma grande estrela no elenco, de modo a garantir o sucesso no box-office. A escolha recaíu na actriz inglesa Vivien Leigh (a Scarlet O’Hara de “Gone With The Wind”) que seis meses antes desempenhara o mesmo papel nos palcos londrinos, numa encenação do seu marido, o conhecido actor Laurence Olivier.
A peça tinha sido escrita por Williams com o personagem de Blanche sempre no meio das atenções, mas cedo todos se começaram a aperceber da força com que a figura de Stanley Kowalski se começava a destacar. Era o nascimento, ainda em palco, de um dos maiores actores que o mundo já conheceu: Marlon Brando. Saído directamente do Actor´s Studio, onde tinha sido aluno do próprio Kazan, Brando detestava curiosamente o personagem que o levaria a tornar-se uma super estrela: «O homem tem um ego enorme, está sempre seguro de si, não tem medo de nada e age com uma agressividade brutal. Tenho medo deste tipo de pessoa, odeio-a.» Mas a verdade é que o magnetismo animal de Marlon Brando ofuscou a beleza frágil e decadente de Vivien Leigh. O naturalismo do actor, aliado à sua sexualidade telúrica construíram um Stanley Kowalski impossível de superar por todos quantos posteriormente se aventuraram no papel.
No entanto e um tanto surpreendentemente, Brando não viria a ganhar o Oscar para o qual foi nomeado pela primeira vez com este filme, tendo sido ultrapassado na corrida por Humphrey Bogart pelo seu desempenho em “The African Queen”. Em contrapartida todos os outros actores foram contemplados com a estatueta dourada: Vivien Leigh como Actriz Principal, Karl Malden e Kim Hunter como Actores Secundários. O filme ganharia ainda o Oscar para a melhor direcção artística e cenários em preto e branco.
“A Streetcar Named Desire” não representa todavia o melhor cinema de Kazan. Trata-se apenas de teatro filmado, sem conter ainda uma linguagem cinematográfica própria. Seria o filme-charneira do realizador que a partir daqui deixaria os mecanismos teatrais para se aventurar, com grande sucesso, em terrenos mais criativos. “Viva Zapata”, também com Brando, seria o seu projecto seguinte mas somente a partir de meados dos anos 50 é que toda a sua arte fílmica se viria a destacar em grandes obras do cinema: “On the Waterfront”, “East of Eden”, “Splendor in the Grass”, só para citar três das mais importantes.
Em 1951 vivia-se na América uma época politicamente nefasta, com as perseguições no meio artístico pelo Comité Contra Actividades Anti-Americanas, que curiosamente envolveram de maneira oposta dois dos intervenientes deste filme. Enquanto que Kazan se tornava apoiante e delator, a actriz Kim Hunter iria parar à “lista negra” apenas por ser uma conhecida activista dos direitos civis.
A sombra da censura abateu-se de igual modo sobre “A Streetcar Named Desire”, tendo sido remontadas diversas cenas de modo a esbater a carga sexual das mesmas. Por exemplo, o carácter homossexual do antigo marido de Blanche foi completamente camuflado em novos diálogos e toda a sequência da descida das escadas por Stella alterada por cortes de diversos planos e mesmo por mudança da música de fundo. Felizmente que essa lenta e sensual sequência (a única verdadeiramente cinemática de todo o filme e por isso mesmo inesquecível) foi restaurada no princípio dos anos 90 e passou a fazer parte integral de todas as cópias do filme.
A sombra da censura abateu-se de igual modo sobre “A Streetcar Named Desire”, tendo sido remontadas diversas cenas de modo a esbater a carga sexual das mesmas. Por exemplo, o carácter homossexual do antigo marido de Blanche foi completamente camuflado em novos diálogos e toda a sequência da descida das escadas por Stella alterada por cortes de diversos planos e mesmo por mudança da música de fundo. Felizmente que essa lenta e sensual sequência (a única verdadeiramente cinemática de todo o filme e por isso mesmo inesquecível) foi restaurada no princípio dos anos 90 e passou a fazer parte integral de todas as cópias do filme.
CURIOSIDADES:
- Olivia de Havilland recusou o papel de Blanche e John Garfield o de Kowalski
- Foram nove os actores que transitaram da versão da Broadway para o filme, algo pouco comum na época.
- Classificado em 2007 pelo American Film Institute no 47º lugar da lista dos melhores filmes de sempre
- Apesar de uma certa desconfiança mútua inicial, Marlon Brando e Vivien Leigh tornaram-se amigos inseparáveis durante a rodagem do filme. Nessa altura Laurence Olivier também se encontrava em Hollywood a filmar "Carrie"
- Apesar de uma certa desconfiança mútua inicial, Marlon Brando e Vivien Leigh tornaram-se amigos inseparáveis durante a rodagem do filme. Nessa altura Laurence Olivier também se encontrava em Hollywood a filmar "Carrie"
- A citação "... e se Deus quiser amá-lo-ei melhor depois de morta" é tirada de um soneto português publicado numa recolha feita por Barrett Browning em 1850.
1 comentário:
É simplesmente meu filme-de-cabeceira!
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