segunda-feira, janeiro 10, 2011

YOUNG FRANKENSTEIN (1974)

FRANKENSTEIN JÚNIOR


Um filme de MEL BROOKS


Com Gene Wilder, Peter Boyle, Marty Feldman, Madeline Kahn, Teri Garr, Cloris Leachman, Kenneth Mars


EUA / 106 min / PB / 16X9 (1.85:1)


Estreia nos EUA a 15/12/1974
Estreia em Portugal a 26/6/1975
(Lisboa, cinema Condes)


Dr. Frederick Frankenstein: «I am not a Frankenstein. I'm a Fronkonsteen»

O tratamento renovado de um tema tão solidamente implantado no cinema como é o de Frankenstein é tarefa onde já falharam imensos realizadores. Mais ou menos fiéis ao romance de Mary Shelley, grande parte dessas tentativas de reinvenção do mito ao longo dos anos têm-se perdido num falso terror de pacotilha, num desrespeito total pelo espírito que presidiu à criação do personagem. Por isso foi com algum cepticismo que me desloquei ao cinema Condes, em Lisboa, naquela segunda-feira, dia 30 de Junho de 1975, para assistir a este filme. Ainda por cima tratava-se de uma comédia, e assinada por alguém que me era completamente desconhecido. É que apesar de ser já a sua quarta longa-metragem, “Young Frankenstein” foi o primeiro filme de Mel Brooks a ser exibido em solo lusitano. Era por isso uma estreia absoluta.
A surpresa revelou-se total e... deliciosa! Posso mesmo dizer que foi das vezes em que uma ideia pré-concebida se viu completamente estilhaçada por aquela autêntica revelação - um humor corrosivo e delirante que conseguia dar uma volta de 180 graus ao romance original sem nunca o agredir. Pelo contrário, Mel Brooks serve-se dele como veículo de reconstrução e homenagem aos filmes de James Whale dos anos 30, conseguindo algo que iria perdurar para sempre na história do cinema. Essencialmente, Brooks pegou em dois clássicos eternos dos filmes de terror (“Frankenstein” de 1931 e “The Bride of Frankenstein” de 1935) e fez com eles um outro clássico absoluto, agora nos domínios da comédia. A par de “Blazing Saddles” (curiosamente do mesmo ano e também uma homenagem satírica, desta vez ao western), “Young Frankenstein” permanece como a obra máxima de Brooks, quase 4 décadas depois.
A história começou a ser escrita por Gene Wilder, muito antes de Mel Brooks entrar em cena e partilhar com ele a autoria do argumento. Anunciado como “The scariest comedy of all time!”, o filme fala-nos do regresso do neto do barão de Frankenstein, Frederick (Gene Wilder) à terra natal dos seus antepassados para tomar posse do legado que lhe foi deixado pelo avô. Neuro-cirurgião famoso, professor de medicina numa universidade americana, Frederick (que prefere que o tratem por Fronkonsteen devido aos embaraçosos antecedentes familiares), despede-se da sua noiva, Elizabeth (Madeline Kahn) antes de embarcar no comboio que o levará até à Transylvania.
Para além do castelo o testamento contempla também Igor (Marty Feldman, numa actuação histórica, que se confunde com o próprio filme), neto do criado do barão, e que arranja uma assistente, chamada Inga (Teri Garr), para o seu novo amo. Quando chegam ao castelo são recebidos por uma governanta, Frau Blücker (Cloris Leachman), antiga amante do barão de Frankenstein. A breve trecho Frederick descobrirá o gabinete de trabalho do seu avô, bem como o diário onde o barão registou todas as suas experiências médicas.  A tentação de criar vida a partir da morte está nos genes da família e rapidamente Frederick deita mãos ao trabalho visando a criação de um novo ser. Mas uma acidental troca de cérebros irá desencadear resultados catastróficos, só que, desta vez ...hilariantes!
Gags visuais (como a bossa deslizante de Igor) e sonoros (o relinchar dos cavalos sempre que o nome Blücker é pronunciado), diálogos brilhantes e irreverentes, uma fotografia fabulosamente iluminada a preto e branco, actores dirigidos com mão de mestre e que se sentem como peixes na água, tudo se conjuga harmoniosamente, para conferir a “Young Frankenstein” uma saudável alegria, um piscar de olhos aos cinéfilos da plateia. Algumas das situações são verdadeiros achados, como o encontro do monstro (Peter Boyle) com o eremita cego (um bem disfarçado Gene Hackman), a apresentação ao público em toada de music-hall (“Puttin’ On The Ritz”, de Irving Berlin) ou quando Elizabeth, a puritana noiva de Frederick entretanto chegada ao castelo, se deixa possuír pela criatura, por entre gorgeios voluptuosos de ópera («Oh, sweet mystery of life at last I've found you! At last, I know the secret of it all!»).
Se, classicamente, o monstro é imolado pelo fogo e destruído, neste filme o final é totalmente diferente. Para remediar o mal feito, Frederick troca o seu brilhante cérebro com o da criatura, a qual acaba por desposar Elizabeth. Vêmo-la bamboleando-se ao jeito das vamps do cinema americano (e com um arranjo capilar a evocar a “Noiva de Frankenstein”) a caminho do leito nupcial, onde a espera o antigo monstro, agora convertido num exemplar burguês. Quanto a Frederick, acaba por ficar no castelo e no leito de Inga, a qual, num derradeiro e divertido gag, acaba por descobrir que afinal o professor ganhou algo bem mais valioso (pelo menos para ela) na troca de cérebros efectuada.
Resta acrescentar o rigor com que os cenários são concebidos, no mais perfeito estilo do cinema de terror, do castelo de portas com batentes gigantescos aos corredores com teias de aranhas, e às próprias ruas da cidade com uma atmosfera capaz de acordar em nós reminiscências do expressionismo alemão dos anos 20. Cinema de puro divertimento, mas que consegue fazer a revisão cuidadosa da matéria dada: um mito fundamental do cinema de terror, que vem das nossas raízes cinéfilas, e que povoará para sempre as nossas memórias.

CURIOSIDADES:

- O cenário do laboratório do castelo é o mesmo onde foi rodado o original “Frankenstein”

- Na sequência de abertura, em que a câmara vai lentamente descobrir o túmulo do barão de Frankenstein, o relógio existente na cripta assinala a meia-noite mas ouvem-se 13 badaladas em vez das esperadas doze

 - No final do encontro do monstro com o eremita cego, este vem à porta gritar-lhe «I was gonna make espress». Tal réplica foi improvisada por Gene Hackman, cujo nome não apareceu nos créditos finais quando o filme foi exibido pela primeira vez. Consta que muita gente não reconheceu o conhecido actor


- Durante as filmagens era frequente os actores desmancharem-se a rir, o que originou muitos takes extras de várias cenas. Esses momentos podem ser vistos no documentário que acompanha a edição do filme em DVD e Blu-Ray.

- Em 2006 a revista Premiere incluiu “Young Frankenstein” na lista das melhores 50 comédias de todos os tempos.

- Os elementos da banda Aerosmith foram assistir ao filme numa pausa das gravações de um novo album. Steven Tyler escreveu na manhã seguinte o tema “Walk This Way”, inspirado pelo gag de Marty Feldman ao descer a escada da estação de comboio juntamente com Gene Wilder

- “Young Frankenstein” foi nomeado para 2 Óscares (Som e Argumento-adaptado) e para 2 Globos de Ouro (Filme Musical ou Comédia e Actriz Secundária – Madeline Kahn)

- A versão musical de “Young Frankenstein” estreou-se na Broadway, no Hilton Theater de Nova Iorque, a 8 de Novembro de 2007, tendo estado mais de um ano em cena

POSTERS


LOBBY CARDS:

1 comentário:

Billy Rider disse...

Pena foi que a criatividade de Mel Brooks se tenha esgotado em apenas dois filmes - este e o anterior, "Balbúrdia no Oeste", clássicos incontornáveis da comédia satírica e inteligente. Depois resvalou para o facilitismo e... nunca mais se levantou.