quinta-feira, agosto 12, 2010

THE SERVANT (1963)

O CRIADO
Um filme de JOSEPH LOSEY



Com Dirk Bogarde, James Fox, Sarah Miles, Wendy Craig

GB / 112 min / PB / 4x3 (1.66:1)

Estreia no Festival de Veneza em Setembro de 1963
Estreia no Reino Unido em 1963/11
Estreia em Portugal a 25/9/1970


Expatriado americano no Reino Unido (foi um dos incluídos na tristemente célebre lista negra de Hollywood), Joseph Losey sempre trouxe um olhar frio e desencantado ao avaliar os costumes do seu país de adopção. Mas em “The Servant”, a primeira das suas três colaborações com Harold Pinter (as outras seriam "Accident / Acidente", em 1967 e "The Go-Between / O Mensageiro" em1970), a persistência do seu olhar ainda se tornou mais penetrantemente nítida. O guião de Pinter, tipicamente elíptico e oblíquo, e a direcção crispada e áspera de Losey oferecem uma análise sardónica das relações de classe, sexo e poder na Londres dos anos 60. Um jovem algo decadente das classes superiores, Tony (James Fox num dos seus primeiros papéis de estrela), contrata um criado, Barrett (Dirk Bogarde), que parece ser a pessoa ideal para tomar conta dos problemas do dia-a-dia - é discreto, competente e tem classe. Mas as aparências iludem e a máscara servil de Barrett oculta uma perversidade diabólica que gradualmente irá tomar conta da vida do seu patrão. Para isso não hesita em usar a sua amante, Vera (uma excitante Sarah Miles), fazendo-a passar por irmã e introduzindo-a na casa para através dos seus encantos conseguir um controle ainda maior.


A fábula é límpida: herdeiros de um mundo condenado, o escravo torna-se o amo, e vice-versa, muito embora a troca de papéis não evite a continuação de uma exploração mútua. Losey deleita-se perante o espectáculo deste inexorável processo de desagregação e filma tudo com uma refinada elegância, usando a própria câmara de filmar como cúmplice quando com ela explora sinuosamente os espaços claustrofóbicos da casa, transformando-os numa gaiola bem montada e observando os seus residentes de ângulos perturbadores. Divertido, sinistro e enervante, “The Servant” conserva ainda hoje o poder de criar mal-estar. Dirk Bogarde tem aqui um dos papeis-chave da sua carreira (estou a lembrar-me também do excelente desempenho em "Morte em Veneza", a conhecida obra de Luchino Visconti. Inclusivé, o actor tomou em mãos as rédeas da realização deste filme durante duas semanas, período em que Joseph Losey esteve hospitalizado. Após a coonvalescença o realizador não voltou a filmar as cenas entretanto rodadas, o que foi um alívio para os actores e equipa técnica.

Dirk Bogarde e James Fox
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