Um Filme de ALFRED HITCHCOCK
Com Ingrid Bergman, Cary Grant, Claude Rains, Louis Calhern, etc.
EUA / 101 min / P&B / 4X3 (1.37:1)
Estreia nos EUA a
6/9/1946
Estreia em PORTUGAL a 10/11/1947:Lisboa, cinema Politeama
Na
entrevista feita a Hitchcock em 1962, François Truffaut revelava
ao mestre do suspense ser "Notorious" um dos seus filmes
preferidos (pelo menos a preto e branco, precisava o director francês),
apelidando-o mesmo de quinta-essência
de Hitchcock.
E continuava os elogios, salientando a "magnífica pureza" das cenas, e o “modelo de
construção” do guião, do qual Hitchcock tinha extraído "o máximo de
efeitos com o mínimo de elementos": o grande êxito do filme teria
resultado assim por se ter conseguido atingir "o cúmulo da estilização e o
cúmulo da simplicidade". Hitchcock concordava plenamente com essa
ideia:
«A simplicidade... É interessante... É muito curioso... Com
efeito, o nosso esforço incidiu nesse sentido. Geralmente, num filme de
espionagem há muitos elementos de violência, e aqui evitámo-los. Utilizámos um
método de assassínio extremamente simples, diria que quase normal, como num fait divers, como na vida. A personagem
de Claude Rains vai matar Ingrid Bergman com a ajuda da mãe,
envenenando-a muito lentamente com arsénico, exactamente como faz um homem para matar a mulher, de uma maneira autêntica, se assim ouso dizer, como quando se quer dispor da vida
de alguém sem deixar marcas.»
"Notorious" é, de facto, na obra de Alfred
Hitchcock, um dos filmes mais notáveis, qualquer que seja o ponto de
vista pelo qual seja encarado. Nele se reúnem um grande tema dramático com
aspectos de tragédia, uma grande sabedoria na dosagem dos momentos fortes, que
acabam por surgir quase em surdina, e grandes actores onde sobressai a
maravilhosa Ingrid
Bergman, num dos seus papeis mais esplendorosos. A fragilidade e a
feminilidade da protagonista contrastam com a dureza cruel das propostas que
lhe são feitas e que ela acaba por aceitar até às últimas consequências, devido
talvez aos sentimentos contraditórios que nela se degladiam.
Recordemos
de novo Hitchcock na citada entrevista a Truffaut: «A história de "Notorious" é o velho conflito entre o amor e o dever. O trabalho de
Cary
Grant é levar Ingrid Bergman para a cama de Claude Rains. É uma situação realmente irónica e Cary Grant é amargo ao longo de todo o filme. Claude Rains é simpático porque foi vítima da sua confiança e também
porque amou Ingrid Bergman
mais profundamente que Cary Grant. Foi
essa série de elementos do drama psicológico que transpus para uma história de
espionagem.»
Na
verdade, ambos os protagonistas são confrontados com situações que neles geram
necessariamente sentimentos de angústia, que contradizem o elo afectivo que os
aproxima um do outro, e que vemos materializar-se nas longas e exemplares cenas
de amor (o close-up é rei e senhor em
todas elas), ao longo do filme. Essas cenas são tão pungentes e comoventes -
"puras", como lhes chama Truffaut - que, à luz delas, toda a trama
policial é relegada para secundarissimo plano. Excepção feita às sequências da chave, da adega e da descida final pela
escadaria, nas quais Hitchcock faz questão de nos lembrar que de
facto não houve outro realizador que tão bem soubesse manipular os artifícios
do suspense.
"Notorious" é, acima de tudo, o equilíbrio supremo entre o filme de espionagem, a história de amor e a visão oculta do medo e da culpa que vão minando esse mesmo amor. Filme em que cada plano é rigorosamente composto, centrado no mais extraordinário jogo de olhares da sua obra, onde tudo tem «a precisão e o controle do desenho animado» (Truffaut) é mais uma vez um pesadelo sobre gente que faz medo e tem medo. Se quséssemos fazer prevalecer uma imagem, ela estaria nessa chave de mão em mão passada e de mão em mão trocada (de Claude Rains a Ingrid Bergman e Cary Grant) sobre a qual Hitch faz um dos mais geniais travellings da sua obra. Chave que fecha todas as portas sendo o equivalente visual das barreiras que os protagonistas são incapazes de transpôr.
"Notorious" é, acima de tudo, o equilíbrio supremo entre o filme de espionagem, a história de amor e a visão oculta do medo e da culpa que vão minando esse mesmo amor. Filme em que cada plano é rigorosamente composto, centrado no mais extraordinário jogo de olhares da sua obra, onde tudo tem «a precisão e o controle do desenho animado» (Truffaut) é mais uma vez um pesadelo sobre gente que faz medo e tem medo. Se quséssemos fazer prevalecer uma imagem, ela estaria nessa chave de mão em mão passada e de mão em mão trocada (de Claude Rains a Ingrid Bergman e Cary Grant) sobre a qual Hitch faz um dos mais geniais travellings da sua obra. Chave que fecha todas as portas sendo o equivalente visual das barreiras que os protagonistas são incapazes de transpôr.
Mas
depois do filme acabar e as luzes se acenderem (é verdade, cheguei a ver esta
pérola numa sala de cinema), uma constatação parece-me óbvia: é Ingrid Bergman
a grande força motriz de "Notorious". O filme roda
permanentemente à sua volta, e todas as cenas em que ela está presente - e são
a grande maioria - atingem uma força emocional muito grande pela forma espantosa
como ela é o personagem; personagem esse que vai atravessando várias
cambiantes ao longo do filme: desde atrevido e sedutor na festa inicial («How
about we... have a picnic?») até aos momentos de perturbação e mal-estar físico
que o definem na última parte do filme («If you had only once said that you
loved me...»).
CURIOSIDADES:
- O produtor David O.
Selznick pretendia que a actriz Vivien Leight (a Scarlet O’Hara de “Gone With
The Wind”) interpretasse a personagem principal
- O habitual cameo de Hitchcock
surge já
com cerca de uma hora de filme: é um convidado na festa realizada na mansão de
Alex Sebastian, que se serve de uma taça de champanhe.
-Tendo em vista a
criação de um mcguffin para o filme, Alfred
Hitchcock e o argumentista Ben Hecht consultaram Robert Millikan,
galardoado com um Prémio Nobel, sobre como fazer uma bomba atómica. Robert
recusou-se, tendo apenas confirmado o urânio como o principal ingrediente, o
qual caberia facilmente dentro de uma garrafa de vinho
- A lendária sequência
dos múltiplos beijos entre
Cary Grant e Ingrid
Bergman foi arquitectada daquela maneira para tornear as directivas
do famigerado Código Hayes que restringia a duração dos beijos a um máximo de 3
segundos. É caso para dizer “abençoado Código, que assim permitiu filmar-se uma
das cenas mais sensuais do cinema”!
- Depois das filmagens
terminarem, Cary Grant ficou com a chave de marca “UNICA”,
usada na famosa sequência da adega. Guardou-a durante 10 anos, tendo-a depois
oferecido a Ingrid Bergman,
dizendo-lhe
que a considerava um amuleto de sorte. Passaram-se mais 20 anos, e em 1976,
durante o tributo com que o American Film Institute consagrou Hitchcock, Ingrid
fez
questão de oferecer a chave ao velho mestre.
- "Notorious" foi nomeado para 2 Óscares da Academia, nas categorias de Argumento Original (Ben Hecht) e Actor Secundário (Claude Rains). Hitchcock seria nomeado para o Grande Prémio do Festival de Cannes de 1946.
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