quarta-feira, março 23, 2011

THE THOMAS CROWN AFFAIR (1968)

O GRANDE MESTRE DO CRIME
Um filme de NORMAN JEWISON




Com Steve McQueen, Faye Dunaway, Paul Burke, Jack Weston

EUA / 102 min / COR / 
16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 19/6/1968



Thomas Crown: [looks at Vicki, who is standing next to the chess table]:
«Do you play?»
Vicki Anderson: «Try me»

Esta versão original de “The Thomas Crown Affair” que em Portugal se estreou com o título de “O Grande Mestre do Crime”, converteu-se, com o tempo, em objecto de culto. Para isso contribuíram diversos factores. Em primeiro lugar os brilhantes diálogos de um argumento bem urdido, da autoria de Alan Trustman, que sustentavam uma história de um assalto cujo móbil principal não era o dinheiro mas sim o puro prazer pessoal de quem o concebera: «it’s about me, me and the systhem», confessa o grande mestre do crime, um Steve McQueen metido na personagem inesperada de um galã romântico, mas sem nunca perder o lado cool que o tinha imortalizado nos filmes precedentes. 


Faye Dunaway, outra das grandes atrações do filme, desempenha o papel de Vicki Anderson, uma investigadora independente, determinada a recuperar o dinheiro roubado para a seguradora, e que para tal inicia um jogo do gato e do rato com a sua presa. Eva Marie Saint foi a actriz inicialmente escolhida mas Dunaway estava no topo da fama por causa do seu recente e lendário desempenho em “Bonnie And Clyde” e não teve qualquer problema em se apropriar do papel.


Depois há a banda sonora, celeberrima. Parece que o compositor, Michel Legrand, depois de ver a versão original do filme (que durava qualquer coisa como cinco horas), tirou seis semanas de férias, durante as quais escreveu 90 minutos de música. Posteriormente a montagem final do filme foi feita com base nessa hora e meia de fundo musical, um processo inverso ao que habitualmente acontece em cinema. A canção-tema, “The Windmills of Your Mind”, viria a ganhar o Óscar e o Globo de Ouro, mas, mais importante do que isso, teria ao longo dos anos muitas dezenas de versões em todo o mundo que a tornariam imortal.

Os carros usados no filme também contribuíram para o seu sucesso. Quer o Ferrari 275 GTS Spyder Nart, conduzido por Dunaway («one of those red italian things»), modelo que McQueen viria a adquirir para a sua coleção privada, quer sobretudo o beach-buggie usado nas cenas rodadas na praia e que na altura despoletou uma autêntica moda. Mas “The Thomas Crown Affair” ficaria sobretudo celebrizado como o filme do jogo de xadrez – uma sequência sem qualquer diálogo mas repleta de explícitas conotações eróticas, que provocou frissons na espinha dos espectadores e que por certo contribuiu na altura para um aumento significativo da popularidade do jogo, até então considerado essencialmente cerebral.

Para além da evidente química ente McQueen e Dunaway, o filme soma pontos também na estilizada cinematografia de Haskell Wexler, que lhe confere uma certa elegância e bom gosto, e na direção segura de Norman Jewison, que não hesita em socorrer-se da técnica do “écran repartido” (uma moda naquele final dos anos sessenta) para ilustrar algumas das sequências, nomeadamente o assalto ao banco, logo na abertura do filme.

“The Thomas Crown Affair”, para além de ser um thriller conotado com o sub-género de “assaltos a bancos”, deve muito da popularidade ao seu lado romântico. Filmes como “How To Steal a Million”, de William Wyler (com Peter O’Toole e Audrey Hepburn) ou “Gambit”, de Ronald Neame (com Michael Caine e Shirley MacLaine), ambos realizados dois anos antes, tinham descoberto o filão. “The Thomas Crown Affair” retoma a receita mas vai um pouco mais longe ao fazer do seu herói uma espécie de ícone para os estudantes liberais das universidades daquela época: um self-made man que, mau grado pertencer também ao mundo capitalista dos negócios, se entretém a desafiar os todos poderosos senhores da banca apenas para dar algum colorido ao fastio dos seus dias.


Trinta anos depois, o realizador de “Die Hard”, John McTiernan, faria uma nova versão de “The Thomas Crown Affair”, com Pierce Brosnan e Rene Russo nos principais protagonistas. Curiosamente os dois filmes têm bastantes pontos em comum. O assalto ao banco é substituído pelo roubo de um valioso quadro de Monet do Metropolitan Museum e o jogo de xadrez por uma dança de conotações rituais e também adornada de uma carga libidinosa forte (sem ter contudo a original e deliciosa sensualidade da outra), mas o espírito do primeiro filme mantém-se em certa medida. Faye Dunaway tem direito a uma pequena homenagem ao desempenhar o papel de uma psiquiatra e até “The Windmills of Your Mind” se faz de novo ouvir no meio da banda sonora assinada por Bill Conti. Colocando mais ênfase na faceta romântica (por vezes exagerada através de alguma histeria de Russo em certas cenas a roçar o soft-porno) e também na insegurança psicológica do herói (algo que dificilmente colaria à figura máscula de McQueen no primeiro filme), esta nova versão fica contudo bastante aquém deste original, mesmo continuando a constituir um razoável entretenimento.


CURIOSIDADES:

- “The Windmills of Your Mind” é interpretada por Noel Harrison, filho do actor britânico Rex Harrison

- Steve McQueen considerava a personagem Thomas Crown o seu melhor desempenho no cinema

- Sean Connery recusou o papel principal, decisão da qual se viria a arrepender mais tarde

- A cena do beijo, que dura um longo minuto, levou oito horas a ser filmada, repartida por vários dias

- Em Outubro de 2010 a marca italiana Persol re-lançou o modelo de óculos escuros (“714”) usado por McQueen neste filme como parte da Steve McQueen Collection.







4 comentários:

Billy Rider disse...

A versão mais recente está realmente a anos-luz deste clássico dos anos 60, sobretudo ao nível dos intérpretes: a Rene Russo julga-se muito sexy, mas basta um olhar ou um pequeno trejeito de boca da Dunaway para mostrar que para sse er sensual não basta querer. Quanto ao Pierce "Bond" Brosnan, parece um menino de coro quando comparado com o McQueen.
Para quem nunca viu qualquer dos filmes e pretende compará-los, aconselha-se primeiro a visão da nova versão para evitar a decepção e a sensaboria.

José Morais disse...

Pois... como tantas vezes acontece uma segunda versão perfeitamente escusada - existem realmente coisas inimitáveis. E quando é que aprendem que a sugestão vale muito mais do que o explícito?

Alexandre Macedo disse...

Seria esta a segunda melhor cena de xadrez no cinema? Talvez. Grande texto para um grande (e subestimado) filme!

Rato disse...

Assim de repente só me vem à memória mais uma cena de xadrez (importante) no celulóide - a do "Sétimo Sêlo" do Bergman. Lembras-te de alguma outra, Alexandre?