EASY RIDER
Um Filme de DENNIS HOPPER
Com Peter Fonda, Dennis Hopper, Jack
Nicholson, Karen Black, Luana Anders, Toni Basil, Phil Spector, etc.
EUA / 94 min / COR / 16X9 (1.85:1)
Estreia em FRANÇA a 8/5/1969
(Festival de Cannes)
Estreia nos EUA a 14/7/1969
George:
[Seeing his first marijuana cigarette.]
Lord have mercy! Is that what that is?
Em 1969,
um pequeno filme de motos mudou para sempre a maneira de a América se olhar a
si própria. Chamou-se "Easy Rider". Realizado com um orçamento de cerca de
350 mil dólares, conseguiu um lucro espectacular de quase 20 milhões, só no
continente norte-americano. Foi o primeiro filme independente a ser distribuido
por uma grande companhia, a Columbia, e foi o filme que transformou Jack Nicholson numa estrela. Tinha na
altura 33 anos, a mesma idade de Dennis
Hopper (Peter Fonda é três anos
mais novo). Todos os três se conheciam bem, tinham bons contactos em Hollywood
e ambições em escrever, produzir e realizar filmes. Mas também se encontravam
na base da escada do sucesso e sabiam que nenhum grande estúdio olharia duas
vezes para o seu projecto. Assim, conseguiram uma pequena ajuda de um outro
amigo e produtor independente, Bert Schneider, e começaram a filmar. Sem um
argumento sólido, sem o recurso a grandes actores (o próprio Nicholson, que era um actor de segunda
categoria na altura, não queria de início representar, preferia quedar-se pela
produção do filme) ou a técnicos especializados (conseguiram apenas um óptimo
fotógrafo, Laszlo Kovacs) e no meio de grandes confusões e discussões.
Mas as
ideias estavam lá e os tempos também ajudaram. "Easy Rider" foi o filme
certo no tempo certo, foi o filme de uma geração feito numa altura em que essa
geração estava a chegar ao fim. Foi estreado em Maio de 69, no Festival de
Cannes (Dennis Hopper ganharia o
prémio de realização por uma primeira obra), um ano depois dos acontecimentos
em França, dos tanques russos terem invadido Praga e dos assassinatos de Robert
Kennedy e de Martin Luther King e a escassos três meses da realização do
concerto de Woodstock. Richard Nixon estava na presidência e as baixas
americanas na Guerra do Vietname ultrapassavam já as 30.000. Para a camada
jovem da população mundial a política estabelecida, o establishment, era
cada vez mais sinistro, e os movimentos de protesto e contra-cultura começavam
a perder grande parte da sua força.
O filme é
uma viagem pela América (de Los Angeles a New Orleans), onde os ideais de
liberdade (ou a ilusão dela) são confrontados com um modo de pensar corrupto e
conformista. O tom geral do filme é marcadamente cínico e marginal, reflectindo
o colapso dos sonhos dos anos sessenta (Wyatt: «You know Billy... we blew it»).
A excepção é a personagem de Nicholson,
George Hanson, um bêbado crónico, mas alguém capaz de questionar a sociedade
conformista onde se integra e, mais importante, saber lidar com ela e não se
afastar, não ceder à fácil tentação da renúncia, como Billy e Wyatt acabam por
fazer. Além disso, não tem preconceitos em descobrir novos modos de pensar ou
de vivência (a cena de iniciação à marijuana é bem elucidativa). E talvez seja
por isso mesmo que dos três seja aquele que deva ser eliminado, pelo maior
perigo que representa para a continuidade do poder instituído.
Dennis
Hopper afirmou ter querido realizado um western. Os
nomes das personagens centrais, Wyatt e Billy, foram retirados directamente de
dois mitos do Oeste Selvagem, Wyatt Earp e Billy the Kid, e os cavalos
substituídos por duas Harley-Davidson na travessia do continente, em demanda do
sonho americano (como rezava o cartaz de promoção: «A man went looking for
America and couldn't find it anywhere»). Esta procura infrutífera e sem futuro,
esta sensação de vazio e impotência, foi a causa principal do sucesso do filme
junto à juventude da época que assim se viu reflectida nas suas esperanças e
temores mais secretos. Daí à transformação de "Easy Rider" num genuíno
filme de culto foi um pequeno passo. Mesmo quando reportado aos anos imediatos,
ao início dos anos setenta. O desaparecimento dos Beatles e as mortes físicas
de Hendrix, Janis e Morrison, prenunciavam novos ventos de mudança: «The dream
is over», anunciava Lennon em "God" (1971). Não foi preciso muito tempo
para que até a própria música começasse a mudar. O psicadelismo, tão
exemplarmente interpretado no filme, passava rapidamente de moda e o
disco-sound estava já ali, ao virar da esquina. Começava a idade do egoísmo e
do salve-se quem puder, tão característico dos yuppies dos anos 80. A geração
das flores tinha sido definitivamente enterrada.
Aconselha-se vivamente ler a resenha que o meu amigo Sérgio Vaz fez muito recentemente sobre o filme. Aqui.
CURIOSIDADES:
- O blusão
do "Captain America" foi desenhado por Peter Fonda e feito por "duas velhinhas" em Los Angeles.
Foi mais tarde vendido num leilão de beneficiência.
- A filha
de Peter, Bridget Fonda aparece
brevemente numa cena de multidão.
- A música
do filme era para ser toda original e composta pelos Crosby Stills & Nash.
Mas depois de assistirem a uma pré-visualização do filme com música retirada de
vários discos já editados (da coleção particular de Fonda e de Hopper),
desistiram por considerarem não conseguirem fazer melhor. Ainda assim, Stephen
Stills escreveu a canção "Find the Cost of Freedom" a pedido de Dennis Hopper, destinada a ser usada na
cena final (quando a câmara recua para o céu). Hopper acabou por não a usar (foi substituida por "Ballad of
Easy Rider", escrita e interpretada por Roger McGuinn, líder dos Byrds) e
a canção acabou por ser editada no lado B do single "Ohio", dos
Crosby, Stills, Nash & Young.
- Na cena
onde Jack Nicholson é iniciado na
marijuana foi mesmo usada erva - o estado do actor não é fictício.
- Peter Fonda baseou o seu personagem na
representação de John Wayne em "Flying
Tigers" (1942).
- A cena
final foi filmada já fora do prazo de rodagem, numa altura em que as duas motos
tinham sido roubadas (foram encontradas meses depois, todas desmontadas)
- Alguns
dos estranhos efeitos de luz usados na cena do cemitério como demonstrativos
dos efeitos do LSD foram obtidos acidentalmente, devido a uma exposição
prematura do filme.
- A
inclusão da bandeira americana no blusão e na moto de Peter Fonda ocasionou que
este fosse mandado parar diversas vezes pela polícia.
- Numa
votação organizada pela revista "Tempo", em Lourenço Marques (onde
assisti à estreia do filme), os leitores consideraram "Easy Rider"
como o melhor filme de 1970, seguido por "Midnight Cowboy" e "Ma
Nuit Chez Maud".
LOBBY-CARDS:
THE ORIGINAL SOUNDTRACK:
"THE
PUSHER"
Performed
by Steppenwolf
Written
by Hoyt Axton
"BORN
TO BE WILD"
Performed
by Steppenwolf
Written
by Mars Bonfire
"I
WASN'T BORN TO FOLLOW"
Performed
by The Byrds
Written
by Gerry Goffin & Carole King
"THE
WEIGHT"
Performed
by The Band
Written
by Jaime Robbie Robertson
"IF
YOU WANT TO BE A BIRD"
Performed
by The Holy Modal Rounders
Written
by Antonia Duren
"DON'T
BOGART ME"
Performed
by Fraternity of Man
Written
by Elliott Ingber & Larry Wagner
"IF
SIX WAS NINE"
Performed
by The Jimi Hendrix Experience
Written
by Jimi Hendrix
"LET'S
TURKEY TROT"
Performed
by Little Eva
Written
by Gerry Goffin & Jack Keller
"KYRIE
ELEISON"
Performed
by The Electric Prunes
Written
by David Axelrod
"FLASH,
BAM, POW"
Performed
by The Electric Flag, An American Music Band
Written
by Mike Bloomfield
"IT'S
ALRIGHT MA (I'M ONLY BLEEDING)"
Performed
by Roger McGuinn
Written
by Bob Dylan
"BALLAD
OF EASY RIDER"
Performed
by Roger McGuinn
Written by Roger McGuinn