Um filme de ERNEST B. SCHOEDSACK e MERIAN C. COOPER
Com Fay Wray, Bruce Cabot, Robert Armstrong, Frank Reicher, Sam Hardy, etc.
Com Fay Wray, Bruce Cabot, Robert Armstrong, Frank Reicher, Sam Hardy, etc.
EUA / 104 min / PB /
4X3 (1.37:1)
Estreia nos EUA a 7/3/1933 (NY, Radio City Music Hall)
Estreia em PORTUGAL a 27/11/1933 (Porto, cinema S. João)
Carl Denham: “Throw your arms across your eyes and scream, Ann. Scream for your life!”
King Kong, o gorila gigantesco, surge no écran pela primeira vez em 1933, e marca o início da obsessão de Hollywood pelos efeitos especiais. Uma longa e duradoura obsessão, que se iria refinando ao longo dos anos e que hoje, na era digital, se separou completamente da arte fílmica, constituindo um departamento isolado na indústria do cinema. Actualmente fazem-se filmes cuja trama são os próprios efeitos digitais, sem qualquer respeito pelo cinema enquanto arte. Mas no início dos anos 30 era todo um mundo novo que abria de par em par as portas da imaginação criativa.
Dos diversos técnicos que intervieram na concepção desta obra considerada na altura uma das mais importantes no domínio do cinema-fantástico, é justo sublinhar a colaboração de Willis H. O’Brien, especialista em reconstituições científicas para os grandes museus de história natural dos EUA, e que viria não só a criar a imagem de King Kong, como igualmente a idealizar as trucagens necessárias para a sua mobilidade ao longo de toda a obra. Como se deve calcular, o aparecimento de um símio com as proporções de King Kong na selva, junto de seres humanos, ou em Nova Iorque, deambulando pelas avenidas e subindo a arranha-céus como o Empire State Building, colocava problemas da mais variada ordem, que O’Brien teve de resolver de acordo com os realizadores Schoedsack e Cooper, sugerindo acções que só o sonho tornaria imagináveis.
Esta primeira aparição de "King Kong" nos écrans de todo o mundo, com o êxito que ainda hoje se lhe reconhece, permanece até agora como a melhor versão deste mito, a que se mostra mais rica de sugestões e de interpretações. Mesmo a monumentalidade de efeitos e processos técnicos postos à disposição dos obreiros das versões posteriores (John Guillermin em 1976 e Peter Jackson em 2005) não conseguem fazer esquecer a carga poética e onírica desta obra fundamental do cinema fantástico que os anos 30 nos legaram. Foi aliás por essa altura que o cinema fantástico se enriqueceria com os filmes que iriam definir toda uma mitologia e marcar para sempre a história do género. As versões de “Frankenstein”, de James Whale, “Dracula” ou “Freaks”, de Tod Browning são apenas alguns dos exemplos de uma época de um brilhantismo invulgar.
No "King Kong" de 1933 a expedição que parte para a Skull Island (a ilha da Caveira) fá-lo com um objectivo determinado: o realizador Carl Denham (Robert Armstrong) e a bela e sensual Ann Darrow (Fay Wray) procuram algo de extraordinário para filmar e apresentar aos espectadores de todo o mundo. Nessa ilha, Denham suspeita da presença de algo de invulgar que se sabe pouco depois ser um gorila gigantesco, a quem a tribo dos nativos que habita a ilha oferta jovens em rituais de evidente conotação sexual. Os indígenas, ao darem pela presença de Ann entre os intrusos que ousaram invadir o espaço das suas cerimónias, resolvem transformá-la na próxima vítima de Kong, raptando-a do navio e entregando-a à voracidade do grande símio. Este, porém, apaixona-se pela aspecto diferente da pequena silhueta (branca e loura, em contraste com as nativas que lhe costumam ofertar), da qual não quer abrir mão, acabando por salvá-la repetidas vezes da arremetida de diversos animais pré-históricos que habitam a estranha ilha.
Os companheiros de Ann seguem as pisadas de Kong, e depois de várias peripécias conseguem capturá-lo e levá-lo para Nova Iorque, onde Denham o irá exibir como “a oitava maravilha do mundo”, “algo de nunca visto, de inimaginável”. Na noite da sua apresentação pública, Kong, encadeado pelos flashes dos fotógrafos, acabará por soltar-se das correntes que o prendem, fugindo para a noite da cidade, onde espalha o terror à sua volta. Apropriando-se novamente de Ann, Kong acaba por escalar o Empire State Building, no topo do qual é finalmente abatido por uma esquadrilha de avionetas militares. Antes, porém, depositará amorosamente a sua presa no terraço do edifício, oferecendo-se de seguida ao sacrifício último, invertendo deste modo o seu percurso – de divindade a quem Ann é ofertada na selva, Kong passa a vítima que se consome em nome do amor. De um “amor louco”, diriam os surrealistas. Não foi o fogo dos aviões que matou Kong. “Foi a Bela que matou o Monstro”.
“King Kong”, para lá de ser uma aventura fabulosa do imaginário, insinuava a atracção do monstruoso e o lugar da irracionalidade na boa consciência democrática da sociedade americana da altura. Pode ver-se a relação Kong-Ann como uma relação de contornos economicistas. Ambos são vítimas do sistema capitalista, representado no filme por Denham, o qual visa apenas a obtenção do lucro fácil, não hesitando em arriscar a vida de todos os que o acompanham para atingir os fins a que se propõe. A quebra das correntes por Kong é um desvio do espectáculo que Denham pretende controlar, é um grito de revolta que tem de ser abafado rapidamente, de modo a que a ordem natural das coisas possa ser restabelecida.
Também poderemos ver em “King Kong” um eco, em forma de exorcismo, dos pesadelos que trespassam uma sociedade em pleno crescimento: à ilha dos monstros corresponde a selva das cidades, aos cumes rochosos correspondem os arranha-céus. O pobre animal, aliás, toma estes por aqueles e é nesse seu desejo de retorno a casa que é eliminado. Esta dicotomia cidade-natureza encontrava-se bem presente na mente da sociedade americana daquele início dos anos 30, ainda mergulhada nos dias mais negros da Grande Depressão. E o aparecimento de um filme como “King Kong” funcionou como um escape, uma tábua de salvação para o pesadelo colectivo que se vivia nessa altura.
Dos dois realizadores de “King Kong” o verdadeiro autor foi incontestavelmente Schoedsack, que permaneceu na sua efémera carreira um caso aparte na história do cinema. Tinha 40 anos quando de parceria com Cooper (também da mesma idade) realizou “King Kong”, o filme que o iria imortalizar. Ainda em 1933 dirige “The Son of Kong”, onde relata as aventuras de Denham (de novo interpretado por Robert Armstrong) em nova expedição à ilha da Caveira depois dos trágicos acontecimentos ocorridos em Nova Iorque que o levaram à falência. Curiosamente, o objectivo desta sequela é uma regeneração da figura do próprio Denham. Arrependido de se ter aproveitado de Kong descobre no filho deste um amigo e aliado que eventualmente o acaba por salvar durante um tremor de terra na ilha. Melhor ainda: Denham encontra um tesouro que lhe irá permitir saldar as dívidas e uma companheira para o resto da vida. Touching! “King Kong” foi um dos filmes que mais influenciou o futuro do cinema. Ao longo dos anos não houve filme do género que não tivesse a sua quota parte desse legado, mesmo blockbusters como “Jurassic Park”. E 8 décadas depois continua a entreter multidões através de sucessivas edições em suportes-vídeo (foi editado muito recentemente em blu-ray) e de um número recorde de emissões televisivas. Long live the King Kong!
- O projecto foi tendo vários nomes ao longo das diversas fases de produção: “The Beast”, “The Eight Wonder”, “The Ape”, “King Ape” e “Kong”
- Na reposição do filme em 1938 várias cenas consideradas “violentas” ou “demasiado sensuais” foram eliminadas de modo a respeitar as regras impostas pela censura entretanto alargada ao mundo do cinema. Até ao início dos anos 50, em cada nova apresentação de “King Kong” havia sempre mais alguma cena que pura e simplesmente desaparecia. Felizmente que a maioria desses cortes seriam descobertos e repostos em 1971, mas outros perder-se-iam para sempre.
- “King Kong” foi mais um dos alvos escolhidos pelo famigerado ex-marido de Jane Fonda, Ted Turner, para ser apresentado em versão colorizada nos seus canais televisivos.
- O som da voz de Kong foi criado pela junção dos rugidos de um leão e de um tigre e o registo pasasado em sentido inverso.
- Jean Harlow recusou o papel principal de Ann Darrow.
- Quando descrevia a história do filme a Fay Wray, Merian Cooper disse-lhe que ela teria por parceiro o maior actor de Hollywood. A actriz pensou tratar-se de Cary Grant
- “King Kong” estreou-se no famoso Radio City Music hall de Nova Iorque a 7 de Março de 1933. O seu grande êxito conseguiu salvar a RKO que estava à beira da falência.
LOBBY CARDS:
LOBBY CARDS:
1 comentário:
Verei muito em breve e depois falarei dele. Já o quero ver há imenso tempo, bem antes do mal-amado digital do Peter Jackson irromper pelas salas.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «
Enviar um comentário