Um filme de JOHN CARPENTER
Com Amber Heard, Mamie Gummer, Danielle Panabaker, Laura-Leigh, Lyndsy Fonseca, Jared Harris, Sydney Sweeney
EUA / 88 min / COR /
16X9 (2.35:1)
Estreia no CANADÁ a 13/9/2010
(Festival Internacional de Toronto)
Estreia na GRÃ-BRETANHA a 21/1/2011
Estreia em PORTUGAL a 8/9/2011
Dr. Stringer: «What's the first thing you remember?»
Kristen: «Fire»
Kristen: «Fire»
Nove anos – o período que intervala a estreia das últimas duas longa-metragens de John Carpenter (este “The Ward”, no Festival de Toronto do ano passado, e “Ghosts From Mars” no Verão de 2001) – é tempo demais, mesmo que durante todos os anos noventa o seu cinema tenha estado longe do brilhantismo conseguido nas décadas anteriores (a última grande obra de Carpenter data de 1988 e chamou-se “They Live”). Pelo meio ficaram apenas dois filmes para a série televisiva “Masters of Horror”: os episódios “Cigarette Burns” (2005) e “Pro-Life” (2006).
Por isso a impaciência não me deixou esperar por Outubro (mês em que se anuncia a edição europeia em DVD e Blu-Ray) e ontem, ao fim da tarde, rumei até Lisboa para ver o filme numa sala da capital. Tratou-se de uma atitude muito pouco usual em mim, atendendo a que há muito tempo que perdi a paciência para ver cinema num espaço público. Mas desta vez os índios não eram muitos, estavam mais ou menos pacíficos, e deixaram-me ver o filme em relativa calma e sossego.
Valeu a pena o sacrifício? Relativamente: não saí eufórico da sala (longe disso) mas também não dei o tempo por perdido. “The Ward” vê-se bem, sobretudo para os fanáticos do género (sim, sou um deles e sem cura possível), apesar de não apresentar nada de original e, pelo contrário, percorrer muitos dos clichés do filme de terror. Tudo o que “The Ward” mostra já estamos fartinhos de ver noutros filmes. Nem sequer falta o twist final (apenas uma semi-surpresa, visto ser facilmente adivinhada a partir do meio do filme), que o aproxima muito descaradamente de “Shutter Island”, de Scorsese, mas sem a classe deste. Ou o inevitável arrepio-final, moda lançada pela obra-prima de Brian DePalma (“Carrie”), e que desde então não há filme de terror que se preze que não recorra a esse artifício final. Mesmo que o faça de forma perfeitamente gratuita, como é o caso aqui.
O que resta é uma mise-en-scène perfeita (único contributo reconhecível de Carpenter, que desta vez não é responsável pela música, como tantas vezes sucedeu no passado), uma fotografia a realçar convenientemente todo o clima claustrofóbico da clínica onde se passa a grande parte da história (apesar de alguns escuros demasiado acentuados), uma jovem actriz muito sensual (Amber Heard, na beleza dos seus 24 anos e bem rodeada por um elenco maioritariamente feminino) e sobretudo um delicioso momento musical ao som de “Run Baby Run (Back Into My Arms)”, o hit original dos Newbeats (escrito por Joe Melton e Don Gant) de 1965, recriado posteriormente por Roy Orbison e The Tremeloes (e que muito boa gente da minha geração irá redescobrir nas suas memórias musicais). Mas a frase incluída nos posters do filme - “Carpenter proves he is still the master of shock” - não contem, obviamente, qualquer ponta de verdade - o “master” há mais de 20 anos que foi de férias e ainda não foi desta que regressou ao convívio de todos os seus fans de outros tempos.