Um filme de SYDNEY POLLACK
Com Jane Fonda, Michael Sarrazin, Susannah York, Gig Young, Red Buttons, Bonnie Bedelia, Michael Conrad, Bruce Dern, Al Lewis, Robert Fields, Allyn Ann McLerie
EUA / 129 min / COR /
16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA a 10/12/1969 (New York)
Estreia em Moçambique a 26/11/1971 (LM, cinema Infante)
Rocky: «Yowza! Yowza! Yowza!»
Nos tempos obscuros da Grande Depressão, uma nova moda
nacional nasceu na América – as maratonas de dança. De duração ilimitada, o
objectivo último era a atribuição de prémios aos mais resistentes - valores
irrisórios quando comparados com os ganhos publicitários obtidos pelos
promotores de tais “espectáculos”. Esta primeira grande obra de Sydney Pollack
pega numa dessas maratonas para denunciar o “american dream of life” e
devolver-nos o clima de tragédia que constituía a sobrevivência durante a crise
económica dos anos 30 nos EUA. Estamos num pavilhão localizado numa qualquer
praia californiana, no interior do qual uma imensa pista de dança vai servir de
palco às esperanças ilusórias de uma centena de pares que se preparam para
resisistir estoicamente a longas semanas de sacrifício, físico e psicológico,
no intuito de alcançarem os 1500 dólares anunciados pela organização.
O filme irá acompanhar em especial quatro desses pares: Gloria (Jane Fonda), uma jovem cínica e amarga, vinda de várias experiências infelizes, que à última hora tem de substituir o seu par (desclassificado por indícios de doença) por Robert (Michael Sarrazin), um jovem desconhecido que se encontrava no local por acaso e simples curiosidade; Alice (Suzannah York), uma inglesa aspirante a actriz cujo maior desejo é vencer em Hollywood e o seu companheiro Joel (Robert Fields) que partilha das mesmas aspirações; Sailor (Red Buttons), um veterano da Grande Guerra com a sua parceira Shirl (Allyn Ann McLerie); e um casal recém-casado de parcos recursos e à espera do primeiro filho – Ruby (Bonnie Bedelia) e James (Bruce Dern). A presidir à maratona está Rocky (Gig Young), um mestre de cerimónias sem escrúpulos que não hesita em usar todos os meios ao seu alcance para que o espectáculo desperte o interesse de um público voraz, à procura de desgraças superiores às suas, para assim se sentir confortado na sua miserabilidade.
Fazendo parte de uma vaga de jovens directores que se iniciaram na
televisão em princípios dos anos 60, Sydney Pollack insere-se numa classe
particular de cineastas cujo estilo se situa a meio-caminho entre o classicismo
reinante nos grandes estúdios e um novo realismo que por vezes faz lembrar o
documentário. À semelhança de um Frankenheimer ou de um Coppola, Pollack foi um
dos responsáveis pela abertura de vias a toda uma geração de novos realizadores
que se viriam a afirmar no decorrer das décadas de 70 e 80: Spielberg, Lucas,
Scorsese ou De Palma, por exemplo. Tendo começado a sua carreira no grande
écran por um thriller psicológico com Sidney Poitier e Anne Bancroft (“The
Slender Thread”) em 1965, é com o filme seguinte, “This Property Is Condemned”
(1966), um argumento assinado por Coppola e baseado numa peça de Tennessee
Wiliams, que Pollack se revela como um cineasta bastante promissor. Foi também
o início de uma grande amizade com Robert Redford, actor que participaria em
mais sete dos seus filmes.
O período da Grande Depressão foi tratado de variadissimas formas no cinema, mas sempre se destacou (Chaplin à parte) o chamado filme de gangsters. Desde “Little Caesar”, em 1930, até “Bonnie & Clyde”, em 1967, os exemplos são ricos e variados. Com “They Shoot Horses, Don’t They?”, Pollack aborda esses anos como um autêntico retrato da sociedade da altura. Baseado num livro de um escritor norte-americano injustamente menosprezado, Horace McCoy, o argumento, brilhante (assinado por James Poe e Robert E. Thompson), centraliza quase toda a acção num único décor (a pista de dança), sem que isso belisque minimamente o interesse do espectador.
Pelo contrário, a emoção está sempre presente, fruto de uma montagem
precisa e minuciosa (assinada por Fredric Steinkamp, que a partir deste filme
colaboraria muitas vezes com Pollack), nomeadamente nas diversas sequências do
“derby”, onde atinge um raro virtuosismo ao conseguir integrar o espectador na
dor e angústia daquela louca procissão de desesperados. De salientar ainda a
utilização inteligente de flashbacks e flashforwards na construção narrativa e
que ao longo do filme vão anunciando a sua conclusão trágica, onde finalmente a
expressão que dá título ao filme se revela em toda a sua crueza – «They shoot
horses, don’t they?»
Pollack revela aqui aquela que seria uma das suas imagens de marca – a
brilhante direcção de actores. Susannah York (nomeada para o Globo de Ouro e
Oscar de Actriz Secundária e vencedora do BAFTA inglês para a mesma categoria),
Red Buttons (nomeado para o Globo de Ouro de Actor Secundário), Michael
Sarrazin (nomeado para o BAFTA da revelação mais promissora), Bruce Dern ou
Bonnie Bedelia, constroem todos eles grandes personagens que irão ficar para
sempre nas nossas memórias. Mas o par de cerejas em cima do bolo são efectivamente
Gig Young e Jane Fonda. Young arrebataria quer o Oscar quer o Globo de Ouro
para o melhor Actor Secundário, tendo ainda sido nomeado para o correspondente
BAFTA.
Jane Fonda liberta-se, com este filme, da sua imagem de boneca sexual (reforçada pelo sucesso de “Barbarella” no ano imediatamente anterior) provando, sem margens para dúvidas, que estava ali uma digna sucessora do pai Henry. Teve três nomeações para Melhor Actriz Principal, uma para os Oscars, outra para os Globos de Ouros e ainda uma terceira para o BAFTA. Perderia para Maggie Smith nos primeiros (alguém se lembra do filme “The Prime of Miss Jean Brodie” ???) e para Geneviève Bujold (“Anne of The Thousand Days”) nos segundos. Quanto ao prémio inglês, o mesmo seria ganho por Katharine Ross (“Butch Cassidy & The Sundance Kid” e “Tell Them Willie Boy Is Here”). Jane Fonda seria no entanto distinguida pelas Associações de críticos de Nova Iorque e Kansas City como a Melhor Actriz de 1969.
CURIOSIDADES:
- Foi o próprio Sydney Pollack quem se encarregou de filmar alguns dos planos constantes nas corridas dos concorrentes. Para isso calçou um par de patins e misturou-se entre os pares que evoluiam à volta da pista
- “They Shoot Horses, Don’t They?” teve 9 nomeações para os Oscars sem conter contudo a categoria de Melhor Filme: Realizador, Argumento-Adaptado, Montagem, Música, Guarda-Roupa, Direcção Artística e Cenários, Actriz Principal (Jane Fonda), Actriz Secundária (Susannah York) e Actor Secundário (Gig Young). Como acima já se disse, este foi o único Oscar conquistado pelo filme.
- A banda sonora está recheada de canções dos anos 30, incluindo algumas escritas propositadamente para o filme por John Green, conferindo assim uma atmosfera de autenticidade. Os temas incluem "Easy Come, Easy Go," "I Cover the Waterfront," "Out of Nowhere" (Edward Heyman, Green), "Coquette" (Gus Kahn, Carmen Lombardo, Green), "Sweet Sue Just You" (Will J. Harris, Victor Young), "I'm Yours" (E.Y. Harburg), "Brother, Can You Spare a Dime" (Harburg, Jay Gorney), "Paradise" (Gordon Clifford, Nacio Herb Brown), "The Japanese Sandman" (Raymond B. Egan, Richard A. Whiting), "Between the Devil and the Deep Blue Sea" (Ted Koehler, Harold Arlen), "The Best Things in Life Are Free" (B.G. De Sylva, Lew Brown, Ray Henderon), "California, Here I Come" (Al Jolsen, De Sylva, Joseph Meyer), "Body and Soul" (Heyman, Robert Sour, Frank Eyton, Green), "I Found a Million Dollar Baby" (Billy Rose, Mort Dixon, Harry Warren), and "By the Beautiful Sea”.