terça-feira, maio 24, 2011

CABARET (1972)

CABARET, ADEUS BERLIM
Um filme de BOB FOSSE


Com Liza Minnelli, Michael York, Helmut Griem, Joel Grey, Fritz Wepper, Marisa Berenson, etc.

EUA / 124 min / COR / 16X9 (1.85:1)

Estreia nos EUA a 13/2/1972
Estreia em Portugal a 20/11/1972
(Lisboa, cinema Londres)
Estreia em Moçambique a 24/2/1973
(LM, cinema Scala)


 Sally Bowles: “Divine decadence darling!”

Bob Fosse, genial coreógrafo norte-americano, estreou-se no cinema como realizador ao adaptar em 1969 a comédia musical de grande sucesso na Broadway, “Sweet Charity”. Três anos depois nova adaptação dos palcos, este brilhante “Cabaret”, que se iria imortalizar como a sua obra mais célebre e um dos melhores musicais de sempre da História do Cinema.

Estamos em Berlim, na Alemanha da República de Weimar, quando o nazismo começava a insinuar-se, qual serpente tortuosa, nas mentes e costumes dos alemães da sociedade da altura. É essa transição, esse evoluir maquiavélico para as teorias do absolutismo hitleriano, que Fosse nos consegue transmitir de um modo prodigioso ao situar o cabaret no centro da “divina decadência” daqueles anos. Assim, o cabaret é o lugar de eleição para se assistir às variedades, emborcar litros de alcool ou encontrar as mulheres mais fáceis e sensuais; é o escape onde se esquece toda a inquietação que sacode a Alemanha e que irá gerar a agressividade da doutrina da raça ariana (“pura” e superior”) que servirá de alibi para um dos maiores genocídios da História da Humanidade.

A Alemanha da antecâmara da guerra só quer luzes, canções e diversão que a façam esquecer o dia-a-dia de uma realidade cada vez mais ameaçadora. O barão Maximiliano (Helmut Griem) encarna na perfeição essa mentalidade quando coloca os prazeres pessoais em primeiro plano ou quando diz que os nazis são apenas úteis para acabarem com os comunistas e que em seguida poderão ser facilmente dominados pelo poder político. A depuração feita pelas SA nazis, tropas de choque do nacional-socialismo, colhe assim vastos apoios entre o povo alemão, sem que se tenha sequer a consciência de que o anti-comunismo primário é o primeiro passo para o dobre a finados da democracia.


Estamos em 1931; dentro de dois anos Hitler será chanceler do III Reich e encenará o incêndio provocado do Reichstag para culpabilizar os comunistas, os judeus e os sociais-democratas, conseguindo deste modo os seus intentos para que o estado de emergência seja declarado em todo o País. Bob Fosse, ao querer mostrar-nos como os acontecimentos político-sociais influenciam e condicionam os sentimentos e existências individuais, utiliza aqui, e de uma forma harmoniosa e muito eficaz, a montagem paralela onde cada canção é a introdução ou a ligação lógica para o que em seguida se irá passar nas vidas dos personagens principais.

Retrato de seres à procura desesperadamente de si próprios dentro de um tempo de instabilidade e de violência, “Cabaret” é sobretudo o testemunho de uma época, da demissão e histeria colectiva de um povo, do medo e da cumplicidade que lenta e progressivamente se vai instalando. Nesse aspecto o filme contém uma sequência arrepiante, em que a aparente candura de processos anuncia já a chegada do mais terrível dos monstros: a canção-hino “Tomorrow Belongs To Me”, entoada pela voz límpida de um jovem imberbe e que progressivamente vai suscitando o coro das vozes e o aumento do entusiasmo dos espectadores em redor. Depois, no clímax final da canção, a câmara dá-nos a ver o que até ali nos ocultou - é que o jovem a quem pertencem aquele rosto e aquela voz angelicais é também um jovem de farda nazi que finaliza a sua actuação fazendo a respectiva saudação. É a violência que se torna legal, o maquiavelismo político que nada respeita.

Mas “Cabaret” é muito mais ainda. À semelhança do que já tinha feito em “Sweet Charity”, Bob Fosse coreografa os ângulos de câmara (e o que a câmara apanha), mais do que coreografa os bailarinos. Para lá da perfeição da execução dos bailados o que mais interessa a Fosse é mostrar-nos toda a musicalidade da máquina de filmar. E é nisso, nessa ruptura das regras do musical clássico, que a originalidade dos processos de Fosse emerge da normalidade, daquilo a que até então o género musical nos tinha habituado. E depois, a intercalação da história com os números musicais converte estes últimos numa espécie de “consciência moral” da primeira. Intenção nem sempre bem conseguida, é certo, mas que ficará como imagem de marca deste filme-charneira do musical americano.

E depois há Sally Bowles e a actriz que com ela se confunde. “Cabaret” não poderia ter existido sem Liza Minnelli. Ou, citando um conhecido spot publicitário, poder podia, mas não seria a mesma coisa. Liza tem aqui o maior e definitivo papel de toda uma carreira, a ponto da sua imagem ser sinónimo do filme e vice-versa. E não falo apenas dos números musicais onde ela é de facto inexcedível. Falo também do lado interpretativo da actriz, cuja excelência cómico-dramática não concedeu qualquer escapatória à Academia de Hollywood que não teve outra saída senão atribuir-lhe o merecidissimo Oscar.

Toda a cena inicial de sedução (“Doesn't my body drive you wild with desire?”); as expressões verbais de Sally na “aula” de inglês; a cena em que Natalia (Marisa Berenson) quer saber se o que sente é “love” ou apenas “infatuation of the body”; a cena em que Sally confessa a Brian (Michael York) que dormira com o barão e em que este lhe responde “So do I”; o penoso regresso a casa depois de consumado o aborto; a despedida sem glória na estação dos comboios, são apenas alguns exemplos duma fabulosa perfomance. Exuberante, crispada como a mãe, não demasiado bela - nisso saíu ao pai - Liza Minnelli é um autêntico vulcão, uma verdadeira força da natureza, cujo brilho e vitalidade contamina tudo e todos à sua volta.

“Life is a Cabaret, ol’ chum” e o cabaret de Fosse fecha da mesma maneira que abriu, com os reflexos simbólicos de um espelho retorcido, em que agora se nota já a presença de inúmeras suásticas em fardamentos nazis. É o encerramento de um percurso, o fim da breve e infeliz República de Weimar e das instituições democráticas alemãs.

CURIOSIDADES:

- Na peça original da Broadway Sally Bowles era uma cantora inglesa e Brian um escritor norte-americano. No filme é precisamente o contrário. O espectáculo original estreou-se no Broadhurst Theater, em 2 de Novembro de 1966, tendo sido galardoado com o Tony para o melhor musical em 1967. Joel Grey, que já desempenhava em palco o papel de mestre-de-cerimónias foi de igual modo distinguido com o Tony de melhor actor num musical.

- Billy Wilder e Gene Kelly não aceitaram transpor “Cabaret” para o cinema

- A maquilhagem e os penteados de Sally Bowles foram da responsabilidade de Liza Minnelli, no que foi ajudada pelo pai, o director-musical Vincente Minnelli

- Os autores da canção “Tomorrow Belongs To Me”, John Kander e Fred Ebb, eram judeus. O tema, que exalta o patriotismo alemão, foi dobrada em alemão quando o filme se estreou em França. Aliás, mesmo na versão original cantada em inglês o cantor que a interpreta, Mark Lambert, recusou pintar o cabelo de louro não aparecendo nas imagens (foi um jovem figurante alemão que tomou o seu lugar)


- Alguns anos antes de filmar “Cabaret”, Liza Minnelli interpretou o tema “Maybe This Time”, ao lado da sua mãe, Judy Garland, no London Palladium

- Para além do Oscar de melhor actriz principal atribuído a Liza Minnelli, “Cabaret” foi galardoado com mais 7 Oscars (Realizador: Bob Fosse, Actor Secundário: Joel Grey, Direcção Artística e Cenários, Cinematografia, Montagem, Som e Música). Falhou apenas nas nomeações que teve para o Argumento-adaptado e melhor filme do ano (que seria “O Padrinho”). Liza Minnelli e Joel Grey ganhariam ainda os Globos de Ouro nas respectivas categorias e o filme o Globo de Ouro para o melhor musical/comédia de 1972. Do outro lado do Atlântico chegaram também 7 BAFTAS, incluindo o do melhor filme.

- Em 2007 o American Film Institute incluiu pela primeira vez “Cabaret” na lista dos melhores filmes de sempre. Atribuiram-lhe o 63º lugar

 VER AQUI OS VIDEOS DE:

POSTERS


Como diz o Sérgio Vaz no seu blogue, «As pessoas deveriam ver "Cabaret" uma vez por ano». Leia tudo o mais que ele escreve sobre este filme apaixonante. AQUI

domingo, maio 22, 2011

DOIS PIRIQUITOS EM BODEGA BAY

Vista da Baía
Fascinada por Mitch Brenner (Rod Taylor) e na esperança de vir a ter direito a algo mais do que um simples agradecimento de circunstância, Melanie Daniels (Tippi Hedren) enfiou dois piriquitos numa gaiola, meteu-se no seu belo descapotável prateado (um raro Aston Martin DB2/4, de que só foram fabricados 157 exemplares) e zarpou para Bodega Bay, a uma centena de milhas a norte de S. Francisco. Mitch tinha-lhe dito, na véspera, que procurava esses passaritos para oferecer à sua irmã mais nova que fazia anos e Melanie tentaria, assim, "limpar-se" da pretensiosíssima imagem que nessa ocasião lhe tinha deixado na "petshop"... A partir daqui a "história" é conhecida e esses foram os primeiros dos muitos milhares de pássaros que nesse fim-de-semana iriam afluir a Bodega Bay... Outros dois "piriquitos" - eu e a Cristina! - também passaram por Bodega Bay, como não poderia deixar de ser...
Edifício da Escola
A bela estrada que se vê no início do "The Birds" já não existe. Hitchcock não conseguiu autorização para fazer parar o trânsito de modo a filmar na Highway 1 e teve de contentar-se em filmar essa cena numa estrada rural secundária que, entretanto, desapareceu. Também a zona do restaurante "Tides", que no filme tem um papel importante, está completamente modificada. Aquele pedaço de estrada que no filme desce até à beira mar, já não existe. O "Tides" comeu tudo! Está multiplicado por dez e toda aquela zona está transformada num gigantesco "Centro Comercial", com parque de estacionamento a condizer... Mas bastante mais bem conservada está a pequena povoação de Bodega, um pouco mais para o interior. A escola, que tem um papel central no filme, está intacta, e o mesmo sucede com a Igreja de St. Teresa de Avila que fica mesmo ao lado, e cujas traseiras se deixam também aperceber no filme.

Igreja de Santa Teresa de Avila
Não sei se houve, ou não, algum problema com os representantes da Igreja local (com eles não se brinca nos EUA...), mas não percebo como é que Hitchcock desaproveitou as potencialidades dramáticas da fachada desta Igreja. Imaginem só o efeito que não daria aquela igreja muito branca com o telhado polvilhado de corvos... Eu sei que a maioria dos amantes de Hitchcock não acha muita graça a "The Birds". Eu, que não sou amante dele, acho! E acho mesmo isso... Graça! Um piadão enorme, que começa logo com a campanha publicitária do corvo pendurado no charuto do Tio Alfred...
O vinho da Tippi
Por falar em campanha publicitária, existe uma célebre fotografia de rodagem onde se veem todos os intervenientes no filme (actores, técnicos, pessoal de apoio, etc) de braço levantado em estilo de jura. Estão mesmo a jurar que nenhum deles dirá nada a ninguém acerca da forma como o filme acaba. Mais um golpe publicitário do Tio, claro está, já que o final, tirando o facto de ser, provavelmente, o mais plásticamente belo final de Hitchcok, não tem mais nada de especial...
Ainda se sente em Bodega Bay o "peso turístico" do filme. Cartazes, livros à venda, um pouco de tudo. Talvez seja por causa disso que os hotéis são tão caros e foi seguramente por causa disto que os mandei bugiar e fui passar essa noite a Santa Rosa, outro importante lugar de Hitchcock ("Shadow of a Doubt"). Mas descansem que, sobre esse, não há "pica"...!

(Luís Mira in "Crónicas da América", Março 2010)

quarta-feira, maio 18, 2011

50 ANOS DE FILMES

Já coloquei um link permanente aí na barra lateral, mas como podia haver o risco de passar despercebido não quero deixar de alertar para um dos melhores blogues de cinema (e não só) com que me tenho cruzado nas minhas pesquisas pela blogosfera. Coordenado pelo jornalista Sérgio Vaz (felizmente já aposentado, o que lhe permite uma maior disponibilidade para comunicar com todos os seus leitores), o blogue "50 ANOS DE FILMES", criado em Julho de 2008, reúne alguns milhares de textos, na sua grande maioria muito extensos mas deliciosos de serem lidos dado o modo particular em que são escritos: escorreitos, irónicos, divertidos, e sem um mínimo de pretensão literária ou alinhamento pelo cinematograficamente correcto. Como o próprio Sérgio Vaz refere na apresentação, «todos os textos deste site são pessoais e intransferíveis, como dor de dente. Mesmo a minoria feita como trabalho de jornalista não perseguia o que costumam chamar de objetividade jornalística. É tudo a minha visão. Quem procurar objetividade não deve perder tempo aqui.» E acrescenta: «Não sou crítico, nem “entendido em cinema”, expressão de resto detestável – apenas gosto de filmes, e vi muitos, e muitos bons (...) Não é querer contar vantagem. Foi um privilégio: o cinema era barato, havia cineclubes, passavam-se bons filmes, na Belo Horizonte dos anos 60.» Enfim, uma lufada de ar fresco que o Rato Cinéfilo não poderia deixar de partilhar por aqui.

domingo, maio 15, 2011

MEMÓRIAS DE CANNES

MICHÈLE MORGAN - 1946
GENE KELLY - 1952
BRIGITTE BARDOT - 1953
GARY COOPER - 1953
ROBERT MITCHUM e SIMONE SILVA - 1954
ROBERT MITCHUM - 1954
ROBERT MITCHUM e SIMONE SILVA - 1954
BRIGITTE BARDOT - 1955
ESTHER WILLIAMS - 1955
GRACE KELLY -1955
GRACE KELLY - 1955
SOPHIA LOREN - 1955
SOPHIA LOREN - 1955
BELLA DARVI - 1956
BRIGITTE BARDOT - 1956
BRIGITTE BARDOT- 1956
BRIGITTE BARDOT e KIM NOVAK - 1956
ELIZABETH TAYLOR - 1957
JEANNE MOREAU - 1957
ALAIN DELON e SENTA BERGER - 1958
YVES MONTAND e SIMONE SIGNORET - 1959
SOPHIA LOREN - 1959
ROMY SCHNEIDER, FRANÇOISE ARNOUL e ALAIN DELON - 1959
JEAN-PAUL BELMONDO e JEANNE MOREAU - 1960
WARREN BEATTY e NATALIE WOOD - 1962
NATALIE WOOD - 1962
ROMY SCHNEIDER e ALAIN DELON - 1962
BURT LANCASTER e CLAUDIA CARDINALE - 1963
CATHERINE DENEUVE - 1964
SEAN CONNERY - 1965
YVES MONTAND - 1965
ANNA KARINA - 1966
KIRK DOUGLAS - 1966
JEAN-PIERRE LÉAUD e FRANÇOIS TRUFFAUT - 1966
JEAN-LOUIS TRINTIGNANT, ANOUK AIMÉE, PIERRE BAROUH e CLAUDE LELOUCH - 1966
MICHAEL CAINE - 1966
GERALDINE CHAPLIN - 1967
JANE BIRKIN, ALAIN DELON e ROMY SCHNEIDER - 1968
CLAUDE LELOUCH, JEAN-LUC GODARD, FRANÇOIS TRUFFAUT, LOUIS MALLE e ROMAN POLANSKI - 1968
LOUIS MALLE, MONICA VITTI e ROMAN POLANSKI - 1968
DENNIS HOPPER, PETER FONDA e JACK NICHOLSON - 1969
OTTO PREMINGER e LIZA MINNELLI - 1970
JEANNE MOREAU, YOKO ONO e JOHN LENNON - 1971
ALFRED HITCHCOCK - 1972
JACQUELINE BISSET - 1973
ROBERT REDFORD e SYDNEY POLLACK - 1973
JACQUES TATI - 1974
JACK NICHOLSON - 1974
DUSTIN HOFFMAN - 1975
JANE BIRKIN - 1975
VALERIE PERRINE e DUSTIN HOFFMAN - 1975
JODIE FOSTER e ROBERT DE NIRO - 1976
ROBERT DE NIRO - 1976
ROMAN POLANSKI e ISABELLE ADJANI - 1976
ISABELLE ADJANI - 1976
ARNOLD SCHWARZENEGGER - 1977
DAVID CARRADINE - 1977
FRANCIS FORD COPPOLA - 1979

DENNIS HOPPER - 1980
STEVEN SPIELBERG - 1982
GÉRARD DEPARDIEU e NASTASSJA KINSKI - 1983

MEL GIBSON, PETER WEIR e SIGOURNEY WEAVER - 1983
JULIETTE BINOCHE - 1984
GÉRARD DEPARDIEU - 1990
QUENTIN TARANTINO e JOHN TRAVOLTA - 1994
SHARON STONE - 1995