domingo, junho 05, 2011

BIUTIFUL (2010)

BIUTIFUL
Um filme de ALEJANDRO GONZÁLEZ IÑÁRRITU

Com Javier Bardem, Maricel Álvarez, Hanaa Bouchaib, Guillermo Estrella

MÉXICO - ESPANHA /148 min / COR / 16X9 (1.85:1)

Estreia em FRANÇA a 17/5/2010 (Festival de Cannes)
Estreia nos EUA a 4/9/2010
(Festival de Telluride)
Estreia em PORTUGAL a 27/1/2011


Foi seguramente um dos filmes por mim mais aguardados dos últimos (largos) meses. Porque as três obras anteriores do realizador mexicano (“Amores Perros”, 2000; “21 Gramas”, 2003 e “Babel”, 2006) tinham-me tocado de um modo pouco comum. Mas o tamanho da expectativa foi largamente suplantado pela enorme decepção que foi a visão deste “Biutiful”. Como o título erróneo deixa adivinhar, não existe nada de maravilhoso por aqui. Muito pelo contrário, Iñárritu oferece-nos a visão de um mundo deprimente, sem escapatória, que leva o espectador a abandonar a sala de projeção ou a levantar-se do confortável sofá curvado ao peso de tanto infortúnio. Tal como Uxbal (Javier Bardem, uma vez mais num registo de grande qualidade), que passa todo o filme nessa postura de angústia e incapacidade de lutar contra o sofrimento de uma vida pré-destinada.

Primeiro trabalho de Iñárritu sem a colaboração do seu habitual argumentista (Guillermo Arriaga), “Biutiful” deixa de lado a característica principal da antiga parceria (que eram as histórias entre-cruzadas), uma imagem de marca dos três filmes precedentes, que tão bons resultados tinha dado. Aqui tudo se concentra num único universo, a Barcelona das periferias, onde as barreiras sociais e as tragédias pessoais são inultrapassáveis. Microcosmos de uma realidade presente em torno de qualquer cidade moderna (a diferença de classes nunca foi um mito, sempre existiu ao longo dos tempos), “Biutiful” retrata esse mundo unidimensionalmente triste, onde tudo é feio e grotesco. Começando pelos cenários de Laura Musso e a fotografia de Rodrigo Prieto, e acabando na música de Gustavo Santaolalla, tudo se conjuga para a criação de um ambiente pesado e incómodo. Veio-me várias vezes à memória o execrável filme de Aronofsky, “Requiem For a Dream” (já devidamente escalpelizado neste blogue), sobre o qual este “Biutiful” apresenta contudo a vantagem de ter sido realizado por mãos competentes, pouco dadas a exibicionismos circenses.

Tanto quanto julgo saber, Iñárritu não se encontra de momento a preparar qualquer novo filme. Pelo que provavelmente haverá que esperar mais alguns anos para percebermos se “Biutiful” foi apenas um precalço ou se eventualmente é o prenúncio da descida ao abismo na carreira do premiado realizador mexicano. Quanto a Javier Bardem, não há aqui qualquer espaço para a dúvida: estamos em presença de um dos mais prolíferos actores da actualidade, já com cerca de 50 títulos na bagagem, mas que nestes últimos anos conseguiu distinguir-se em filmes que inevitavelmente irão marcar a sua já brilhante carreira: “Os Fantasmas de Goya” (2006), “Este País Não é Para Velhos” (2007, Óscar e BAFTA para o melhor actor secundário, entre muitos outros prémios), “O Amor Nos Tempos de Cólera” (2007, mais uma interpretação magnífica que atravessa várias décadas), “Vicky Cristina Barcelona” (2008, a prova de que Bardem se sente tão à vontade em comédias como em dramas) e “Comer, Orar, Amar” (2010). Por este “Biutiful” Bardem apenas foi nomeado para o Oscar e o BAFTA do melhor actor principal, mas conseguiu a distinção de ser considerado o melhor actor do Festival de Cannes de 2010.

CURIOSIDADES:

- “Biutiful” conseguiu diversas nomeações para o melhor filme estrangeiro (Óscar, Globo de Ouro e BAFTA, entre outros) e concorreu à Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2010.

- Alejandro Iñárritu, também co-responsável pela produção e argumento do filme, passou 14 meses na mesa de montagem com o técnico Stephen Mirrione.


4 comentários:

Enaldo Soares disse...

Eu assino em baixo do que tu dissestes. Achei-o filme fácil, coisa de quem está a ter preguiça de elaborar um bom argumento e apela ao denuncismo social típico do cinema ibérico.

ANTONIO NAHUD disse...

Maravilhoso filme. O Bardem se supera.

O Falcão Maltês

Billy Rider disse...

Não entendo como pode alguém chamar a este filme de "maravilhoso".

Anónimo disse...

Dos filmes esteticamente mais evoluídos que vi. O take em cima da ponte não cabe na cabeça de ninguém. Pura magia!