sexta-feira, junho 20, 2025

MONSIEUR VERDOUX (1947)

O BARBA AZUL
Um filme de CHARLES CHAPLIN



Com Charles Chaplin, Martha Raye, Marilyn Nash, Isobel Elsom, Margaret Hoffman, Mady Correll, Ada May, Charles Evans, Barbara Slater, Robert Lewis, etc. 


EUA / 124 min / PB / 
4X3 (1.37:1)


Estreia nos EUA (Nova Iorque) a 11/4/1947 
Estreia em PORTUGAL (Lisboa) a 17/5/1948



Henri Verdoux: «Wars, conflict - it's all business. 
One murder makes a villain; millions, a hero. 
Numbers sanctify, my good fellow!»

Este é, provavelmente, o último filme que ilustra à saciedade todo o génio de Chaplin. “Luzes da Ribalta” (1952), “Um Rei em Nova Iorque” (1957) ou mesmo o derradeiro “A Condessa de Hong Kong” (1967), são todos eles grandes filmes mas não são tocados tão intensamente pela genialidade do artista, como acontece neste “Monsieur Verdoux”. Baseado numa ideia original de Orson Welles (Chaplin pagou-lhe cinco mil dólares pela cedência dos direitos, tendo de imediato concordado que o nome de Welles apareceria no genérico inicial), o filme baseia-se livremente na vida de Henri Desiré Landru, famoso barba-azul francês, na qual Chaplin viu a grande oportunidade de pegar numa tragédia e de a satirizar socialmente. Essa sátira é tremendamente eficaz porque feita através da figura de um perfeito gentleman. 


Ao contrário de Charlot (este é o filme que rompe em definitivo com a personagem que o imortalizou), monsieur Verdoux é um distinto cavalheiro, amável e encantador, que oferece a toda a gente um sorriso teatral, que se delicia com o aroma das rosas ou com as carícias de um gato vadio, enfim, um produto típico da burguesia francesa da época. O seu comportamento é sempre exemplar: no modo como frequenta o café ou viaja de comboio, como marido dedicado ou pai protector que incute no filho a nobreza dos sentimentos. Até a música (uma vez mais composta por Chaplin) vem dar uma ajuda à caracterização do personagem. Repare-se no leitmotiv que acompanha o passeio diante dos grandes cafés dos Champs Elisées: trata-se de uma música animada, falsamente alegre e, na verdade, bastante cruel. Este comentário sonoro evidencia a intenção do cineasta em denunciar a farsa pretensamente brilhante que era aquela época do final dos anos 30, sublinhando simultaneamente a proximidade da Guerra.

Mas por detrás de toda essa bonomia esconde-se um frio e metódico assassino que no entanto só mata as suas vítimas para preservar a sua família e sobretudo para garantir o bem-estar da sua mulher, uma inválida presa a uma cadeira de rodas. Aliás, esse é o motivo principal pelo qual Verdoux poupa a vida da rapariga (magnífica Marilyn Nash), escolhida por ele para servir de cobaia aos efeitos de um novo veneno. Trata-se de uma das sequências-chave do filme, em que o apurado sentido da mise-en-scène se conjuga com a excelência dos diálogos (e dos silêncios), dando-nos algo de sublime, que roça a perfeição da linguagem cinematográfica. Tudo ali funciona frame por frame, palavra por palavra, olhar por olhar; tudo está milimetricamente certo. Se a perfeição na verdade existe, então essa sequência poderá ser dela um dos exemplos mais felizes, devendo por isso ser mostrada em qualquer escola de Cinema.

Por exigências dos produtores (nas suas memórias Chaplin fará referência à minúcia absurda com que o comité de censura examinou cada uma das linhas do argumento) o cineasta teve de recorrer a variadissimas elipses na realização do filme. Fê-lo como sempre exemplarmente (“Monsieur Verdoux” é sem dúvida o filme mais cristalizado ao nível da elipse, uma técnica sempre presente no cinema de Chaplin), conseguindo que o espectador “visualizasse” até melhor o que não pôde ser mostrado. Como a chaminé a deitar um espesso fumo negro no jardim de rosas de Verdoux, desfazendo qualquer dúvida sobre o destino trágico de mais uma vítima. 

Ou como a sugestão das relações sexuais havidas com duas das mulheres - uma delas, a mal-encarada Lydia Floray (Margaret Hoffman), que virá a ser assassinada (a cena hitchcockiana do patamar da escada, com a noite a transformar-se em manhã, e a continuação lógica na cena do pequeno-almoço, em que Verdoux se dá conta da chávena e do prato que estão “a mais”) e outra, a excêntrica Annabella Bonheur (Martha Raye) que conseguirá ficar imune às várias tentativas levadas a cabo por Verdoux (a cena da dispensa da criada durante o período da tarde) – ou ainda aquela outra elipse, muito mais longa no tempo, e que nos deixará adivinhar que Verdoux assassinou a mulher e o filho para os poupar à miséria originada pela sua falência económica. Este acto, envergonhado no fundo da sua consciência, é o mais trágico acontecimento do filme, sendo o transbordar da amargura de monsieur Verdoux.

Na parte final do filme Verdoux reencontra a rapariga que poupou à morte muitos anos antes, a qual, com o eclodir da guerra na Europa, se tornou rica através do casamento com um industrial de material bélico. Conversando dentro da limousine dela, ambos falam consigo próprios: dois monólogos se sobrepõem. Um ao outro fingem dizer, então, quais os resultados da sua vida, qual o fim a que chegaram. E é esse encontro que, indirectamente, irá originar a prisão de Verdoux. Ou melhor, a sua entrega deliberada às autoridades policiais. Para “cumprir o seu destino”. Ele mesmo o diz, quando à saída do restaurante se despede da sua protegida de outrora. Depois é aquele gag genial (mais um, entre tantos) quando a polícia chega e Verdoux os acompanha na captura dele próprio.

No tribunal Chaplin põe em cheque a sociedade, obrigando-a a reagir não só aos seus actos como também à sua justificação. Como Sócrates, Verdoux é condenado por desvio moral. Esse desvio não é, porém, relativo aos crimes de morte que praticou: eles são apenas pretexto – ao filme e à condenação. É referente, sim, à consideração da moral vigente. A justificação que Verdoux apresenta, integrando em tal moral os seus actos condenáveis, não pode deixar de assustar os seus algozes. Depois das visitas na cela da morte (a cena com o padre é paradigmática do ateísmo profundo do filme: «Em que o posso ajudar, padre?») Verdoux irá morrer no cadafalso. Não por ter assassinado várias mulheres (último recurso do negócio, como a guerra é o último recurso da política), mas por ser um pequeno comerciante da morte. O número é o que separa o assassino do herói: «matam-se várias pessoas e é-se um assassino; matam-se milhões e é-se um herói. O número santifica».

Finalmente a cena final, a da caminhada para a guilhotina, Foi a primeira a ser rodada e é duma qualidade e duma subtileza tão raras, que mesmo na riquissima obra de Chaplin não encontraremos mais do que três ou quatro exemplos. Como argutamente referiu André Bazin, é a cena da “revelação” final: ao longo de todo o filme o público esteve sempre convencido que Verdoux nada tinha que ver com Charlot e afinal, pelo caminhar saltitante, visto de costas, é com ele que Verdoux se identifica. Foi a derradeira ironia de Chaplin: fazer com que o público se desse conta de que afinal Verdoux era Charlot disfarçado (encarnando, se quisermos, o seu lado “obscuro”), que era o popular vagabundo que ia a caminho de ser executado.

Monsieur Verdoux” foi o filme ideal (e necessário) para fechar o conjunto da obra maior de Chaplin. Entre o tímido e infeliz amoroso de “The Gold Rush” e este cínico Don Juan, a sociedade é completamente apanhada na dialética do mito. No espaço de tempo que medeia entre as duas obras (1925 – 1947) Chaplin escreveu o seu testamento mais importante – desde o capítulo inicial, em que a personagem de Charlot se torna inteiramente boa (não o era nas comédias antigas da Keystone) até este epílogo, em que uma nova luz é lançada sobre o universo chaplinesco, ordenando-o e carregando-o de significado.

A situação social é radicalmente oposta: Charlot, mesmo milionário, permanece um eterno mendigo; Verdoux é rico. Quando Charlot tem o azar de casar, é com pavorosas megeras, que o aterrorizam e lhe extorquem o salário até ao último centavo; Verdoux é um polígamo que engana invariavelmente as suas mulheres, domina-as, mata-as e vive do seu dinheiro. Charlot é por essência o inadaptado social; Verdoux é um superadaptado. Charlot passa a vida a ser aterrorizado pela polícia; Verdoux intruja facilmente essa mesma policia e até a aniquila. Ou seja, as relações de Charlot com a sociedade (e com as mulheres em particular - «Gosto das mulheres mas não as admiro», diz Verdoux à rapariga) mudaram todas de valor. Chaplin virou todo o seu universo do avesso: qualquer elemento presente em Charlot tem invariavelmente o seu oposto em Verdoux.

Na sociedade dos anos 40 ou na nossa sociedade deste novo século XXI existem coisas que permanecem imutáveis; e o homem continua a ser o lobo do homem. Chaplin sabia do que falava. Quando referia as perseguições, a intolerância ou o egoísmo, era de si mesmo que falava. Sabia bem o que custava criticar os podres da sociedade americana e a sua responsabilidade no conflito que ensanguentava o mundo. Acusado de comunista, interrogado e boicotado pela sinistra Comissão do senador McCarthy de triste memória, foi definitivamente expulso em 1952 do País da “liberdade”.

A estreia de “Monsieur Verdoux” nos Estados Unidos foi um flop monumental, devido em grande parte ao boicote de que foi alvo em diversas cidades americanas. Na estreia em Nova Iorque o filme é apupado; e, no dia seguinte, a conferência de imprensa é particularmente agitada, com Chaplin a incentivar os jornalistas para “continuarem com a carnificina”. Mas o mesmo não se passou na Europa, onde “Monsieur Verdoux” teve um grande sucesso, quer ao nível do público quer sobretudo ao nível da crítica . O próprio Chaplin, sem falsas modéstias, e em resposta a uma crítica contra o filme, feita pelo cineasta soviético Sergei Eisenstein, viria a declarar: «Eu disse o que devia ser dito, mais tarde entenderão o que eu quis dizer. “Monsieur Verdoux é o filme mais brilhante e inteligente da minha carreira». Afirmação que 65 anos depois não tenho qualquer dúvida em corroborar.




DECLARO GUERRA A HOLLYWOOD!
«Decidi-me a declarar guerra de uma vez para sempre a Hollywood e aos seus habitantes. Não gosto das pessoas que resmungam, acho-as cheias de suficiência e de futilidade, mas visto que já não tenho nenhuma confiança em Hollywood em geral e no cinema americano em particular, estou resolvido a dizê-lo. Sabeis qual o acolhimento dado ao meu último filme, “Monsieur Verdoux”, em certos cinemas americanos e particularmente em Nova Iorque. Sabeis que alguns inoportunos me trataram como comunista e antiamericano. Isto simplesmente porque não quero pensar como toda a gente; porque magnates de Hollywood consideram que se podem ver livres de qualquer pessoa. Mas em breve perderão as suas ilusões e tomarão consciência de certas realidades. Digo-o claramente: eu, Charles Chaplin, declaro que Hollywood agoniza. Hollywood não tem mais nada a ver com o cinema que se supõe ser uma arte: aí o trabalho consiste somente em produzir quilometros e quilometros de película.

Posso acrescentar que nesta cidade é impossível para qualquer pessoa obter sucesso cinematográfico se se recusar a identificar a sua conduta à de todos os outros, se se apresentar como um pioneiro que ousa desafiar as regras estabelecidas pelos grandes comerciantes do filme. Não penseis que estou a defender a minha própria causa. Consideremos, por exemplo, o caso de Orson Welles. Não estou de maneira alguma de acordo com ele sobre todos os pontos da sua concepção de cinema. Mas ele ousa dizer NÃO aos homens da indústria. E agora morreu para Hollywood. Sobretudo, não imagineis que sou um revolucionário, um incendiário, como escreveu um jornalista de Boston. Mas é evidente que cometi um crime. Declarei em várias ocasiões que, do meu ponto de vista, o patriotismo ignora as fronteiras. Isto é tão verdadeiro para o cinema como para a política.

Hollywood trava neste momento a sua última batalha e vai perdê-la, a menos que acabe de produzir filmes em cadeia, a menos que compreenda finalmente que as obras-primas cinematográficas não podem nascer do trabalho em série, como os tractores numa fábrica. Penso objectivamente que já é tempo de enveredar por um novo caminho e de fazer com que o dinheiro não seja mais o deus todo-poderoso de uma comunidade decadente. Deixarei provavelmente os Estados Unidos dentro em breve, embora me tenham dado tantas satisfações morais e materiais. E no país onde vá acabar os meus dias, tentarei lembrar-me de que sou um homem como os outros e que tenho direito, por conseguinte, ao mesmo respeito que os putros homens.

(Charles Spencer Chaplin in “Reynolds News”, Dezembro de 1947)



THE PARTY (1968)

FESTA DE LOUCOS
Um filme de BLAKE EDWARDS





Com Peter Sellers, Claudine Longet, Steve Franken, Stephen Liss, Fay McKenzie, Denny Miller, Gavin MacLeod, etc.

EUA / 99 min / COR / 16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 4/4/1968
Estreia em PORTUGAL a 5/4/1969



Hrundi V. Bakshi: «Birdie num num»

Este filme é como uma aspirina, que deve ser deixada sempre à mão, para tratamento urgente de stress, mau humor, irritação e outras pancadas que tais. E o melhor de tudo é que resulta, todas as vezes a que a ele recorremos. Comédia delirante, bem representativa dos anos 60, esta é das obras de Blake Edwards aquela que mais se aproxima do universo de um Jacques Tati, nomeadamente da sequência do restaurante de “Play Time” [1967], filme claramente assumido por Edwards como inspiração-base: «Adoro esse filme. Se consegui transferir toda essa adoração para “The Party" não tenho a certeza. Quando era garoto absorvia também todos os filmes de Laurel & Hardy, juntamente com tantos outros daqueles grandes filmes mudos. Provavelmente é todo esse conjunto de referências que usei neste filme.»


Deliciosamente anarquista, rico em observações sociais, “The Party” (“Festa de Loucos” na tradução original portuguesa, mais tarde abreviada para “A Festa”) percorre todo um encadeado de gags non stop que têm lugar dentro de uma faustosa mansão de um produtor de Hollywood na qual se realiza uma festa para a qual é convidado por engano um infeliz actor indiano, Hrundi V. Bakshi, que tinha sido despedido alguns dias antes durante a rodagem de um filme. A personagem é desempenhada, com sotaque incluído, pelo genial actor inglês Peter Sellers, que atinge aqui o apogeu máximo de toda a sua comicidade. Há ainda quem veja em “The Party” uma paródia ao filme “La Notte”, de Michelangelo Antonioni, devido à sua estética fria e geométrica, ou ainda ao aborrecimento reinante nos convidados (que Bakshi se encarregará de subverter…)

Autor de rádio e televisão, argumentista, principalmente de Richard Quine, realizador de uma meia dúzia de filmes na década de 50, Blake Edwards encontrou o seu estilo na comédia dos anos 60. Um estilo que ele explicava do seguinte modo: «Por mim esforço-me por elevar o nível de slapstick e por simplificá-lo, caminhando no sentido natural.» "The Party" é uma homenagem antológica ao burlesco, um filme em que o elemento dramático se encontra reduzido à expressão mínima ou mesmo inexistente. Logo desde a sequência que serve de prólogo se adivinha o tom geral do filme: o corneteiro que se obstina em prolongar a vida no campo de batalha apesar de alvejado massivamente por todos à sua volta e que de seguida faz explodir inadvertidamente o cenário principal. Longe de ser um idiota, é pela sua falta de jeito, timidez e uma certa ingenuidade que o personagem de Peter Sellers nos conquista desde logo.

Hrundi V. Bakshi é suficientemente lúcido para se aperceber da sua má adaptação às situações mais corriqueiras, equivalente a um paquiderme em loja de porcelana. Aliás, um pouco pior, pois o elefante-bébé que é alvo das atenções gerais no final, consegue mesmo assim comportar-se melhor que o nosso herói. E no entanto, Bakshi enfrenta todos os contratempos com fleuma e dignidade, sempre com um sorriso nos lábios, tentando dar a volta às situações embaraçosas que vai criando (no mínimo afastando-se para bem longe, para o fundo do jardim). Tarefa inglória, conforme o desenrolar do filme nos vai dando a perceber. O efeito das boas intenções de Bakshi é o de um dominó em queda vertiginosa, sempre imprevisível e hilariante, e que inevitavelmente irá desembocar num final caótico.

Esse caos, na perspectiva de Blake Edwards, tem forçosamente de ser desencadeado para nivelar as divergências sociais presentes, numa intenção claramente alegórica. Depois de Bakshi caír na piscina, é levado para um quarto do piso superior afim de mudar de roupa (vestem-lhe um roupão vermelho do dono da casa), depois de o fazerem ingerir uma bebida alcoólica (algo a que ele não estava de todo habituado). Pouco depois descobre Michèle (Claudine Longet) em pranto, por causa das tentativas do seu agente em a seduzir, e consola-a à sua maneira muito peculiar. Os dois descem depois ao andar de baixo, dispostos a disfrutar ao máximo da festa em curso.

Entretanto há uma troupe de bailarinos russos a dançar o kalinka e a filha dos donos da casa aparece com os amigos, acompanhados por um elefante-bébé, pintado com diversos slogans dos sixties. Bakshi indigna-se por tal humilhação num animal que é sagrado na Índia e resolvem então lavá-lo, o que tem como consequência que as bolhas de sabão se vão espalhando pouco a pouco, acabando por encher todo o salão. A festa torna-se então completamente caótica, mas, simultaneamente, acaba com a hierarquia do status social que esteve na sua origem. No caos das bolas de sabão já não existem grandes diferenças e todos acabam de igual modo, completamente encharcados.

“The Party” é ainda hoje, mais de 50 anos depois, uma jóia rara de humor inteligente, por vezes corrosivo, mas que jamais cai na vulgaridade. E mesmo que já o tenhamos visto dezenas de vezes (como é o meu caso) o prazer é sempre enorme. Podemos conhecer todos aqueles gags e situações de cor e salteado, mas a sua antevisão deixa-nos sempre ansiosos para os revermos de novo. Quem poderá esquecer o episódio do sapato navegador que acaba numa travessa de aperitivos («I’m on a diet, but the hell with it»), o criado que vai bebendo cocktail atrás de cocktail (Steve Franken noutro desempenho memorável), o bilhar a três («howdy partner»), a desastrosa sequência na casa de banho, aquele caótico e indescritível jantar, (mal) servido pelo mesmo criado (já completamente embriagado), a alimentação do papagaio («birdie num num», frase que foi adoptada por todo o elenco para se cumprimentarem no dia-a-dia) e tantos outros momentos de antologia? E depois há a maravilhosa Claudine Longet a cantar (“Nothing To Lose”) e a encantar-nos. A nós, espectadores e a um Peter Sellers imobilizado, incapaz de ir satisfazer uma urgente necessidade fisiológica…