MAGIA AO LUAR
Um filme de WOODY ALLEN
Com Colin Firth, Emma Stone,
Eileen Atkins, Simon McBurney, Marcia Gay Harden, Erica Leerhsen, etc.
US-UK / 97 min / COR /
16X9
(2.35:1)
Estreia nos EUA: 25/7/2014
Estreia em Portugal: 4/9/2014
Sophie:
«But you said there is no God»
Stanley: «Precisely my point»
Esta
comédia de Woody Allen traz-me ao pensamento o poema-canção de Jacques Brel,
"Dites, Si C'était Vrai", onde o genial compositor belga se interroga
sobre a veracidade de alguns acontecimentos bíblicos (o nascimento de Cristo, os
Reis Magos ou o ressuscitar de Lázaro, por exemplo), para concluir: «Si c'était
vrai tout cela / Je dirais oui / Oh, sûrement je dirais oui / Parce que c'est
tellement beau tout cela / Quando on croit que c'est vrai». Ou seja, uma
metáfora sobre o verdadeiro significado das coisas, que só passam a existir para
nós quando nelas acreditamos. Tal como Stanley Crawford (Colin Firth) é convencido dos poderes extra-sensoriais de Sophie
(lindissima Emma Stone, cuja bela
actuação é claramente influenciada por Diane Keaton, antiga musa de Allen),
facto que de certo modo o alivia, por poder assim entregar-se aos prazeres
mundanos, sem a companhia incómoda do racional e da lógica das coisas.
Uma
das frases-feitas que nos habituámos a ouvir ao longo da vida é aquela que
refere que "felizes são os ignorantes ou os pobres-de-espírito". Que
é necessária uma dose de auto-engano para nos sentirmos bem, conosco ou com os
outros. Ou que a ingenuidade infantil deverá ser preservada na idade adulta. "Magic In The Moonlight"
fala-nos um pouco de tudo isso e, como o próprio título sugere, dá-nos a
receita: o segredo para experimentarmos um pouco de felicidade está mesmo na
magia. Não na magia do ilusionismo (do qual Stanley é um conhecedor exímio),
mas na outra, na magia dos sentimentos, que não se consegue explicar, que é
avessa a qualquer lógica ou método racional (e nesta, Stanley é um completo
analfabeto): «I have irrational positive
feelings for Sophie Baker», confessa ele à tia, bastante incomodado.
A
verdadeira magia acontece justamente quando Stanley (um profissional que se
disfarça de chinês - o grande Wei Ling Soo - para actuar um pouco em todo o
mundo em espectáculos de ilusionismo) se vê encurralado num beco sem saída,
passando a questionar todas as suas convicções devido às emoções inéditas que
ameaçam preencher-lhe o vazio interior, até ali imune a qualquer investida mais
importante. Stanley, adepto ferveroso das doutrinas de Nietzsche, é um inglês
arrogante e narcisista, com uma enorme aversão aos falsos-espíritas. Persuadido
por um velho amigo, Stanley parte em
cruzada para a Côte d'Azur dos anos 20,
determinado a desmacarar uma jovem americana, conhecida por ter grandes
poderes extra-sensoriais na comunidade local. Mas aquilo que de início parecia
uma tarefa fácil, começa a revelar-se problemática, visto Sophie Baker parecer
efectivamente ter o condão de adivinhar factos do passado e até estabelecer
contacto com o mundo do Além. Mas nem tudo o que parece, é...
"Magic In The Moonlight" não pretende ir mais além nos seus propósitos: os
de ser uma comédia romântica, muito agradável de se ver (apesar dos seus
"altos e baixos"), e com um lote de óptimos intérpretes (o nome de Colin Firth é por si só uma boa
garantia, mas quero destacar também a veterana Eileen Atkins, que aos 80 anos compõe a deliciosa personagem da tia
Vanessa) e ainda uma banda-sonora repleta de standards da época, como aliás é característico dos filmes de Woody
Allen. Só não gostei da cinematografia, que aposta nos tons berrantes e
ultra-saturados. Percebe-se a ideia de realçar o romantismo dos anos 20, mas
penso que foi uma opção errada, e que leva a que algumas sequências estejam
bastante escuras. A escolha oposta teria, a meu ver, valorizado muito o filme.
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