É já na próxima madrugada que se estreia no canal AMC (em simultâneo com a televisão americana) a nova série de zombies, "Fear The Walking Dead". O jornal i traz hoje uma entrevista com Dave Erikson, o criador da série em parceria com Robert Kirkman, autor da série original. As diferenças começam logo pelo período em que a história se situa, que é anterior ao apocalipse zombie.
Já via séries de zombies?
Como surge a sua participação na produção deste spinoff?
Sim e não. Via os filmes do George Romero, mas não era um fanático por zombies. Era fã, isso sim, do Robert [Kirkman]. Conheci-o há cinco, seis anos, quando escrevi um episódio-piloto baseado numa ideia dele. Enquanto estava a trabalhar nesse projecto comecei a ler o “The Walking Dead” e a familiarizar-me com a sua obra. Pode dizer-se que era fã do Robert e quando a série “Walking Dead” apareceu também me tornei fã dela.
Estivemos para trabalhar algumas vezes, durante as duas primeiras temporadas, por isso quando esta oportunidade apareceu foi um cenário de sonho. Tinha terminado um trabalho, ele ligou-me, reunimo-nos e falámos sobre o que ele queria fazer, o trabalho que já estava de-senvolvido e o que a série poderia vir a ser. Fiquei fascinado.
Além de produtor é co-argumentista de “Fear the Walking Dead”. Qual foi o maior desafio na escrita desta série?
Honestamente, acho que foi o abrandamento da história. Na fase inicial avançámos para o apocalipse zombie muito mais depressa do que queríamos. Revi o guião do episódio-piloto e reenviei-lho. Esperei uma semana, semana e meia [risos] até ele me ligar e dizer: “Gostei, é um bom guião, mas…” E então disse-me uma coisa que realmente mudou a dinâmica do piloto, no sentido de o abrandar. Queríamos garantir que esse episódio e a primeira temporada assentava na família central, nos seus conflitos e características pessoais, e depois começar a deixar entrar a parte do apocalipse zombie. Atingir esse equilíbrio mantendo o ADN da série original, mas ao mesmo tempo estabelecer um tom e um ritmo diferente, foi provavelmente o maior desafio.
Sim, porque na versão original, que é também a da BD, temos a situação do coma do Rick, alguém que quando acorda desse estado num mundo onde tudo mudou tem de se adaptar muito rapidamente a essa mudança. Quando o Rick encontra o Morgan assimila a realidade do apocalipse e o que tem de fazer para sobreviver. Aprende o que há a fazer a um ritmo rápido, o que é semelhante ao que acontece noutros filmes do género. E uma das coisas que o Robert quis explorar especificamente foi a questão da violência e as suas implicações físicas e emocionais. Neste caso introduzimos isso através dos olhos de uma família altamente disfuncional, que se debate com os seus próprios problemas. É aí que a história começa. E temos a oportunidade de, ao longo do primeiro episódio, nos aperceber dessa teia de relações. A minha esperança é que quando chegarmos às cenas finais do programa e olharmos para o primeiro episódio vejamos que tudo começa aí, e que é sobre isso que é a série. Porque em princípio na temporada 2 já vamos estar num momento muito semelhante àquele em que o Rick acorda. Mas há muita história, muito para explorar nessa janela de tempo, e temos a oportunidade de aprofundar a parte da sobrevivência ao apocalipse quando este chega. Na primeira temporada as nossas personagens não percebem o que está a acontecer.
Falou no Morgan. É uma das personagens que estiveram ausentes várias temporadas e regressa agora na temporada 6. Vamos poder ver mais adiante as personagens da spinoff cruzarem-se com algumas da série original?
É muito pouco provável [risos]. Os dois programas vivem do mesmo tema, o trilho é o mesmo, e estou convencido que a certa altura toda a gente gostaria que as duas histórias convergissem, que a personagem da Kim Dickens, a Madison, encontrasse a do Andrew Lincoln, o Rick, e provavelmente que formassem uma aliança. Mas não pretendemos fazer isso. Em parte, geograficamente, fazer o caminho, num contexto sem transportes a funcionar, entre a Costa Oeste a Costa Leste, seria um grande desafio. Além disso há a cronologia das duas séries, o “Walking Dead” vai na temporada 6 e no “Fear the Walking Dead” estamos no início do apocalipse. Não vamos avançar no tempo assim tão rapidamente. Não digo que nunca vá acontecer, mas não o vejo num futuro próximo.
Por que razão escolheram Los Angeles para a acção de “Fear the Walking Dead”?
Há várias razões. Quando eu e o Robert nos encontrámos pela primeira vez para falar do programa, ele pensou logo que Los Angeles era um bom lugar para fazer a série. Primeiro porque queríamos mostrar a queda de uma grande cidade. Entretanto, também nos ocorreu que tematicamente a série tem muito a ver com reinvenção, mudança, e a Costa Oeste, a Califórnia, Los Angeles em particular, são lugares para onde as pessoas vêm para enterrar o seu passado e tornar-se alguém novo. E algumas das nossas personagens, como vamos perceber, passaram por certas situações e traumas que preferiam esquecer. Los Angeles também é um óptimo cenário noir, porque é uma cidade bonita, com uma luz especial, mas a maioria dos habitantes esconde-se do sol [risos] e fica na sombra.
E como é que essas características da cidade se relacionam com a acção?
Penso que há algo realmente interessante numa cidade que está tão exposta, de tantas maneiras, literal e figurativamente, e fazer uma história que tem a ver com uma situação obscura que vai crescendo. Vimos essa oportunidade para a série e também mostramos partes da cidade que não costumam ser filmadas.
Provavelmente muitos espectadores da spinoff não terão visto todos os episódios de “Walking Dead”. Ficam a perder alguma informação importante para “Fear the Walking Dead”?
Penso que como o spinoff é sobre o início do apocalipse de zombies, não é preciso terem visto a série original. É óptimo se tiverem visto, e espero que muitos dos fãs de “Walking Dead” venham também a ser fãs da nossa série, mas vive por si só. A ideia era fazer uma série que complementasse a original, e ao mesmo tempo pudesse ser vista de forma independente de “The Walking Dead”.
Do que sabemos, os zombies de “Fear the Walking Dead” vão ser diferentes dos da série original. Quais são as maiores diferenças?
Parecem mais conservados, à falta de uma palavra melhor. A maioria dos zombies de “Fear the Walking Dead” aparece imediatamente a seguir ao momento da transformação. São muito semelhantes ao que vimos acontecer com a personagem Shane da versão original, o que faz com que seja mais difícil para os sobreviventes lidar com eles porque pensam que são seres humanos, que são pessoas. Vão precisar de algum tempo para perceber que essas pessoas na realidade já estão mortas.
Comparando esta série com “Walking Dead”, qual é a dimensão da produção, quantas pessoas estiveram envolvidas na primeira temporada?
Deverão ser à volta de 200, 300 pessoas. A única diferença para nós foi trabalhar e viver em Los Angeles e depois, durante um período curto, termos de nos mudar para Vancouver (Canadá). Tivemos um grande número de filmagens em áreas com muitas pessoas e poucos zombies e outras com muitos zombies e poucas pessoas.
Além de “Fear the Walking Dead”, está com mais algum projecto em mãos?
Neste momento, estou totalmente entregue aos zombies. Vendi uma série sobre jornalismo à AMC há algum tempo. Espero, no futuro, quando os zombies me deixarem acalmar, poder dedicar-me a isso.
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