terça-feira, outubro 01, 2013

BLUE JASMINE (2013)

BLUE JASMINE
Um Filme de WOODY ALLEN



Com Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins, Andrew Dice Clay, Max Rutherford, etc.

EUA / 98 min / COR / 16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 26/7/2013 
(Los Angeles / New York)
Estreia em PORTUGAL: 12/9/2013




No meio de uma programação que à medida que os anos passam vai aumentando o seu índice de imbecilidade, tornando uma deslocação ao cinema numa tarefa cada vez mais penosa, ver um filme de Woody Allen é como fazer-se um seguro contra atentados à inteligência do espectador. Com efeito, por mais desinteressante que seja um filme seu, temos sempre a garantia de não sermos agredidos intelectualmente e podermos passar duas horas no mínimo agradáveis. O que no presente caso peca por defeito, uma vez que “Blue Jasmine” nos consegue transportar para níveis superiores, muito mais prazenteiros.

Com efeito, depois do seu mais recente périplo europeu, por cidades como Roma (“Para Roma com Amor”, 2012), Paris (“Meia-noite em Paris”, 2011) ou, lá mais para trás, Barcelona (“Vicky Cristina Barcelona”, 2008), Woody Allen regressa aos Estados Unidos, onde se sente como peixe na água. Desta vez o palco não se cinge apenas à sua querida Nova Iorque mas também a São Francisco - duas cidades que se localizam em zonas opostas do território norte-americano, à semelhança das duas narrativas que nelas se vão centrar.


“Blue Jasmine”, que não conta com Allen entre os intérpretes, alberga uma jóia resplandescente, a prestação fabulosa de Cate Blanchett (seríssima candidata a um futuro Óscar?), a actriz de origem australiana que, entre outras, já nos tinha presenteado com uma interpretação memorável no filme “O estranho caso de Benjamin Button” (2008). Aqui é a neurótica que dá o nome ao filme, uma personagem sempre à beira do precipício, egoísta, desprezível, mas também ardente e até comovente, que vai oscilando entre estados de alma diametralmente opostos, desde a frivolidade característica das classes altas até ao conformismo e frustrações que são apanágio das classes mais desfavorecidas.


Allen apresenta-nos todo o filme em montagem paralela, pelo que podemos ir acompanhando Jasmine (nascida Jeanette) nas suas "duas vidas": no mundo abastado de um marido endinheirado (Alec Baldwin, aqui na sua terceira colaboração com Allen), que acabará por se suicidar por causa de fraudes em negócios escuros e no mundo depressivo que rodeia a irmã Ginger (a também excelente Sally Hawkins), de parcos recursos e horizontes pouco lisonjeiros.


Esta dicotomia entre o modus vivendus de cada uma das duas irmãs (ambas filhas adoptivas), traz à colação Tenesse Williams e "A Streetcar Named Desire", peça que muito provavelmente terá povoado o espírito de Allen enquanto escrevia o argumento de "Blue Jasmine". Sem tomar partido, expondo sem piedade ou relutância aqueles dois extractos tão afastados das sociedades modernas, Allen dá-nos um dos seus registos mais crueis, mas também, e paradoxalmente, um dos mais humanos.


"Blue Jasmine" será considerado dentro de alguns anos, tudo o indica, um dos clássicos do realizador, à semelhança do que já acontece há muito com "Annie Hall" ou "Manhattan", por exemplo. Por enquanto não chega lá, até porque ainda não ultrapassou o imprescindível teste do tempo. Mas de uma coisa tenho a certeza: desde "Match Point" (2005) que não sentia um prazer cinéfilo tão genuíno ao visionar um filme de Woody Allen.

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