BLUE
JASMINE
Um Filme de WOODY
ALLEN
Com Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins, Andrew Dice
Clay, Max Rutherford, etc.
EUA / 98 min / COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA a 26/7/2013
(Los Angeles / New York)
Estreia em PORTUGAL: 12/9/2013
No
meio de uma programação que à medida que os anos passam vai aumentando o seu
índice de imbecilidade, tornando uma deslocação ao cinema numa tarefa cada vez
mais penosa, ver um filme de Woody Allen é como fazer-se um seguro contra atentados
à inteligência do espectador. Com efeito, por mais desinteressante que seja um
filme seu, temos sempre a garantia de não sermos agredidos intelectualmente e
podermos passar duas horas no mínimo agradáveis. O que no presente caso peca
por defeito, uma vez que “Blue Jasmine” nos consegue transportar para níveis superiores,
muito mais prazenteiros.
Com
efeito, depois do seu mais recente périplo europeu, por cidades como Roma (“Para
Roma com Amor”, 2012), Paris (“Meia-noite em Paris”, 2011) ou, lá mais para
trás, Barcelona (“Vicky Cristina Barcelona”, 2008), Woody Allen regressa aos
Estados Unidos, onde se sente como peixe na água. Desta vez o palco não se
cinge apenas à sua querida Nova Iorque mas também a São Francisco - duas
cidades que se localizam em zonas opostas do território norte-americano, à
semelhança das duas narrativas que nelas se vão centrar.
“Blue
Jasmine”, que não conta com Allen entre os intérpretes, alberga uma jóia
resplandescente, a prestação fabulosa de Cate Blanchett (seríssima candidata
a um futuro Óscar?), a actriz de origem australiana que, entre outras, já
nos tinha presenteado com uma interpretação memorável no filme “O estranho caso
de Benjamin Button” (2008). Aqui é a neurótica que dá o nome ao filme, uma
personagem sempre à beira do precipício, egoísta, desprezível, mas também
ardente e até comovente, que vai oscilando entre estados de alma diametralmente
opostos, desde a frivolidade característica das classes altas até ao
conformismo e frustrações que são apanágio das classes mais desfavorecidas.
Allen
apresenta-nos todo o filme em montagem paralela, pelo que podemos ir
acompanhando Jasmine (nascida Jeanette) nas suas "duas vidas": no
mundo abastado de um marido endinheirado (Alec Baldwin, aqui na sua terceira
colaboração com Allen), que acabará por se suicidar por causa de fraudes em
negócios escuros e no mundo depressivo que rodeia a irmã Ginger (a também
excelente Sally Hawkins), de parcos recursos e horizontes pouco lisonjeiros.
Esta
dicotomia entre o modus vivendus de
cada uma das duas irmãs (ambas filhas adoptivas), traz à colação Tenesse
Williams e "A Streetcar Named Desire", peça que muito provavelmente
terá povoado o espírito de Allen enquanto escrevia o argumento de "Blue
Jasmine". Sem tomar partido, expondo sem piedade ou relutância aqueles
dois extractos tão afastados das sociedades modernas, Allen dá-nos um dos seus
registos mais crueis, mas também, e paradoxalmente, um dos mais humanos.
"Blue
Jasmine" será considerado dentro de alguns anos, tudo o indica, um dos
clássicos do realizador, à semelhança do que já acontece há muito com
"Annie Hall" ou "Manhattan", por exemplo. Por enquanto não
chega lá, até porque ainda não ultrapassou o imprescindível teste do tempo. Mas
de uma coisa tenho a certeza: desde "Match Point" (2005) que não
sentia um prazer cinéfilo tão genuíno ao visionar um filme de Woody Allen.
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