Um Filme de ALFONSO CUARÓN
Com Sandra Bullock e George Clooney
EUA / 91 min / COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia em ITÁLIA a 28/8/2013
(Festival de Veneza)
(Festival de Veneza)
Estreia nos EUA a 31/8/2013
(Festival de Telluride)
Estreia
em PORTUGAL a 10/10/2013(Festival de Telluride)
Ryan Stone: «It’s time to stop driving. It’s time to go home»
"Gravity" tem sido, na minha opinião, sobre-avaliado pela crítica especializada. A sua inclusão apressada no panteão das "obras-primas" da Sétima Arte acaba por gorar expectativas e prejudicar o próprio filme, que até tem os seus méritos. Compará-lo, por exemplo, a "2001, Odisseia no Espaço" revela uma grande falta de memória, que urge recuperar numa (re)visão urgente da obra genial de Kubrick. Ou seja, existem acontecimentos que, por direito próprio, passam a constituir marcos históricos na vida da humanidade e há outros que não, muito embora também possam permanecer nas nossas memórias pelas melhores (ou piores) razões. Em relação aos primeiros haverá sempre o "antes de" e o "depois de": Cristo no mundo católico, a II Guerra Mundial na história da Europa, os Beatles na música pop ou, mais recentemente, o Mourinho no futebol, são alguns desses marcos. Tal como o "2001" do Kubrick o é no cinema, extravasando até o género em que se insere (ficção-científica). Pelo contrário, duvido muito que este "Gravity" venha a constituir-se num qualquer marco do cinema, apesar de, repito, ser um filme de méritos inquestionáveis.
No
prólogo de "Gravity"
(extenso em demasia) vamos então conhecer os dois astronautas do filme, na
missão de recuperação de um telescópio espacial (o Hubble): ela uma engenheira
especializada, ele um piloto veterano em fim de carreira. Um acidente distante
em que um míssel russo destrói um satélite, vai originar uma chuva de destroços
que os irá atingir a curto prazo e a alta velocidade. A restante
tripulação - que não chegamos a conhecer - morre em consequência dos impactos
desses destroços (a sequência mais espectacular de todo o filme, embora esteja longe de ser a minha preferida. Essa só acontece no final, em local já bem terreno). Bullock e Clooney passam assim a ser os únicos
sobreviventes do embate.
Aos
poucos vamos conhecendo alguns aspectos das personalidades de ambos, sobretudo
da Drª Stone, cuja importância no desenrolar do filme passará a ser central,
até porque acaba por ficar completamente sózinha na vastidão do espaço.
Ela aceitou aquela missão para tentar esquecer a morte recente da filha e fazer do
universo, silencioso e calmo, uma terapia para a sua perda. Quando a sucessão
dos eventos parece prenunciar o fim da sua vida, Ryan, depois de um período de
desalento, consegue arranjar a determinação necessária para regressar ao
planeta Terra, local onde de facto a vida existe, uma vida que merece ser
vivida, apesar de todos os desgostos e contrariedades que nos levam a sucumbir,
a deixarmo-nos levar. «Don't let go...»
É
na meia-hora final que "Gravity"
atinge o seu esplendor. A tenacidade de Ryan, a reentrada na atmosfera
terrestre da nave, que se vai aos poucos desintegrando (é curioso notar que as
trajectórias dos pedaços incandescentes apresentam uma geometria que faz
lembrar o caminho dos espermatozoides na fecundação do ovo), a amaragem do
módulo nas profundezas do oceano e finalmente a libertação em direcção à luz, à superfície, tudo se conjuga harmoniosamente, como se de uma celebração da vida se tratasse. Ryan renunciou
no espaço à dor e a um provável sentimento de culpa (pede a um já imaginário Matt
que cuide da filha) para começar de novo, em terra firme, mais um ciclo da sua
vida.
A
par dos Efeitos Visuais (cuja utilização abusiva na primeira parte do filme é
responsável por um certo cansaço visual, mas que depois se conseguem ajustar na
perfeição à história), o filme tem no Som um dos seus maiores trunfos. Todos os
ruídos, incluindo os silêncios, funcionam muito bem, acompanhando da melhor
forma o desenrolar da história. Quanto à fotografia tridimensional aconselhada por
muitos para se visionar o filme, fará certamente as delícias dos fans de James
Cameron. Pessoalmente mantenho-me afastado dessa tecnologia, porque continuo
convencido que o Cinema é uma arte que deverá expressar-se num écran plano e
não tornar-se num espectáculo de feira.
CURIOSIDADES:
-
Depois de Angelina Jolie ter recusado o papel principal, os produtores queriam
Natalie Portman para protagonista. Mas esta também acabou por desistir, em virtude de se encontrar grávida na altura. Outras actrizes que chegaram a ser testadas: Rachel
Weisz, Naomi Watts, Scarlett Johansson...
- Durante uma conferência
de imprensa, um jornalista mexicano (Carlos Pérez) perguntou a Alfonso Cuarón
se tinha sido muito difícil filmar no espaço. O realizador não se desmanchou e
respondeu: «Tínhamos câmaras da Soyuz, a missão russa. Por isso estivemos 3
meses no espaço sem problemas.» A gargalhada foi geral na sala.
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