Um filme de MICK DAVIS
Com Andy Garcia, Elsa Zylberstein, Omid Djalili, Hippolyte Girardot, Eva Herzigova, Udo Kier, etc.
EUA-FRANÇA-ALEMANHA-ITÁLIA-ROMÉNIA-GB / 128 min / COR /
16X9 (1.85:1)
(Festival de Cannes)
Estreia nos EUA a 12/12/2004
Estreia em PORTUGAL a 25/5/2006
Apesar do seu enorme talento, a fama e a riqueza não foram atributos da breve vida do pintor italiano Amedeo Modigliani, que morreu aos 35 anos no meio da maior miséria – algo bastante comum aos artistas independentes e não alinhados com os valores mais em voga na sua época e que só a morte consegue criar condições de reconhecimento da obra passada. Este segundo filme do realizador e argumentista escocês Mick Davis foca a sua atenção nos últimos anos de vida do artista, passados em Paris, numa altura em que a arte moderna florescia um pouco por todo o lado. Pablo Picasso, Diego Rivera ou Jean Cocteau, eram alguns dos artistas que coloriam a noite parisiense à medida que a sua fama se começava a espalhar pelos quatro cantos do mundo. Devido à fotografia de Emmanuel Kadosh, aos cenários de Gabriel Nechita e à produção artística de Giantito Burchiellaro, nunca as ruas de Montparnasse e o Café des Artistes conheceram na tela um tratamento tão boémio e sedutor.
Amedeo Modigliani era simultaneamente o enfant-terrible e o patinho feio desse grupo de pintores. Os seus quadros, considerados na altura primitivos e sem grande valor, tinham como inspiração primordial o corpo feminino, cuja forte sexualidade atraía invariavelmente o escândalo e consequente interdição de exposição pública. O filme refere esta faceta do artista mas detém-se essencialmente na sua rivalidade com Pablo Picasso, o pintor mais em voga daqueles inícios do século XX, que tinha ciúmes de Modigliani quer a nível profissional quer por causa da sedução que este exercia nas mulheres. Tal relação, que muitos consideravam de amor-ódio, está presente desde os instantes iniciais, quando Modigliani (Andy Garcia) faz a sua entrada embriagada no café questionando Picasso (Omid Djalili): «How do you make love to a cube?» e prolonga-se durante todo o filme, sempre que o caminho de ambos se cruza.
“Modigliani” não é um biopic, na verdadeira acepção do termo. Tirando alguns flashbacks relativos à infância, o filme debruça-se essencialmente, para além do confronto atrás referido, sobre a trágica história de amor ocorrida entre Modigliani e Jeanne Hébuterne (belissima Elsa Zylberstein, de extraordinária parecença com o modelo original), uma estudante católica de belas artes, catorze anos mais nova. É essa paixão desesperada que Mick Davis coloca no centro do seu filme. Sem nunca caír no facilitismo do melodrama convencional, Davis consegue transpor para a tela a noção do sacrifício supremo do amor, pelo qual Jeanne se imola no final, após prescindir de todas as componentes da sua vida pessoal, incluindo o novo filho que traz no ventre. O desempenho de Zylberstein (actriz francesa nascida em 1968, que tem repartido a sua carreira pelo cinema e televisão) é o maior trunfo de “Modigliani”, que parece perder gás sempre que ela não se encontra presente. De referir também a melódica banda sonora, onde o belissimo tema central (da autoria de Guy Farley), ficará para sempre associado às imagens deste filme.
À medida que “Modigliani” progride para o seu trágico final, Mick Davis revela-se simultaneamente mais hábil na construção narrativa, ao socorrer-se da montagem paralela para entrelaçar o concurso de pintura com a relação amorosa e conduzir ambos ao clímax derradeiro. A revelação do último quadro – “Jeanne” – em que pela primeira vez o artista ousa pintar os olhos da sua musa («só quando conhecer a tua alma é que pintarei os teus olhos») é um momento de rara emoção, mesmo sabendo-se que a pintura exposta não corresponde ao original (este foi recentemente vendido a um anónimo, na Christie’s de Londres, pela quantia de 3,25 milhões de libras). Estamos portanto diante de um filme bastante agradável de se seguir, episodicamente brilhante e que, para além dos seus inegáveis méritos cinematográficos, tem ainda a virtude de incitar o espectador à (re)descoberta da vida e da obra de Modigliani.
2 comentários:
Trata-se efectivamente de um filme acima da média, mal grado as más críticas com que foi recebido aquando da estreia. Andy Garcia confirma ser um dos bons actores da actualidade e Elsa Zylberstein (que raio de nome...por certo é de ascendência judia) é simplesmente... luminosa!
Um grande obrigado pela banda-sonora, um item dificilimo de se encontrar por aí.
Obrigado pelos links!
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