terça-feira, fevereiro 28, 2012

ANIVERSARIANTES DA SEMANA

Dia 27:  Joanne Woodward (82 anos)
Dia 28:  John Turturro (55 anos)
Dia 28:  Bernadette Peters (64 anos)
Dia 28:  Charles Durning (89 anos)
Dia 28:  Mimsy Farmer (67 anos)
Dia 29:  Dennis Farina (68 anos)
Dia 29:  Michèle Morgan (92 anos)
Dia   1:  Javier Bardem (43 anos)
Dia   1:  Ron Howard (58 anos)
Dia   1:  Harry Belafonte (85 anos)
Dia   1:  Lana Wood (66 anos)
Dia   1:  Roger Daltrey (68 anos)
Dia   1:  Jacques Rivette (84 anos)
Dia   1:  Adrienne Posta (64 anos)
Dia   2:  Bryce Dallas Howard (31 anos)
Dia   2:  Daniel Craig (44 anos)
Dia   2:  Jon Bon Jovi (50 anos)
Dia   2:  Amber Smith (41 anos)
Dia   2:  Jon Finch (71 anos)
Dia   2:  Lou Reed (70 anos)
Dia   3:  Miranda Richardson (54 anos)
Dia   4:  Paula Prentiss (74 anos)
Dia   4:  Adrian Lyne (71 anos)

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

THE DESCENDANTS (2011)

OS DESCENDENTES
Um filme de ALEXANDER PAYNE


Com George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller, Nick Krause, Judy Greer, Beau Bridges, Matthew Lillard, etc.


EUA / 115 min / COR / 16X9 (2.35:1)


Estreia nos EUA a 2/9/2011
(Festival de Telluride)
Estreia em PORTUGAL a 19/1/2012
Estreia no BRASIL a 27/1/2012


Matt King: [to Elizabeth] «Goodbye, Elizabeth.
Goodbye, my love, my friend, my pain, my joy.
Goodbye. Goodbye. Goodbye»

"The Descendants" é um filme com várias surpresas. Todas elas surpresas boas. A primeira de todas, a que salta mais à vista, é que, afinal, George Clooney consegue ser um bom actor. Provavelmente porque aquela personagem lhe assente que nem uma luva, ou porque lhe tenha sido suficiente ser ele próprio, sem grandes invenções. Mas na verdade parece haver ali muito mais representação do que a necessária para promover campanhas publicitárias do Nespresso. Já galardoado com o Globo de Ouro, nomeado para o próximo Óscar, o actor de 50 anos é, pode dizer-se, o grande trunfo deste filme. Trocando o habitual charme por uma postura mais vulgar, insegura, por vezes desajeitada, Clooney é extremamente convincente no papel de Matt King, um homem que nunca aprendeu a lidar com a própria famíla. Quer com as filhas, de cujos problemas sempre passou ao lado, quer com a mulher, que só a iminência da morte o faz acordar para a realidade.
Outra grata surpresa do filme é, de um modo geral, a grande qualidade do elenco secundário, desde Judy Greer, no papel da mulher do amante de Elizabeth King, passando pela pequena Amara Miller (Scottie, a filha mais nova) e culminando na grande revelação que é Shailene Woodley, uma actriz de 20 anos, vinda do mundo das séries televisivas e que tem aqui o seu primeiro grande papel no cinema. Shailene é de tal modo brilhante que, a espaços, consegue roubar o filme ao próprio Clooney. Como quando revela o segredo da relação extra-conjugal da mãe, naquela reacção (um misto de surpresa, pudor e diversão) à palmada que o pai lhe dá no rabo ou, sobretudo, na sequência da piscina, quando toma conhecimento do estado irreversível da mãe e oculta o pranto debaixo da água (um dos grandes momentos deste filme, senão mesmo o maior de todos e que nos ficará para sempre na memória).
Terceira surpresa: o equilíbrio com que o filme percorre a corda bamba, sem nunca resvalar para o melodrama piegas (uma palavra que agora está na moda) e convencional. E seria muito fácil, dada a história que nos é contada: a de Matt King, um advogado e proprietário de terras no Hawaii, sempre muito ocupado com os seus afazeres e por isso pouco presente na sua própria vida familiar. Herdeiro principal, juntamente com uma série de primos, de um grande território virgem, pode vir a tornar-se, a curto prazo, num dos homens mais ricos da região. Só que um acidente de barco atira-lhe a mulher para uma cama de hospital, em coma profundo. As prioridades são assim dramaticamente alteradas e Matt vê-se a braços com as duas filhas, raparigas problemáticas,das quais se tenta aproximar. Como se tal não bastasse, fica a saber que a mulher mantinha uma relação extra-conjugal e que tencionava divorciar-se. Entretanto os médicos revelam-lhe a dura realidade: o coma de Elizabeth é irreversível e ele tem de tomar a difícil decisão de autorizar que a desliguem das máquinas, apesar de a própria ter deixado tais instruções por escrito.
Alexander Payne é um atípico realizador americano. Oriundo de uma família grega (de apelido Papadopoulos), Payne, nascido a 10 de Fevereiro de 1961, em Omaha, Nebraska, estudou na Universidade de Salamanca, em Espanha, vindo mais tarde a licencear-se em História pela Universidade de Stanford, após o que concluiu com êxito o curso de cinema da UCLA, em 1990. Admirador confesso de Kurosawa, Buñuel, Ashby, Leone e Scorsese, Payne realizou a sua primeira longa-metragem há já 15 anos: "Citizen Ruth" [1996], com Laura Dern como protagonista. A partir daí, apenas mais 4 filmes: "Election" [1999], "About Schmidt" [2002], no qual conseguiu arrancar um magnífico desempenho a Jack Nicholson, "Sideways" [2004], talvez o seu melhor filme até à data, e agora, sete anos depois, este "The Descendants".
O cinema de Payne, pelo menos nos últimos três filmes (os únicos que vi), começa a evidenciar algumas constantes: personagens solitários, de baixa auto-estima, por vezes presos a certas angústias, histórias que oscilam constantemente entre o cómico e o trágico, o recurso frequente a monólogos, o tratamento, enfim, de relações humanas conflituosas, onde frequentemente o adultério e outros tipos de traições se encontram presentes, para além, também, do recurso habitual a um humor irónico e pouco convencional. Tudo isto misturado com muito bom gosto e servido sempre por uma excelente qualidade técnica. Por último, e talvez o mais importante de tudo, Alexander Payne é dos raros realizadores americanos que consegue ter a última palavra na montagem final dos seus filmes, sendo também argumentista de todos eles. A solo, ou acompanhado, como é o caso aqui, com Nat Faxon e Jim Rash.
Em "The Descendants" a missão de adaptar a obra homónima da escritora havaiana Kaui Hart Hemmings (que no filme desempenha o papel de Noe, a secretária de Matt), parece ter sido especialmente complexa, dada a profusão de sentimentos que o personagem principal atravessa. Mas o resultado final é bastante satisfatório, muito ajudado pela montagem escorreita de Kevin Tent e pela fotografia luminosa de Phedon Papamichael, a qual, apesar de nos mostrar muitas das maravilhas naturais do Hawaii, se afasta bastante do imaginário turístico. Um único senão: a utilização da voz-off para a narração na primeira pessoa, a denotar uma certa preguiça na transcrição da obra literária para o grande écran. Mas, de uma maneira global, estamos aqui em presença de um filme muito agradável de se olhar, apesar dele se desprender uma certa tristeza. Mas se o filme é por vezes triste, mesmo sombrio, os toques humorísticos conseguem dar-lhe a volta e torná-lo numa comédia dramática, original e refrescante.
Alexander Payne é, sem qualquer dúvida, um cineasta a ter em conta. Quer pelos filmes já realizados quer sobretudo pelas boas expectativas geradas. Aguardam-se os próximos capítulos. Entretanto, é já na madrugada da próxima segunda-feira, dia 27 de Fevereiro, que se realiza a cerimónia de entrega dos Óscares da Academia. Parece que Billy Crystal volta a ser o desejado anfitrião, e "The Descendants" encontra-se nomeado para 5 estatuetas: Filme, Realização, Montagem, Argumento-Adaptado e Actor Principal (George Clooney). Que injustiça Shailene Woodley não ter sido indigitada para melhor actriz secundária, tal como aconteceu nos Globos de Ouro. Felizmente que a jovem actriz tem já arrecadados diversos prémios em outros certames de cinema, quase todos atribuídos por associações de críticos: San Diego Film Critics, National Board of Review, Hollywood Film Festival, Hamptons International Film Festival, Florida Film Critics Circle, Dallas-Fort Worth Film Critics, para além de numerosas nomeações, numa demonstração inequívoca da sua grande revelação neste filme.
(NOTA: O filme veio a vencer apenas o Óscar do melhor Argumento-Adaptado) 

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

ANIVERSARIANTES DA SEMANA

Dia 20:  Sidney Poitier (85 anos)
Dia 20:  Mike Leigh (69 anos)
Dia 20:  Richard Beymer (74 anos)
Dia 20:  Peter Strauss (65 anos)
Dia 20:  Jennifer O'Neill (64 anos)
Dia 21:  Alan Rickman (66 anos)
Dia 21:  Jennifer Love Hewitt (33 anos)
Dia 21:  Gary Lockwood (75 anos)
Dia 21:  Kitty Winn (68 anos)
Dia 21:  Bob Rafelson (79 anos)
Dia 22:  Drew Barrymore (37 anos)
Dia 22:  Kyle MacLachlan (53 anos)
Dia 22:  Julie Walters (62 anos)
Dia 22:  Jonathan Demme (68 anos)
Dia 22:  Miou-Miou (62 anos)
Dia 23:  Dakota Fenning (18 anos)
Dia 23:  Peter Fonda (72 anos)
Dia 23:  Paul Morrissey (74 anos)
Dia 24:  Billy Zane (46 anos)
Dia 24:  Edward James Olmos (65 anos)
Dia 24:  Dennis Waterman (64 anos)
Dia 24:  Emmanuelle Riva (85 anos)
Dia 25:  Diane Baker (74 anos)
Dia 25:  Neil Jordan (62 anos)
Dia 25:  Tom Courtenay (75 anos)

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

PORTFOLIO - "THE PARTY" (1968)


THE PARTY (1968)

FESTA DE LOUCOS
Um filme de BLAKE EDWARDS





Com Peter Sellers, Claudine Longet, Steve Franken, Stephen Liss, Fay McKenzie, Denny Miller, Gavin MacLeod, etc.

EUA / 99 min / COR / 16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 4/4/1968
Estreia em PORTUGAL a 5/4/1969

Hrundi V. Bakshi: «Birdie num num»

Este filme é como uma aspirina, que deve ser deixada sempre à mão, para tratamento urgente de stress, mau humor, irritação e outras pancadas que tais. E o melhor de tudo é que resulta, todas as vezes a que a ele recorremos. Comédia delirante, bem representativa dos anos 60, esta é das obras de Blake Edwards aquela que mais se aproxima do universo de um Jacques Tati, nomeadamente da sequência do restaurante de “Play Time” [1967], filme claramente assumido por Edwards como inspiração-base: «Adoro esse filme. Se consegui transferir toda essa adoração para “The Party" não tenho a certeza. Quando era garoto absorvia também todos os filmes de Laurel & Hardy, juntamente com tantos outros daqueles grandes filmes mudos. Provavelmente é todo esse conjunto de referências que usei neste filme.»


Deliciosamente anarquista, rico em observações sociais, “The Party” (“Festa de Loucos” na tradução original portuguesa, mais tarde abreviada para “A Festa”) percorre todo um encadeado de gags non stop que têm lugar dentro de uma faustosa mansão de um produtor de Hollywood na qual se realiza uma festa para a qual é convidado por engano um infeliz actor indiano, Hrundi V. Bakshi, que tinha sido despedido alguns dias antes durante a rodagem de um filme. A personagem é desempenhada, com sotaque incluído, pelo genial actor inglês Peter Sellers, que atinge aqui o apogeu máximo de toda a sua comicidade. Há ainda quem veja em “The Party” uma paródia ao filme “La Notte”, de Michelangelo Antonioni, devido à sua estética fria e geométrica, ou ainda ao aborrecimento reinante nos convidados (que Bakshi se encarregará de subverter…)

Autor de rádio e televisão, argumentista, principalmente de Richard Quine, realizador de uma meia dúzia de filmes na década de 50, Blake Edwards encontrou o seu estilo na comédia dos anos 60. Um estilo que ele explicava do seguinte modo: «Por mim esforço-me por elevar o nível de slapstick e por simplificá-lo, caminhando no sentido natural.» "The Party" é uma homenagem antológica ao burlesco, um filme em que o elemento dramático se encontra reduzido à expressão mínima ou mesmo inexistente. Logo desde a sequência que serve de prólogo se adivinha o tom geral do filme: o corneteiro que se obstina em prolongar a vida no campo de batalha apesar de alvejado massivamente por todos à sua volta e que de seguida faz explodir inadvertidamente o cenário principal. Longe de ser um idiota, é pela sua falta de jeito, timidez e uma certa ingenuidade que o personagem de Peter Sellers nos conquista desde logo.

Hrundi V. Bakshi é suficientemente lúcido para se aperceber da sua má adaptação às situações mais corriqueiras, equivalente a um paquiderme em loja de porcelana. Aliás, um pouco pior, pois o elefante-bébé que é alvo das atenções gerais no final, consegue mesmo assim comportar-se melhor que o nosso herói. E no entanto, Bakshi enfrenta todos os contratempos com fleuma e dignidade, sempre com um sorriso nos lábios, tentando dar a volta às situações embaraçosas que vai criando (no mínimo afastando-se para bem longe, para o fundo do jardim). Tarefa inglória, conforme o desenrolar do filme nos vai dando a perceber. O efeito das boas intenções de Bakshi é o de um dominó em queda vertiginosa, sempre imprevisível e hilariante, e que inevitavelmente irá desembocar num final caótico.

Esse caos, na perspectiva de Blake Edwards, tem forçosamente de ser desencadeado para nivelar as divergências sociais presentes, numa intenção claramente alegórica. Depois de Bakshi caír na piscina, é levado para um quarto do piso superior afim de mudar de roupa (vestem-lhe um roupão vermelho do dono da casa), depois de o fazerem ingerir uma bebida alcoólica (algo a que ele não estava de todo habituado). Pouco depois descobre Michèle (Claudine Longet) em pranto, por causa das tentativas do seu agente em a seduzir, e consola-a à sua maneira muito peculiar. Os dois descem depois ao andar de baixo, dispostos a disfrutar ao máximo da festa em curso.

Entretanto há uma troupe de bailarinos russos a dançar o kalinka e a filha dos donos da casa aparece com os amigos, acompanhados por um elefante-bébé, pintado com diversos slogans dos sixties. Bakshi indigna-se por tal humilhação num animal que é sagrado na Índia e resolvem então lavá-lo, o que tem como consequência que as bolhas de sabão se vão espalhando pouco a pouco, acabando por encher todo o salão. A festa torna-se então completamente caótica, mas, simultaneamente, acaba com a hierarquia do status social que esteve na sua origem. No caos das bolas de sabão já não existem grandes diferenças e todos acabam de igual modo, completamente encharcados.

“The Party” é ainda hoje, mais de 40 anos depois, uma jóia rara de humor inteligente, por vezes corrosivo, mas que jamais cai na vulgaridade. E mesmo que já o tenhamos visto dezenas de vezes (como é o meu caso) o prazer é sempre enorme. Podemos conhecer todos aqueles gags e situações de cor e salteado, mas a sua antevisão deixa-nos sempre ansiosos para os revermos de novo. Quem poderá esquecer o episódio do sapato navegador que acaba numa travessa de aperitivos («I’m on a diet, but the hell with it»), o criado que vai bebendo cocktail atrás de cocktail (Steve Franken noutro desempenho memorável), o bilhar a três («howdy partner»), a desastrosa sequência na casa de banho, aquele caótico e indescritível jantar, (mal) servido pelo mesmo criado (já completamente embriagado), a alimentação do papagaio («birdie num num», frase que foi adoptada por todo o elenco para se cumprimentarem no dia-a-dia) e tantos outros momentos de antologia? E depois há a maravilhosa Claudine Longet a cantar (“Nothing To Lose”) e a encantar-nos. A nós, espectadores e a um Peter Sellers imobilizado, incapaz de ir satisfazer uma urgente necessidade fisiológica…