INTERNATO DE RAPARIGAS Um Filme de NARCISO IBÁÑEZ SERRADOR
Com Lilli Palmer, Cristina Galbó, John Moulder Brown, Maribel Martin, Mary Maude, Cándida Losada, etc. ESPANHA / 99 min / COR / 16X9 (2.35:1) Estreia em ESPANHA em Dezembro de 1969 Estreia nos EUA (San Francisco) a 24/3/1971
Lili Palmer possui e dirige uma escola para meninas rebeldes em França. A sua absoluta disciplina promoveu uma ordem social entre as habitantes da escola, com sexo, lesbianismo e tortura. Palmer também tem um filho jovem, que tenta manter afastado das jovens para não ter relações sexuais, explicando-lhe que ele tem de esperar por uma rapariga tal e qual a sua mãe. Entretanto, as jovens começam a ser assassinadas uma a uma... Repressão é a ordem do dia em "The House That Screamed", também conhecido como "La Residencia" na língua original, um filme de terror do espanhol Narciso Ibáñez Serrador, que influenciou as obras posteriores de Dario Argento, como "Suspiria". No entanto, esta é uma obra-chave bem menor do que esses filmes de Argento, com as paixões ardentes das personagens a deflagrarem intensamente, entrando em erupção em sequências intensas, algumas das quais incluem assassinato. Serrador também foi o autor do argumento.
Narciso Ibañez Serrador já era um realizador muito respeitado no seu país antes do lançamento deste filme, a sua primeira obra para o cinema, sendo ele realizador da popular série para TV “Historias Para No Dormir”, que durou 18 anos na televisão espanhola, e teve um grande impacto na indústria de terror deste país. Embora fosse considerado um dos melhores auteurs no seu país, era praticamente desconhecido fora de Espanha, facto que mudou depois do lançamento deste filme. Era um projecto muito ousado para a sua época, já que era um filme com muita violência gráfica e muitas conotações sexuais. Na altura o país estava sobre a ditadura de Francisco Franco, que manteve uma rigorosa censura durante o seu governo, que já vinha desde 1936 e que se prolongar-ía até 1975. A sexualidade também estaria muito presente, principalmente em insinuações lésbicas, que eram um tabu para aquele tempo.
Com Rex
Harrison, Susan Hayward, Cliff Robertson, Capucine, Edie Adams, Maggie Smith,
Adolfo Celi, etc.
EUA-ITÁLIA / 132 min /
COR / 16X9 (1.85:1)
Estreia na GRÃ-BRETANHA (Londres) a 21/3/1967
Estreia nos EUA (Nova Iorque) a 22/5/1967 Estreia em MOÇAMBIQUE (LM, Teatro Manuel Rodrigues) a 23/12/1967
"The Honey Pot / O Perfume do Dinheiro" baseia-se,
em princípio, no Volpone de Ben Johnson, dramaturgo contemporâneo de
Shakespeare. Por Volpone começa aliás: num teatro de Veneza, Mr. Cecil Fox (Rex
Harrison) assiste à representação privada da farsa de Johnson, durante a qual
Volpone e o seu criado Mosca resolvem simular a morte do primeiro para assim
enganar os herdeiros. Na peça, Volpone acaba por ser enganado pelo cúmplice,
que, aproveitando-se do testamento, acaba por receber a herança e desalojar o
proprietário. No filme, Mr. Fox não acaba sequer de assistir à representação,
que interrompe a meio do terceiro acto. No seu palácio veneziano, irá também
Mr. Fox simular a sua morte, convidando para assistir aos seus últimos minutos,
três mulheres outrora ligadas à sua vida: uma princesa, Dominique (Capucine),
uma actriz de Hollywood, Merle McGill (Edie Adams), que ele próprio fez subir
na vida, e uma americana milionária, Mrs. Sheridan (Susan Hayward), que se vem
a saber depois tratar-se da sua legítima mulher. Para o papel de Mosca (criado
e confidente), Mr. Fox escolhe um actor desempregado de nome William McFly
(Cliff Robertson). Distribuídos os papéis e planeado o argumento, corre o pano
e inicia-se a acção: diz Mr. Fox que pretende, através desta comédia palaciana,
saber até que ponto o dinheiro influi na vida das pessoas, até que ponto uma
possível herança pode alterar um comportamento. Não iremos aqui revelar o
evoluir dos acontecimentos (até para respeitar quem nunca assistiu ao filme);
diremos simplesmente que poucas vezes se nos tem deparado um argumento (da
autoria do próprio Mankiewicz, e baseado na novela de Thomas Sterling e na peça de Frederick Knott) tão bem construído, tão inteligentemente
urdido, tão ardilosamente desenvolvido.
Até cerca do intervalo, o filme desenrola-se definindo as
personagens e fazendo engrenar as diferentes peças do mecanismo posto a girar
pela vontade de Mr. Fox. Depois, assistimos então a uma encarniçada luta pelo
dinheiro. Cada uma das três pretendentes oferece a Mr. Fox um relógio. A
princesa traz uma ampulheta que, em vez de areia, tem no seu interior ouro em
pó; a actriz, um relógio múltiplo, marcando as horas simultâneamente em
diversas cidades do mundo; a terceira, uma relíquia outrora comprada pelo
próprio Mr. Fox. No quarto do hipotético moribundo faz-se ouvir portanto o
tic-tac ritmado que assinala as horas de espera dos abutres, que anseiam por se
lançar sobre a vítima. A presença do tempo, como realidade física, e a única coisa que tem realmente valor na vida de todos nós, é outra das
virtudes desta obra, atravessada de ponta a ponta por um humor negro e muitas vezes cruel.
Costuma dizer-se que uma obra de arte é um todo
indestrutível. Pelo menos para a verdadeira obra de arte torna-se capcioso
tentar destrinçar aspectos de uma mesma realidade que o artista pensou e
realizou em simultaneidade. E o filme de Mankiewicz volta a provar-nos a
justeza dessa premissa. Pensado como obra, "The Honey Pot"
impõe-se como obra, completa, perfeita, acabada. Tudo se conjuga para que assim
seja. Os décors sumptuosos de palácios venezianos (da autoria de Boris Juraga e
Paul S. Fox), o granulado admirável de uma fotografia colorida sem igual
(último trabalho de um dos maiores fotógrafos de todos os tempos, Gianni di
Venanzo, que faleceu precisamente enquanto rodava este filme), a elegância e a
maleabilidade de uma mise-en-scène pensada em função dos personagens e
ambientes definidos, tudo conjugado por Mankiewicz adquire uma tonalidade muito
pessoal, um significado de verdadeira obra de auteur.
Na interpretação há a destacar um conjunto de actores
inultrapassáveis de intenção e rigor. Rex Harrison não é só o actor que nós já
conhecíamos, sobretudo de "My Fair Lady"; Cliff Robertson descobre-se numa figura notável de composição;
Susan Hayward mostra-nos como o passar dos anos não tem qualquer importância quando se trata de talento puro; Edie Adams é a actriz
histérica e nevrótica que Hollywood formaria certamente no seu seio; Capucine
possui o charme de uma verdadeira princesa e o talento de uma grande actriz; e que dizer da magnífica Maggie Smith, aqui uma jovem actriz de 32 anos e ainda nos inícios da sua longa e brilhante carreira? Finalmente, Adolfo Celi é o rival italiano de Perry Mason, cuja presença se torna
imprescindível para a completa compreensão da comédia. "The Honey
Pot" é na verdade, e ainda hoje, uma película admirável, de tal modo rica,
exuberante, explosiva, simultâneamente divertida e cruel, elegante e brutal,
irredutível a esquemas e convenções que, por muito que tentemos tudo dizer,
muito haveria sempre a dizer. Mas não será, afinal, esta uma forma de lhe
rendermos homenagem?
Com Himesh
Patel, Lily James, Sophia de Martino, Ellise Chappell, Harry Michel, Joel Fry,
etc.
GB-EUA / 116 min / COR / 16X9 (2.39:1)
Estreia nos EUA (Tribeca Film Festival), a 4/5/2019
Estreia em PORTUGAL a 27/6/2019
Há muito que um trailer não suscitava tanto interesse para
se assistir a um filme. Um mundo sem os Beatles? Ou, melhor ainda, sem a música
dos Beatles? Genial, a premissa! E todos nos interrogavamos como é que ninguém
tinha pensado nisso antes. Pensamento errado, como se viria a constatar. O que
todos nos devíamos ter questionado era como tal ideia seria transposta para a
tela. A conclusão chegou depressa, até muito antes do filme acabar. Afinal
tinha sido uma ideia genial desbaratada em pouco tempo, uma desilusão enorme
que nem a melhor música do mundo conseguiu salvar do naufrágio.
E tudo apontava em sentido contrário, dados os antecedentes
das pessoas envolvidas no projecto. O realizador, Danny Boyle, tínha-nos dado
alguns filmes interessantes ("Trainspotting" em 1996, "28 Days
Later..." em 2002, ou o largamente oscarizado "Quem Quer Ser Milionário",
em 2008). E o argumentista, Richard Curtis, tinha escrito e realizado esse
filme já clássico chamado "Love Actually/O Amor Acontece". Mas nada
funcionou aqui. Em vez de agarrarem com ambas as mãos a brilhante ideia de Jack
Barth (o autor da história) e nos tentassem mostrar um mundo sem a influência
directa dos Beatles (sim, porque não foi só na música que os 4 de Liverpool mudaram
a nossa maneira de estar e de viver, sobretudo todos quantos cresceram com
eles), enveredaram pela comédia fácil, repleta dos clichés habituais. E mesmo
quando quiseram ser originais meteram "a pata na poça", como naquela
patética cena em que resolveram "ressuscitar" um John Lennon de 78
anos de idade. Resta, claro, a música dos Beatles, mesmo sendo mal tocada e
cantada. Mas isso apenas prova, se ainda fosse necessário, que essa música é
intemporal e resiste a todos os cataclismos.
FRANÇA / 91 min / P&B / 16x9 (1.66:1) Com Jeanne Moreau, Maurice Ronet, Georges Poujouly, Yori Bertin, Yván Petrovich, Elga Andersen, Lino Ventura, Charles Denner, etc. Estreia em FRANÇA a 29/1/1958 Estreia em PORTUGAL a 4/5/1959
Vencedor do Prémio Louis Delluc, para o melhor filme francês rodado em 1957 (entre Setembro e Novembro), “Ascenseur Pour L’Échafaud / Fim-de-Semana no Ascensor” é a primeira longa-metragem de Louis Malle, realizada logo após o realizador ter trabalhado com Jacques Cousteau no documentário “Le Monde du Silence”. Malle tinha na altura 25 anos e esta sua estreia é vista como cartão de visita à introdução da Nouvelle Vague no cinema francês. O filme aborda uma intriga policial em ambientes “à americana”, enveredando por um ambiente de film-noir, em que o pano de fundo é magistralmente pautado pelo trompete de Miles Davis, convidado expressamente por Malle para compor a banda sonora. O músico gravaria toda a música em poucas horas, numa madrugada que duraria até às 5 da manhã, acompanhado por um quarteto de músicos franceses e americanos.
“Ascenseur Pour L’Échafaud” é um thriller bastante original, no qual Julien Tavernier (Maurice Ronet), fruto de um descuido após assassinar o patrão, negociante de armas e marido de Florence, a sua amante (Jeanne Moreau), fica preso no elevador do edifício, tentando contornar o destino. Os caminhos que irão conduzir ao desfecho desse destino, que desde muito cedo se adivinha inevitável, serão percorridos por outros personagens numa história paralela, que se irá entrelaçar com o tema principal. Jeanne Moreau, que percorre as ruas de Paris durante grande parte do desenrolar do filme, é filmada admiravelmente por Louis Malle, que contrapõe planos gerais a belíssimos grandes planos do rosto da actriz (sem make-up), pontuado por uma complexidade de emoções, em que o desespero assume o papel principal. Curiosamente, os dois principais personagens nunca são filmados juntos, apenas comunicam por telefone no início do filme e são vistos em fotografias no final.
"Ascenseur Pour L’Échafaud" é o filme que lança Jeanne Moreau para o estrelato (nesse mesmo ano de 1958 a actriz seria de novo filmada por Malle em “Les Amants”), e marca um ponto de viragem, numa altura em que vários criadores da Nouvelle Vague se afirmavam no panorama do cinema francês - logo no ano seguinte, 1959, seriam rodadas as primeiras longas-metragens de Godard (“À Bout de Souffle”), Truffaut (“Les Quatre-Cent Coups”) e Alain Resnais (“Hiroshima, Mon Amour”).
A FERA HUMANA Um Filme de JEAN RENOIR ComJean Gabin, Simone Simon, Fernand Ledoux, Blanchette Brunoy, Gérard Landry, etc.
FRANÇA / 100 min / P&B / 4X3 (1.37:1)
Estreia em FRANÇA a 23/12/1938 Estreia em PORTUGAL a 7/11/1939
"La Bête Humaine / A Fera Humana", realizado em 1938, conta a história de um subchefe de estação, Roubaud (Fernand Ledoux), que, depois de ter discutido com um superior, teme ser despedido. Pede então à sua jovem esposa, Séverine (Simone Simon), que intervenha junto do "grande patrão", um vago padrinho que ela conhecera na adolescência e que a mãe conhecera ainda melhor. Quando Séverine regressa, tudo fica resolvido, mas, adivinhando o preço que foi pago, Roubaud fica louco de ciúmes e põe de pé uma maquinação pela qual acaba por matar o padrinho sob o olhar de Séverine, no comboio entre Paris e Le Havre. No comboio. o casal homicida foi visto por Jacques Lantier (Jean Gabin), empregado dos caminhos-de-ferro. No decurso da investigação policial, Roubaud encarrega Séverine de assegurar o silêncio de Lantier e, naturalmente, tornam-se os dois amantes. Pouco a pouco, Lantier vai adivinhando, ou descobrindo, a verdade. Séverine gostaria que Lantier matasse Roubaud, com quem, depois do homicídio, a vida conjugal se tornou impossível. Lantier, decididamente, não consegue matar Roubaud, mas estrangula Séverine durante um atque de loucura e atira-se para o vazio, na manhã seguinte, a partir da locomotiva da qual era o mecânico-chefe.
No romance de Émile Zola, Jacques Lantier estava no campo a ver o comboio passar e avistava, num clarão, o gesto criminoso de Roubaud, assistido pela sua mulher. Foi Jean Renoir quem decidiu colocar Lantier no corredor do comboio, fazendo-o vislumbrar a cúmplice. Esta invenção de Renoir foi adoptada por Fritz Lang quando foi levado a realizar um remake do filme (1854), em Hollywood, com o título "Human Desire / Desejo Humano". Uns anos antes, Fritz Lang havia já calçado as botas de Renoir, ao rodar "Scarlet Street / Almas Perversas", um remake de "La Chienne" (1931). Bem vistas as coisas, parece que Jean Renoir e Fritz Lang tinham em comum o gosto por um mesmo tema: marido velho, mulher jovem e amante. Jean Renoir e Fritz Lang têm também em comum uma predilecção pelas actrizes-gatas, as heroínas de tipo felino. Gloria Grahame é a réplica ianque perfeita de Simone Simon, e Joan Bennett foi uma heroína tanto de Renoir quanto de Lang. E as comparações ficam-se por aqui, porque o autor de "La Bête Humaine" e o de "Human Desire" não procuram a mesma coisa.
Sobre o romance de Zola, Jean Renoir operou o que convencionalmente se designa ascese; recentemente, deu explicações a esse respeito: «O que me ajudou a fazer "La Bête Humaine" foram as explicações dadas pelo herói sobre o seu próprio atavismo; disse para comigo: não será tão belo, mas, se um homem com a beleza de Jean Gabin disser isto num exterior, com muito horizonte em fundo e talvez até com vento, pode ser que ganhe algum valor. Foi a chave que me ajudou a fazer este filme.» É assim que trabalha Jean Renoir, em busca de um equilíbrio constante: um pormenor humorístico compensa um sublinhado trágico; nuvens a correrem nas costas de Gabin contando o seu "mal", locomotivas a passarem atrás da janela do quartinho onde Fernand Ledoux começa a desconfiar da mulher. "La Bête Humaine" é, provavelmente, o melhor filme de Jean Gabin. «Jacques Lantier interessa-me tanto quanto Édipo Rei», disse Renoir deste drama que Claude Givray descreve perfeitamente: «Há o filme triângulo ("Le Carrosse d'Or / A Comédia e a Vida"), o filme círculo ("The River / O Rio Sagrado") e "La Bête Humaine", que é um filme em linha recta, isto é, uma tragédia.»(François Truffaut)
CURIOSIDADES:
-Jean Gabin aprendeu a conduzir locomotivas de propósito para o filme
-"Lison", o nome que Lantier dá à sua locomotiva, é também o nome de uma estação entre Paris Saint Lazare - Cherbourg, bem como um rio na França Oriental