Um filme de JOEL e ETHAN COEN
Com Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper
EUA / 110 min / COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA a 14/12/2010 (New York)
Estreia em PORTUGAL a 17/2/2011
Mattie Ross: «Why did they hang him so high?»
Rooster Cogburn: «I do not know. Possibly in the belief
Rooster Cogburn: «I do not know. Possibly in the belief
it'd make him more dead»
Esta primeira incursão dos irmãos Coen ao universo do western (se bem que o excelente “No Country For Old Men” já percorra muitos dos mitos desse género americano por excelência) fica um pouco aquém das expectativas, sobretudo da parte de quem se habituou a esperar sempre o melhor dos irmãos, por causa da sua filmografia, rica e contrastada. Baseado no livro de Charles Portis de 1968, esta segunda adaptação bate no entanto aos pontos o filme de 1969, protagonizado pelo imutável John Wayne (que ganharia por esse trabalho menor o único Oscar da sua carreira. Muito injustamente, refira-se, se nos lembrarmos que nesse mesmo ano Dustin Hoffman e Jon Voight eram também candidatos pelos seus brilhantes desempenhos em “Midnight Cowboy”).
Os Coen fazem aqui uma nova leitura do romance de Portis, expurgando-o dos contornos sentimentais e aventureiros (que o primeiro filme pelo contrário realçava), interessando-se muito mais pelo lado dramático. E esta nova remake tem uma vantagem crucial sobre o filme de Hathaway, que é o aproveitamento do capítulo final da obra literária: passados 25 anos sobre os acontecimentos ocorridos, Mattie Ross (Hailee Steinfeld, uma jovem e promissora actriz, nascida em 1996) vem resgatar o corpo de Rooster Cogburn (Jeff Bridges, que parece ter sido um marshal bêbado durante toda a vida) para o enterrar junto à campa do pai. Este fecho de círculo tem toda a razão de ser mostrado, uma vez que foi a vingança do assassinato do seu progenitor que levou Mattie a conhecer Rooster e a viver aquela aventura da sua adolescência.
A visão que os irmãos Coen nos dão do Oeste selvagem difere consideravelmente do universo dos filmes do Duke, indo colher influências directamente aos filmes mais clássicos de Clint Eastwood (spaghettis à parte), onde não existe uma dicotomia tão acentuada entre os bons e os maus da fita. Quer Rooster quer LaBoeuf (Matt Damon) são meio patifes meio cínicos e a sua bravura só se manifesta a espaços, como que consequência indesejada do evoluir das situações. E veja-se a caracterização da grande maioria dos outlaws, que nos são apresentados sob prismas meramente humanos, não se distinguindo claramente dos seus perseguidores.
Como já referido, estamos portanto diante de um bom western clássico, longe dos cânones italianos, mas que Ethan e Joel Coen não conseguiram elevar a patamares mais consistentes. A sensação é a de que algo se perdeu ali pelo meio, onde certas sequências se arrastam e outras passam depressa demais, denotando uma certa falta de equilíbrio. Não quero no entanto deixar de realçar "a" sequência que me fará recordar para sempre este filme – aquela caminhada inesquecível de Cogburn com Mattie nos braços numa noite emoldurada por um céu de estrelas cintilantes. Essa tentativa de salvação, mesclada de fé e perseverança, que o rosto de Bridges denuncia lapidarmente, é o ponto alto (altissimo) deste “True Grit” dos Coen. E parece concluir o que faltou escrever na citação do início do filme («Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los»): «Mas os justos são ousados como um leão.»
CURIOSIDADES:
- Apesar de Rooster Cogburn ser descrito no livro como um homem de 40 anos, quer James Bridges quer John Wayne já se encontravam nos sessentas quando interpretaram a personagem (Bridges com 60 e Wayne com 62)
- "True Grit" foi o primeiro filme dos irmãos Coen a ultrapassar a receita de 100 milhões de dólares nos EUA.
- Nomeado para um total de 10 Óscares - Filme, Realização, Argumento, Direcção Artística, Cinematografia, Guarda-Roupa, Edição e Mistura de Som, Actor Principal (Jeff Bridges) e Actriz Secundária (Hailee Steinfeld) – o filme acabaria por não conseguir qualquer estatueta. No entanto o trabalho desta última viria a ser distinguido com diversos prémios da Crítica, bem como Roger Deakins, o responsável pela excelente cinematografia.
2 comentários:
Também eu esperava mais deste último dos Coen. Mas em tempo de "vacas magras" é um filme muito bem vindo, que se vê com inegável prazer. E a cena que destacas é realmente... fabulosa!
Dos "nomeados" era o mais interessante.
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