Um filme de ROMAN POLANSKI
Com Harrison Ford, Emmanuelle Seigner, Betty Buckley, John Mahoney, Gérard Klein, Dominique Virton
EUA-FRANÇA / 120 min / COR / 16X9 (1.85:1)
Estreia nos EUA a 26/2/1988
Estreia em PORTUGAL a 2/9/1988
Richard Walker: «This is an emergency. Do you understand?»
U.S. Security Officer: «Yes, sir, I do»
Richard Walker: «You understand but you don't give a damn? Is that it?»
Richard Walker: «You understand but you don't give a damn? Is that it?»
“Frantic” é um daqueles filmes que estou sempre pronto a rever, apesar das muitas vezes a que a ele já assisti. Porque efectivamente não se trata de um filme cuja história tenha grande importância - o seu grande virtuosismo está antes no modo de nos apresentar situações. Situações extraordinárias vividas por um personagem vulgar. Não sei se foi intencional da parte de Roman Polanski, mas este “Frantic” é na sua génese um filme hitchcockiano por excelência. São várias as obras do mestre do suspense que nos vêm inevitavelmente à memória, nomeadamente “The Lady Vanishes”, “North By Northwest” ou “To Catch a Thief”, apenas para citar os exemplos mais óbvios. Até temos direito a um verdadeiro McGuffin (que aqui tem o nome de Krytron), algo que todos perseguem mas que na realidade não passa de um pequeno extra secundário, sem grande interesse para o desenvolvimento do filme.
Um médico cardiologista de San Francisco, o Dr. Richard Walker (Harrison Ford num dos momentos mais altos da sua carreira), chega a Paris, acompanhado pela mulher, Sondra (Betty Buckley), afim de apresentar uma conferência na cidade-luz. Vêm cansados da viagem e desejam instalar-se rapidamente para poderem usufruir do desejado descanso. Logo desde os créditos iniciais (apresentados com a estrada matinal como fundo) que Roman Polanski vai preparando o espectador para o que está para vir. O tema musical de Ennio Morricone dá também uma ajuda e o furo do táxi às portas da cidade só vem acentuar os piores presságios. Não há já qualquer dúvida que estamos metidos num filme de Polanski, cineasta que é um verdadeiro mestre na construção de um clima premonitório de inquietação. A primeira meia-hora de “Frantic” é disso um excelente exemplo.
Depois de feito o check-in no Grande Hotel, e já no quarto, o casal descobre que trouxeram do aeroporto a mala errada. Após telefonar para o depósito de bagagens do terminal, Walker encomenda o pequeno-almoço e vai tomar um duche. Vemos Sondra atender um telefonema (inaudível por causa do barulho da água do chuveiro), mas quando ele regressa ao quarto a mulher não se encontra presente. Pouco preocupado com a situação, Walker instala-se na cama, coloca os tabuleiros entretanto levados ao quarto e pega nos jornais do dia para esperar pelo regresso da mulher. Mas esta tarda em voltar e Walker acaba por adormecer.
O despertar, algum tempo depois, vem acompanhado por uma sensação crescente de inquietude, que rapidamente se transforma em alarme quando finalmente Walker se apercebe que Sondra pura e simplesmente desapareceu. Do quarto, do hotel, e sem qualquer razão aparente. O passo seguinte é alertar a polícia mas as dificuldades começam a surgir de todo o lado, até porque Walker não fala francês e da cidade tem apenas a vaga memória da lua-de-mel lá passada há muitos anos. Ou seja, e à boa maneira dos filmes de Hitchcock, estamos perante um protagonista que vai em breve ser obrigado a agir, a enfrentar uma série de situações para as quais não se encontra minimamente preparado.
Escrito por Polanski de parceria com Gérard Brach, o filme vai relatar a busca de Walker pela mulher nos meandros do submundo de Paris. Uma busca por conta e risco próprios, dada a série de burocracias com que vai tropeçando a cada passo. Cabe aqui referir, uma vez mais, toda a mestria da mise-en-scène de Polanski que progressivamente vai levando o espectador a identificar-se com aquele homem, meio indefeso meio desajeitado, dependente em demasia da mulher, mas que não vai ter outro remédio senão o de ir buscar forças dentro de si próprio, onde por hábito lhes desconhecia a existência. Rapidamente Walker vê-se envolvido numa aparente rede de contrabando e as peripécias vão-se sucedendo a um ritmo sempre crescente. As suas andanças levam-no a Michelle (Emmanuelle Seigner, actriz que se viria a casar com Polanski no ano seguinte, e que tem aqui a sua estreia como intérprete principal), a pessoa que tinha ficado com a mala do casal por engano e que acaba, também ela, por se ver envolvida em toda aquela teia de espionagem e crime. O aparecimento desta nova personagem, um misto de mulher e de criança, meio ingénua meio sofisticada, vai inflectir o rumo do filme que abandona o clima de mistério para mergulhar decisivamente no campo do thriller, até ao trágico desenlace final junto ao Sena.
“Frantic” foi apenas o segundo filme que Roman Polanski realizou durante toda a década de 80. Depois de um menor e inócuo “Pirates”, filmado dois anos antes, em 1986, o realizador acertava em cheio neste thriller nervoso e apaixonante, que mais de vinte anos depois permanece como um dos seus melhores filmes, apesar da pouca aceitação que sempre teve junto à crítica dita especializada. Para além da mestria da realização, “Frantic” tem em Harrison Ford um trunfo crucial, atendendo ao brilhante desempenho do consagrado actor neste filme, que através da insegurança da sua personagem consegue estabelecer uma identificação total com o espectador.
2 comentários:
amooooooooo esse filme, já assisti seguramente mais de 20x, um dos meus preferidos, concordo com sua opinião :)
As críticas a esse filme sempre me parecem injustas. Coloco-o entre os melhores dirigidos por Polanski, não falta nem sobra um fotograma, justo como uma luva. E a sequência inicial é inesquecível!
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