Um filme de THOMAS McCARTHY
Com Richard Jenkins, Haaz Sleiman, Danai Gurira, Hiam Abbass, etc.
EUA / 104 min / COR /
16X9 (1.85:1)
Estreia no Canadá a 7/9/2007
(Festival Internacional de Toronto)
Estreia nos EUA a 23/1/2008
(Sundance Film Festival)
Estreia em Portugal em 17/02/2009
He was a good man, a good person. It's not fair!
We are not just helpless children!
He had a life! Do you hear me? I mean, do YOU hear ME?
What's the matter with you?»
Thomas McCarthy é um actor e realizador norte-americano de 45 anos (nasceu a 30 de Janeiro de 1966, em New Jersey), que se estreou atrás das câmaras em 2003 com “The Station Agent”. Não conheço esse seu primeiro filme mas este “The Visitor”, apresentado pela primeira vez no Festival Internacional do Filme de Toronto a 7 de Setembro de 2007, é um bom augúrio para o futuro. Rodado entre Setembro de 2006 e Março de 2007, com argumento do próprio McCarthy, o filme fala-nos de Walter Vale (Richard Jenkins), um professor universitário de Connecticut. Sexagenário, viúvo, sem grandes perspectivas para o futuro, Walter habita a solidão e a tristeza de uma casa vazia, onde até as tentativas, frustradas, de aprender a tocar o piano deixado pela mulher (que tinha sido uma exímia executante) não conseguem atenuar todo o aborrecimento em que a sua vida se tornou.
Tudo irá mudar quando Walter é enviado a Nova Iorque para participar numa conferência sobre Política Global de Desenvolvimento. Quando chega ao seu apartamento descobre, atónito, que o mesmo tinha sido alugado por uma interposta pessoa a um jovem casal de imigrantes: Tarek Khalil (Haaz Sleiman), um músico sírio, e a sua companheira Zainab (Danai Gurira), de origem senegalesa. Passado o equívoco inicial, Walter acaba por permitir a permanência temporária do casal no apartamento. A situação vai-se arrastando, até porque uma relação de amizade se vai imiscuindo entre os três. Walter sente-se atraído pela música que Tarek executa no seu tambor africano, começando a respectiva aprendizagem até se sentir à vontade a tocar com ele em exibições públicas nos parques e ruas de Nova Iorque. Um dia, um mal-entendido numa estação de metro, leva à detenção de Tarek, que é enviado para uma prisão de repatriamento de imigrantes ilegais.
A partir daqui “The Visitor” coloca o dedo na ferida que é a política norte-americana sobre a imigração nos EUA. Consequência directa dos atentados do 11 de Setembro, tudo é metido no mesmo saco, todos os que têm um tom de pele diferente são de imediato culpabilizados e subtraídos brutalmente à vida do dia-a-dia, ao menor indício de suspeita. Como no caso relatado no filme, onde Tarek só deseja aperfeiçoar os seus dotes musicais no País que elegeu para si próprio. Por falta de notícias do filho, Mouna Khalil (belissima Hiam Abbass, actriz israelita nascida na Palestina) chega a Nova Iorque, vinda de Michigan, e a notícia da detenção de Tarek deixa-a desesperada por temer o pior.
“The Visitor” poderia facilmente resvalar no melodrama barato e caír nos velhos clichés, ao despoletar uma atracção entre Walter e Mouna, ligação essa condenada irremediavelmente ao fracasso e à separação. Mas McCarthy conduz tudo com grande subtileza e sobriedade, dando-nos um belo filme onde os afectos mais improváveis vivem lado a lado com a injustiça irracional de uma América cada vez mais paranóica. E em vez de optar pelo facilitismo, ou seja, de estender simplesmente o dedo acusatório a um problema que a cada dia que passa assume proporções mais gigantescas, McCarthy priviligia antes a dimensão humana desse problema, integrando-o num contexto bem mais complexo do que um simples contraste maniqueísta.
Antes de tudo o mais, “The Visitor” é um filme sobre a solidão do envelhecimento, ou seja, sobre esse estado vegetativo que na grande maioria das vezes afecta as pessoas de uma certa idade que julgam nada mais terem a provar, quer aos outros quer sobretudo a elas próprias. Walter Vale construíu uma redoma, dentro da qual só existe espaço para ele, e será apenas por um acaso fortuito e pela sua atracção natural pela música que esse espaço irá ser partilhado por outras pessoas: Tarek, Zainab, e sobretudo Mouna, a qual lhe irá despertar desejos há muito esquecidos. É esse processo regenerador, longo e difícil, que “The Visitor” nos faz acompanhar passo a passo. Não se trata de um caminho linear, antes sinuoso e percorrido por entre avanços e recuos, onde de vez em quando ainda se manifestam os antigos esquemas de comportamento de Walter. Mas desde o momento em que Mouna faz a sua entrada em cena, toda a dinâmica do cenário muda. A militância humanitária mantém-se, é certo, mas agora iluminada por uma outra luz, a de um amor delicado e impossível. E se esse romance é descontinuado por força das circunstâncias, pelo menos a inércia inicial de Walter não voltará a manifestar-se, como claramente o anuncia o plano final do filme.
Quer Thomas McCarthy quer Richard Jenkins ganharam diversos prémios com este filme, chegando este último a ser nomeado para o Oscar do Melhor Actor Principal. Não o ganhou (o vencedor foi Sean Penn no filme “Milk”), mas a sua representação ficará sem dúvida na retina dos apreciadores deste filme sereno e magnífico, entre os quais obviamente me incluo
3 comentários:
Já somos dois ;) The Visitor foi uma surpresa muito agradável e é mais uma prova de como se pode fazer bom cinema (por terras do tio Sam) sem o espalhafato do costume.
THE STATION AGENT, já agora, podes comprá-lo aqui, a um preço simbólico:
http://loja.publico.pt/products.php?product=S%C3%A9rie-Y-II-N%C2%BA-18-%252d-A-Esta%C3%A7%C3%A3o
É um bom filme.
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD – A Estrada do Cinema «
Obrigado pela dica, Roberto
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