REVOLTA NA BOUNTY
Um filme de LEWIS MILESTONE
Com Marlon Brando, Trevor Howard, Richard Harris, Hugh Griffith, Richard
Haydn, Tarita, Gordon Jackson, etc.
EUA / 178 min / COR / 16X9 (2.76:1)
Estreia nos EUA: 8/11/1962
Estreia em Portugal:
18/12/1962
Descontando séries e filmes televisivos, existem 3 versões da conhecida novela de Charles
Lederer e James Norman Hall. A original, de 1935, com Charles Laughton e Clark
Gable, a mais recente, de 1984, com Anthony Hopkins e Mel Gibson, e esta, do
início dos anos 60. Um factor comum aos três filmes são as belissimas
interpretações dos personagens de Bligh e Fletcher. Todos os seis actores são
bem representativos das respectivas épocas, talvez com Mel Gibson a ser o único
a não se enquadrar no universo de "monstros sagrados" dos restantes.
A minha dupla preferida é claramente esta, porque Trevor Howard tem um desempenho inolvidável e porque Brando... é Brando. O seu Fletcher Christian é-nos mostrado com contornos
simples e contidos, longe do over-acting
para onde por vezes o grande actor se deixava resvalar. Aqui as palavras são
substituídas por olhares, expressões e posturas, que transmitem ao espectador
todas as cambiantes da natureza do personagem. Destaco uma sequência admirável,
aquela em que o Capitão Bligh ordena a Christian que regresse a terra para
fazer amor com a filha do régulo. Este tinha ficado ofendido pela
não consumação do acto sexual da primogénita com o oficial estrangeiro; acto
esse, que o próprio Bligh tinha interrompido algumas horas antes...
O filme foi na altura da
sua estreia um grande flop comercial, apesar de muitos críticos terem realçado
a interpretação de Brando: «It takes
some time to see it as a genuine essay in characterization and not as a
misplaced caricature, but eventually it is the acting that matters, and here we
have Brando at his most commanding»
(Daily Mail); «The most remarkable and controversial feature of "Mutiny On The Bounty" is the
perfomance of Marlon Brando as
Fletcher Christian. From the moment Brando
saunters on deck of the Bounty, escorted by two "ladies of quality"
to kiss him farewell, it is obvious that he has decided to play his part as the
ringleader of the ultimate mutiny in a highly original way. His voice is light
and South Kensington in tone; his manner
sardonic; and his dress at times seems to come straight from pantomine. The
whole effect is richly comic: the perfumed dilettante dabbling in revolution
and becoming slightly over-awed and hurt by what he brings about» (Daily
Express); «The thing that makes Brando's
perfomance heroic is that he is capable of charging his contempt with moral
authority. Under the lazy skin one is always aware of a violent, affronted
conscience. No actor alive can express such outrage. He is the one who holds
the picture together» (The Observer).
À
parte do excepcional elenco (não esquecer também Richard Harris) -
surpreendente nenhum dos dois actores ter sido nomeado para o Oscar ou Globo de
Ouro -, "Mutiny On The
Bounty" apresenta-se um pouco desigual na sua estrutura fílmica, sobretudo na longa sequência
da ilha que poderia ter sido encurtada, não realçando em demasia o lado
folclórico da história. Mas compreende-se, até certo ponto, a necessidade de se
mostrar o aspecto pitoresco do Thaiti, um destino paradisíaco sempre muito em voga. Nas conjecturas dos produtores do filme, essa "atracção" suplementar iria atrair mais público às salas, mas tais expectativas revelar-se-iam goradas, não tendo conseguido o êxito esperado.
A verdadeira "atracção" suplementar desta versão de "Mutiny On The Bounty" foi,
na verdade, o romance surgido entre Marlon
Brando e a protagonista feminina. Tarita
Teriipia, uma filha de pescadores de Bora-Bora, era então uma criada de
hotel de 19 anos e tinha sido contratada como bailarina para o
filme. Durante algum tempo resistiu aos intentos de sedução por parte de Brando. Nas suas memórias, Tarita conta que quando o conheceu, não
sentiu nada: «Para mim, o papel só significava um trabalho muito bem pago». Brando, que tinha o dobro da idade de
Tarita, divorciou-se da actriz Movita Castañeda (que curiosamente
tinha desempenhado o mesmo papel na primeira versão do filme), para casar-se com
ela. Apesar de na altura Tarita ter
assinado um contrato coma MGM, Brando impediria a sua então companheira de vir
a desempenhar mais papéis no cinema. Queria-a em casa, a tomar conta dos
filhos. Em 1966 comprou-lhe uma ilha a 20 minutos de voo de Tahití, que
converteu no seu refugio privado. Tiveram dois filhos (um rapaz em 1963 e uma
rapariga em 1970) e não viveram felizes para sempre: em 1972 cada um foi para o
seu lado. Tarita não voltou a casar,
estando a caminho de completar 74 anos de idade.
- A sequência da chegada do navio ao Tahiti foi filmada no mesmo
local onde tinha aportado o verdadeiro Bounty, em 1788. Construído de propósito
para o filme (a primeira vez que tal aconteceu na história do cinema), o navio
viria a afundar-se no Oceano Atlântico em 29 de Outubro de 2012, seis anos após
ter sido usado de novo para a rodagem de um filme, "Pirates Of The Caribbean,
Dead Man's Chest" (2006). Já o tinha sido, em 1990, no filme
"Treasure's Island". Após a conclusão das filmagens, em Março de
1962, e durante 4 décadas, o navio seria objecto de visitas turísticas em S.
Petersburg, na Florida.
- Hugh Griffith foi
despedido durante as filmagens, devido ao seu estado de embriaguês permanente.
É por isso que a sua personagem "desaparece" ao longo do filme. Na
verdade, o seu comportanto atingiu tais limites, que o actor foi proibido de
regressar ao Tahiti para a rodagem das cenas finais.
- Richard Harris
aceitou desempenhar um papel secundário no filme, só para poder trabalhar com Marlon Brando, por quem tinha grande admiração. No entanto, as relações
entre os dois actores não seriam as melhores, o que levou Harris a desabafar
mais tarde: «It was a nightmarish and a total fucking disaster».
- Último filme de Lewis
Milestone. Depois deste, o realizador só rodaria alguns episódios para a TV,
incluidos nas séries "The Richard Boone Show" e "Arrest And
Trial", em 1964.
- A cena final foi filmada exactamente um ano depois do início da rodagem do filme.
- Para além de improvisar constantemente nos diálogos com Trevor
Howard (facto que levava este ao desespero), Marlon Brando chegou a tapar os ouvidos com algodão para não ouvir
as deixas do seu interlocutor.
3 comentários:
Espero que seja o teu regresso à actividade.
É isso, desta vez é que é. Já tinha saudades...
Apesar de amanhã ir para o Algarve 10 dias, no regresso vou começar a postar com alguma frequência.
Abraço e obrigado
Ainda bem, também tinha saudades...
Um abraço.
José Luís
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