O SEGREDO DE SANTA VITÓRIA
Um filme de STANLEY KRAMER
Com Anthony Quinn, Anna Magnani, Virna Lisi, Hardy Krüger, Giancarlo Giannini, Sergio Franchi, Patrizia Valturri, etc.
EUA / 139 min / COR / 16X9 (2.35:1)
Estreia nos EUA (L.A.): 17/10/1969
Estreia em MOÇAMBIQUE (L.M.): 7/6/1970 (teatro Manuel Rodrigues)
Italo Bombolini: There is no wine!
Stanley Kramer (1913-2001) nunca foi um nome consensual junto dos críticos de cinema.
Na verdade, foram poucos, muito poucos os elogios recebidos ao longo da sua
carreira de realizador, apesar dos 24 prémios que recebeu em diversos festivais
de cinema. Nunca ganhou o Óscar, é certo, mas foi nomeado 3 vezes como director
pela Academia. Kramer começou por ser produtor, tendo aliado essa faceta à
de director nos meados dos anos 50, mais concretamente com o filme “Not As a
Stranger”, em 1955, que teve como consequência a apresentação de obras, muito
do agrado do público. Relembramos alguns títulos: “O Julgamento de Nuremberga”
(1961), “O Mundo Maluco” (1963), “A Nave dos Loucos” (1965), “Adivinha Quem Vem
Jantar” (1967) ou este “O Segredo de Santa Vitória” (1969), deixaram na década
de sessenta a sua indelével marca.
Uma
constante na maioria dos seus filmes foi a presença de actores e actrizes cuja
qualidade esteve sempre bem acima da média. Aliás, lembro-me ainda que filme
com a sua assinatura era sinónimo quase sempre de grandes representações. “O
Segredo de Santa Vitória” não é excepção. Temos direito a uma das mais
brilhantes interpretações de Anthony Quinn (num papel que lhe serviu que nem uma
luva), muito bem coadjuvado pela tempestuosa Magnani, a bela Virna Lisi ou
Hardy Krüger, o meu alemão favorito de tantos e tantos filmes.
“O Segredo
de Santa Vitória” começa logo após a substituição de Mussolini no poder, em 1943. As
forças aliadas ainda não tinham começado a invasão de Itália, pelo que se seguiu um período de anarquia, em que a Guerra estava irremediavelmente perdida. O
exército alemão começa aos poucos a retirar-se de Itália, mas, como acontece
nestes casos, os invasores querem sempre lucrar e levar consigo tudo quanto
possam carregar. Vão por isso andar de aldeia em aldeia à procura de eventuais
proveitos. Santa Vitória é uma aldeia pobre como tantas outras, em que os seus moradores viviam do
que a terra lhes dava. Só que neste caso particular a grande maioria das
plantações eram vinhas a perder de vista e os aldeões tinham muito orgulho nas
suas magníficas castas, que davam até para exportação. Quando sabem da vinda
dos alemães, tratam de esconder cerca de 1 milhão de garrafas usando uns túneis
romanos que depois serão convenientemente selados.
Bombolini
(grande, grande Anthony Quinn) é um dos bêbados da cidade, que é casado com a
temível Rosa (Anna Magnani numa personagem bem característica da sua longa
carreira). Por ter ousado subir ao topo do moinho para apagar uma inscrição que
refere que “Mussolini tem sempre razão”, Bambolini, que alguns meses antes a tinha
lá escrito, é ovacionado pelos seus conterrâneos, que lhe conferem o cargo de
prefeito da vila. Ou seja, um bêbado inveterado, que de um momento para o
outro se vê pela primeira vez na vida como alguém de responsabilidade, que pode efectivamente ajudar os seus conterrâneos. Após algumas ideias falhadas, a solução encontrada é o transporte das garrafas mão a mão em quatro longuíssimas filas.
Depois da nova garrafeira bem apetrechada e melhor guardada, começa a segunda parte do filme, com a chegada dos alemães. Hardy Krüger é o oficial responsável e de início tudo corre bem no meio de muita galhofa. Mas a boa disposição dos aldeões não se ajusta ao facto de terem fornecido aos alemães cerca de 300 mil garrafas e Van Prum (a personagem de Krüger) começa a desconfiar que está a ser enganado, que existirão muitas mais garrafas escondidas. Mas onde? Começa assim o jogo do gato e do rato, ao qual dois oficiais da temível SS vêm dar a sua autoritária ajuda. Mas será que a unidade de gente simples consegue enganar os poderosos alemães? É óbvio que sim, ou o filme não faria qualquer sentido. “O Segredo de Santa Vitória” perdeu um pouco da sua originalidade ao longo dos anos, mas, sobretudo para quem nunca o viu, permanece um bom entertenimento e sobretudo a possibilidade de ver em acção grandes actores do passado.
CURIOSIDADES:
- A cidade italiana de Santa Vitória, na vida real, não pôde ser usada para este filme porque se modernizou demais desde o período da Segunda Guerra Mundial, em que a história do filme se passa. Um total de 169 cidades italianas foram pesquisadas até que a ideal fosse encontrada: Anticoli Corrado. Este é um município da província de Roma, na região mais ampla do Lácio. A comuna está situada a cerca de 40 km a nordeste de Roma.
- A equipa
italiana ficou tão perturbada com o assassinato de Robert F. Kennedy, ocorrido
durante as filmagens, que dedicou uma hora extra de trabalho em sua memória. A
carta do sindicato dos trabalhadores italianos dizia: «A melhor maneira de
honrar a memória de um homem de acção é pela acção». O produtor e director
Stanley Kramer respondeu com o seguinte: «A decisão da equipa
italiana de dedicar uma hora extra de trabalho à memória de Robert Kennedy não
tem paralelo na história do cinema. A equipa americana em Anticoli Corrado
sente-se profundamente honrada em conhecê-lo e privilegiada por ser sua colega
de trabalho.»
- Segundo o filme, a estimativa exata de garrafas de vinho que o município de Santa Vitória possuía era de 1.317.000. A publicidade e o boca a boca frequentemente aproximavam esse número de um milhão de garrafas. No entanto, um dos principais posters do filme afirmava que, na verdade, havia 1.184.611 garrafas de vinho.
- Durante a cena de luta, quando Anna Magnani literalmente expulsa Anthony Quinn de casa, ela dá-lhe um pontapé com tanta força que ele quebrou o pé. O produtor e director Stanley Kramer comentou sobre isso na sua autobiografia "A Mad, Mad, Mad Mad World: A Life in Hollywood": «Ele e Magnani não se davam nada bem. É um milagre que as cenas deles tenham sido finalizadas. Ela não gostava nem um pouco dele, e na grande cena de luta deles, quando ela deveria literalmente expulsá-lo de casa, ela o fez com tanta força durante as filmagens que quebrou o pé!» Kramer acrescentou: «Ela era uma dama perfeita. Cumprimentou-me com um vestido formal, usou uma boquilha e falava inglês perfeitamente. Contou-me tudo sobre o estúdio de lá, onde faríamos algumas sequências importantes de interiores, e descreveu os aspectos comerciais e artísticos da produção cinematográfica em Roma com muita perspicácia, inteligência e classe. Pensei: "Uau, que dama ela é!" E então deu-me um aviso: "Não coma no refeitório daqui, a comida é uma merda." Foi então que fiquei a saber que ela tinha outra faceta.»
- Durante os
quatro meses de filmagens na pequena vila italiana de Anticoli Corrado, vários
moradores da cidade trabalharam no filme em diferentes funções, como
assistentes de equipa ou como figurantes e artistas de fundo. Alguns
permaneceram e moraram nas suas casas, enquanto outros tiraram férias
remuneradas em troca do uso das casas durante as filmagens principais.
- O produtor
e director Stanley Kramer disse sobre este filme na sua autobiografia "A
Mad, Mad, Mad Mad World: A Life in Hollywood": «Imaginei o filme como uma
celebração de princípios e resistência, enquanto, liderados por seu prefeito pitoresco
prefeito, Bombolini , os habitantes da cidade se recusam a se submeter aos seus
opressores. Eu queria que a história representasse o espírito indomável de uma
cidade».
- "O Segredo de Santa Vitória" foi nomeado para dois Óscares de Melhor Montagem (William A. Lyon e Earle Herdan) e Melhor Banda Sonora (Ernest Gold). O filme ganhou o Globo de Ouro de melhor filme de comédia e foi indicado pelo comité do Globo de Ouro para mais 5 categorias: Director (Stanley Kramer), Actor de Comédia (Anthony Quinn), Actriz de Comédia (Anna Magnani), Banda Sonora Original (Ernest Gold) e Canção Original ("Stay", de Ernest Gold e Norman Gimbel).
Sem comentários:
Enviar um comentário