NIAGARA
Um filme de HENRY HATHAWAY
Com Marilyn
Monroe, Joseph Cotten, Jean Peters, Max Showalter, Denis O'Dea, Richard Allan,
etc
EUA / 92 m
/ COR /
4X3 (1.37:1)
4X3 (1.37:1)
Estreia nos EUA: New York, 21/1/1953
Estreia em Portugal: 22/10/1953
«Marilyn
Monroe and "Niagara " a raging
torrent of emotion that even nature can't control»
É deveras curioso que os dois
motivos pelos quais este filme ainda desperta interesse nos nossos dias, sejam
precisamente aqueles contra os quais os críticos da altura mais se insurgiram:
a belíssima fotografia em Technicolor e o desempenho de Marilyn. Porque a quase
totalidade dos chamados film-noir
eram rodados a preto e branco (e, curiosamente, o trailer de
"Niagara" também foi apresentado a preto e branco) e porque a
presença sensual da deusa platinada eclipsava tudo o mais. Se hoje pudessemos
retirar a cor e a actriz do filme, pouco ou nada sobejaria que nos fizesse
recordar "Niagara". Este foi o filme que fez de Marilyn uma estrela.
Foi aqui que ela rodou as primeiras cenas em que aparece nua, debaixo do
chuveiro, atrás de uma cortina (ou seja, ainda muito difusa), e foi contratada como artista principal,
passando por cima do já consagrado Joseph Cotten, o qual, diga-se de passagem,
se revelou uma escolha muito pouco credível para o papel de George Loomis (o
próprio realizador confessaria mais tarde a sua frustração por não ter podido
contar com o actor James Mason).
Mas voltemos a Marilyn, o principal
motivo pelo qual este filme deve ser visto. A íntima carga de liberalização com
que ela personifica a esposa adúltera, adquire imediata expressividade nos seus
signos básicos, quer seja o bamboleio agressivo e com um toque de vulgaridade
quer a sua forma inigualada de entreabrir os lábios, sugerindo ao mesmo tempo
desejo, indecisão, ironia ou prazer. Algumas cenas ficarão para sempre no
imaginário cinéfilo (e também masculino): logo no início do filme, deitada com
um cigarro na mão, fingindo dormir quando o marido entra no quarto; na saída do
chuveiro, com a cabeça apertada numa touca, ela é toda energia pronta a
explodir; o comportamento demoníaco, rindo descaradamente depois de ela e
Cotten terem tido sexo na véspera do dia em que tinha combinado com o amante o
seu homicídio; ou a cena mais célebre de todas, quando vestida de um vermelho
vivo, atravessa lentamente o pátio e escolhe um disco para ser tocado no
gira-discos ("Kiss").
"Niagara" é o único
filme da filmografia de Marilyn em que ela aparece maliciosa e absolutamente
maldosa, sem a usual e redentora benevolência do seu ar inocente e ingénuo. O
seu personagem (Rose Loomis) estereotipa a figura da mulher sensual,
manipuladora e egoísta, que não olha a meios para atingir os seus fins; neste
caso, a morte do marido às mãos do amante. A personalidade de Rose expõe
algumas características de Marilyn, como o gosto e a vontade de viver. Mas
estas qualidades são minimizadas, para manter a imagem da criminosa que o
público precisa condenar. Essa dualidade está bem presente na cena do
estrangulamento por Cotten: aparecem dois planos do corpo - um longe e o outro
mais perto, uma mancha de luz cercada de sombra, simbolizando drasticamente o
contraste da sua personalidade. A luz sugere a sua energia e vitalidade e a
escuridão a sua cruel amoralidade.
E depois de Marilyn, o que resta?
Sem dúvida a brilhante fotografia em exuberantes coloridos, que nos faz
lembrar, com alguma nostalgia, o modo de vida daqueles anos 50. As cataratas
imponentes, cenário de qualquer lua-de-mel que se prezasse, o motel constituído
por pequenas mas confortáveis casas familiares (as "Rainbow Cabins",
construídas de propósito para o filme), os serões passados a dançar à volta do
gira-discos. Quanto ao enredo, "Niagara" tenta seguir uma linha
hitchcockiana de suspense, mas sem grandes resultados. Aquela história de
adultério, entrecruzada por cenas de ciúme e desequilíbrios emocionais só faz
mesmo algum sentido quando integrada no espírito da época. Uma última
referência a Jean Peters, no papel de Polly Cutler, a esposa fiel e (aparentemente) "certinha" do
filme, que contrabalança assim a personagem de Marilyn. É com ela que o filme
encerra, quando é salva in extremis
do barco que levará Cotten, no seu suicídio, para o fundo das cataratas de
Niagara Falls.
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2 comentários:
Eu não consigo gostar muito deste filme da Marilyn. É interessante ver a loira num papel pouco associado a ela, malvada e calculista. Marilyn faz um desempenho aceitável mas revelaria muito mais talento para a comédia. As cataratas irritam-me porque fazem imenso barulho. Incomoda-me bastante ver o filme com o barulho delas de fundo
É curioso, nunca pensei que o som das cataratas pudesse incomodar um espectador. Quanto às aptidões artísticas da Marilyn, diria que efectivamente estariam mais perto das comédias. Mas..., mas... o grande desempenho dela até foi num filme dramático, o magnífico "The Misfits (Os Inadaptados)", já comentado aqui no Rato Cinéfilo.
Obrigado, Miguel, pelo comentário
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