Um filme de RICHARD BROOKS
Com Glenn Ford, Anne Francis, Sidney Poitier, Vic Morrow, Louis Calhern, Margaret Hayes, John Hoyt, Richard Kiley, Emile Meyer
EUA / 101 min / PB / 4X3 (1.33:1)
Estreia nos EUA: NY, 19/3/1955
Estreia em PORTUGAL: Lisboa, 29/11/1955 (cinemas São Luís e Alvalade)
Richard Dadier: «Yeah, I've been beaten up, but I'm not beaten.
I'm not beaten, and I'm not quittin'»
“Blackboard Jungle”, filme
importante a vários níveis, ficará sobretudo conotado com o facto de ter
contribuído, decisivamente, para a popularidade do Rock ‘n’ Roll na América e,
a partir daí, em todo o mundo. Tudo por causa de uma música electrizante que abria
e fechava o filme: “Rock Around The Clock”, interpretada por Bill Haley
& The Comets. O tema, gravado em 12 de Abril de 1954, saltava para os
charts americanos um ano depois, a 14 de Maio de 1955, onde permaneceria 24
semanas - 8 delas em 1º lugar - e com
vendas superiores a 25 milhões de cópias. Um êxito fabuloso para a época,
alcançado em grande parte por causa do impacto do filme, estreado dois meses
antes. Até no Portugal cinzento dos anos 50 o filme causou sensação, tendo-se
estreado simultâneamente nos cinemas S. Luís e Alvalade a 29 de Novembro de
1955, com o título de “Sementes de Violência”. Por curiosidade, transcreve-se
de seguida o texto que apareceu no dia seguinte, no jornal “Diário Popular”:
«A atmosfera de interesse criada à
volta deste filme com a recordação do incidente diplomático que ele originou na
Bienal de Veneza, deu à estreia de ontem uma expectativa que, na realidade, não
foi iludida, pois o público que aplaudiu, no final, viu um bom espectáculo de
cinema. “Sementes de Violância” (“Blackboard Jungle”) é um filme corajoso e
duro. O problema (comum a todos os países que viveram a guerra, mas mais
sensível na América) da delinquência infantil, bem explicado por um dos
personagens quando diz “os rapazes criaram-se de qualquer maneira, com os pais
na guerra e as mães na fábrica”, é tratado com o vigor de um libelo e a
enternecedora emoção de uma mensagem de esperança: a de que os jovens só são
maus quando não se compreendem os seus problemas e não se coaduna a sua
educação com o objectivo de fazer sobressair os seus sentimentos puros e de os
afastar das más influências. O filme serve também para exaltar a missão dos professores,
mal pagos em toda a parte, até na grande e rica república americana. Filme de
tese, “Sementes de Violência” adquire, no entanto, tal intensidade dramática
que o espectador é subjugado pelo desenvolvimento da acção de princípio ao fim.
A realização, de Richard Brooks, é notável. Sem sobressaltos, sem artifícios, a
história é contada com uma violência extraordinária, mas com uma emoção sempre
presente em todas as imagens. A interpretação de Glenn Ford é bem um exemplo de
como deve representar-se em Cinema. Mas o numeroso grupo de actores que o
acompanha é outro dos muitos motivos de êxito. É também de assinalar, com
relevo, a adaptação musical, em que figuram algumas belas canções, muito bem
tocadas e cantadas. Bons complementos. Um programa que se recomenda.»
Sem dúvida uma curiosa crítica da época, onde ficamos a
saber que os professores já eram muito mal pagos, um pouco por todo o lado. De
assinalar também o modo cândido como o autor descreve a música. Três semanas
depois, o mesmo “Diário Popular” publicou no dia 19 de Dezembro uma pequena
notícia: «As músicas de “Blackboard Junge” (“Sementes de Violência”) causaram
um delírio junto dos apreciadores da música moderna. A tal ponto, que a
primeira remessa para Portugal é da ordem dos 1.500 discos e que já se encontra
vendida, mesmo antes de chegar. Trata-se de “Rock Around The Clock” (gravação
Decca), “Invention For Guitar And Trumpet” (gravação Capitol) e “The Jazz Me
Blues” (gravação Columbia).»
Salários dos professores à parte
(algo que, ao que parece, não muda com o passar dos anos), “Blackboard Jungle”
é um filme datado, mas por isso mesmo bem representativo das mentalidades, usos
e costumes dos anos 50. O argumento foi baseado num romance do escritor
norte-americano Evan Hunter (pseudónimo adoptado em 1952 por Salvatore Albert
Lombino, nascido em 1926 e falecido em 2005. O escritor ficaria ainda mais
conhecido como Ed McBain, que foi outro pseudónimo, adoptado em 1956 e usado
para os muitos livros policiais que escreveu a partir daí). O romance, que se
revelaria um grande sucesso de vendas, mesmo antes de ser transposto para o
grande écran, dá-nos conta de uma realidade sociológica, cuja violência assenta
basicamente em relações onde as diferenças rácicas ditam as suas leis. Nisso, e
também na falta de meios económicos das classes mais miserabilistas.
Filme generoso e idealista do
começo da carreira de Richard Brooks, “Blackboard Jungle” denota ainda alguma
ingenuidade nos seus propósitos, nomeadamente a confiança nos valores da
democracia americana. Era ainda um Brooks fiel ao sonho americano (do qual se
veio a desencantar posteriormente), que dizia quando realizava este filme: «A
América é um milhão de coisas e esta é uma delas. Uma coisa pequena. Se está
mal corrigimo-la.» Mas, apesar de tudo, Brooks denotou alguma coragem ao
realizar este filme, expondo publicamente uma chaga social dos Estados Unidos.
Tal temeridade valeu-lhe alguns dissabores na altura, nomeadamente a acusação
de ser anti-patriótico. Como referido atrás, "Blackboard Jungle" é
hoje um filme datado, apesar de continuar a ter um encanto muito especial.
Recheado de magníficas interpretações (foi a faísca que despolotou a longa carreira de Sidney Poitier), é um verdadeiro clássico do género, e as
suas influências ainda hoje se fazem sentir.
CURIOSIDADES:
- O single “Rock Around The Clock” pertencia à colecção de discos de Peter Ford, filho de Glenn Ford, tendo por isso sido ouvida casualmente por Richard Brooks, que a escolheu imediatamente para o filme. Sabe-se que muitas das filmagens foram feitas ao som do célebre tema.
- O embaixador americano em Itália, Clare Boothe Luce, proibiu a apresentação do filme no Festival de Veneza, por considerar o mesmo pernicioso à juventude.
- Sidney Poitier, na altura com 28 anos, viria a protagonizar, 12 anos depois, “To Sir With Love” (1967), filme onde desempenha o papel de um professor com problemas de relacionamento com os seus alunos.
- Na altura da estreia, em Inglaterra, o filme foi censurado em cerca de 6 minutos (a cena completa do confronto entre Dadier and Artie), o que lhe retirou todo o clímax final.
- Richard Kiley, que desempenha o papel do professor Joshua Edwards, a quem os alunos dão cabo da colecção de discos, fartou-se de receber, durante toda a sua vida (viria a falecer em 1999), muitos discos antigos de Jazz, que fans do filme lhe enviavam.
4 comentários:
Muito legal seu espaço! Lindas fotos, texto muito bem escrito, pena q não vi esse filme. Apareça no meu blog!
Vou ate linkar o seu para acompanhar e te seguir. Abs!
http://umanoem365filmes.blogspot.com/
Este filme ficará para sempre conhecido por causa de "Rock Around the Clock". Quanto à temática tem o encanto dos clássicos mas a educação mudou muito - para pior...
Hoje em dia seria pouco provável um aluno ameaçar o professor com uma simples faca. Certamente que em vez dela usaria uma pistola!
Fico à espera da coletânea prometida, até porque tenho muito pouca coisa do Bill Haley.
Além deste, aconselho também a visão de "To Sir With Love", dos anos 60 (com a Lulu e também com o Sidney Poitier) e "Dangerous Minds", dos anos 80 (com uma Michelle Pfeiffer ainda de franginha)
Gostei! Andava ás voltas com este tema da violência nas escolas, procurava imagens e encontrei o seu blog! Espero que não se importe por "roubar" algumas!
Fui professora e é um assunto que ainda hoje é tremendo!
Abraço cinéfilo...
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