Com Gwyneth Paltrow, John Hannah,
John Lynch, Jeanne Tripplehorn, Zara Turner, etc.
UK-US / 99 min / COR / 16X9 (1.85:1)
Estreia
nos EUA: 26/1/1998 (Sundance Festival)
Estreia em
PORTUGAL: 18/9/1998
What
if one split second sent your life in two
completely different directions?
Nunca acreditei em Deus. Não por
qualquer tipo de educação (tive um pai ateu e uma mãe católica) ou influências
externas, mas tão sómente pela irracionalidade do conceito em si. Sou uma
pessoa muito pragmática, para quem dois mais dois serão sempre quatro. E nunca
consegui aceitar qualquer tipo de crença ou religião, que se encontram para lá
da minha compreensão da lógica das coisas. Pela mesma ordem de razões, também
nunca acreditei no destino. As vidas das pessoas regem-se por probabilidades e
sobretudo por decisões pessoais. Existem factos que não podemos controlar, é
certo (se, por exemplo, a revolução do 25 de Abril nunca tivesse acontecido,
quantos milhões de vidas teriam sido diferentes? Para o melhor ou para o pior,
não é isso que está em causa, mas seguramente diferentes). Por outro lado, é
nas decisões do dia-a-dia que mudamos a forma de viver as nossas vidas. Se
tivesse ficado solteiro ou casado com outra pessoa, se um dos nossos
progenitores nos tivesse deixado prematuramente, se fosse viver para outro país
qualquer, se em qualquer encruzilhada da vida tivesse virado à esquerda e não à
direita... Existem sempre os "se", "se", "se",
existem sempre as possibilidades de escolha. E este filme, "Slidind Doors", que Peter
Howitt realizou em 1998, ilustra na perfeição o conceito da arbitrariedade
que rege constantemente as vidas de cada um de nós.
Em
Londres, uma publicitária chamada Helen (Gwyneth
Paltrow) é despedida da empresa onde trabalha e por isso regressa a casa
mais cedo do que o habitual. Perde o metropolitano por uma fracção de segundo e
devido a um problema técnico que irá retardar a partir dali todos os comboios,
resolve ir apanhar um táxi. Mas como um problema nunca vem só, é assaltada em
plena rua, ficando ferida na cabeça. O motorista leva-a ao hospital, onde irá
ser socorrida. Tudo isto implica demora, e Helen chega tarde a casa, onde a
espera o namorado, Gerry (John Lynch),
aspirante a escritor (mas que entretanto vive à custa dela), que sai do
chuveiro com um semblante algo nervoso e comprometido. Rebobinando agora o
filme atrás: e se… e se Helen conseguisse apanhar o comboio a tempo? Nesse
caso, e depois de um desconhecido ter
metido conversa com ela durante a viagem (um chato muito falador que a faz desviar constantemente a atenção do
livro que tem entre mãos), chega a casa como previsto, ou seja, bastante mais
cedo do que o habitual. Encontra de igual modo o namorado, só que este ainda
não está à espera dela: encontra-se ocupado
com uma bela morena entre os lençóis…
“Sliding Doors” vai-nos mostrar o que acontece a
Helen depois de ter perdido (ou não) o comboio. A ideia não é nova, podemos
encontrá-la no filme “Smoke / No Smoke” que Alain Resnais filmou cinco anos
antes, em 1993. Mas enquanto no filme francês nos eram apresentadas as duas variações
da história uma a seguir à outra, aqui o acompanhamento é feito em simultâneo. O
actor Peter Howitt, que também
escreveu o argumento, conduz esta sua estreia na realização com mão firme e
eficaz, de modo a que o público nunca misture as duas situações (algo que
facilmente poderia ter ocorrido). A traída Helen vai viver com a melhor amiga, Anna (Zara Turner) e
inicia um novo relacionamento com o chato
do metro, James (John Hannah), que
reaparece na sua vida. A “outra” Helen, que não chegou a apanhar o namorado em flagrante, prossegue a sua vida normal,
apesar das suspeitas de infidelidade irem aumentando. E aqui chegados, uma
pergunta se impõe: será que mais tarde as “duas vidas em paralelo” de Helen
irão conduzir a resultados muito diferentes? Talvez sim, talvez não, o melhor é
respeitar todos aqueles que ainda não viram o filme, e deixar a dúvida no ar…
Mais
do que uma simples comédia romântica, “Sliding
Doors” poderá ser catalogado como um drama romântico, atendendo à natureza
dos acontecimentos que se vão sucedendo. De qualquer modo, é um filme muito
agradável de se ver, e que facilmente irá agradar a um vasto leque de público,
do menos ao mais exigente. Por causa da qualidade dos actores, que conseguem
fazer-nos acreditar naquela história bicéfala (Gwyneth Paltrow está magnífica, com a sua pronúncia inglesa, John Hannah é sempre alguém com quem
simpatizamos – independentemente da personagem que incarna – e Jeanne Tripplehorn, no papel de Lydia,
a amante americana, contribui para o filme nos seduzir um pouco mais, por causa
daquele corpinho que Deus lhe deu. Já John
Lynch está perfeitamente ajustado à sua mesquinha personagem. despoletando em nós a mais genuína antipatia); mas
sobretudo porque coloca aquele grande ponto de interrogação nas nossas vidas,
com que facilmente nos identificamos. Quem é que, nas mais variadas situações, nunca se interrogou: «e se eu
tivesse feito isto e não aquilo? O que é que sucederia?»
Vejam o filme, que dura apenas 99
minutos, mas espero, sinceramente, que vos desperte a curiosidade para ver a
longa obra-prima de Resnais. Porque
há que respeitar sempre os verdadeiros mestres.
Lydia:
«Gerry, I’m a woman. We don’t say what we want, but we reserve the right to get
pissed off if we don’t get it. That’s what makes us so fascinating. And not a
little bit scary.»
CURIOSIDADES:
- John Hannah foi parcialmente
responsável por“Sliding Doors” ter
sido feito. Os produtores não conseguiam arranjar o dinheiro necessário, mas,
por um feliz acaso, Hannah encontrou
Sydney Pollack, que se mostrou muito interessado no argumento, resolvendo
participar também como produtor.
-
Gillian Anderson (a actriz da série “Ficheiros Secretos”), chegou a ser
equacionada para o papel de Helen.
Sem comentários:
Enviar um comentário