Um filme de CECIL B. DeMILLE
Com Hedy Lamarr, Victor Mature, George Sanders, Angela Lansbury, Henry Wilcoxon, Russ Tamblyn
EUA / 131 min / COR / 4X3 (1.37:1)
Estreia nos EUA a 21/12/1949
(New York)
(New York)
Samson: «Your arms were quicksand. Your kiss was death. The name Delilah will be an everlasting curse on the lips of men»
Confesso, desde já, que nunca consegui encontrar uma
explicação lógica pelo fascínio que “Samson and Delilah” sempre exerceu em mim.
Provavelmente terá alguma coisa a ver com o facto de ter sido um dos primeiros
filmes que me encantou na minha meninice. Dizem que as impressões fortes da
infância nos marcam para sempre e é bem capaz de ser verdade.
Hoje, mais de cinco décadas passadas sobre o primeiro visionamento (que terá ocorrido, quase de certeza, no velhinho Teatro Varietá de Lourenço Marques, desaparecido há já muito tempo, nos meados dos anos 60) não me custa nada reconhecer as debilidades da fita. Um enredo incongruente (baseado muito livremente numa historieta bíblica), cenários artificiais ou interpretações medianas serão algumas das farpas com que críticos judiciosos têm imolado o filme ao longo dos anos. Sinceramente, nada disso me interessa, o que me importa é o prazer genuíno que sinto todas as vezes que vejo “Samson and Delilah”. Que é daqueles filmes que estou sempre pronto para ver, qualquer que seja o meu estado de espírito do momento. E isso é razão mais do que suficiente para o considerar um dos filmes da minha vida, independentemente de o poder incluir na lista dos meus “guilty-pleasures” de eleição.
O reinado de Cecil B. DeMille no cinema americano, e de Hollywood em particular, começa no final da era Griffith. Logo após o final da Grande Guerra, DeMille teve a habilidade de se antecipar – como pioneiro de uma nova temática – ao que havia de ser a futura grande produção cinematográfica, enquanto outros realizadores continuavam a fazer filmes de temas bélicos. DeMille dedicou-se à busca de argumentos românticos, exóticos, espectaculares e familiares, que foram acolhidos entusiasticamente pela classe média norte-americana, a qual, a partir de 1919, constituiria o grande público do cinema.
Uma das características do após-guerra foi uma nova moral, assim como a rebelião contra o dogmatismo de muitos valores tradicionais. O respeito pela religião, o espírito de sacrifício, o dever, o amor ao lar e à família, assim como a resignação à própria sorte, foram supridos por um novo conceito, materialista, livre e desenfreado, dos desejos sensuais, que DeMille pareceu condenar (participou pessoalmente na aprovação do célebre Código Hays) , mas que na realidade propagou e impulsionou ao utilizá-los comercialmente nos seus filmes, a ponto de vir a ser conhecido como o criador do sex-appeal no cinema.
«A minha profissão é fazer películas para entretenimento público, há que saber bem aquilo que os espectadores querem ver». Efectivamente, o público constituiria o centro do seu interesse e seria para ele que DeMille realizaria o seu cinema “histórico”, de tipo colossalista, com abundância de temas bíblicos ou cristãos, e baseando-se quase que invariavelmente na fórmula “Deus mais Sexo”, conforme escreveu Roger Boussinot. “Samson and Delilah”, o antepenúltimo dos 80 filmes de DeMille (que realizaria apenas mais dois, “The greatest show on earth”, em 1952 e a segunda versão dos “Ten Commandments”, em 1956) enquadra-se perfeitamente nessa maneira de encarar a produção fílmica – um negócio bíblico-erótico que mandava às urtigas o respeito pela veracidade histórica ou religiosa, em proveito do entretenimento do público.
“Samson and Delilah” é um filme épico e fascinante, recheado de acção e emoção: a caçada ao leão, o dizimar dos soldados com uma queixada de burro, a sequência da sedução e traição de Delilah, o aprisionamento de Samson à roda do moinho ou a destruição final do templo de Dangon, são as mais célebres cenas de antologia deste filme inesquecível. Mas, no fundo, “Samson and Delilah” não passa de uma história de amor, uma comovente história de amor que pode ser vista como a versão simbólica do mito da bela e do monstro. Daí não ser muito de estranhar a escolha de um actor medíocre como Victor Mature, o qual se enquadra que nem uma luva no papel do homem hérculeo, cujo adorno capilar é o receptáculo da força sobrenatural que recebe directamente do seu Deus.
Quanto a Hedy Lamarr o caso muda completamente de figura – estamos em presença de uma boa actriz e, fundamentalmente, de uma das mulheres mais belas que o cinema já nos deu a contemplar. A sua Delilah é uma criação iniguável, um misto de volúpia e encantamento que a câmara de filmar conseguiu reter para a posteridade. Toda a sequència, já citada, da sedução passada no oásis é de uma beleza invulgar e o nosso olhar como que é obrigado a segui-la constantemente, tornando acessório tudo o mais existente à sua volta. Uma referência ainda a George Sanders, perfeito no papel do cínico Saran de Gaza, bem como a Angela Lansbury que não destoa mas que dificilmente nos pode fazer acreditar que alguma vez um representante do sexo oposto a pudesse preferir em confronto directo com Hedy Lamarr.
O filme receberia 2 Oscars da Academia nas categorias de Guarda-Roupa e Direcção Artística e Cenários, conseguindo ainda mais 3 nomeações: Efeitos Especiais, Cinematografia e Música. Estas duas últimas categorias são outros tantos trunfos de “Samson and Delilah”. Aquele technicolor é sumptuoso, bem característico da época, e o fundo musical, assinado por Victor Young, é um acompanhante de eleição de todo o filme (o tema de amor, então, é sublime nos seus acordes de paixão e encantamento).
CURIOSIDADES:
- Diversas outras actrizes chegaram a ser equacionadas para o papel de Delilah: Betty Hutton, Jean Simmons, Lana Turner e Rita Hayworth.
- Paradoxalmente à figura de Sansão, Victor Mature era um actor conhecido por ter grandes medos e fobias. Consequentemente todas as cenas envolvendo um mínimo de riscos foram interpretadas por duplos
- Na estreia de “Samson and Delilah”, DeMille perguntou a Groucho Marx o que achava do filme. O cómico, mordaz como sempre, respondeu que estava atónito por nunca ter visto um filme em que as mamas do herói eram maiores do que as da actriz principal. DeMille não achou graça nenhuma, ao contrário de Victor Mature, que se fartou de rir com a saída de Groucho.
- O colapso do templo de Dagon, no final do filme, teve de ser filmado por duas vezes devido a problemas com as cargas de dinamite colocadas na maqueta, que teve assim de ser refeita. A sequência final usa imagens de ambas as filmagens
4 comentários:
Este é que é o filme pelo qual De Mille deverá ser recordado, e não "Os 10 Mandamentos"
Um verdadeiro filme de culto e sim, também o considero um "guilty-pleasure", ou seja, colocamos imediatamento de lado qualquer preconceito ou prurido que nos impeça de saborear devidamente cada fotograma deste filme marcante do género peplum que tanto amámos enquanto miúdos. E que continuamos a amar enquanto a criança se mantiver dentro de nós.
Esse foi o filme que ficou em minha memória por toda a minha vida. Hoje, com efeitos extraordinários, seria certamente outro filme, mas sem o encanto de outrora.
Que texto bem envolvente! Sansão e Dalila não é um filmão mas é saboroso, divertido. Percebo perfeitamente o que o Rato quer dizer com a dificuldade em explicar o pq de gostar tanto desse filme. Eu tb tenho os meus filmes mt amados, que me geram prazer enquanto espectador e q, no entanto, eu sei que se tratam de filmes medíocres. Talvez um dos melhores exemplos seja Pal Joey. Claro que n é mediocre, mas n é uma obra prima. E, no entanto, eu gosto mt desse musical.
Sansão e Dalila não me seduziu mas n considero um mau filme. Hedy Lamarr é belíssima e eu até acho que neste filme ela não está tão bonita qt em outros. Em Ziegfeld Girl, que eu gosto mais que aquele, ela está um máximo! Não posso concordar quando diz que ela era boa atriz. Mas Hedy está bastante bem em Sansão e Dalila
Enviar um comentário