A VIDA NÃO É UM SONHO
Um filme de DARREN ARONOFSKY
Com Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, etc.
EUA / 102 min / COR /
4X3 (1.37:1)
Estreia no Festival de Cannes, a 14/5/2000
Estreia nos EUA a 6/10/2000
Curiosa esta afirmação de Darren Aronofsky. Mas provavelmente no “parque de diversões” que ele evoca só haverá comboios fantasmas. Isto por causa deste seu filme, “Requiem For A Dream”. Nas muitas dezenas de anos que já levo a ver cinema, este terá sido dos poucos filmes que me conseguiu afectar negativamente. Honra lhe seja feita por isso. De momento só me lembro de mais um título que me deu assim um murro valente na boca do estômago, o “Saló” do Pasolini. Mas nesse havia uma justificação, que era mostrar todo o horror de uma verdade histórica, os anos do fascismo em Itália. E provavelmente não haveria outra maneira de transpor o assunto para o écran. Pelo menos eficazmente.
Na galeria das personagens não existe uma só capaz de nos despertar a mais pequena simpatia, desde as decadentes residentes do lar de idosos até aos funcionários hospitalares, passando pelos apresentadores e público televisivos. Apenas conseguimos sentir alguma comiseração por Sara Goldfarb. Mas nem a brilhante interpretação de Ellen Burstyn (nomeada muito merecidamente para o Oscar de Actriz Principal) consegue salvar este filme do lamaçal.
“Requiem For a Dream” nem sequer tem a atenuante de ter a História por detrás. É a adaptação de um livro de Hubert Selby Jr., feita pelo próprio autor em parceria com Aronofsky. O resultado é um filme feio e grotesco, onde se encontra ausente qualquer réstea de esperança. A vida pode efectivamente não ser um sonho, mas de certeza que não é o pesadelo aqui retratado. A solidão do ser humano já é algo triste e difícil de suportar, sobretudo nos capítulos mais adiantados das nossas vidas. Adorná-la ainda mais, com laços familiares envolvendo drogas e prostituição, e elevar tudo ao coeficiente máximo do insuportável é como nos atingirem com um ferro em brasa.
Nas minhas preferências musicais, que são muitas e variadas, há um género ausente que visceralmente detesto, o chamado “hip-hop”. É assim a técnica de filmar de Aronofsky – planos rápidos e múltiplos, frames acelerados, distorções da imagem. E tudo isso mostrado numa repetição ad-eternum, como se fosse um longo video-clip de uma qualquer banda do "hip-hop". Nos cerca de 100 minutos que dura o filme o espectador só tem direito a um quarto de hora de descanso, o tempo do diálogo de Sara Goldfarb com o filho. Em tudo o resto é literalmente bombardeado com todo aquele caleidoscópio de imagens e sons, o que se torna extremamente cansativo, para não dizer exasperante.
Eu vi o filme porque me foi referenciado como sendo algo belissimo. Não o é. Pelo contrário, é hediondo e repelente. “Requiem For a Dream” não é um filme que se aconselhe a ninguém de boa fé. Nem aos optimistas que, como eu, farão tudo para o esquecer rapidamente, nem muito menos aos pessimistas, porque neste caso haverá o sério risco de em seguida darem um tiro nos miolos ou irem-se atirar para debaixo do comboio mais próximo. Não viria grande mal ao mundo se “Requiem For a Dream” fosse apenas, em linguagem fílmica, a negação do Cinema. Mais grave é ele ser, em última análise, a negação da própria Vida.
4 comentários:
Não vi o filme mas é curioso que haja tão boas opiniões sobre ele, mas pelo que dizes e depois ler o argumento na Wikipedia dá realmente a ideia de ser um filme mesmo desagradável.
Também detesto o hip-hop...
Então não o vejas Zé Luís. Tal como o Rato, também eu caí nessa asneira de acreditar nas "boas críticas" e fui alugar o filme ao videoclube. Para além de deprimente não tem qualquer valor cinematográfico que possa justificar uma visão. Aquilo é tudo mau demais!
De aconselhar apenas aos masoquistas e inimigos do peito.
Não partilho da tua opinião em relação ao filme e não poderei concordar. Aronofsky é magistral no jogo de câmera, a banda sonora e fotografia coadunam-se perfeitamente na transmissão do inquietante, do agoniante. O frenético consumo é retratado a um ritmo verdadeiramente electrizante. Um genial pedaço de cinema.
Cumps.
Roberto Simões
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Pelos vistos este filme tem o condão de extremar posições, não é fita que se fique pelo meio-termo - ou se adora ou se detesta.
No meu caso faço parte da maioria - esta "coisa" não é de má digestão, é mesmo intragável!
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