SINTONIA
DE AMOR
Um
filme de NORA EPHRON
Com
Tom Hanks, Meg Ryan, Bill Pullman, Ross
Malinger, Rita Wilson, Rob Reiner, Rosie O’Donnell, Victor Garber, Barbara
Garrick, etc.
EUA
/ 105 min / COR /
16X9 (1.85:1)
Estreia
nos EUA: 25/6/1993
Estreia
em PORTUGAL: Lisboa (cinema São Jorge), 19/11/1993
Tu vieste
E acordas todas as horas
Preenches todos os minutos
Acendes todas as fogueiras
Escreves todas as palavras
(Joaquim Pessoa)
Estamos a 3 de Dezembro de 1993, uma sexta-feira. Conforme o combinado, vou ter contigo ao Hotel Jerónimos, ali para os lados de Belém, frente ao alçado nascente do mosteiro homónimo, pelas 19:00 horas. Sou pontual, como sempre, mas tenho de ficar à tua espera no hall da recepção. Nos altifalantes soa uma canção que conheço muito bem: é "I Will Always Love You", cantada pela Whitney Houston. Chegas finalmente e ficamos um pouco à conversa. Não temos muita fome mas temos de ir comer qualquer coisa. Saímos, atravessamos a rua dos eléctricos e vamos jantar a um restaurante ali perto chamado "Caseiro". Quando acabamos, reparamos nas horas, e damo-nos conta de que ainda podemos ir ao cinema. Chamamos um táxi, que nos conduz rapidamente ao cinema São Jorge, na Av. da Liberdade. O filme em cartaz é o "Sleepless in Seattle", que eu já tinha visto (estreara-se a 19 de Novembro), mas apetecia-me imenso vê-lo outra vez, e desta vez contigo.
Na cumplicidade do escuro da sala trocamos de mãos. Sabe bem estar ali de novo, bem junto a ti, pois a última vez que tal tinha acontecido fora já há 22 anos. Nessa altura fomos a uma matiné de domingo (era o 26 de Setembro de 1971), eu tinha 18 e tu 16 anos, e o cinema era outro: o antigo Vox, ali para os lados da Av. de Roma. Dessa sessão ainda conservo os bilhetes (ficámos na fila G, nºs 11 e 13) e o filme era o "Love Story". Acabada a sessão apanhamos novo táxi para nos levar de regresso ao Hotel. Subimos ao teu quarto e ficamos ainda um bocado a tagarelar. Estás cansada e com sono, sem disposição para prolongar as emoções do dia. Depeço-me de ti e vou para casa. No futuro ainda faríamos muitas coisas juntos, mas em relação ao cinema, nunca mais vimos um filme lado a lado. "Sleepless in Seattle" foi a nossa última sessão de cinema.
Dr Marcia Fieldstone: «What are you going to do?»
Sam Baldwin: «Well, I’m gonna get out of bed every morning… breathe in and out all day long. Then, after a while, I won’t have to remind myself to get out of bed every morning and breathe in and out… and, then after a while, I won’t have to think about how I had it great and perfect for a while.»
Dr. Marcia Fieldstone: «Tell me what was so special about your wife?»
Sam Baldwin: «Well, how long is your program? Well, it was a million tiny things that, when you added them all up, they meant we were supposed to be together… and I knew it. I knew it the very first time I touched her. It was like coming home… only to no home I’d ever known… I was just taking her hand to help her out of a car and I knew. It was like… magic!»
Foi uma noite muito especial, aquela de sexta-feira, a que “Sleepless In Seattle” adicionou um pequeno toque de magia, como se por umas horas tivéssemos regredido no tempo. Sim, porque é disso que o filme trata, dos "acordes perfeitos" que por vezes se estabelecem entre duas pessoas, tornando esses momentos inesquecíveis.
O filme inicia-se
por um funeral: o de Maggie, a jovem esposa de Sam Baldwin (Tom Hanks), que deixa este naturalmente
abatido e revoltado com a vida. Sam é arquitecto, vive em Chicago, e tem um
filho de 8 anos, Jonah (Ross Malinger),
que dali em diante passará a ser a sua única companhia. Mudam-se para Seattle,
uma cidade portuária no noroeste dos Estados Unidos, junto à fronteira com o
Canadá. Ano e meio depois, Sam continua com dificuldades em dormir, apesar de
ter voltado a trabalhar. Na véspera de Natal, Jonah liga para um desses
programas da rádio que têm o hábito de se meterem na vida das pessoas,
resgatando histórias pessoais para deleite dos seus ouvintes. Como presente de
Natal, pede uma nova mulher para o pai, e consegue que este, muito contrariado,
aceda a falar com a responsável do programa, uma tal Drª Marcia Fieldstone (ver
diálogo acima transcrito). Entre as muitas mulheres que ouvem a história de Sam
e por isso anseiam conhecê-lo, encontra-se Annie Reed (Meg Ryan), uma jornalista de Baltimore, que está prestes a casar-se
com Walter (Bill Pullman), um homem
adorável (apesar das alergias), que tem tudo para a fazer feliz. Mas a história
ouvida na rádio torna-se uma obsessão para ela, a ponto de viajar para Seattle
(Baltimore, lembre-se, fica na costa oposta do continente americano) no intuito
de conhecer pessoalmente quem inexplicavelmente lhe tomou conta de todos os
pensamentos. Alguém que nunca viu na vida, que nem sabia que existia, mas que,
quem sabe, seja a "tal alma gémea" .
Todo este
preâmbulo tem como objectivo presentear o espectador com a pungente sequência
final, passada em Nova Iorque, nomeadamente no topo do Empire State Building.
Estou até convencido que a filmagem desse epílogo, um dos mais emocionantes da
história do cinema (assim, de repente, lembro-me de apenas mais dois com igual índice
de intensidade: o do "Cinema Paradiso" e o do "City Lights"),
foi a razão primeira pela qual "Sleepless
In Seattle" foi escrito. Tendo como reminiscências o clássico de Cary
Grant e Deborah Kerr (“An Affair To Remember”, 1957), filme várias vezes citado
(e visualizado), Nora Ephron
(1941-2012), responsável também pelo argumento (melhor do que directora, ela
foi uma argumentista notável), reinventa o filme de Leo McCarey, adaptando-o
para a modernidade. Sem ponta de ironia, e utilizando a ingenuidade e a
sinceridade dos melodramas da década de 50, Nora Ephron mostra-nos que o amor, afinal, não muda muito ao longo
dos tempos, sendo reconhecido, quase sempre, por aquele pequeno frisson entre duas pessoas, que por causa disso se tornam especiais: «Existem amores, vagos e fugidios, que duram
apenas três dias. Mas há outros, raros e preciosos, que o tempo e a saudade
alimentam e que duram toda a vida». A tal "magia" de que o filme
fala.
ALGUMAS CURIOSIDADES:
- A hilariante
cena entre Tom Hanks e Victor Garber, evocando cenas do filme
"The Dirty Dozen", foi completamente improvisada.
- O papel de
Annie foi recusado por actrizes muito conhecidas, nomeadamente Julia Roberts,
Kim Basinger, Michelle Pfeiffer, Jennifer Jason Leigh e Jodie Foster. Nicole
Kidman e Demi Moore foram também equacionadas para o papel.
- Foi o segundo
de três filme em que Meg Ryan e Tom Hanks trabalharam juntos. O
primeiro foi "Joe Versus The Volcano" (1990) e o terceiro,
"You've Got Mail" (1998).
- Nora Ephron escreveu o argumento de
"When Harry Met Sally" (1989), também com Meg Ryan, filme dirigido por Rob
Reiner, o qual participa como actor neste "Sleepless In Seattle".
- Em Junho de
2008, o American Film Institute colocou "Sleepless
In Seattle" na lista das 10 melhores comédias românticas de sempre. Ver lista completa aqui.
- O filme teve duas nomeações para os Óscars de
Hollywood, nas categorias de argumento original (Nora Ephron, David S. Ward e Jeff Arch) e melhor canção: "A wink
and a smile" (música de Marc Shaiman e letra de Ramsey McLean),
interpretada por Harry Connick Jr. Mais três nomeações para os Globos de Ouro: melhor
comédia ou musical; actriz principal (Meg
Ryan) e actor principal (Tom Hanks).
Ver aqui
outros prémios.
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