O ÚLTIMO RESGATE
Um filme de ROBERT ALDRICH
Com Kim Darby, Scott Wilson, Tony Musante, Robert Lansing, Connie Stevens, Irene Dailey, Wesley Addy, etc.
EUA / 128 m / COR / 16X9 (1.85:1)
Estreia nos EUA a 28/5/1971 (New York)
The psychotic killer,
the young heiress...
the kidnapping that becomes a love story
Remake do filme inglês “No
Orchids for Miss Blandish” [1948] e baseado na primeira novela do britânico
James Hadley Chase, escrita em 1939, “The Grissom Gang” surge em 1971, quatro
anos depois do mega-sucesso de “Bonnie & Clyde”, de Arthur Penn. Os dois
filmes têm em comum histórias de gangsters passadas durante o início dos anos
30, na América de todas as depressões. Aqui é uma rica herdeira, Barbara
Blandish (Kim Darby) que é raptada por três marginais com o intuito de se
apoderarem do colar de diamantes por ela usado durante uma festa. Mas as coisas
complicam-se e Barbara acaba por ficar prisioneira de um conhecido (e temível)
bando da região (a família Grissom) que pensam de imediato tirar um
maior proveito da situação e exigem 1 milhão de dólares pelo pagamento do respectivo resgate. O dinheiro é pago mas os elementos da quadrilha, comandados com mão de ferro pela matriarca, Gladys ‘Ma’ Grissom (Irene Dailey num papel fabuloso), planeiam
assassinar a rapariga cativa. A isso se opõe Slim (Scott Wilson), o mais novo
dos irmãos, que sofre de algumas perturbações mentais e que se apaixona pela
refém.
Depois do grande sucesso de “The
Dirty Dozen” (recentemente comentado neste blogue), Robert Aldrich (1918-1983)
conseguiu o dinheiro suficiente para fundar os seus próprios estúdios (The
Aldrich Studios). Mas os filmes seguintes (“The Legend of Lylah Clare”, “The
Killing of Sister George” e “Too Late The Hero”), revelaram-se todos grandes
flops comerciais, Este “The Grissom Gang” não fugiu à regra e Aldrich não teve
outro remédio senão vender os estúdios e assim perder a sua independência. Mas
curiosamente, passadas quatro décadas, este filme é visto actualmente como uma
das melhores e mais excitantes obras do realizador norte-americano, o qual
combina o ambiento pesado e cool do filme negro com certa violência gráfica, uma moda que
“Bonnie & Clyde” veio despoletar naqueles finais dos anos 60, princípios
dos anos 70.
Um dos trunfos deste filme são as
magníficas interpretações de todo o elenco, que conferem às diversas personagens
uma grande credibilidade, humanizando-as, independentemente do lado em que se
encontram. O pai de Barbara (Wesley Addy), por exemplo, consegue ser mais
odioso do que qualquer um dos elementos da família dos criminosos. Slim, o
psicótico benjamim, começa por ser um indivíduo asqueroso aos olhos de Barbara,
mas à medida que o filme se desenrola a relação entre os dos vai-se
modificando, e Slim atinge no final o estatuto heróico de mártir, conseguindo
desse modo a identificação do público com uma figura anti-social e mentalmente
desequilibrada. O tema musical que abre e fecha o filme (“I Can’t Give You
Anything But Love”, interpretado por Rudy Vallee) bem pode ser visto como o
tema de Slim na sua desesperada tentativa (em grande parte bem sucedida) de se
tornar alguém diferente aos olhos da pessoa amada: «Haven’t you ever loved
anyone?»
“The Grissom Gang” mantém-se um
filme muito interessante, pouco dado a clichés ou a ideias pré-concebidas, e em
que os mundos dos “bons” e dos “maus” se entrelaçam, diluindo as fronteiras que
habitualmente os separam. Robert Aldrich revela-se uma vez mais um realizador
honesto, pouco dado a rodriguinhos e, acima de tudo, um exímio director de actores. Manejando os seus cordelinhos, Aldrich pôde submergir-nos num mundo alucinante e algo brechtiano, cuja irracionalidade nos obriga a conhecer os efeitos sem nos determos demasiado nas causas. “The Grissom Gang” foi já editado em DVD no mercado nacional (pela Cine
Digital) e merece sem dúvida uma (re)descoberta, atendendo a que desde o ano da
sua estreia (1971) se perdeu injustamente no esquecimento colectivo.
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