quarta-feira, fevereiro 01, 2012

CONNERY POR CONNERY

Nascido a 25 de Agosto de 1930, em Edinburgh, Scotland, UK
Quando me propuseram o papel de James Bond, eu não tinha nada a ver com o personagem. Ele era elegante e requintado, tinha classe e educação. Eu venho de uma família trabalhadora e fui educado na rua. Talvez a única coisa que realmente tínhamos em comum fosse o nosso sentido de humor. À medida que fui fazendo os filmes, cheguei a pensar que James Bond tinha arruinado as possibilidades de expansão da minha carreira. Mas consegui dar a volta a isso, porque, entretanto, fui fazendo os papéis que achava que devia fazer enquanto actor. Foi assim que fiz as pazes com James Bond. Agora é como um velho amigo. Contudo, enquanto espectador, o que menos me agrada na evolução da série Bond é que cada vez mais os filmes se distanciam da essência da personagem original. Falta-lhes o equilíbrio entre acção, história e personagens.
Para ser sincero, não foi uma grande surpresa ter ganho um Óscar (actor secundário em “The Untouchables”, 1987). Mas guardo excelentes recordações de Brian De Palma e o orgulho de ter ganho a estatueta com uma personagem tão próxima de mim, um irlandês muito ligado às suas raízes e cheio de energia e firmeza. O que foi menos previsível foi o facto de me terem concedido o prémio Freedom of Edinburgh, que já tinha sido atribuído a Benjamin Franklin, à Rainha Victoria, a Eisenhower e a Churchill. Esse sim, é importante. Quanto ao Óscar, tenho-o na casa de banho, juntamente com outros prémios.
Não quero que me considerem intrometido, mas gosto de ter a certeza de que aquilo em que participo não se distancia muito do que foi inicialmente planeado. Chego sempre às filmagens com uma ideia precisa do assunto do filme, porque gosto de me envolver na pré-produção, mas isso não quer dizer que na rodagem seja tudo inalterável. O que detesto é que se reescreva continuamente o argumento e de planear as cenas no próprio dia. O improviso dos actores deve ser controlado, porque o filme está sempre acima dos actores e das estrelas, por maiores que eles sejam.
É muito reconfortante o facto de muitos actores jovens desejarem trabalhar comigo, sobretudo porque há cada vez menos trabalho e mais gente jovem disposta a fazê-lo. Isso limita as possibilidades de manter no activo gente experimentada e de valor, que antes se respeitava e escutava e que agora se arrisca a cair no esquecimento. Mas eu não me dei mal nesse aspecto. Quando trabalhei com Harrison Ford e Kevin Costner descobri dois grandes actores, que, por trabalharem em projectos comerciais, por vezes têm sido postos, injustamente, em causa. O cinema norte-americano é como a Broadway: está constantemente a morrer, mas continua a manter um espírito empresarial. O que mais o está a prejudicar é a obsessão em fazer sequelas. A energia que se deveria empregar a desenvolver temas de qualidade utiliza-se para fazer dinheiro o mais rapidamente possível. Noutros tempos, esperava-se um pouco mais até se receber os rendimentos do filme. Agora, se não se paga nas salas em duas semanas, é considerado um fracasso. E isto é assim, porque, quase sempre, quem controla o dinheiro não faz a menor ideia do que é o cinema.
Há muito tempo que tomei a decisão de misturar-me com as pessoas, porque não sinto nisso qualquer incómodo. Voo sempre em linhas regulares, saio por aí, faço as minhas próprias reservas nos restaurantes. Não tenho nem chauffeur, nem ajudantes, nem guarda-costas. O mais importante é estar feliz na minha própria pele. Tento tratar toda a gente como gosto que me tratem a mim. As festas, as reuniões, as estreias…, não me interessam. Se querem fotografar-me com mulheres bonitas, terão de me fotografar com a minha mulher. Quanto a dizer-se que sou o homem mais sexy do mundo é uma parvoíce. Não acho que o meu sex-appeal seja uma característica assim tão dominante na minha personalidade.
A política interessa-me porque as coisas estão a mudar muito depressa. Orgulho-me de não ter uma gota de sangue inglês nas veias e defendo o movimento independentista: não perdi o sotaque escocês e acho que devemos buscar uma posição de igualdade com os ingleses, que nos controlam há 300 anos. Sei que, algum dia, nós, escoceses, obteremos a independência e por isso participo activamente com os políticos que defendem essa opção.
Numa entrevista na televisão disse que bater numa mulher não era o pior que se lhe podia fazer. Assim começou a minha fama de porco machista. Mas não o sou. Adoro as mulheres, mas detesto as ditadoras e as que choramingam em excesso. Tenho lido muitas coisas sobre mim que não são verdadeiras, como ser apoiante de armas nucleares. A energia nuclear é extremamente perigosa. Como poderia defendê-la se vejo desastres como o de Chernobyl?
Sou agnóstico. Claro que gostaria de acreditar no Além, mas creio que depois desta já não vamos ter outra vida. Ainda assim, acho que os que têm fé têm muita sorte. Todo o tema da eternidade, e da vida além da morte, é algo que não me tira o sono. O meu passado não tem importância, por isso discuto com aqueles que querem escrever a minha biografia. E as que têm aparecido não têm nada a ver comigo. Detesto guardar coisas do passado ou dos meus filmes…, excepto o dinheiro que ganho com eles. O desencanto seria a única razão para eu deixar o cinema. Mas ainda não encontrei nada que me entusiasmasse mais que actuar. Já tive momentos baixos, mas nem por uma vez pensei que esta profissão pudesse ser aborrecida.



FILMOGRAFIA:

2003 – The League of Extraordinary Gentlemen / Liga de Cavalheiros Extraordinários + produtor
2000 – Finding Forrester / Descobrir Forrester + produtor
1999 – Entrapment / A Armadilha + produtor
1998 – Playing By Heart / Entre Estranhos e Amantes
1998 – The Avengers / Os Vingadores
1996 – Dragonheart / Coração de Dragão
1996 – The Rock / O Rochedo + produtor
1995 – First Night / O Primeiro Cavaleiro
1995 – Just Cause / Causa Justa + produtor
1994 – A Good Man In Africa / Sarilhos em África
1993 – Rising Sun / Sol Nascente + produtor
1992 – Medicine Man / Os Últimos Dias do Paraíso + produtor
1991 – Robin Hood: Prince Of Thieves / Robin Hood, Príncipe dos Ladrões
1991 – Highlander II: The Quickening / Duelo Imortal, Parte II
1990 – The Russia House / A Casa da Rússia
1990 – The Hunt For Red October / Caça ao Outubro Vermelho
1989 – Family Business / Negócios de Família
1989 – Indiana Jones And The Last Crusade / Indiana Jones e a Grande Cruzada
1988 – The Presidio / A Hora dos Heróis
1987 – The Untouchables / Os Intocáveis
1986 – Der Name Der Rose / O Nome da Rosa
1986 – Highlander / Duelo Imortal
1983 – Never Say Never Again / Nunca Mais Digas Nunca
1983 – Sword of the Valiant / A Espada dos Valentes
1982 – Five Days One Summer / Cinco Dias Num Verão
1982 – Wrong Is Right / O Homem das Lentes Mortais
1981 – Time Bnadits / Os Ladrões do Tempo
1981 – Outland / Outland: Atmosfera Zero
1979 – Cuba
1979 – Meteor / Meteoro
1978 – The First Great Train Robbery / O Grande Ataque ao Comboio do Ouro
1977 – A Bridge Too Far / Uma Ponte Longe Demais
1976 – The Next Man
1976 – Robin and Marian / A Flecha e a Rosa
1975 – The Man Who Would Be King / O Homem Que Queria Ser Rei
1975 – The Wind and the Lion / O Leão e o Vento
1975 – Ransom / Estado de Emergência
1974 – Murder on the Orient Express / Um Crime no Expresso do Oriente
1974 – Zardoz
1973 – The Offence or Something Like the Truth / A Sevícia
1971 – Diamonds Are Forever / Os Diamantes São Eternos
1971 – The Anderson Tapes / O Dossier Anderson
1971 – The Red Tent / A Grande Odisseia
1970 – The Molly Maguires / Os Homens Nascem Iguais
1968 – Shalako
1967 – You Only Live Twice / Só Se Vive Duas Vezes
1966 – A Fine Madness / O Malandro Encantador
1965 – Thunderball / 007 Operação Relâmpago
1965 – The Hill / A Colina Maldita
1964 – Goldfinger / 007 Contra Goldfinger
1964 – Marnie
1964 – Woman of Straw / A Mulher de Palha
1963 – From Russia With Love /007 Ordem Para Matar
1962 – Dr. No / Agente Secreto 007
1962 – The Longest Day / O Dia Mais Longo
1961 – On The Fiddle or Operation Snafu / Ordem Para Amar
1961 – The Frightened City / A Cidade Ameaçada
1959 – Tarzan’s Greatest Adventure / A Maior Aventura de Tarzan
1959 – Darby O’Gill and the Little People / O Senhor da Terra
1958 – Another Time, Another Place / O Amor Que Roubei
1958 – A Night To Remember
1957 – Action of the Tiger / Uma Aventura no Mediterrâneo
1957 – Time Lock
1957 – Hell Drivers / Na Rota do Inferno
1956 – No Road Back

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