segunda-feira, setembro 12, 2011

THE WARD (2010)

O HOSPÍCIO
Um filme de JOHN CARPENTER







Com Amber Heard, Mamie Gummer, Danielle Panabaker, Laura-Leigh, Lyndsy Fonseca, Jared Harris, Sydney Sweeney

EUA / 88 min / COR / 
16X9 (2.35:1)

Estreia no CANADÁ a 13/9/2010
(Festival Internacional de Toronto)
Estreia na GRÃ-BRETANHA a 21/1/2011
Estreia em PORTUGAL a 8/9/2011


Dr. Stringer: «What's the first thing you remember?»
Kristen: «Fire»

Nove anos – o período que intervala a estreia das últimas duas longa-metragens de John Carpenter (este “The Ward”, no Festival de Toronto do ano passado,  e “Ghosts From Mars” no Verão de 2001) – é tempo demais, mesmo que durante todos os anos noventa o seu cinema tenha estado longe do brilhantismo conseguido nas décadas anteriores (a última grande obra de Carpenter data de 1988 e chamou-se “They Live”). Pelo meio ficaram apenas dois filmes para a série televisiva “Masters of Horror”: os episódios “Cigarette Burns” (2005) e “Pro-Life” (2006).

Por isso a impaciência não me deixou esperar por Outubro (mês em que se anuncia a edição europeia em DVD e Blu-Ray) e ontem, ao fim da tarde, rumei até Lisboa para ver o filme numa sala da capital. Tratou-se de uma atitude muito pouco usual em mim, atendendo a que há muito tempo que perdi a paciência para ver cinema num espaço público. Mas desta vez os índios não eram muitos, estavam mais ou menos pacíficos, e deixaram-me ver o filme em relativa calma e sossego.

Valeu a pena o sacrifício? Relativamente: não saí eufórico da sala (longe disso) mas também não dei o tempo por perdido. “The Ward” vê-se bem, sobretudo para os fanáticos do género (sim, sou um deles e sem cura possível), apesar de não apresentar nada de original e, pelo contrário, percorrer muitos dos clichés do filme de terror. Tudo o que “The Ward” mostra já estamos fartinhos de ver noutros filmes. Nem sequer falta o twist final (apenas uma semi-surpresa, visto ser facilmente adivinhada a partir do meio do filme), que o aproxima muito descaradamente de “Shutter Island”, de Scorsese, mas sem a classe deste. Ou o inevitável arrepio-final, moda lançada pela obra-prima de Brian DePalma (“Carrie”),  e que desde então não há filme de terror que se preze que não recorra a esse artifício final. Mesmo que o faça de forma perfeitamente gratuita, como é o caso aqui.


O que resta é uma mise-en-scène perfeita (único contributo reconhecível de Carpenter, que desta vez não é responsável pela música, como tantas vezes sucedeu no passado), uma fotografia a realçar convenientemente todo o clima claustrofóbico da clínica onde se passa a grande parte da história (apesar de alguns escuros demasiado acentuados), uma jovem actriz muito sensual (Amber Heard, na beleza dos seus 24 anos e bem rodeada por um elenco maioritariamente feminino) e sobretudo um delicioso momento musical ao som de “Run Baby Run (Back Into My Arms)”, o hit original dos Newbeats (escrito por Joe Melton e Don Gant) de 1965, recriado posteriormente por Roy Orbison e The Tremeloes (e que muito boa gente da minha geração irá redescobrir nas suas memórias musicais). Mas a frase incluída nos posters do filme - “Carpenter proves he is still the master of shock” - não contem, obviamente, qualquer ponta de verdade - o “master” há mais de 20 anos que foi de férias e ainda não foi desta que regressou ao convívio de todos os seus fans de outros tempos.




10 comentários:

João Palhares disse...

Então e o Vampires? O Prince of Darkness, o Escape From LA e até o Village of the Damned? O próprio Carpenter diz que o melhor filme que fez foi o "In The Mouth of Madness". O "pós-They Live" é tão ou mais rico que o que o precede..

Rato disse...

O Carpenter pode dizer o que muito bem entende, João, mas a verdade é que os filmes dos anos 90 - todos eles - perdem significativamente quando comparados com o período considerado "clássico": "Assalto à 13ª Esquadra" (1976), "Halloween" (1978), "O Nevoeiro" (1980), "The Thing" (1982), "Christine" (1983), "Starman" (1984) e "They Live" (1988) são incontornáveis e responsáveis pelo prestígio alcançado pelo Carpenter. O resto é paisagem, mais ou menos florida, mas paisagem.

A Bola Indígena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JC disse...

Ora como estava hesitante, acabas de me dar um bom pretexto para não ir.
Abraço

João Palhares disse...

O período clássico é todo, porque essa é a filosofia dele, e se bem que seja sempre interessante ver carreiras de cineastas para perceber onde é que a coisa falha (Bertolucci, Robert Wise, Stanley Kramer, sei lá , Nolan), o Carpenter contorna tudo isso.. Depois de uns anos na meca do sistema, sai, não porque é obrigado, mas porque o impediam de ser fiel a ele próprio e faz o "They Live" e o "Prince of Darkness" de rajada. São filmes-irmaõs, não há qualquer diferença em ideias, políticas e estética. Não há qualquer diferença no discurso entre o Assalto à 13ª Esquadra e o Escape From LA, ou entre quaisquer outros filmes, tirando talvez o Memórias de um Homem Invisível e o Starman (que ainda assim são um bom filme e um filme incrível), daí o eu não compreender o porquê de se dizer que ele anda morto para o cinema há 20 anos, que é o que diz a maioria das pessoas.

Ah e desculpe lá estar aqui a invadir o espaço. :)

Rato disse...

É sempre bem vindo, João. No cinema, como noutras coisas na vida, o que se deseja é a diversidade, a troca de ideias, a alternância de opiniões. Para ditaduras de pensamento já nos chegou o Estado Novo.

Billy Rider disse...

Apesar de tudo, e concordando totalmente com o teu comentário, até que o filme não me desagradou de todo - sempre existem diferenças quando filmes de teor semelhante são dirigidos por mãos hábeis e conhecedoras do seu ofício.
Mas claramente que Carpenter é hoje em dia um realizador acomodado. A diferença para os seus contemporâneos é que se acomodou cá fora e não dentro do sistema. E todo este lapso de tempo sem filmar mostra isso mesmo, um quase desinteresse pelo seu brilhante passado. Por isso se nota neste seu regresso um "baixar de braços" e cedências várias ao mainstream que ele próprio tanto combateu.
Quanto ao "Run, Baby Run", confesso que já não me lembrava do tema. Mas fui procurar nas minhas velharias e encontrei a versão dos Tremeloes, por sinal muito parecida com o original. Como provavelmente terás esta versão dos Newbeats (tu tens tudo...), seria óptimo que a colocasses numa das tuas já famosas coletâneas. O pessoal agradece.

Abraço

Rato disse...

Já tinha pensado nisso, caro Billy: colocar uma versão nas "Nostalgias" e a outra nos "Happy Days". Também tenho a versão do Roy Orbison, mas dessa não gosto particularmente.

Abraço

Elisabete disse...

Eu também não resisti e fui ver na última sexta-feira. Confesso que estava à espera de mais. O filme soa-me a tantas outras coisas que já vi. Sim, a actriz principal é muito bonita, quando tem o cabelo apanhado faz lembrar a Kim Novak nos Pássaros de Hitchcock. Depois de ver li uma critica do Público e vi o filme de uma forma diferente. Muitas das linhas mestras de filmes anteriores também estão aqui, mas este não tem nem de perto nem de longe o mesmo impacto que outros filmes dele já tiveram em mim.

Rato disse...

Atenção, Elisabete: a Kim Novak é a do "Vertigo". Nos "Birds" a actriz é a Tippi Hendren, mãe da Melanie Griffith