quinta-feira, dezembro 30, 2010

BIO-FILMO - JAMES DEAN

Nascido a 8 de Fevereiro de 1931 em Marion, Indiana, EUA
Falecido a 30 de Setembro de 1955 em Cholame, California, EUA

«Dream as if you'll live forever. Live as if you'll die today»

«They tell me you are dead, yet I cannot / this night believe the unbelievable»Evelyn Hunt, uma professora de Vermont, começou assim o poema que escreveu às quatro da madrugada na noite seguinte à da morte de James Dean.  Enviou-o para publicação à Photoplay, dizendo não saber do seu valor, mas que talvez «tivesse algum sentido para quem o tivesse amado». «Não sei» - acrescentava - «as pessoas esquecem tão depressa, tão tão depressa»
O que ela talvez não soubesse é que esse poema à beleza (restless beauty), às mãos (as beautiful as music to the soul), ao sorriso (that probed the memory with pain of much remembered and of more foregone) de Dean, era o primeiro duma série que há mais de 50 anos ainda se não interrompeu e a que se juntariam alguns dos grandes poetas e escritores americanos. É que Dean seria dos poucos (muito poucos) a não ser esquecido «depressa, tão tão depressa». Dez, trinta, cinquenta anos depois, o seu poster continua a ser a imagem masculina colada nas paredes (ou nos armários) das casas das mulheres que nasceram no ano em que ele morreu, ou pouco antes, ou pouco depois.
«Só fez três filmes. Mas tivesse feito só um, e já era a maior star masculina dos anos 50» (Andy Warhol). "The Lost Boy" foi a imagem procurada no espelho por outros tantos "lost boys" que olhavam para si próprios para ver James Dean, foi a imagem desejada por outras tantas "lost girls" que queriam desse "girl-boy almost" o gesto de enfiar os dedos nos cabelos. Marilyn e Jimmy são a marca dos fifties e de tudo o que dos fifties nas décadas seguintes se prolonga.  
Ambos foram efémeros passageiros desse e deste mundo, aparições, visitantes da noite que nunca mais deixaram nada igual ao que antes deles fora.  No caso de Jimmy a velocidade da passagem é quase inacreditável. Já atrás dissemos que antes de ser já o era: morreu pouco depois de se estrear o seu primeiro filme e antes da estreia dos dois outros. Pode-se, é certo, falar da sorte que teve em fazer filmes com Kazan e Ray, que eram quem melhor o podia perceber: o cineasta dividido e o cineasta que sempre se contradisse a si próprio.
Pode dizer-se que no “Gigante” já vive "post-mortem", do mito criado por outros. Pode até gente mais nacionalista entrar em cálculos do género: se Dean tivesse vivido até aos 80 anos que hoje estaria quase a fazer, se Brando tivesse morrido depois do “Eléctrico”, do “Wild One”, do “Waterfront”.  Pois é, se a minha avó tivesse rodas era carreta. Que interessa o "se"? Dean é a morte de Dean.  Inseparavelmente. Por isso, nas poucas entrevistas que deu, falou sempre da brevidade da vida. Talvez não fosse premonição, mas exigência. Talvez não fosse intuição, mas existência. Por longo que tivesse sido, breve seria sempre o seu modo de viver.
Para a juventude americana James Dean era a imagem, o modelo, onde se encontravam concentradas não só as características gerais do adolescente, mas também todas as suas aspirações imediatas. Exprimia as suas necessidades de revolta, de luta, de desrespeito pelas convenções impostas pela anterior geração, de conquista da sua individualidade própria. Não era um inovador, mas apenas um catalisador, sistematizando um conjunto de regras de vestuário, atitudes, relações e sentimentos que permitiam a uma determinada classe etária afirmar-se como tal, afirmação ainda mais conseguida pela imitação do herói.
Referiu Truffaut que «em James Dean a juventude actual se encontra a si própria, não tanto pelas razões habituais – violência, frenesim, perversidade, pessimismo e crueldade – mas por outras infinitamente mais simples e quotidianas: pudor de sentimentos, fantasia de todos os instantes, pureza moral sem relação com a moral corrente mas muito mais rigorosa, gosto eterno da adolescência pela experimentação, loucura, orgulho e desgosto de se sentir fora da sociedade, recusa e desejo de se integrar e, finalmente, a aceitação, ou a recusa de um mundo tal qual ele é».
A juventude, sempre grande consumidora de cinema, obtinha de Hollywood o produto que procurava: o country-boy vivendo deslocado na cidade, solitário, tristonho, romântico, inadaptado, corajoso, rebelde. Mas esse produto não era vendido a qualquer preço, havia regras para que essa juventude se mantivesse dentro dos limites do sistema. Que fosse irrequieta e rebelde como é próprio da sua idade, mas não revolucionária. James Dean era um rebelde, um excêntrico, um extravagante, mas estava muito longe de ser um irrecuperável. Era até um bom cidadão americano; mais uns anos e seria um typical american man, defensor do american way of life.
Mas um dia, com apenas 24 anos, James Dean morreu ao volante do seu Porsche. Pela sua morte encontrou o prestígio esquecido das stars da grande época, mais próximas dos deuses que dos mortais. A morte cumpriu o destino de todo o herói mitológico, na sua dupla natureza, humana e divina. Concluíu a sua humanidade profunda, que é a de lutar incansavelmente contra o mundo e de, heroicamente, enfrentar uma morte que o destruirá. Mas, ao mesmo tempo, concluíu a sua natureza sobre-humana, divinizou-o, abrindo-lhe as portas da imortalidade. Não é senão depois do seu sacrifício, em que expia a sua condição humana, que o herói se torna deus.
James Byron Dean nasceu, sob o signo do Aquário, em lndianapolis. O mais esquecido dos seus nomes, Byron, foi-lhe dado - diz-se - como homenagem ao poeta inglês, preferido entre todos pelo pai. É fácil estabelecer associações e encontrar românticas correspondências.  Tinha ele cinco anos, quando a família se estabeleceu em Los Angeles.  Tinha oito, quando a mãe morreu, e voltou para Indiana, para viver com a avó (biógrafos citam o ressentimento contra o pai, tema dos seus dois filmes maiores).
Concluiu o liceu em Fairmount, em 1949: uma medalha de atletismo e um prémio na classe de arte dramática. Começou a frequentar uma faculdade de Direito, mas a carreira de actor interessou-o mais. Em 1950, apareceu em secundaríssimos papéis na televisão. Em 51, foi figurante em “Sailor Beware” (um filme da dupla Dean Martin - Jerry lewis) e teve um minúsculo papel em “Fixed Bayonets” de Samuel Fuller. Diz-se que se apaixonou pelo “Petit Prince” de Saint-Exupéry e que tinha escrito no quarto a frase: "L'essentiel est invisibie pour tes yeux".
Em 1952, entrou para o "Actor's Studio", escolhido por Lee Strasberg. Mais um pequeno papel no cinema (“Has Anybody Seen My Gal?” de Douglas Sirk) e a estreia na Broadway, na peça “See the Jaguar”. Foram apenas seis representações, mas o suficiente para lhe trazer algum dinheiro, permitindo-lhe satisfazer a sua paixão pela velocidade – comprou uma motocicleta Indian 500.  Continuou a estudar e a trabalhar muito (Kazan seria o primeiro a notá-lo) e era já um actor típico do "método" que aparecia na televisão, em papéis de algum relevo.
Mas quando se tornou verdadeiramente notado foi quando interpretou na Broadway uma adaptação de “O Imoralista” de Gide, encenada por Daniel Mann, em 54, e que lhe valeu o prémio "Tony" (o actor mais prometedor do ano). A lenda reza que Kazan o foi ver e se convenceu imediatamente que tinha achado o protagonista do filme que preparava: “East of Eden”. De qualquer forma, Kazan convenceu a Warner a contratá-lo, para o papel de Cal, transposição de Caim («…e Caim afastou-se da presença do Senhor e permaneceu na terra de Nod, a leste do paraíso»).
As filmagens terminaram em Agosto e muito se falou (sobretudo depois) duma história de amor com uma actriz que Hollywood promoveu e que como ele, morreria trágica e precocemente: Pier Angeli, de 22 anos, oriunda da Sardenha, Itália. Embora começasse por ser uma relação serena, depressa se tornou tempestuosa. Os dois habitavam um pequeno apartamento no mesmo prédio onde vivia Kazan, tendo este testemunhado diversas discussões entre o casal.  Mas tudo acabaria em Novembro, quando Pier Angeli abandonou Dean para se casar com o cantor Vic Damone.
Com o dinheiro recebido pelo seu primeiro papel principal no cinema, Dean comprou uma nova motorizada, desta vez uma Triumph T-110, que conduzia à volta do estúdio, para desespero de Kazan, que o chegoui a proibir de andar de moto até o filme ficar pronto. Ainda nesse mesmo ano Dean fez para a televisão “I am a Fool” ao lado de Natalie Wood. A 4 de Janeiro de 1955, foi anunciado que tinha assinado contrato para o novo filme de Nick Ray, “Rebel Without a Cause”
A 18 de Janeiro as reuniões de produção iniciaram-se, e pouco depois Dean e Ray deslocaram-se a Nova Iorque para procurarem actores para o elenco. Durante essa estadia Dean foi também contratado pela Warner para o papel de Jett Rink no filme “Giant”, a ser realizado por George Stevens. Deixou Nova Iorque a 7 de Março, na véspera da ante-estreia de “East of Eden” em Times Square, dizendo que «não estava para aturar aquela cena».
O início das filmagens de “Rebel” estava programado para o final desse mês, mas ainda antes delas começarem, Jimmy entrou nas corridas de Palm Springs com o seu primeiro Porshe, um Super Speedster. Qualificou-se no segundo lugar. Entretanto “East of Eden” tinha já estreado em Los Angeles e Jimmy tornou-se uma figura nacional. A reacção dos jovens americanos, que finalmente tinham uma estrela com a qual se podiam identificar, foi superior às expectativas e por todos os Estados Unidos começaram a surgir clubes de fans do actor. A vida pacata de Dean transformou-se radicalmente da noite para o dia, e em todos os lugares que habitualmente frequentava começou a ser rodeado por multidões em histeria. Ele que sempre tinha ambicionado as luzes da ribalta sentiu-se emocionalmente perturbado, a ponto de ter iniciado sessões de psicanálise.
Em Junho, começaram as filmagens de “Giant”, na Virgínia. Era a primeira super-produção em que Dean se via envolvido, uma vez que no elenco constavam os nomes de Elizabeth Taylor e Rock Hudson, então no apogeu das respectivas carreiras. E houve mais dois papéis para a televisão: “The Unlighted Road" e “Danger”. Em Agosto, depois de concluídas as filmagens, Dean comprou um novo carro, um Porsche 550 Spyder, que era mais rápido e mais instável que o Speedster. Partiu para Salinas para correr com o seu novo brinquedo. Tinha convidado o pai e alguns amigos, mas acabou por ir sózinho, apenas com o seu mecânico.
O carro devia ir a reboque mas Jimmy decidiu conduzi-lo. Durante o percurso chegou a ser multado por excesso de velocidade, o que não o impediu de continuar aquela que seria a sua última viagem. Era o dia 30 de Setembro de 1955 e Jimmy tinha encontro marcado com a lenda, naquele cruzamento das estradas 466 e 41. A colisão, com uma carrinha Ford, originou que Rolf Weutherich, o mecânico, partisse apenas o maxilar e o fémur, conseguindo assim sobreviver. Jimmy não teve essa sorte – foi practicamente decapitado e estava morto à chegada ao Hospital War Memorial, de Paso Robles.
Um mês depois, a 27 de Outubro, estreava-se “Rebel Without A Cause”. Um ano mais tarde seria a estreia de “Giant”. No dia 30 de Setembro, o público só conhecia dele o Cal do “East of Eden”. Mas desde a morte de Valentino, Hollywood não viu uma histeria semelhante. Nunca viu também um plano como aquele da noite (no filme de Ray) em que, suspenso das rochas, Jimmy olha a morte do amigo-rival; nunca viu uma angústia como a que foi sua quando lhe mataram Sal Mineo (com as meias de cores diferentes) no mesmo “Rebel”; nunca ouviu ninguém dizer como ele "Speak to me, I beg you, mammy" (“East of Eden”); nunca viu um actor crucificar-se assim, com a espingarda aos ombros e Liz Taylor de joelhos, no Jett Rink do “Gigante”. No breve espaço de um ano James Dean incarnava duas imagens completamente antagónicas - a de Cal que era a sua e a de Jett Rink que começava a ser outra coisa e por isso mesmo ficou interrompida.

FILMOGRAFIA:

1956 – Giant / O Gigante
1955 – Rebel Without A Cause / Fúria de Viver
1955 – East of Eden / A Leste do Paraíso

1 comentário:

Unknown disse...

Sobre o James Byron Dean, não é preciso dizer nada, a pequena biografia que acabei de ler diz tudo que satisfaz a todos que vier ler integramente # Valeu, valeu!